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Author Léo Carrer
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AS DIFERENTES FORMAS DE CULTO DA QUIMBANDA NO RIO GRANDE DO SUL Rudinei Borba1 Pesquisador Independente e Autodidata Janeiro / 2013 RESUMO O propósito deste texto é analisarmos as formas de culto de Quimbanda praticadas no Rio Grande do Sul e suas diferenças, traçando um paralelo com a diáspora Bant...


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AS DIFERENTES FORMAS DE CULTO DA QUIMBANDA NO RIO GRANDE DO SUL

Rudinei Borba1 Pesquisador Independente e Autodidata Janeiro / 2013

RESUMO O propósito deste texto é analisarmos as formas de culto de Quimbanda praticadas no Rio Grande do Sul e suas diferenças, traçando um paralelo com a diáspora Bantú, seus ritos, crenças, e espíritos, que ficaram conhecidos nas religiões afrobrasileiras como Exú.

PALAVRAS CHAVES: Quimbanda, kimbanda, Exú, nganga, bantú, banto, espíritos, reinos.

ABSTRACT The purpose of this paper is to analyze the forms of worship practiced at Quimbanda of Rio Grande do Sul and their differences, drawing a parallel with diaspora bantu, its rites, beliefs, and spirits, which became known in africans-brazilian religions as Exu.

KEYWORD: Quimbanda, kimbanda, Exú, nganga, bantú, banto, espirits, kingdoms. 1. O autor é iniciado na Quimbanda brasileira há 12 anos, praticando seu culto através dos “Sete Reinos”, juntamente com seus “Nove povos” dentro de cada um desses reinos, preservando as suas particularidades através das oferendas, cores de vestimentas, plantas, etc.

As Diferentes Formas de Culto da Quimbanda no Rio Grande Do Sul Rudinei Borba

INTRODUÇÃO

Dentro da cultura tradicional Bantú2 existe a crença da sobrevivência dos espíritos, onde estes após a morte podem ou não gozarem de grandes prestígios, atuando como guardiões de uma pessoa e até mesmo de todo um clã familiar. Após o estudo sobre a raiz tradicional Bantú, analisaremos as diferentes praticas do culto de Quimbanda dentro do nosso Estado, podendo ser ocultadas por desconhecimento nosso as práticas rituais de outras regiões do nosso país. Temos o conhecimento de três formas que mais são praticadas dentro do Rio Grande do Sul, e podemos citar: 1. Culto dos Exús praticado dentro da Umbanda; 2. Culto dos Exús através do sincretismo com Demônios; 3. Culto dos Exús através do Reino das Encruzilhadas, do Cruzeiro e das Almas; Ao final analisaremos os diferentes significados de “Nganga”, podendo ser o nome do sacerdote de Quimbanda ou também o assentamento dos Exús, carregando em si os elementos dos “Sete Reinos”.

A KIMBANDA BANTÚ E SUA CRENÇA

A “kimbanda Bantú” possui a crença na sobrevivência dos espíritos após a morte, conservando seus nomes terrenos até que percam sua individualidade e passe a conviver com os demais espíritos em outras partes da natureza. Já na cultura “banta afrodescendente”, chamada de Quimbanda Brasileira, o espírito perde seu nome terreno e recebe o nome de Exú, sendo integrado em algum

2. Os Bantos (grafados ainda Bantú) constituem um grupo etnolinguístico localizado principalmente na África subsariana que engloba cerca de 400 subgrupos étnicos diferentes. A unidade deste grupo, contudo, aparece de maneira mais clara no âmbito linguístico, uma vez que essas centenas de subgrupos têm como língua materna uma língua da família banta. Utilizaremos em nosso trabalho a palavra Bantú na forma escrita “Banto”.

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determinado “Reino”. Esta associação dos espíritos com o nome Exú foi criada na diáspora através do pensamento de que essa entidade estaria atrelada ao mal, na forma de Diabo cristão, onde efetuaremos um estudo mais detalhado no decorrer do nosso texto. Segundo Omotobàtálá (1999, pg. 12) o espírito ganha grande destaque na cultura bantú, como segue:

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Analisando essa parte do texto, entendemos que os bantos possuem a crença da sobrevivência do espírito após a morte, e que esses espíritos podem influenciar na vida dos vivos. Acreditamos que com o surgimento da Umbanda Cruzada3 dentro dos terreiros de Batuque, este possa ter sofrido uma influência banta, passando a crer que todos os mortos poderiam prejudicar os vivos, simplificando qualquer espírito ao nome de Éégún. O autor ainda diz (1999, pg. 12):

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3. Com grande expansão que a Umbanda vinha tendo na década de 60 no Rio Grande do Sul, os Batuqueiros mais tradicionais acabaram englobando este culto dentro do mesmo espaço físico do terreiro, procurando que não causasse atrito entre ambos rituais, para saber mais, ver: PEDRO ORO, ARI. As Religiões Afro-Brasileiras, debates do NER, ANO 09, N. 13 P. 9-23, JAN./JUN. 2008, Porto Alegre, 2008.

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Segundo a fala do autor, existe a crença banta de que os espíritos se dividem em dois grupos após a morte, perdendo sua individualidade e vivendo no espaço mato. Esta parte do texto explicaria perfeitamente porque o culto está intimamente ligado a este local da natureza, onde as pessoas viviam antes do desenvolvimento urbano, passando a se tornar mais tarde o “Reino das matas”, antes da formação do “Reino das Encruzilhadas”. Olhando por esse ângulo, pensamos que talvez o primeiro reino de quimbanda fosse o “das Matas” e mais tarde o das Encruzilhadas teria ganhado mais expansão. De acordo com o relato do autor ainda na mesma página, nos faz crer que talvez possamos estar certos, como segue:

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Ao ler esta parte do texto, percebe-se que os mortos bantos eram enterrados no mato embaixo das árvores, estas acabariam mais tarde se tornando sagradas para eles, dando origem a “povos” dentro deste espaço sagrado, onde citamos o “povo das árvores”, chefiado pelo Exú Quebra-galho, mencionado também pelo autor em seu livro. O fato dos espíritos terem integrado um determinado espaço da natureza, daria a impressão hoje que determinado Exú estaria subordinado a um Òrìsà tanto na Umbanda, quanto no Batuque, causando mais tarde o entendimento errôneo de que esta entidade Exú estaria no mesmo grau que um espírito inferior e com menos importância. Dando sequência no texto de Omotobàtálá (1999, pg. 12), o mesmo informa: " , 7 .-2A4 B

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Novamente o autor informa que o espírito perde sua individualidade para integrar um grupo, este que na Umbanda foram chamados de falanges e na nossa Quimbanda são considerados como “Reinos”. Notamos na fala do mesmo que a cultura banta também forma a base do culto Umbandista, onde cultuam os espíritos de pessoas vindas do Congo, Angola, Guiné, etc. Estas pessoas de alguma forma foram importantes para a formação do Brasil, pois vieram da África através da escravidão e envelheceram nas senzalas, passando a receber mais tarde o nome de “Pretos Velhos” devido à idade que se encontravam, sendo cultuados coletivamente sem deixarem de serem espíritos. Omotobàtálá (1999 pg. 14), diz:

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Com a informação do texto, entendemos que houve uma tentativa de cristianização dos escravos negros e dos índios já libertos no Brasil, onde alguns aceitaram a imposição da igreja e outros não. A aceitação de alguns desses grupos teria ocasionado o surgimento da Umbanda que se autodenominou na época de “linha Branca”, passando a crer na inferioridade dos Exús para terem maior expansão de culto. A segunda parte que resolveu preservar sua crença foi extremamente perseguida, tendo seu sincretismo atrelado aos demônios cristãos, como veremos no próximo capítulo. O sincretismo da Umbanda “dita branca” fez com que seu culto tivesse uma aceitação maior por parte dos católicos brasileiros, pois era mais fácil atribuir a inferioridade ao Exú, alegando o mesmo ser escravo do caboclo de Umbanda, do que dar um culto especial e separado aos mesmos. Ainda nos dias de hoje percebemos que pessoas com criação cristã denominam de “linha branca” o culto de Umbanda, e de “Linha Negra” o culto de Quimbanda.

O CULTO DOS EXÚS ATRAVÉS DO SINCRETISMO COM DEMÔNIOS

Na história das religiões, o sincretismo é uma fusão de concepções religiosas diferentes, ou, a influência exercida por uma religião nas práticas de outra. Assim como as entidades da Umbanda, em meados dos anos sessenta os Exús de Quimbanda também sofreram sincretismos religiosos, formando naquela época as expressões populares de “linha da direita” e “linha da esquerda”. Através do sincretismo, os Caboclos tiveram suas imagens vinculadas às divindades cristãs do bem, diferente dos Exús que tiveram as suas associadas às entidades consideradas pagãs pelo 9

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povo cristão. Omotobàtálá (1999, pg. 15) cita alguns desses sincretismos: “Exú Rei Sete Encruzilhadas com Astaroth, de Linha Negra, Exú Rei Sete Liras com Lúcifer, Exú Tranca-Rua com Tarchimache, Exú Tirirí com Fleruty, Exú Meia Noite com Hael, Exú Capa Preta com Musifin, etc”. Todos esses nomes de demônios fez com que uma boa parte de praticantes da Quimbanda do nosso Estado, acreditasse que seus Exús seriam mais malvados ou perversos, para conquistar atenção do público menos informado, gerando até mesmo uma deturpação geral do culto de Quimbanda, expandindo-se essa crença até o Òrìsà Èsù dos yorùbá. Júlio de Agonjú Sí (2000, pg. 80) chegou a registrar que todos Exús tanto de Quimbanda, quanto yorùbá são entidades do mal, baseando-se em um relato de um escritor da década de sessenta, como segue:

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O autor afirma literalmente em seu relato que o nome Exú teria sua origem em Exud (povo avesso a Deus), usando como base um livro de um escritor Umbandista que não aceitava o culto de quimbanda dentro do Brasil, denegrindo a imagem de Exú sem ter nenhuma base concreta, pois utilizou uma cultura, a hebraica, que veio muito tempo depois da existência do Òrìsà Èsù yorùbá. Voltamos nossa atenção para parte que o autor escreve: “Com acréscimo de algumas linhas de quem vos escreve essa obra”, que já abriria margem, por nossa parte, a desconfiança das fontes apresentadas, pois ele apenas relata que “Exud” teria sido pronunciado na língua Ijudice, chamando esta de idioma, sem ao menos explicar que esta expressão serve apenas para dizer que é um “diálogo feito de espírito para espírito”, ou seja, não sendo um dialeto propriamente dito. Não entendemos porque o autor buscou bases em materiais Bíblicos, para atestar algo que denegrisse a imagem de Exú, sem ao menos estudar a fundo as fontes escolhidas, causando uma impressão errônea em relação a todo culto de Quimbanda praticado dentro do Rio Grande do Sul. Não entendemos também porque o autor usou a expressão: “Não se trata de preconceito ou discriminação” se transpareceu a nós exatamente esta intenção, pois nas páginas seguintes de seu trabalho relatou que ambas as entidades, Exú de Quimbanda e Èsù yorùbá, fariam parte do que o mesmo chamou de “seitas de magia negra” e que o leitor “procurasse um Rabino para comprovar essa veracidade dos fatos”. Acreditamos que na década de sessenta, o escritor Aluizio Fontenelle, a fonte do autor, poderia ter utilizado essa expressão “Exud” para denegrir a imagem de Exú, usando como base os mesmos estudos dos nomes de demônios que mencionamos anteriormente. O autor usou essa fonte de forma arbitrária como se a mesma provasse seu pensamento, quando diz: “uma exposição real e verdadeira da origem da palavra Exud”, que para nós é totalmente desqualificado para defender sua tese. Luiz Marins (2010, pg. 29-30) documentou também essa tentativa de denegrir a imagem do Òrìsà Èsù yorùbá através de um oríkì mal traduzido propositalmente a nosso ver, afirmando que Èsù seria o inimigo dos Òrìsà, como segue: "

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