A Navegação e as Especiarias nos Mares Asiáticos (1500-1600) - Boxer, C.R PDF

Title A Navegação e as Especiarias nos Mares Asiáticos (1500-1600) - Boxer, C.R
Author Lilian Souza
Course Formação Econômica e Social do Brasil I
Institution Universidade de São Paulo
Pages 2
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Resumo artigo Boxer...


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A Navegação e as Especiarias nos Mares Asiáticos (1500-1600) Charles R. Boxer Autor: Bruno Gabriel Witzel de Souza O texto é iniciado com uma extensiva descrição das características políticas, econômicas, sociais e culturais dos muitos povos que acabaram por fazer parte do vastíssimo império português de ultramar. Neste contexto, vale ressaltar algumas dessas culturas com que entraram os portugueses, de modo que se evidencie a pluralidade com que tiveram de lidar, seja pela coação, seja por acordos comerciais. Primeiramente, na costa oriental africana, encontrava-se a cultura predominantemente árabe dos suaílis, cuja orientação política variava de fervorosos adeptos ao islã aos que praticavam a religião apenas superficialmente; a importância deste povo aos portugueses era a de fornecer o ouro, o marfim e os escravos advindos das regiões mais interioranas da África. Na seqüência, encontrava-se o ainda poderoso império mameluco, compreendendo, dentre outras parcelas, o Egito e a Síria; grande parte da prosperidade deste povo devia-se aos pedágios que realizavam aos mercadores que levavam especiarias à Europa. Na Arábia destacava-se, frente às muitos tribos nômades, a figura do xá de Ormuz, certamente a mais importante cidade por ser um dos entrepostos mais ricos do mundo (todo o comércio entre Índia e Pérsia era escoado por ali). A Índia, por sua vez, estava subdividida entre hindus e muçulmanos, e apesar de algumas situações conflituosas, havia relativa paz entre as duas perspectivas religiosas, o que se dava sobremaneira pela supremacia dos interesses comerciais. Na região da Indonésia, subdividida entre muitos reinos e sultanatos conflituosos, a cidade de maior importância era Malaca, centro comercial de maior destaque no trânsito de especiarias. A China e o Japão encontravam-se em relativo isolamento, embora, como será observado, acabassem por desempenhar um papel importante no império ultramar português. Merece destaque na descrição acima a importância de Ormuz e Malaca, constituintes fundamentais do comércio de especiarias com o Ocidente e que acabariam em mãos de portugueses. Note-se que o Oriente possuía uma intensa vida comercial e que toda a região estava mais ou menos entrelaçada em um complexo mercantil relativamente estável. Assim, a expansão portuguesa rumo ao Oriente teria de estar baseada, em um período inicial, quase que exclusivamente na força, ou seja, para assumir o controle daquela rede deveria assumir um posicionamento de imposição, pela violência de caráter exemplar, de suas próprias regras. E o reino português conseguiu fazê-lo com grande rapidez e eficiência. Apesar de alguns reveses, como não obter Áden (que permitiria aos portugueses controlarem a entrada do Mar Vermelho e obterem o monopólio absoluto do comércio das especiarias) ou a derrota frente à marinha chinesa (15211522), Portugal experimentou, sobretudo com o comando de Afonso de Albuquerque no Oriente, uma série de vitórias que consolidariam a vastíssima extensão imperial. Para isso contribuíram decisivamente dois fatores: apesar da intensa atividade comercial do Índico, a maior parte dos navios mercantes não possuía aparatos militares e o número de navios de guerra do Oriente eram muito reduzidos e de qualidade inferior aos dos portugueses; além disso, dada a multiplicidade brevemente observada acima, havia a possibilidade (de fato efetivada) de os portugueses traçarem uma trama de acordos militares com reinos e sultanatos dissidentes, por outro lado, tal dissidência não permitia que tais potentados políticos traçassem alianças contra os portugueses. Algumas das vitórias portuguesas no Oriente merecem destaque, sobretudo as levadas a cabo por Albuquerque. Seu predecessor, Francisco de Almeida, havia destruído a fruta egípcio-guzerate, abrindo plenos caminhos para a expansão rumo ao oriente. Três praças-fortes atuavam como pontos-chave do império: Goa, Ormuz e Malaca; a primeira por sua posição estratégica e as demais pela já salientada relevância comercial. A magnitude do império português é tanto mais impressionante quando se consideram os esforços envolvidos para obtê-lo e mantê-lo: “a característica mais espantosa do império marítimo português, ao ser estabelecido em meados do século XVI, foi sua extrema dispersão. No Oriente, estava representado por uma cadeia de fortes e feitorias que se estendiam de Sofala e Ormuz, na margem ocidental da Ásia das monções, às Molucas e Macau (em 1537), na costa do Pacífico. Estendia-se igualmente no outro lado do mundo, possuindo praças-fortes no Marrocos (Ceuta, Tânger, Mazagão), algumas feitorias e diversos fortes entre Cabo Verde e Luanda (em 1575) na costa ocidental africana, as ilhas do golfo da Guiné e alguns assentamentos militares ao longo do litoral brasileiro”. Isto permitia uma extrema versatilidade comercial: “entre os produtos importantes desse império disperso pelas distâncias encontravamse o ouro da Guiné (Elmina), do sudeste africano (Monomotapa) e de Sumatra (Kampar); o açúcar de Madeira, de São Tomé e do Brasil; a pimenta de Malabar e da Indonésia; o macis e a noz-moscada de Banda; o cravo de Termate, Tidore e Amboíno; a canela do Ceilão; o ouro, as sedas e a porcelana Chinesa; a prata do Japaão; os cavalos da Pérsia e da Arábia; os têxteis de algodão de Cambaia (Guzerate) e de Coromandel”. Sob muitos aspectos, o monopólio da Coroa portuguesa no Oriente falhava, seja pela extensão dos domínios, seja pela escassez de recursos humanos, seja pela extensiva atividade corsária, apesar disto, é possível afirmar que, no geral, a forma monopolista levada a cabo surtiu os efeitos esperados. Como a demografia portuguesa era sempre um problema, em muitos casos os portugueses deixavam aos comerciantes locais as diversas atividades mercantis: o dono do barco ou os mercadores envolvidos precisavam apenas de uma autorização da Coroa (pela qual deviam pagar) e 1

pagar as taxas portuárias, que também eram destinadas à Coroa em Lisboa. O resultado é que, sob muitos aspectos, a grande relevância portuguesa na atividade comercial fazia-se apenas por seu caráter de vigilância e controle. Apesar dos frutuosos resultados, Portugal enfrentava sérias dificuldades para manter o império funcionando adequadamente. O primeiro fator mais evidente é a densidade populacional: calcula-se que a população portuguesa não passou dos 1,4 milhão de pessoas durante a extensão máxima do império. Cerca de 2400 deixavam a metrópole rumo ao Oriente, da qual apenas uma parcela reduzida retornava (devido sobretudo às mortes, freqüentes no ambiente certamente mais insalubre do que aquele desfrutado pelos espanhóis nos altiplanos americanos, seja devido ), sendo que a maioria quase absoluta deste contingente era formado por homens em idade economicamente ativa, ou seja, Portugal tinha de lidar freqüentemente com um déficit de oferta de força de trabalho na metrópole, ao mesmo tempo em que requeria urgentemente pessoas nas áreas coloniais (a escassez de portugueses no Oriente era tal que não raro um navio possuía apenas o capitão como branco europeu). Compare-se isso com o caso espanhol: aquela metrópole chegou aos 7 ou 8 milhões de habitantes e o fluxo anual era bem menor para as colônias: apenas cerca de mil pessoas. Apesar disto, nas regiões mais populosas da metrópole, o índice demográfico não parece ter diminuído muito: Lisboa, por exemplo, continuou a ser um centro de desempregados (tal qual seriam Londres e Paris depois), muitos dos quais eram embarcados, por vontade ou à força, para as colônias. Duas outras dificuldades eram que os portugueses estavam frente a culturas cujo nível tecnológico estava aquém ao seu, mas eram muito mais desenvolvidas que os ameríndios encontrados pelos espanhóis e que estavam envolvidos em outras campanhas, como, por exemplo, as de caráter beligerante no Marrocos. Outro problema de grandes dimensões era a extensão da frota portuguesa: em seu auge, chegou às 300 embarcações. É claro que o número surpreende quando se consideram o período e o próprio tamanho da metrópole, mas era certamente insuficiente para controlar em absoluto todo o comércio imperial. A construção de navios era um processo lento e caro, e ainda que agora os portugueses pudessem obter madeira de qualidade, a partir da Índia e da China, sem o risco de escassez, faltavam instalações adequadas para a produção: apenas Goa possuía estaleiros em condições adequadas de operação. Não se deve pensar, no entanto, que o império português manteve-se estável ao longo de todo o século XVI para então decair abruptamente: o que houve de fato foram oscilações diversas. Na segunda metade do século XVI o preços das especiarias chegou a dobrar na Europa, estimulando a atividade comercial; ao lado dos portugueses, no entanto, havia a rota do Mar Vermelho, que eles não haviam podido dominar, e a partir deste período uma quantidade crescente de especiarias chegou à Europa via Levante. No século XVII, com a chegada Holandesa e Inglesa, a situação pioraria ainda mais. Portugal, no entanto, seria ainda capaz de manter certa prosperidade no Oriente, o que se deveu principalmente à maior participação no mercado comercial chinês; ao contrário do que ocorria em outras localidades, no entanto, na China os portugueses tiveram que aceitar os termos impostos a eles pelo imperador, já que não haviam conseguido subjugar a marinha chinesa. Apesar desta condição, Portugal beneficiou-se muito ao realizar a atividade de intermediador entre Japão e China, dado que o imperador da última não aceitava um contato direto com os japoneses.

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