Doreen Massey - Nota: 10 PDF

Title Doreen Massey - Nota: 10
Author Gabriela Schwartz
Course Teoria Regional
Institution Universidade Federal de Santa Catarina
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Summary

Resenha/notas sobre Doreen Massey. Espaço como produto de inter-relações...


Description

Essa idéia do espaço como esfera de possibilidade da existência da multiplicidade articula-se com a idéia política que salienta a diferença e a heterogeneidade. Uma política que questiona as narrativas do Ocidente, do masculino e do branco. Inspirando-se nas teorias pós-coloniais, a autora defende o reconhecimento da contemporaneidade de múltiplas trajetórias históricas, em substituição à idéia de uma única história universal, que colocou todas as diferenças numa mesma linha do tempo. Para ela, reconhecer a heterogeneidade e a multiplicidade à sério, só é possível pela consideração da espacialidade, que é a esfera que permite a contemporaneidade radical da diversidade e as suas relações. Trata-se de reconhecer a coexistência de outros, com trajetórias históricas próprias; trajetórias que se cruzam, se conectam e se desconectam, formando assim o espaço a partir dessas relações. Por fim, imaginar o espaço como aberto e em processo, articula-se com a idéia política de abertura do futuro. O contraponto aqui é a idéia moderna de progresso, na qual o desenvolvimento histórico já estaria com o trajeto traçado e o destino acertado. Não só a história, mas também o espaço é aberto, pois há ainda muitas combinações relacionais possíveis a serem feitas. Nesse sentido, “conceituar o espaço como aberto, múltiplo e relacional, não acabado sempre em devir, é um pré-requisito para que a história seja aberta e, assim, um pré-requisito, também, para a possibilidade da política” (p. 95). A autora deixa claro ao longo do texto que o espaço não é algo estático e neutro, uma entidade gélida e imóvel, mas é algo interligado com o tempo e, assim, sempre mudando. Em suas Proposições Iniciais a autora mostra uma nova divisão: o espaço pode ser visto como um produto das inter-relações, como uma esfera da multiplicidade, e, por fim, poderemos reconhece-lo como algo sempre em construção O propósito central do livro é construir uma nova imaginação (e essa é a expressão da própria autora) de espaço, diferente daquelas construídas no pensamento Ocidental durante a modernidade – mas também agora, na pós-modernidade –, que sempre o viram como morto, fixo, atemporal. Retirado desse quadro conceitual que o associava a tudo que é estático, o espaço em Massey é pensado a partir de um outro conjunto de idéias, como inter-relação, contemporaneidade dinâmica, abertura radical, heterogeneidade. Já na parte um (Proposições Iniciais), a autora apresenta sua proposta alternativa para conceituar espaço, em que ele é visto como “produto de inter-relações”, como “esfera da possibilidade de existência da multiplicidade”, e como sempre em construção e, portanto, aberto, inacabado. Para Massey, pensar o espaço dessa forma é muito mais do que afirmar que o espacial é político, é abrir a Geografia e a discussão espacial em direção a um diálogo com as principais vertentes da política progressista contemporânea, como as teorias feministas e queer e as teorias póscoloniais. O que é um alívio para nós, geógrafos e geógrafas, acostumadas a ver essas discussões presentes apenas em outros campos das Ciências Sociais, como Antropologia, Educação, Sociologia... Assim, o livro de Massey pode nos oferecer uma bússola, uma referência da própria Geografia, para nos guiar no quadro desse debate teórico-político. Para exemplificar essas articulações, vale a pena acompanhar um pouco do argumento da autora, para quem sua concepção de espaço dialoga bem com uma política antiessencialista em questões de identidade de grupos sociais e de lugares, enfatizando sua construção relacional. Emerge daí a questão da Geografia das relações na construção dessas identidades, pois o

espaço é produto de inter-relações e elas só podem existir num espaço de multiplicidade, onde não há nada dado de forma definitiva. Essa idéia do espaço como esfera de possibilidade da existência da multiplicidade articula-se com a idéia política que salienta a diferença e a heterogeneidade. Uma política que questiona as narrativas do Ocidente, do masculino e do branco.

A chave é a diferença e a diferença é espacial. Diferença das trajetórias, que são espaçotemporais, sobretudo. Por isso ela questiona essa globalização, que quer homogeneizar tempo e espaço. Ela entende que o político é justamente essa abertura para a diferença, para os distintos modos de desenvolvimento econômico possíveis, por exemplo. Ela entende que é só assim que, de fato, existe política, na coexistência dos diferentes e nao partindo dessa imaginação geográfica/espacial que diz que todos devem seguir a mesma linha do tempo e que todos devem e podem chegar ao mesmo grau de desenvolvimento. Nisso entram os exemplos de Moçambique e afins, pois ela entende que esses países nao precisar seguir essa linha do tempo (que é anti-espacial) que diz que todos caminham para o mesmo fututo. Colo abaixo parte das minhas anotações para essa aula, que acho que dá conta das tuas dúvidas. Qualquer coisa escreva novamente.

Massey apresenta três proposições iniciais que embasam uma abordagem alternativa de espaço: Espaço como produto de inter-relações: partindo dessa compreensão, pode-se partir também de uma compreensão política anti-essencialista, que entende que as identidades não são imutáveis, mas que são relacionais. Com isso, por exemplo, é possível questionar determinismos espaciais que fixam identidades a espaços. Já que espaços são produtos de relações e identidades também o são, a própria constituição das identidades é o que fundamenta o jogo político. Desse modo, ao invés de discutir as identidades já constituídas, essa forma de pensar a política e o espaço enfatiza a construtividade relacional. Espaço como a esfera da possibilidade da existência da multiplicidade. O que isso tem a ver com a política? É a questão da diferença e da heterogeneidade. A história do mundo não é a história do ocidente, não é a história da Europa, e a história da humanidade não é a história do “homem” como se essa fosse a história universal e todas as demais fossem histórias particulares. [é possível fazer uma analogia entre história universal x histórias particulares e espaço global x lugares. A história universal é a história da europa. O espaço global é dos países centrais. O resto são os outros, os periféricos, os nativos, os aborígenes. Temos história das mulheres, história indígena, histórias dos negros. Isso não é parte da História? ] Existe uma quantidade imensa de trajetórias distintas que formam parte de uma

complexidade. Dessa forma, as práticas políticas têm sido mexidas, refeitas, por conta da reivindicação desses seres marginais, que insistem em afirmar que a vida social é múltipla e é heterogênea. E segundo argumenta Massey (p. 31), reconhecer essa multiplicidade e essa heterogeneidade, significa também reconhecer a espacialidade. Reconhecer a espacialidade da política, a espacialidade das questões sociais, é reconhecer a coexistência simultânea de outros, com suas próprias trajetórias e histórias. E mais, não são diferenças a serem vencidas ou ultrapassadas pelo progresso histórico a partir de uma visão de que o caminho é um só ou de que exista uma lei histórica que precisa ser cumprida por todos igualmente, como dita a globalização, como ditam as grandes potências, como dita a política mundial, que afirma que nós somos atrasados na sequência histórica. Atrasados com relação a que, se são trajetórias distintas? Isso também foi dito por Milton Santos, de forma distinta, quando fala dos espaços do terceiro mundo... Espaço está sempre em construção: o espaço está sempre em processo e, dessa forma, dentro dos discursos políticos, ele implica numa compreensão de uma abertura genuína para o futuro. E isso retoma a questão anterior, de que essa abertura para o futuro é também uma possibilidade de não ter que seguir a linha do progresso, do desenvolvimento e da modernização, como se houvesse uma única forma de viver, de produzir, de se alimentar, de utilizar energia, etc. O que ela argumenta é que apenas se o futuro for aberto haverá campo para uma política que possa fazer diferença (p. 32). Se o futuro é inexoravelmente o mesmo pra todos, não há muito o que fazer, pois no limite a gente vai chegar naquele futuro que já está traçado e é só uma questão de tempo. Ela argumenta que o espaço está sempre aberto, que essa simultaneidade jamais estará completa, pois “há sempre conexões ainda por serem feitas, justaposições ainda a desabrochar em interação (ou não, pois nem todas as conexões potenciais têm de ser estabelecidas), relações que podem ou não ser realizadas”, e que o espaço não é um recipiente de identidades já constituídas, mas o que ela defende é um espaço de resultados imprevisíveis e de ligação ausentes. Nem tudo está conectado e nem tudo é previsível. Então, ela argumenta que para que o futuro seja aberto, para que, portanto, a política possa fazer a diferença, o espaço também precisa ser compreendido como sempre aberto (p. 32). Massey (2008, p. 33) usa muito a ideia de trajetória para a enfatizar o processo de mudança dos fenômenos, ou seja, o que há é a existência coetânea de uma pluralidade de trajetórias, ou como ela também define o espaço, uma simultaneidade de histórias-até-agora. São heterogeneidades coexistentes. Muito dessa argumentação tem o intuito de “arrancar o espaço daquela constelação de conceitos em que ele tem sido, tão indiscutivelmente, tão frequentemente, envolvido

(estase, fechamento, representação) e estabelece-lo dentro de outro conjunto de ideias (heterogeneidade, relacionalidade, coetaneidade... caráter vívido, sem dúvida) onde seja liberada uma paisagem política mais desafiadora”. (MASSEY, 2008, p. 34-35)....


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