Desvendando a sexualidade - César Nunes PDF

Title Desvendando a sexualidade - César Nunes
Author Izabele Pizzo
Course História Contemporânea
Institution Universidade Estadual Paulista
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Summary

Resumo feito sobre o livro: NUNES, César Aparecido. Desvendando a Sexualidade. 2. ed. Papirus Editora. 141 p.

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Description

Resenha do livro Desvendando a Sexualidade Ivanize Sério Pizzo Ferreira

NUNES, César Aparecido. Desvendando a Sexualidade. 2. ed. Papirus Editora. 141 p. “Desvendando a Sexualidade” é um livro que tem a intenção de “recuperar o conceito positivo de sexualidade, discutir os papéis sexuais e os tabus em sua dimensão histórica, fazer a crítica de uma sociedade que perdeu o espírito erótico”, mas, sobretudo, propor que a educação sexual não seja apenas a descrição de aparelhos reprodutores ou expressões de moralismo e discriminações, pois “a sexualidade é uma das dimensões fundamentais da existência humana”. De acordo com essa afirmação e vivendo num ambiente sexualizado, envolto de valores morais, usos e costumes sociais, a busca pelo descobrimento, entendimento e posicionamento sexual deverá perpassar uma metodologia que implique em estudar a sua história, a antropologia, a moral e a sua evolução social, pois “as relações sexuais, são relações sociais, construídas historicamente em determinadas estruturas, modelos e valores que dizem respeito a determinados interesses de épocas diferentes”. Além de refletir sobre os condicionamentos históricos da sexualidade, o indivíduo deverá estar ciente de que, a partir da tomada de consciência sobre a sua sexualidade, isso modificará o seu conceito sobre a sexualidade que o envolve e as outras pessoas. Portanto será necessária uma reeducação sexual que implicará numa transformação pessoal e social. O autor acredita que o ensino sexual poderá ocorrer na escola, pois é um local privilegiado para abordar a “sexualidade humana numa dimensão pedagógica, num entrosamento histórico e moral, com auxílio das ciências humanas e o acesso à produção específica dos últimos anos”. Porém torna-se um desafio visto a complexidade de uma reeducação sexual. Mais do que isso, necessita ser esse espaço para toda a sociedade. A educação sexual na escola precisa ter como objetivo “compreender a sexualidade na trama das relações sociais e culturais de cada época humana, explicitar seus determinantes econômicos, mormente os modelos hegemônicos, decifrar seus eixos de sentido e desvendar as contradições dos códigos de poder que a envolvem”. Deve tomar um posicionamento crítico sobre os dias atuais onde a sociedade se vê marcada com apelo a uma sociedade consumista, isto é, marcada pela busca individual como uma forma de prazer. Para compreender as transformações que afetam a história do ser humano e entender o processo educacional que a sexualidade humana percorreu, se torna necessário fazer uma investigação histórica de ordem filosófica, pela qual deverá percorrer a sexualidade na visão Foucault, que na sua compreensão “a sexualidade é uma das formas proeminentes da nova moral sexual moderna, encontrando suas raízes na ruptura provocada na erupção da moral vitoriana e seus impactos sobre a sociedade contemporânea, a partir do século XVIII, até os nossos dias.” Nesse processo de compreensão das transformações, deve-se destacar que o século XX foi o século das crises, deixando conseqüências políticas, éticas, existenciais, sociais, religiosas e filosóficas. O capitalismo, procurando uma solução para os sentimentos de perda e insatisfação, acelera a expansão industrial de comunicação que propunha diminuir a distância física entre os homens. Essa comunicação não teve inicialmente a intenção de fazer uma revolução sexual, mas, através do apelo consumista, a expansão dos meios de comunicação e o apelo das propagandas estimuladoras de novas e velhas necessidades acabou por detonar a erupção pela sexualidade humana. Diante disso é possível constatar que o estudo da sexualidade humana é muito complexo e polêmico, pois envolve elementos de ordem religiosa, social, política, ética e filosófica. A escola deve ser encarada como uma “agência educadora” participante

nesse processo de educar o homem, a construir sua identidade e suas redes de significações culturais. Porém não deve caber somente à escola esta tarefa, pois a educação sexual é um fenômeno da sociedade, que “constrói redes de significações culturais e comportamentos padronizados, de acordo com os códigos sociais vigentes”. Nesse sentido a educação sexual acontece em qualquer grupo social e este passa a ser também uma “agência educadora”. O papel dos educadores no campo da educação sexual, nesse contexto, é o de estabelecer um ambiente estimulador, que proporcione discussões e intervenções, incentivando o educando a uma consciência crítica, sensível e capaz de perceber a trajetória da sua sexualidade, reconhecendo assim os atuais mecanismos e a ação política e social da época atual. Assim ele se tornará “construtores de uma nova rede de significação para a vida e a sociedade humana”. No processo de entendimento do comportamento sexual o autor faz referência ao tabu sexual da virgindade, que, em nossa cultura, foi usada como forma de dominação da mulher. Teve sua base nas concepções medievais que relacionavam o casamento com a nobreza, propriedade e poder dos homens. Essa concepção tem significado patriarcal da cultura cristã. Aprofundando o estudo sobre a sexualidade, César faz considerações sobre Sigmund Freud que foi o pioneiro na reflexão sobre a sexualidade humana no século XIX, que, de família judaica, educado sobre forte influência religiosa e “sob pressão da filosofia positivista e fortemente determinista do seu tempo, acaba por construir um pensamento e uma teoria nova sobre o homem, sua existência e seus processos de educação e compreensão da realidade”. Em seguida propõe a análise da evolução histórica e cultural, que nos permite perceber as diferentes transformações das sociedades humanas, em cinco etapas. A primeira é a compreensão mítica da sexualidade primitiva, semidivinizada, das sociedades agrárias no Oriente Médio, onde existia o culto à fertilidade, representada pela “Deusa-Mãe” ou “Terra-Mãe”. O sexo era visto como elemento religioso, s agrado, um culto à fertilidade. Era o domínio do matriarcalismo, que valorizava o culto à mulher. Por milhares de anos a humanidade viveu sob a organização e o poder das mulheres. A agricultura, a fiação e a facelagem eram funções das mulheres, mas, devido às transformações sociais de produção e de identidade sofridos pelas funções do homem, surge um novo grupo social, o poder patriarcal, isto é, dominado pelo homem, que passa de caçador a proprietário de terra. Nessa passagem há a submissão da mulher, as suas funções são usurpadas pelos homens. No poder matriarcal e no poder patriarcal pode-se observar que funções e papéis sexuais decorrem da estrutura social e cultural de cada época. A segunda etapa inicia-se com o advento das civilizações urbanas do mundo antigo. O sexo perde seu caráter mítico e passa a ser mais “racionalizado”. Nesse momento distingue-se o sexo da reprodução e da fecundidade. Para entender essa etapa o autor faz uma reflexão sobre o patriarcalismo, que é uma organização da sociedade controlada pelo homem. A mulher passa a ser considerada como uma propriedade do homem. Ela é inferiorizada e considerada impura. A terceira etapa da evolução é chamada de “civilização cristã”. A sexualidade passa a ser controlada pela religião. O cristianismo adquire uma função ideológica, universalista e moralista. A igreja tenta controlar a sexualidade humana, através de uma doutrina rígida, onde “a sexualidade não é considerada como uma dimensão positiva, capaz de ser fonte de valores humanos ou religiosos”. A quarta etapa é a transformação do mundo medieval com a chegada da sociedade capitalista. A repressão da sexualidade é muito forte. A energia sexual é transferi-

da para o trabalho. O princípio do prazer é domado e regulado em nome da realidade. A sexualidade só é reconhecida a nível de procriação, pois a energia da humanidade deverá estar focada na produção de trabalho. A quinta etapa é caracterizada pelo prazer mecanizado da sociedade consumista. Há perda do espírito erótico. O homem se encontra como um consumidor. É a era do “ter mais”. O capitalismo influencia a sexualidade através dos meios de comunicação, o que torna o sexo um objeto que pode ser comercializado. Essa investigação da história tem a intenção de identificar a relação do homem com seu tempo, isto é, a sua forma de pensar e agir. Além dessa análise sexual da evolução da sociedade ocidental-cristã, onde encontramos nossas limitações, medos e traumas, é preciso fazer também, uma análise de dimensão estrutural-dialética, isto é, onde a sexualidade “passa a ser compreendida como uma questão estrutural, ligada diretamente ao contexto social, produzida dentro dele, relacionada com os demais níveis, econômicos, políticos, moral e social”. Nesse caminho, o autor, faz referência às contribuições de importantes nomes que deixaram suas marcas nessa trajetória do estudo da sexualidade humana, como Freud, Reich, Georges Politzer, Marcuse, Foucault, Marilena Chauí, Godelier e Marx. Enfim, ao término do livro, depois de percorrer os modelos históricos da constituição da sexualidade, analisar os papéis sexuais do homem e da mulher, os tabus, discutir os conceitos positivos da sexualidade, o espírito erótico e a questão da educação sexual, conclui-se que é preciso buscar novas relações humanas, solidárias e prazeirosas, despidos de moralismo e discriminações, a fim de formar uma nova sociedade com novos padrões de vivência social, trabalho e racionalidade....


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