Walter Benjamin - o narrador PDF

Title Walter Benjamin - o narrador
Author Diego Migliorini
Course Estética
Institution Fundação Armando Alvares Penteado
Pages 4
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Summary

Resumo do Capítulo "O narrador" de Walter Benjamin....


Description

Walter Benjamin - O Narrador: Considerações sobre a Obra de Nikolai Leskov Objetivos Centrais do texto - Analisar a obra de Leskov e mostrar o desaparecimento da arte de narrar, que é consequência da desvalorização da experiência e da predominância do individual sobre o coletivo. Argumentos - Parte-se do pressuposto de que o narrador, apesar de ser uma figura que todos conseguem reconhecer, nunca esteve tão distante de nós, pois aparentemente perdemos a capacidade de intercambiar experiências. Isso se deve à desvalorização da experiência na sociedade moderna e pela alteração da imagem que temos da realidade. - Guerra, cientificismo. "Por mais familiar que seja seu nome, o narrador não está de fato presente entre nós, em sua atualidade viva. Ele é algo de distante, e que se distancia ainda mais.(...) Quando se pede num grupo que alguém narre alguma coisa, o embaraço se generaliza. É como se estivéssemos privados de uma faculdade que nos parecia segura e inalienável: a faculdade de intercambiar experiências." pag 213

- O que é a narração - tradição oral, e se escrita, melhor quanto mais similar aos relatos orais. O narrador é composto por dois tipos ideias que são separados apenas para fins analíticos, pois se interpenetram: "Entre estes, existem dois grupos, que se interpenetram de múltiplas maneiras. A figura do narrador só se torna plenamente tangível se temos presentes esses dois grupos. "Quem viaja tem muito que contar", diz o povo, e com isso imagina o narrador como alguém que vem de longe. Mas também escutamos com prazer o homem que ganhou honestamente sua vida sem sair do seu país e que conhece suas histórias e tradições. Se quisermos concretizar esses dois grupos através dos seus representantes arcaicos, podemos dizer que um é exemplificado pelo camponês sedentário, e outro pelo marinheiro comerciante." pp 214 e 215

- Leskov era um cristão ortodoxo com problemas com a burocracia eclesiástica e com o funcionalismo leigo. Cargos oficiais propiciaram constantes viagens, fontes de inspiração para suas histórias. O personagem central é sempre um justo desprendido do mundo material. "Seu ideal é o homem que aceita o mundo sem se prender demasiadamente a ele." p. 216

- A narrativa traz consigo uma utilidade, baseada no senso prático do narrador - como abstrair uma função prática daquele relato? Ela serve a algum propósito: conselhos. A experiência lhe dá autoridade de sugestão. O acúmulo de experiência de vida, ao longo dos anos, é chamado de sabedoria. "O conselho tecido na substância viva da existência tem um nome: sabedoria. A arte de narrar está definhando porque a sabedoria - o lado épico da verdade - está em extinção."

Hoje o conselho é antiquado, diferente da consultoria - certo grau de cientificidade. Quando a gente fica velho, fala: minha vó tinha razão, mas só depois de aprender na prática. - O fim da narrativa: o romance. Burguesia, Iluminismo, Modernidade. Tradição escrita, criação isolada. Estilo, literatura, introspecção - reprodução pela imprensa.

Na narração, as histórias são as mesmas: alteram-se os personagens, o cenário, mas não a moral - arquétipos, jornada do herói, mito. "O narrador retira da experiência o que ele conta: sua própria experiência ou a relatada pelos outros. E incorpora as coisas narradas à experiência dos seus ouvintes. O romancista segrega-se. A origem do romance é o indivíduo isolado, que não pode mais falar exemplarmente sobre suas preocupações mais importantes e que não recebe conselhos nem sabe dá-los." p. 217

- Para além do romance: com a consolidação da burguesia, o surgimento de um tipo de comunicação que acompanha a velocidade do desenvolvimento industrial - a informação: imediatista, interpretação dada, só tem valor quando nova, diferente da narrativa, que não se esgota. "O saber, que vinha de longe - do longe espacial das terras estranhas, ou do longe temporal contido na tradição -, dispunha de uma autoridade que era válida mesmo que não fosse controlável pela experiência. Mas a informação aspira a uma verificação imediata. Antes de mais nada, ela precisa ser compreensível "em si e para si". Nisso ela é incompatível com o espírito da narrativa. Se a arte da narrativa é hoje rara, a difusão da informação é decisivamente responsável por esse declínio." p. 219

Histórias repetidas, o que vem de longe não interessa, não faz sentido. - Heródoto - narrativa não se esgota - Quanto menor a evidência ao apelo psicológico, maior a probabilidade de uma narrativa ser assimilada e reproduzida pelos ouvintes: por isso as fábulas e contos de fada para crianças - são mais fáceis de entender e de surtirem efeito. - Caráter artesanal da narrativa: o narrador imprime sua marca - assim como a experiência vai perdendo valor pela substituição do coletivo pelo individual, a alteração nas relações de trabalho contribui para o desaparecimento do narrador. - narrativa tira sua autoridade da morte. Quem está pra morrer é o mais apto a passar adiante sua experiência, e portanto, sua sabedoria. Flusser - O homem se comunica pq sabe que vai morrer. É a forma que ele tem de gravar na história todo o conhecimento acumulado em uma vida, que se não for passado, perde-se com a sua morte. No coletivo, isso é importante pq se aprende com a experiência de cada indivíduo que faz parte do coletivo, garantindo a sobrevivência do grupo. Cronista é o narrador da História. Historiador escreve e explica, cronista se usa da história pra passar uma mensagem. "Não se percebeu devidamente até agora que a relação ingênua entre o ouvinte e o narrador é dominada pelo interesse em conservar o que foi narrado. Para o ouvinte imparcial, o importante é assegurar a possibilidade da reprodução.A memória é a mais épica de todas as faculdades. Somente uma memória abrangente permite à poesia épica apropriar-se do curso das coisas, por um lado, e resignar-se, por outro lado, com o desaparecimento dessas coisas, com o poder da morte." p 227 - "Se o registro escrito do que foi transmitido pela reminiscência - a historiografia - representa uma zona de indiferenciação criadora com relação às várias formas épicas (...) sua forma mais antiga, a epopéia propriamente dita, contém em si, por uma espécie de indiferenciação, a narrativa e o romance." p. 228

As duas se baseiam na memória, mas a memória que vai fundar o romance se diferenciou. Narrativa se baseia na rememoração, na tradição que passa de geração em geração, em múltiplas histórias que compõem uma grande história; diferentemente do romance, que se baseia na reminiscência, ou seja, na introspecção que visa a perpetuação de uma memória particular. Tanto que o romance é a única forma que inclui o tempo: não se pretende inesgotável como a narração - luta contra o poder do tempo, contra a morte. Enquanto a narração aceita e tira sua legitimidade da morte, o romance tenta vencê-la. Por tratar da morte, o romance gira em torno do sentido da vida (individual), enquanto a narrativa gira em torno da moral da história (doutrinador, educador, pedagógico, social) Cada romance é um cosmos fechado em si. "Com efeito, numa narrativa a pergunta - e o que aconteceu depois? - é plenamente justificada. O romance, ao contrário, não pode dar um único passo além daquele limite em que, escrevendo na parte inferior da página a palavra fim, convida o leitor a refletir sobre o sentido de uma vida." p 230 "Quem escuta uma história está em companhia do narrador; mesmo quem a lê partilha dessa companhia. Mas o leitor de um romance é solitário. Mais solitário que qualquer outro leitor (pois mesmo quem lê um poema está disposto a declamá-lo em voz alta para um ouvinte ocasional). Nessa solidão, o leitor do romance se apodera ciosamente da matéria de sua leitura." p. 230

Na modernidade, a morte foi sendo empurrada cada vez mais para longe da vivência, pelo medo que causa. Contudo, não existe morte sem vida, e vice-versa. Sendo a autoridade da narrativa oriunda da morte, ao tentar esquecer a morte ou vencê-la, a narrativa perde seu sentido. Se o indivíduo é o protagonista, manter a sobrevivência individual é mais importante que manter a do grupo. "o romance não é significativo por descrever pedagogicamente um destino alheio, mas porque esse destino alheio, graças à chama que o consome, pode dar-nos o calor que não podemos encontrar em nosso próprio destino. O que seduz o leitor no romance é a esperança de aquecer sua vida gelada com a morte descrita no livro." p 231 Seja a morte do personagem como a morte figurada, a morte do romance. "O grande narrador tem sempre suas raízes no povo, principalmente nas camadas artesanais. Contudo, assim como essas camadas abrangem o estrato camponês, marítimo e urbano, nos múltiplos estágios do seu desenvolvimento econômico e técnico, assim também se estratificam de múltiplas maneiras os conceitos em que o acervo de experiências dessas camadas se manifesta para nós. (Para não falar da contribuição nada desprezível dos comerciantes ao desenvolvimento da arte narrativa, não tanto no sentido de aumentarem seu conteúdo didático, mas no de refinarem as astúcias destinadas a prender a atenção dos ouvintes. Os comerciantes deixaram marcas profundas no ciclo narrativo de As mil e uma noites.)" p 231-232 "Comum a todos os grandes narradores é a facilidade com que se movem para cima e para baixo nos degraus de sua experiência, como numa escada. Uma escada que chega até o centro da terra e que se perde nas nuvens - é a imagem de uma experiência coletiva, para a qual mesmo o mais profundo choque da experiência individual, a morte, não representa nem um escândalo nem um impedimento" p 232. O narrador é tipo um sacerdote secular!

- Conto de fadas que rejeita o mito, aproxima homem e natureza. - Analisa a obra de Leskov - as figuras maternas, justas, por vezes ignorantes - Conclui finalizando o paralelo entre artesanato e narrativa "A alma, o olho e a mão estão assim inscritos no mesmo campo. Interagindo, eles definem uma prática. Essa prática deixou de nos ser familiar. O papel da mão no trabalho produtivo tornou-se mais modesto, e o lugar que ela ocupava durante a narração está agora vazio.(...) Podemos ir mais longe e perguntar se a relação entre o narrador e sua matéria - a vida humana - não seria ela própria uma relação artesanal. Não seria sua tarefa trabalhar a matéria-prima da experiência - a sua e a dos outros - transformando-a num produto sólido, útil e único?" p. 239 https://www.youtube.com/watch?v=inzkJ34VMfk...


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