Title | Compulsão à repetição |
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Author | Luisa Almansa Goulart |
Course | Teoria E Clínica Psicanalítica |
Institution | Universidade Federal de Santa Maria |
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Resumo sobre compulsão à repetição....
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LAPLANCHE, J; PONTALIS, J. B. Compulsão à Repetição. In: _____________. Vocabulário de psicanálise. São Paulo: Martins Fontes, 2001. p. 83-85.
A) Ao nível da psicopatologia concreta, processo incoercível e de origem inconsciente, pelo qual o sujeito se coloca ativamente em situações penosas, repetindo assim experiências antigas sem se recordar do protótipo e tendo, pelo contrário, a impressão muito viva de que se trata de algo plenamente motivado na atualidade. B) A compulsão à repetição na elaboração teórica de Freud é considerada um fator autônomo, irredutível, em última análise, a uma dinâmica conflitual onde só entrasse o jogo conjugado do princípio do prazer e do princípio da realidade. É referida fundamentalmente ao caráter mais geral das pulsões: o seu caráter conservador. A noção de compulsão à repetição é central no ensaio “Além do princípio do prazer” (1920), onde Freud reconsidera os conceitos mais fundamentais da sua teoria. A psicanálise se viu confrontada desde a origem com . Os sintomas por um lado são manifestamente repetitivos (ex: rituais obsessivos) e, por outro, o que define o sintoma em psicanálise é precisamente o ato de reproduzir, de maneira mais ou menos disfarçada, certos elementos de um conflito passado (sintoma histérico como símbolo mnésico). De modo geral, o recalcado procura retornar ao presente, sob a forma de sonhos, sintomas, atuação, etc. “O que permaneceu incompreendido retorna; como uma alma penada, não tem repouso até que seja encontrada solução e alívio.” (FREUD, 1909) No tratamento, os fenômenos de transferência atestam essa exigência, própria do conflito recalcado, de se atualizar na relação com o analista. Foi a importância sempre crescente atribuída a esses fenômenos e aos problemas técnicos por eles levantados que levou Freud a completar o modelo teórico do tratamento, distinguindo, ao lado da rememoração, a e a como momentos dominantes do processo terapêutico. Com efeito, são experiências manifestamente desagradáveis que são repetidas e, numa primeira análise, não se vê muito bem que instância do sujeito poderia encontrar satisfação nisso; embora se trate de comportamentos aparentemente incoercíveis, marcados por essa compulsão própria de tudo o que emana do inconsciente, ainda assim é difícil pôr em evidência aqui a realização de um desejo recalcado, ainda que sob a forma de compromisso. Em “Além do princípio do prazer”, Freud apresenta a tese bem conhecida segundo a qual o que é desprazer para um sistema do aparelho psíquico é desprazer para outro. Mesmo reconhecendo que a compulsão à repetição não é detectável no estado puro, mas é sempre reforçada por motivos que obedecem ao princípio de prazer, Freud iria, até o fim da obra, atribuir alcance cada vez maior à essa noção. Em Inibição, sintoma e angústia, ele vê na compulsão à repetição a espécie típica de resistência própria do inconsciente. Se a repetição compulsiva do desagradável, e mesmo do doloroso, é reconhecida como um dado irrecusável da experiência analítica, em contrapartida os autores variam quanto à explicação teórica que deve ser dada a ela. Esquematicamente, poderia dizer-se que a discussão se ordena em torno dessas duas questões:
I.
II.
A tendência para a repetição está a serviço de quê? Trata-se de tentativas do ego para dominar e depois ab-reagir de um modo fracionado tensões excessivas? Ou devemos admitir que a repetição deve ser, em última análise, relacionada com o que há de mais pulsional em todas as pulsões: a tendência para a descarga absoluta que é ilustrada na noção de pulsão de morte? A compulsão à repetição colocará verdadeiramente em causa, como afirmou Freud, a predominância o princípio do prazer? A contradição entre as formulações que encontramos em Freud e a variedade das respostas que os psicanalistas tentaram dar a este problema seriam esclarecidas, na nossa opinião, por uma discussão prévia sobre as ambiguidades que se ligam aos termos princípio do prazer, princípio de constância, ligação, etc. A compulsão à repetição, mesmo que tomada no sentido mais radical em que Freud a admite, não poderia ser situada além do princípio do prazer.
A concepção de Edward Bibring ilustraria uma tentativa de solução mediana. Esse autor propõe a distinção entre uma que define o id e uma que é uma função do ego. A primeira pode ser considerada “além do princípio do prazer”, na medida em que as experiências repetidas são tão dolorosas como agradáveis, mas nem por isso constitui um princípio oposto ao princípio de prazer. A segunda é uma função que procura por diversos meios reestabelecer a situação anterior ao traumatismo; utiliza os fenômenos repetitivos em benefício do ego. Nessa perspectiva, Birbing propôs distinguir os mecanismos de defesa em que o ego permanece sob o domínio da compulsão à repetição sem que haja solução da tensão interna, os processos de ab-reação, que, de forma imediata ou diferida, descarregam a excitação e, finalmente, mecanismos chamados de desimpedimento, cuja “...função é dissolver progressivamente a tensão, mudando as condições internas que lhe dão origem” (BIRBING, 1943). ● Aula Hericka Zogbi QUESTÕES NORTEADORAS - O conceito de compulsão à repetição, como vários outros, é visto por muitos (em maioria leigos) como ultrapassado, assim como outros conceitos da psicanálise. Mesmo assim, é atual na prática, como, por exemplo, “sempre escolher o boy lixo”. Primeiras publicações importantes para a psicanálise: Neurose Histérica (1895), Três ensaios sobre sexualidade (1905), Primeira Tópica (1907), Narcisismo (1914), Segunda Tópica (1921-1923) - O conceito de compulsão à repetição só é explicitado junto a Segunda Tópica; - Freud e introdução/construção da compulsão à repetição: Tentativa de explicar a repetição de fenômenos psíquicos repetitivos de natureza não prazerosa, observado nos sonhos de angústia (por que eu sonhei com isso de novo?), nos atos-sintoma (por que eu fiz isso de novo?). Percebia que as crianças repetem jogos e brincadeiras na tentativa de elaborar ativamente aquilo que sofrem passivamente (ex: é xingada pelos pais, então xinga as bonecas; bullying podeser visto como umaforma de elaborar por meio da repetição, seja o bully ou a vítima). Percebe intensa força vinda do indivíduo, situada além do princípio do prazer. O amadurecimento
dessa ideia deu início à pulsão de morte, que se repete de forma compulsória com vistas ao estado inorgânico anterior (estado de constância). Primeira tópica é sobre o indivíduo com ele mesmo e como a pulsão funciona dentro dele, assim como todos os mecanismos de defesa. No andamento da obra, pra chegar na Segunda Tópica, que é relacional, Freud introduz a importância do objeto, tanto que no narcisismo tem a libido do eu e a libido do objeto. Ou seja, existe uma libido que fica pra dentro e uma que vai pra fora, se ela vai pra fora existe uma relação com o objeto. Esse movimento de dentro pra fora que dá caráter dinâmico para a Segunda Tópica. A introdução do conceito de pulsão de morte é também de suma importância, pois um dos caminhos de transformar essa pulsão de morte em uma pulsão de vida é repetindo. “Para ficar bem, primeiro a gente tem que ficar mal. Até porque pra ficar bem eu tenho que me sentir desconfortável de alguma forma, senão eu tenho um estado, que Freud chamou de um “ ”, e essa constância, ela não necessariamente é positiva.” O aparelho psíquico busca o estado de constância, lembrando que a pulsão é a energia que o alimenta e, como qualquer energia, apresenta oscilações e não deve ficar parada, pois pode levar a morte. Dessa forma, o estado de constância é um princípio que, se exacerbado, ele vai para o princípio do Nirvana, que é um “estado de zero absoluto”, podendo ser comparado com a vida intrauterina (não se sente absolutamente nada bom ou ruim ou neutro). Buscamos a constância e certa estabilidade, mas essa estabilidade não pode ser paralisadora. O princípio da compulsão à repetição busca explicar a repetição de fenômenos de natureza não prazerosa - por que ela acontece? - Fixação (1920-1923) - registro que foi muito bom ou muito ruim, ou seja, não foi suficientemente bom, foi excessivo. Na repetição voltamos a um ponto de fixação para que se possa resolvê-lo, por estar em um estado de regressão, e aquele momento onde foi tudo muito bom (gratificação elevada, busca-se conforto) ou muito ruim (frustração elevada, busca-se reparação); - Quando buscamos voltar ao passado (recalcado) e resgatar algo (relembrar, repetir e resolver) para resolver agindo; - O (identificável na linha de vida do paciente) serve para entender os acontecimentos presentes. Na mente nada acontece por acaso, várias causas produzem o mesmo efeito. Cada acontecimento psíquico é determinado por outros que o precederam; - Multicausalidade - várias causas produzem o mesmo efeito, para além da linearidade; - Experiências infantis precoces + fatores inatos constitucionais + fatores ambientais de atualidade do sujeito = quem somos; - As experiências a posteriori podem amenizar o trauma, portanto, a compulsão à repetição; - O uso de substâncias geralmente é repetitivo e compulsivo e busca prazer, só que este prazer está ligado a dor da abstinência e do risco. Quando se faz uso da substância psicoativa, o objetivo é ficar bem, buscar que a pulsão se estabilize, só que pode ser que para conseguir aquietar as pulsões o paciente tenha uma overdose, ou uma morte psíquica (surto psicótico, por exemplo). O estímulo (uso da substância) é tão intenso que parece uma falta de estímulo.
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“A psicanálise não é determinista, ainda que trabalhe a ideia de determinismo psíquico. Se eu vivi algo na minha vida, um ponto de fixação, não estou fadada a repetir sempre. O ponto diz para onde vou voltar, não que eu vou fazer sempre igual. Tem como escapar, a vida não está 100% determinada pelo passado. Não tem como escapar em momentos de crise ou em momentos muito parecidos. A análise serve para conseguir não repetir sempre, por meio da elaboração. Reviver na terapia por meio da transferência, não na vida real, pois só assim se pode chegar ao recalcado. A teoria diz apenas que o recalcado tem um efeito grande no presente, mas não é necessariamente a mesma coisa que aconteceu no passado. O sintoma é a repetição igual, na vida, a pessoa sente que está andando em círculos. Portanto, o terapeuta está sempre buscando esta fixação.” - denominação proposta por Barbara Low e retomada por Freud para designar a tendência do aparelho psíquico para levar a zero ou pelo menos reduzir o mais possível nele qualquer quantidade de excitação de origem interna ou externa. Nirvana = extinção do desejo humano, o aniquilamento da individualidade que se funde na alma coletiva, um estado de quietude e de felicidade perfeita. - Freud (1920) “...tendência para a redução, para a constância, para a supressão da tensão de excitação interna.”...