Artigo Científico - Técnicas Retrospectivas PDF

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artigo produzido como requisito para cumprimento da disciplina técnicas retrospectivas ...

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UNIVERSIDADE CATÓLICA DO SALVADOR CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO ____________________________________________________________

CASARÃO 18: Uma nova história para a Ladeira da Praça, Centro Histórico, Salvador - BA. Thalita Emanuele Teixeira Santiago Graduanda em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Católica do Salvador [email protected]

Resumo:

O Centro Histórico da cidade de Salvador possui uma riqueza incomparável, por ter sido a primeira capital do Brasil, entre os anos de 1549 e 1763. Foi berço de uma miscigenação muito forte, devido ao passado como mercado de escravos do então chamado Novo Mundo. Atualmente, Salvador possui diversos prédios que contam a história daquela época que encontram-se abandonados, enquanto existem também cerca de vinte mil pessoas vivendo em situação de rua na cidade (segundo dados do IBGE em 2017). Porém, com a nova gestão da prefeitura, alguns destes edifícios abandonados estão sendo restaurados e tendo seu uso ressignificado, de modo que nos últimos anos, o Centro Antigo está sendo novamente frequentado por turistas e pelos próprios moradores. A ladeira da praça, situada próxima ao emblemático Elevador Lacerda, possui um edifício com grande potencial para restauração. Devido este fato, foi proposta a ideia de criação de um Centro Cultural para valorização da cultura negra e baiana, com base na teoria do arquiteto italiano Camillo Boito. Palavras-chave : centro antigo, restauro, centro cultural, centro histórico, colonização.

Abstract:

The Historic Center of the City of Salvador has an incomparable wealth, as it was the first capital of Brazil, between a1549 and 1763. It was the cradle of a very strong miscegenation, due to the past as slave market of the so-called New World. . Salvador currently has several buildings that contaminate the historical history that can be abandoned, while there are also about twenty thousand homeless people in the city (according to IBGE data in 2017). However, with a new management of the city, some of these abandoned buildings are being restored and re-used, so that in recent years either the Old Center has been frequented by tourists and residents again. The slope of the square, next to the emblematic Lacerda elevator, has a building with great potential for restoration. Accepting this fact, it was proposed the idea of creating a Cultural Center for the valorization of black and Bahian culture, based on the theory of the Italian architect Camillo Boito. Keywords: old center, restaurant, cultural center, historical center, colonization.

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CASARÃO 18: Uma nova história para a Ladeira da Praça, Centro Histórico, Salvador - BA. Introdução O trabalho em questão aborda uma interpretação da história da cidade, a partir de suas construções. Esta é contada principalmente onde se iniciaram as primeiras habitações, por isso, é preciso valorizar a relação dos cidadãos com o centro antigo de Salvador, de modo que as edificações do período colonial sejam respeitadas e integradas à paisagem, ora com seu propósito original, ora com um novo uso. Entretanto, realizar um projeto em edifícios que possuem um significado cultural é bastante complexo, especialmente quando se trata de trazer a ele uma nova utilização, alterando significativamente ou completamente sua configuração interna e/ou externa. Para que isto ocorra de modo satisfatório, é necessário estudar à fundo o histórico da construção e suas possíveis patologias, buscando compreendê-lo e alterar o mínimo possível de sua essência, levando em conta também as normas previstas pelos órgãos de conservação do Patrimônio, como o IPHAN. Também é de extrema relevância buscar uma função que atenda às necessidades da comunidade, que não funcione apenas como atração turística, compreendendo que a mesma deve oferecer suporte à sociedade histórica e culturalmente, com a edificação em si. A ideia de habitação “bem “localizada” na cidade está cada vez mais distante do centro antigo, e com novos usos para os estes edifícios, ele voltaria a se tornar atrativo, não só para os frequentadores mas também para pessoas que não o conhecem, por exemplo. É preciso que a edificação esteja vinculada a ambientes que gerem um certo retorno social, principalmente se tratando de serviços públicos nas áreas centrais das cidades, com é o caso da Ladeira da Praça, pensando não somente em valorizar o passado, como definir o futuro do edifício em questão, lembrando que todos os estudos a serem realizados dependem diretamente de políticas públicas e recursos financeiros para que possam se tornar concretos em algum momento.

Área de Estudo Localizada no Centro Antigo da cidade do Salvador, a Ladeira da Praça é uma área bastante privilegiada da cidade, por encontrar-se próxima ao Elevador Lacerda, e possuir vista para um cartão postal conhecido: a Baía de Todos os Santos. A escolha da área atribui-se principalmente ao fato de que no Centro Antigo da cidade de Salvador existem diversos edifícios históricos inabitados, impróprios para moradia, muitos tombados pelo IPHAN, entretanto, alguns que se tornaram propriedades privadas e tornaram-se inacessíveis à grande maioria da população, além do prédio encontrar-se inapropriado para habitação.

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Figura: Localização e Situação do Edifício. Fonte: SILVA, Ana Luíza Teixeira. Habitação para o Centro Histórico de Salvador, vivo e plural: O Casarão n°18 da Ladeira da Praça. UFBA, 2018. p.8

O Edifício O Casarão nº 18, situado na ladeira em questão, faz esquina com a Rua do Saldanha. Possui uma área construída de 510 m², que está distribuída em quatro pavimentos, sendo eles: subsolo, térreo, primeiro e segundo. Foi construído no ano de 1674 e inicialmente pertenceu à Assembleia Legislativa da Bahia, mas tem um histórico de usos distintos. Em 1936, tornou-se moradia de Joaquim Martins Catarino e na década de 40 Foi sede do arquivo público da fundação Gregório de Matos. No ano 2000, tornou-se sede da Secretaria SEFAZ, que teve de abandonar o local por causa dos problemas estruturais. Em 2005, tornou-se um abrigo compartilhado para pessoas que anteriormente viviam em situação de rua, mas, com a ascensão do projeto “Minha Casa, Minha Vida”, muitas dessas pessoas terminaram por deixar o local. Atualmente é propriedade da Prefeitura Municipal. O casarão está próximo a algumas edificações importantes, como o Palácio Rio Branco e o Instituto de Arquitetos do Brasil. Está incluído no perímetro de tombamento a nível Federal pelo IPHAN (processo n° 1093-T-83) que protege conjuntos arquitetônicos ainda íntegros no centro da cidade, além de fazer parte do quarteirão 28S da 7ª etapa do Plano de Recuperação do CHS (Centro Histórico de Salvador), Programa Monumenta e BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), que prevê o uso habitacional para essa área. Atualmente, nessa quadra existem também três edificações em estado de ruína, alguns edifícios destinados a habitações, comércios, estacionamentos e um espaço no interior do quarteirão - utilizado pela Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (CONDER) como depósito para materiais de construção. Ainda que tenha sofrido diversas modificações com o passar dos anos, tanto em sua estrutura, quanto esteticamente, ainda possui características do período de sua construção, com uma composição de estilos arquitetônicos distintos, que caracterizam o ecletismo.

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Metodologia Para que fosse possível compreender a edificação, foram realizadas algumas visitas técnicas, utilizando principalmente como suporte metodológico o manual de conservação previsto pelo IPHAN, além de pesquisas em arquivos públicos e outras instituições, como a biblioteca Central e o Plano de Reabilitação do Centro Antigo de Salvador. Durante estas vistorias, foram feitos levantamentos fotográficos do seu exterior e interior, com o objetivo de identificar os danos causados por fatores externos diretos e indiretos (como as chuvas, oxidação, descascamento da pintura e intervenções anteriores). Estas pesquisas geraram alguns produtos, entre eles: a montagem de uma Ficha de Identificação de Danos, um caderno de estudo preliminar a respeito do histórico do edifício, com um levantamento documental arquitetônico, um banner com a proposta da nova utilização da construção contendo croquis de estudos, esquema de fluxos para a nova proposta, setorização, pré-dimensionamento total, conceito e partido do projeto de intervenção e maquete volumétrica da edificação, contendo possíveis alterações, tendo como base o suporte de teóricos da conservação e do restauro (no caso, o arquiteto e historiador italiano Camillo Boito1. (...) O restaurador deve ser então uma espécie de operário, que encontra na própria ignorância o mais seguro dos freios para repintar e para completar; ou deve ser um pintor, consciencioso, entenda-se, mas também hábil em todas as técnicas da pintura e perito nos vários estilos da arte? Eu, confesso, tenho medo, nesse caso, da ambição do sábio; mas temo ainda mais a ambição do ignorante. Não basta, infelizmente, o não saber fazer para não fazer. Ora, nas restaurações da pintura eis aqui o ponto chave: parar a tempo e aqui está a sabedoria: contentar-se com o menos possível. (BOITO, Camillo. Questioni Pratiche di Belle Arti. Milano: Hoepli, 1893, p. 28-29; “I Nostri Vecchi Onurneati. Conservare o Restaurare”. La Nuova Antologia, jun, 1886. vol. 87. p. 480-506.)

Feito isso, a segunda fase da pesquisa é o processo de mapeamento e tabela representativa dos danos presentes nas fachadas do edifício. É importante salientar que o estudo realizado foi bastante preliminar, visto que este tipo de trabalho requer uma pesquisa muito mais profunda, envolvendo pesquisas arqueológicas e análises estruturais, testes laboratoriais principalmente, buscando o entendimento dos problemas a serem resolvidos. Um exemplo deste tipo de pesquisa é o Mapa de Danos que envolve principalmente o estudo de conservação, abordando não só a contextualização histórica, mas utilizando também métodos tecnológicos (como a fotogrametria) para obter uma melhor compreensão. Porém, ainda estão sendo elaborados a representação dos danos e patologias provocados nas fachadas do prédio, bem como uma ficha que tem a função de representar estas mesmas avarias para, por fim, estabelecer quais reparos devem ser feitos, de acordo com o padrão estabelecido pelo Cronidas 2, de maneira que esses danos possam ser revertidos 1

Camillo Boito (1836-1914) foi um arquiteto, historiador e escritor italiano, adepto do estilo neoclássico, responsável por desenvolver a teoria do restauro e conservação que ficou conhecida como “restauro filológico”, tendo bastante influência da “restauração estilística” de outro teórico, Viollet Le Duc.

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Cronidas é uma base de dados que contém informações sobre danos em materiais de construção com sua descrição, fotografias, desenhos esquemáticos de resultados retirados de revisão bibliográfica ou de casos reais de

UNIVERSIDADE CATÓLICA DO SALVADOR CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO ____________________________________________________________ futuramente. Denomina-se de “processo patológico toda a investigação de como se manifesta o dano com todas as suas características e possibilidades de reparo ou previsão da evolução desse dano”. (CARRIÓ,1990, p.7).

Figura: Banner contendo a proposta do novo uso do Casarão 18. Fonte: Elaborado pela autora.

A ideia proposta é de que o Casarão venha a se torne um Centro Cultural voltado para a cultura negra feminina; com isso, é plausível estabelecer uma comparação com uma intervenção recente realizada em uma edificação também situada no centro antigo da cidade de Salvador, no antigo 18º Batalhão da Polícia Militar da Bahia, no Pelourinho, que atualmente abriga a chamada “Casa do Carnaval”, buscando valorizar não somente o patrimônio histórico da Bahia, como também o imaterial, que, afinal, é o mais característico da cidade de Salvador, especificamente. Trata-se de uma espécie de museu em que é possível que os visitantes tenham contato com itens importantes que marcaram a maior festa popular do planeta. Assim como o novo Centro Cultural Casarão 18, a Casa do Carnaval propõe a utilização das cores como uma forma de remeter à cultura baiana, utilizando os espaços dos cômodos para contar a história obras e também, é uma recomendação para representação dessas avarias em mapas de danos.

UNIVERSIDADE CATÓLICA DO SALVADOR CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO ____________________________________________________________ do Carnaval da cidade. Além de suas semelhanças internas, ambos edifícios possuem características do período colonial e seguem o estilo eclético,o que pode ser identificado nos detalhes de suas esquadrias, que são de vários tipos, na estrutura e nas cores das paredes. Com relação aos ambientes, ambos projetos apresentam cafeteria, salas interativas, biblioteca, salão de exposições e compartilham de uma vista para a Baía de Todos os Santos. Objetivo Criar um Centro Cultural que valorize a estética colonial do edifício, mas que seja uma atração para a cidade, simultaneamente. A ideia é que o edifício possua sua própria geração de renda ( com as exposições e o café) , mas também seja uma opção de lazer e cultura (com a biblioteca e as oficinas), de uma maneira integrada, que também ofereça serviços que permitam a participação das pessoas de todas as idades no interior do espaço. Resultados e Discussão Segundo as pesquisas realizadas, foi perceptível que o casarão escolhido já sofreu uma série de intervenções e uma parte do sistema estrutural foi alterada, foram inseridos novos pilares, vigas e uma laje em concreto armado, com a intenção de manter as paredes estáveis, mas, apesar disso, ainda assim a estrutura encontra-se comprometida. O casarão possui uma cobertura constituída por cinco águas, com sistema estrutural treliçado em madeira de lei e suas telhas são cerâmicas. De acordo com o laudo desenvolvido pela CONDER 3 no ano de 2015, a face voltada para a Rua do Saldanha apresenta recalque em sua estrutura, além de uma série de rachaduras que vão desde o subsolo até o último pavimento do prédio. Algumas de suas paredes sofrem com a presença de vegetação. As paredes são estruturais, datadas do século XVII, constituídas de tijolos de adobe, alguma são do século XX; Apresentam manchas de umidade, fungo e mofo e algumas áreas possuem reboco descolando. A pintura encontra-se em mal estado, com algumas rachaduras e formando bolhas, possivelmente devido à umidade e à incidência solar. Os gradis das janelas estão enferrujados, alguns vidros foram quebrados. Atualmente, encontra-se interditado, devido às péssimas condições estruturais. A maioria de suas esquadrias de madeira com vergas retas (que já encontravam-se muito degradadas) estão vedadas, impedindo o acesso, e os antigos moradores foram realocados. Existem ao todo, seis tipos de esquadrias no edifício, sendo três tipos de portas e janelas, conforme a figura abaixo:

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Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia.

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Figura: Tipos de esquadrias do Edifício. Fonte: SILVA, Ana Luíza Teixeira. Habitação para o Centro Histórico de Salvador, vivo e plural: O Casarão n°18 da Ladeira da Praça. UFBA, 2018. p.33

Conclusão Com o desenvolvimento deste projeto, é importante salientar a importância que tem o patrimônio para a cidade, e como a arquitetura interfere diretamente na história em sua história, além do aprendizado obtido à partir da teoria de Boito, sobre relevância da pesquisa profunda a respeito de um edifício e seu entorno antes de qualquer intervenção, não somente com o objetivo de respeitar o mesmo, mas de dar à ele uma nova utilização que atenda às necessidades de quem irá gozar do mesmo. Para a obtenção de bons resultados neste projeto, é necessário que haja uma equipe técnica qualificada que atenda às áreas de engenharia, arquitetura, história, arqueologia, entre outros, pois trata-se apenas de um projeto preliminar, neste caso. Para evitar possíveis degradações futuras, é importante que exista apoio e cuidado por parte dos órgãos públicos responsáveis, principalmente no que diz respeito à patologias causadas por intempéries, pois algumas destas soluções são teoricamente simples, considerando a resolução após ocorrer o problema, que geralmente se torna muito mais complicada quando não existe a manutenção adequada.

UNIVERSIDADE CATÓLICA DO SALVADOR CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO ____________________________________________________________ Referências SILVA, Ana Luíza Teixeira. Habitação para o Centro Histórico de Salvador, vivo e plural: O Casarão n°18 da Ladeira da Praça. UFBA, 2018...