Resenha do livro o mal-estar da pós-modernidade de Zygmunt Bauman PDF

Title Resenha do livro o mal-estar da pós-modernidade de Zygmunt Bauman
Author Sarah Hinaraí Santos da Fonseca
Course Leitura e Prática de Produção Textual
Institution Universidade do Estado da Bahia
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Resenha Crítica ...


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RESENHA O livro O mal-estar da Pós-modernidade, autoria de Zygmunt Bauman, 1998, propõe uma reflexão acerca das inquietações da pós-modernidade, marcada pelo incessante desejo de liberdade somado às intensas transformações sociais, no que tange ao avanço das tecnologias, mudanças econômicas, sociais e culturais. Segundo o autor, o desejo do homem da era moderna consistiu em banir toda forma de “sujeira” que viesse a pôr em risco a ordens e os padrões sociais instituídos. Tudo que comprometesse a segurança da vida diária deveria ser evitado. Nessa perspectiva, o que fosse considerado estranho, o que representassem o diferente, estava fora de lugar, logo, necessitaria ser ignorado. Contra todos os estranhos foi empreendida a guerra numa tentativa de tornar a diferença semelhança, conter as distinções culturais ou linguísticas, proibir todas as tradições – estratégia da assimilação, ou expulsar os estranhos para além das fronteiras do território administrado, aniquilamento físico e cultural do estranho e diferente – estratégia antropoêmica. Os estranhos, são entendidos aqui como todos aqueles que não exercitam as práticas de consumo e, evidentemente não estão ávidos por novas e marcantes experiências. Todos os que se encontravam à margem das práticas de consumo eram considerados a impureza que deveria, consequentemente, ser erradicada. Esses estranhos eram dotados de tradições que foram herdados das comunidades que constituíam, tornando-se alvo dos projetos moderno que visava em libertá-los dessa identidade, a fim de promover a organização e o padrão das coisas. Em contrapartida, Zygmunt Bauman assevera que na modernidade tardia ou pósmodernidade, buscava-se consumidores de intensas sensações e novas experiências, num intenso movimento de experimentação de identidades. Nesse sentido, o estranho seria aquele incapaz de participar desse jogo de vivências de novas possibilidades, ou seja, pessoas que não exerciam a sua liberdade, que não eram peças fundamentais do mercado consumidor visto que não eram consumidores em potencial. Suposta solidez e continuidade das coisas, daí a obsessão pela ordem e pelos padrões, num contraponto nítido com as estruturas pós-modernas cujo desejo desenfreado pela liberdade que estava sempre acompanhada pela sensação de incerteza acerca da visão

de futuro do mundo. Alguns fatores influenciaram diretamente nesse sentimento cultivados pelos indivíduo pós-modernos, tais como: 1- a nova desordem do mundo, constituída por uma fusão de grupo, comunidades, identidades diversas, novas forças políticas, instabilidade e inconstância do status social adquirido; 2 – a desregulamentação universal baseada na desenfreada liberdade concedida ao capital e demais liberdades, na prioridade outorgada à irracionalidade e cegueira moral e a intensa desigualdade social; 3 – as transformações sofridas nas redes de seguranças sustentadas e tecidas pessoalmente que ocasionaram mudanças das relações interpessoais; e 4 – a incerteza em torno das estruturas materiais, sociais e da atividade política. Na era do consumo, os estranhos são compreendidos, de acordo com Bauman, como jogadores indolentes e incapacitados a participar das atividades no mercado de consumo; estes devem estar à margem. Nesse sentido, os pobres são os considerados estranhos e, nessa vertente, ser pobre é encarado como crime e merece ódio e condenação, visto que tem predisposições criminosas tais como abuso de álcool e outras drogas, vagabundagem e jogos de azar. E uma vez multiplicando-se o número de estranhos, maior a possibilidade de morte do bem-estar tão desejado na era moderna. Um outro aspecto relevante que merece ser considerado diz respeito ao exercício da justiça na pós-modernidade. Muito pouco, segundo o autor, tem sido feito para aumentar a percepção do mundo como justo, na medida em que os índices de bemestar e qualidade de vida apontaram em direção à crescente desigualdade, constituindo assim numa polarização sócio-política em que se situam de um lado rápido enriquecimento o que contribui, por outro lado pelo empobrecimento do outro. Nesses moldes políticos instituídos, o rico tenderá em ser cada vez mais rico e o pobre ainda mais pobre. Nesse interim, os pobres deixam de ser considerados o “exército de reserva da mão-deobra” que eram explorados para produzirem o que seria transformado em capital. Os pobres, na sociedade pós-moderna são encarados como inúteis, disponíveis, inimigos da segurança pública, sorvedouros dos recursos públicos que precisam ser neutralizados, destituídos de poder a fim de tornar cada vez mais iminente a incriminação da pobreza e a brutalização dos pobres. A tendência dos pobres em exigir

a negligenciada distribuição de riqueza promoveu o número crescente de votantes que aprovam o rebaixamento do estado de bem-estar dos desfavorecidos, em virtude do aumento da carga tributária. Logo, para que a justiça social seja implementada é imprescindível a implementação de novas estratégias políticas que incluem a melhoria total da vida do sujeito. Do contrário, é impossível conceber o ideal de sociedade justa. Um outro aspecto analisado por Zigmunt Bauman diz respeito à necessidade da modernidade em estar em constante movimento. Ser/estar fixo não contempla os anseios do homem moderno. Nesse sentido, surge a figura dos arrivistas e dos párias. Os arrivistas eram compreendidos como aqueles que viviam em constante busca de identidades, já que lhes definições lhes foram negadas. Pela sua inconstância e volubilidade, os arrivistas comprometiam a segurança e a ordem de quaisquer portos seguros. Os párias, por sua vez, eram entendidos como aqueles que estavam sempre em movimento, eram os nômades e, por não pertencerem a lugar algum, não lhes eram conferidas nenhum tipo de proteção. Essas figuras metafóricas representam o desejo de liberdade para escolher as próprias identidades, para estar em movimentos, características marcantes na pós-modernidade e tão temidas na durante a modernidade, visto que comprometeriam a ordem estabelecidas dos fenômenos. O autor aponta uma outra preocupação da modernidade tardia: a destemporalização do espaço social. Homens e mulheres modernos viveram num tempo-espaço com estrutura, rijo, sólido, durável que asseguravam e limitavam o caráter volátil da vontade humana, bem como a segurança e proteção das estruturas enraizadas. No contexto pós-moderno, entretanto, as estruturas duráveis foram substituídas por produtos descartáveis; inclusive as identidades poderiam ser adotadas e descartadas de forma rápida e sem burocracias. As regras desse jogo consistiam em evitar estruturas fixas, não se prender a um lugar, não controlar o futuro e proibir o passado de se conectar com presente. Assim, o tempo já não estrutura o espaço. Em outras palavras, o eixo da vida pós-moderna centrava-se numa verdadeira luta contra a estabilidade das identidades, evitando, assim, que elas se tornassem demasiadamente firmes e de adesão rápida ao corpo. Nessa vertente, não haveria preocupação com o futuro, comprometimento com obrigações de longo prazo, visto que estar em constante movimento é uma alternativa para não se fixar em coisa alguma.

Na contramão dessa tendência, as vanguardas da era moderna transmitem a ideia de um espaço e tempo bem ordenados, cuja definição não se aplica a pós-modernidade que se encontra num frenético movimento. A multiplicidade de gêneros e estilos de forma diretamente proporcional ao tempo e espaço. As novas invenções artísticas não se ocupam de ofuscar as já existentes, mas de fundirem-se entre si, formando novas concepções que tem o mesmo direito de sobreviver eu as anteriormente criadas. As artes da modernidade tardia não se mostram compromissadas com a realidade social: é uma cultura de simulacro e não de representação, conforme salienta o autor. Desse modo, ocorre a aceitação do pluralismo da diversidade, tendo em vista que todos têm o direito de existir. Então, a obra de arte contemporânea se traduz numa coletânea de vozes e formas variadas, constituídas num processo intenso de interpretação que se configura também como um procedimento de criação de significado, o qual se materializa no espaço existente entre o artista e o espectador. A ordem e o consenso são substituídos pela liberdade na arte pós-moderna e, a experimentação é baseada em novas ações, excluindo a experiência herdada e institucionalizada. Dentre as preocupações do mundo pós-moderno pode-se citar ainda a reflexão obre a verdade e a incerteza. A teoria da verdade baseia-se na ideia de Platão de que é preciso sair da caverna para enxergar as coisas como elas de fato são. Na era moderna, o desejo da filosofia consistia em refutar o senso comum através da racionalidade e da comprovação científica. Contrariamente, na era pós-moderna, a filosofia se ocupa de apontar uma verdade, mas de compreender e tornar legítima a pluralidade de verdade sobretudo aquelas oriundas de grupos minoritários que defendem suas causas distintas. A polifonia do mundo pós-moderno, por um lado propicia o surgimento de uma multiplicidade de identidades, em virtude do pluralismo de ideias e verdades defendidas e, por outro lado, se caracteriza pela dificuldade que existe em se manter fiel a uma identidade por muito tempo. O movimento, a liberdade e a abdicação a formas fixas são a mola propulsora das estruturas pós-modernas. A noção de cultura moderna foi pautada no modelo de fábrica da ordem. Assim, a educação, a socialização, o ensino e aprendizado se ocupavam de estabelecer a norma, através de um projeto de cultura nacional homogênea, uma linga nacional, um

currículo de história nacional, um calendário unificado de festividades e comemorações. Num contrassenso, a pós-modernidade vai de encontro ao paradigma ortodoxo dada cultura estabelecedora da ordem na medida em que: não existe estrutura global da cultura como um todo, mas de culturas; as culturas são construídas através de um processo e, a prática cultural é livre de sentidos e necessidades preestabelecidos. * Os modelos ortodoxos de cultura eram centrados no criador e nos seus interesses. A visão pós-moderna de cultura concebe o consumidor de cultura como aquele que, juntamente com o autor, nas situações cotidianas atribuem sentido ao que é cultural. A cultura de vanguarda da era moderna distanciava o autor do consumidor de cultura e, classificava

a criação cultural em vulgar ou culta. O

dinamismo da cultura, a liberdade de escolha e de produção em virtude da multiplicidade de possibilidades eram características que a terrorizavam a cultura moderna, mas que seduziam a pós-modernidade. Um outro aspecto emblemático das discussões da pós-modernidade diz respeito à sexualidade. Durante a modernidade, o sexo serviu à articulação dos novos mecanismos de poder e do controle social, proibindo qualquer manifestação da sexualidade infantil e conferindo, especialmente, mais poder ao homem, cujas atividades sexuais não se limitavam ao objetivo de constituir família. Era-lhes permitido o direito poligamia e o intercurso sexual com mais de uma mulher, além do direito a um espaço privativo não controlado por outros membros da família: características de uma sociedade patriarcal. Na pós-modernidade, todavia, a função do sexo foi transformada graças as revoluções sexuais que possibilitou mais liberdade em relação às práticas sexuais, mas também, novas privações. Estruturas fixas de relacionamento, baseadas na fidelidade e durabilidade perdem a utilidade. Por outro lado, todas as outras relações humanas são atacadas de pânico em virtude das possibilidades de abusos e assédios sexuais no interior dessas relações. A intimidade entre pais e filhos ou entre amigos, passa a ser vigiada. Os medos relativos ao sexo não se concentram em relação as manifestações da sexualidade das crianças, mas sobretudos nos desejos sexuais dos pais e seus impulsos incontroláveis. A pós-modernidade traz à tona uma nova preocupação e novas funções: purificação das intensões sexuais impuras e separar os objetos sexuais (crianças) dos

sujeitos sexuais (adultos, os pais), visto que o pais, adultos colocados na posição de detentores do poder podem muito bem abusar desse poder a serviço dos seus extintos sexuais. A morte também uma preocupação da sociedade pós-moderna. Durante a modernidade a consciência da imortalidade levava cada vez mais pessoas a adotarem alternativas que lhes garantissem uma nova vida póstuma, utilizando para tal basicamente duas estratégias. A primeira era coletiva através da qual o ser humano aceitava a ideia de mortalidade, fortalecendo para tal as instituições das quais faz parte, visto que estas podem ser imortalizadas com o esforço de cada um. A segunda estratégia era individual, posto que o indivíduo poderia ser lembrado pós morte através dos seus feitos memoráveis que ninguém mais realizou. A modernidade temia a morte, mas não a aboliu. Ela trouxe avanços na arte de repelir toda e qualquer causa da morte. Por outro lado, a pós-modernidade, através dos avanços da TICs, possibilitou a “imortalidade” comtemplada através da memória artificial dos sofisticados computadores, assim, ninguém submerge para sempre na escuridão da morte. Enfim foi a consciência da morte que insuflou vida na história humana. Além da preocupação com a morte, várias implicações são geradas em torno da religião na pós-modernidade. A religião foi adotada por muitos em virtude da consciência da insuficiência humana e da admissão da fraqueza. A partir de uma perspectiva humanista que minimiza ou anula a figura de Deus, os seres humanos estão sozinhos para tratar de assuntos de que os seres humanos podem tratar. Os homens e mulheres modernos estavam alheios às homilias de salvação e redenção ou julgamentos póstumos. Logo a ideia de autossuficiência humana minou o domínio da religião institucionalizada e se ocupou em concentrar-se nas atividades que os seres humanos podem executar cujas consequências podem ser sentidas aqui mesmo na vida. A vida moderna repeliu a obsessão com a vida após a morte, o julgamento póstumo e concentrou sua atenção com o gozo da vida na terra contando com tudo o de melhor que a vida pudesse oferecer. A pós-modernidade tentou desarmar-se do medo da morte, substituindo a religião por novas estratégias de aconselhamento para viver plenamente através de terapias, livros de autoajuda entre outros. Intensificou-se a busca por experiências máximas,

desligando-se, consequentemente, dos interesses por religião. A ideia de insuficiência humana é substituída por potência humana. A vida pós-moderna, contrariando os ideais de privação e miséria defendidos pela religião, reconcilia os homens com o dever de um consumo ávido e permanente. A lógica do consumismo acabo por excluir aqueles homens e mulheres da contemporaneidade que não são capazes de exercê-lo: os estranhos, os consumidores falhos, inabilitados de experimentar, aqueles que ficam à margem da sociedade. Consequentemente, eles foram absorvidos por uma nova tendência que propõe o aproveitamento das atrações modernas sem pagar o preço que elas exigem. Surge nesse contexto o fundamentalismo, considerado uma alternativa radical para conter o excesso de consumo e liberdade da sociedade pós-moderna. A promessa maior é atribuir poderes ao grupo evitando a subordinação às escolhas individuais tão marcantes na contemporaneidade.

Nesse sentido, o fundamentalismo religioso

confere segurança e certeza àqueles situados num contexto em que consideram insuportável a liberdade individual excessiva e extravagante e, tem contado com uma clientela sempre em ascensão. O último aspecto analisado por Bauman, discorre sobre o comunitarismo e a liberdade humana. Segundo o autor, o pluralismo de ideias, a liberdade de escolha e a diferença são aprovados pelo liberalismo. Entretanto, há uma dicotomia em torno da concepção de liberdade: a diferença na perspectiva liberal diz respeito aos modos de viver assumidos livremente pelas pessoas, individualmente; ao passo que no ponto de vista comunitário, a diferença diz respeito às características do grupo que buscam limitar a liberdade individual. Logo, a ideia de uma identidade nacional, como forma de estabelecimento da ordem é um conceito que a pós-modernidade não tem ganhado força, em virtude das identidades múltiplas de grupos minoritários, constituídos por indivíduo que passaram a vida à mercê das negligências do estado. Logo, no contexto pós-moderna, a comunidade é o resultado de escolhas individuais livremente escolhidas pelos seus pares, mas se os indivíduos têm a obrigação de manterem-se fiéis aos princípios do grupo, a liberdade individual é comprometida. Assim, a liberdade de escolha, mesmo comprometendo a coerência dos grupos, tornou-se uma variável estratificadora da nossa sociedade multidimensionalmente estratificada.

Em síntese, todas as maiores preocupações e mal-estar da pós-modernidade giram em tono da liberdade dos indivíduos diante de um mundo constituído por uma infinidade de identidades, escolhas: um mundo plural. A verdade não é única; os indivíduos têm muitas convicções, tradições, histórias, deuses e muitos pontos de orientação. E daí, ainda paira a dúvida entre viver na ansiedade da liberdade (pós-modernidade) ou no conforto da certeza (modernidade). Entretanto, o desmantelamento das instituições modernas minimizou a desumanidade, intolerância e ausência de compaixão do início da modernidade. A liberdade individual é legitima, assim como a de grupos e, o que fortalece o exercício desse poder é a comunidade política exercendo plenamente a cidadania a fim de assegurar para todos direitos iguais, o que só pode ser legitimado através de uma política inspirada nos ideais de Liberdade, Diferença e Solidariedade. Do contrário, estaremos sempre fadados a submetermos a uma política que promove a opressão sob o disfarce da emancipação....


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