As estruturas citadinas no relato do viajante Abdurrahman bin Abdullah al-Baghdádi em Deleite do estrangeiro em tudo o que é espantoso e maravilhoso em tudo o que é espantoso e maravilhoso PDF

Title As estruturas citadinas no relato do viajante Abdurrahman bin Abdullah al-Baghdádi em Deleite do estrangeiro em tudo o que é espantoso e maravilhoso em tudo o que é espantoso e maravilhoso
Course História do Brasil Monárquico I
Institution Universidade Estadual Paulista
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Monografia final da disciplina de Brasil Monárquico I sobre as estruturas citadinas no relato do viajante Abdurrahman bin Abdullah al-Baghdádi em "Deleite do estrangeiro em tudo o que é espantoso e maravilhoso em tudo o que é espantoso e maravilhoso".

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Description

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” FACULDADE DE CIÊNCIAS E LETRAS, CAMPUS DE ASSIS DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

As estruturas citadinas no relato do viajante Abdurrahman bin Abdullah alBaghdádi em Deleite do estrangeiro em tudo o que é espantoso e maravilhoso em tudo o que é espantoso e maravilhoso

Assis 2019

APRESENTAÇÃO DO MANUSCRITO ESTUDADO A obra aqui estudada é o primeiro volume da Biblioteca América do Sul-Países Árabes, o manuscrito conta com tradução e notas do diretor do Centro de Estudos Árabes da USP, o professor Paulo Daniel Elias Farah. Trata-se de um trabalho conjunto da Fundação Biblioteca Nacional da Argélia e das Bibliotecas Nacional e Ayacucho, da Venezuela. Este é o relato de viagem de Abdurrahman bin Abdullah al-Baghdádi adDimachqi, um imã árabe que chegara ao Brasil em meados do século XIX, como tripulante de uma corveta turca-otomana. Al-Baghdádi permaneceu três anos no país e descreveu muito além das paisagens. Descreveu as cenas e os costumes sobretudo religiosos de escravos africanos que professavam a fé muçulmana. Nas primeiras páginas do volume, o Ministro da Cultura do Brasil entre os anos de 2003 e 2008, Gilberto Gil, nos conta ao que se deve a singularidade deste documento: O relato do imã Al-Baghdádi é singular na medida em que nos traz o primeiro olhas árabe e muçulmano de um estudioso culto, versado em diversos idiomas, sobre o Brasil, onde viveu durante três anos e onde conviveu com adepto do Islã e das múltiplas manifestações religiosas existentes aqui. O manuscrito Deleite do estrangeiro em tudo o que é espantoso e maravilhoso, através de seu conteúdo e de sua forma poética, permite-nos ouvir a voz da comunidade africana muçulmana no Brasil oitocentista, um grupo cujas palavras costumavam ser emudecidas. (GIL, 2007, p. 6)

Para o Presidente da Fundação Biblioteca Nacional, Muniz Sodré, a singularidade do relato “começa pelo barroquismo deste título, que bem evoca a afetação de linguagem de místicos brasileiros” (SODRÉ, p.8). Para ele, o texto tem por si, enredo romanesco. Isto é: um alemão teria comprado o texto de um turco, e posteriormente o texto seria repassado à Biblioteca de Berlim para um dia chegar às mãos de Paulo Farah e inaugurar a Biblioteca Árabe-Sul-Americana. Amin Al-Zaoui, Diretor Geral da Biblioteca Nacional da Argélia destaca que os árabes possuem “uma longa e diversificada tradição de viagens e deslocamentos rumo às mais distantes regiões, rumo ao descobrimento de novas terras e ao imprevisto. [..] Para os árabes o desconhecido se assemelha à poesia” (AL-ZAOUI, 2007, p. 16). Segundo Al-Zaoui, o livro determina uma nova era para a narrativa de viagem, por o autor se abster do estilo ornamental excessivo, que pode em alguns momentos introduzir

imprecisões no texto. Conforme diz o tradutor Paulo Farah no Prefácio 1 do volume, Deleite do estrangeiro em tudo o que é espantoso e maravilhoso constitui o principal relato de viagem de um árabe e muçulmano ao Brasil e á América do Sul no século XIX. Farah ressalta ainda que esta é uma fonte de informação histórica, geográfica, antropológica política, religiosa e literária sobre o Brasil, a África, os árabes e os otomanos.

1 FARAH, Paulo Daniel Elias. Prefácio. In: Deleite do estrangeiro em tudo o que é espantoso e maravilhoso – Estudo de um relato de viagem Baghdádi. (tradução, notas, prefácio, texto analítico e transposição do manuscrito). Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 2007.

O BRASIL E AS CIDADES A primeira descrição feita em relação ao território brasileiro já considera as estruturas citadinas brasileiras, vejamos: “[O Brasil] É um território pertencente à América do Sul. Foi conquistado pelos filhos de Portugal, que despenderam um grande esforço para erguer e embelezar suas construções e sua arquitetura.” (FARAH, 2007)

O arquiteto e historiador Carlos lemos, ao definir as primeiras edificações lusobrasileiras em História da casa brasileira2 o esforço português em reproduzir os modismos se restringia à aparência. As condições socioeconômicas e o clima impossibilitaram a réplica e criaram as particularidades das residências brasileiras. Enquanto, por exemplo, o fogão possui uma centralidade nas casas portuguesas, o clima tropical brasileiro forçou o distanciamento do centro irradiador de calor dos demais cômodos. De acordo com lemos, outra diferença é que as cidades portuguesas são formadas por minifúndios que se agrupam em volta de pequenas aldeias enquanto a divisão territorial brasileira é caracterizada por grandes distâncias. As grandes distâncias e a precariedade dos caminhos transformou a hospitalidade numa obrigação social, numa questão de sobrevivência. Daí, o quarto de hóspedes no corpo da casa de morada, os alojamentos para gente menos categorizada nos arredores das dependências de serviço. Daí os cercados para as mulas e cavalos dos passantes que pedissem pouso. Nem sempre a comida estava garantida, mas cama ou a rede estavam. (LEMOS, 1989)

O esforço português parece ter tido sucesso apenas no “embelezar”. Por que razão o viajante exalta o esforço dos “filhos de Portugal”? Este elogio se dá apenas pela personalidade poética do imã, ou seria, em parte, reprodução de um discurso em alguma medida amigável para com os lusitanos, decorrente de uma ruptura ainda pouco incisiva entre Portugal e Brasil? RIO DE JANEIRO, A MAIS GRANDIOSA DAS CIDADES DO BRASIL 2 LEMOS, Carlos Alberto Cerqueira. História da casa brasileira. São Paulo: Contexto, 1989.

Al-Baghdádi dedica quatro parágrafos (FARAH, 2007, p. 92) às estruturas cotidianas da “capital do reino elevado”, cidade sólida e bem construída. Descreve “construções maravilhosas” e um grande lucro advindo do comércio que estaria na mão de estrangeiros. O comércio é uma das realidades implícitas às cidades em qualquer localidade do globo. Conforme Fernand Braudel 3, “não há cidade sem mercado e não há mercados regionais sem cidade [...] não há trocas a distância sem cidade” (BRAUDEL 1979, p. 441). Juntamente com o comércio, desenvolveu-se no Rio de Janeiro uma nova economia monetária. No Brasil, a quebra dos laços comerciais com a metrópole, decorrente da invasão napoleônica, deve ter contribuído para uma maior autonomia dos comerciantes do Rio de janeiro e uma menor fuga do meio circulante, exceto quando a família real, a corte e a alta burocracia regressaram ao reino. Nessa oportunidade converteram o papel-moeda em moeda metálica no Banco do Brasil, fundado em 1809, fazendo a caixa desse estabelecimento baixar para 200 contos apenas. Gradualmente se extinguiu a exportação para a metrópole de moedas cunhadas no Rio de janeiro e de metais preciosos para saldar a balança comercial deficitária da Colônia. (LOBO, 1971, p. 242)

Outro ponto de interesse é o ponto que, usando aqui um conceito braudeliano, Al-Baghdádi descreve a planta dominante do Rio de Janeiro. “Seus moradores não conhecem o cultivo do trigo e da cevada, e não há entre eles ninguém que esteja bem informado sobre isso. Comem farinha, e ela é a companheira deles. Trata-se [a mandioca] de uma espécie de planta parecida com a faia. Cultivam-na na planície. Quando alcança o grau de amadurecimento correto, eles a trituram para transformá-la em farinha, em pó.” (FARAH, 2007, p. 92)

Enquanto na Europa o trigo e a cevada tem papel preponderante na alimentação, no Brasil, talvez por influência dos nativos a mandioca torna-se mais importante. Segundo Al-Baghdádi, a farinha é barata, e tanto ricos quanto pobres a comem igualmente. Substitui o trigo porque contém uma substância amilácea e de digestão muito rápida. Podemos imaginar o estranhamento que a farinha deve causar em 3 BRAUDEL, Fernand 1979 [1997]. Civilização material, economia e capitalismo, séculos XV-XVIII– as estruturas do cotidiano, São Paulo, Martins Fontes.

estrangeiros. Um europeu ao ver aquele pó, poderia pensar, a título de exemplificação, que aqueles “selvagens” estariam comendo areia. Um europeu médio, no entanto poderia invejar os citadinos do Rio de Janeiro ao saber que o alimento da maioria das pessoas era a carne bovina, conforme descreve o imã. Se este mesmo indivíduo estivesse, todavia, interessado em carne de carneiro ou de cabrito, não encontraria. Havia variedade de legumes, mas Al-Baghdádi descreve altos preços. O imã relata que cada mercado possuía um chefe que devia vigiar fraudes. “Eles são muito civilizados, mas não alcançaram o nível de refinamento da Europa” (FARAH, 2007, p.93)

A CIDADE DA BAHIA, UMA DAS CIDADES DO ESTADO DO BRASIL

É preciso dizer que o que o autor se refere à “Cidade da Bahia”, é em verdade Salvador. Ao deslocar-se do Rio de Janeiro para a cidade da Bahia, Al-Baghdádi diz que aquela era uma cidade pequena em retidão, grande em extensão e intensa no calorão. Ali a população também comia a farinha. O árabe se impressiona ao ver em um jardim uma gaiola repleta de pássaros que eram vendidos à todos os países. Deram à ele um papagaio que foi capaz de decorar a convocação à oração do imã. Al-Baghdádi relata que viu na Bahia da cidade um peixe muito grande chamado baleia. Quando foi pescada, o imã foi observá-la, descreve-a como um animal espantoso cuja cabeça tinha a metade de seu corpo aproximadamente. A espessura dele tinha oito braças e o comprimento, cerca de trinta braças. Al-Baghdádi relata que era extraído do cérebro do animal uma quantidade de quarenta barris de óleo. Estes barris de óleo desenvolveram grande importância nas vidas dos cidadãos, digo isto porque somente onde haviam modernos lampiões que queimavam este óleo era possível desenvolver atividades noturnas. Nos lugares onde esta tecnologia não estava disponível “os horários da família coincidiam com os das galinhas” (LEMOS, 1989, p. 44).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AL-ZAOUI, Amin. Biblioteca Nacional da Argélia In: FARAH, Paulo Daniel Elias. Deleite do estrangeiro em tudo o que é espantoso e maravilhoso – Estudo de um relato de viagem Baghdádi. (tradução, notas, prefácio, texto analítico e transposição do manuscrito). Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 2007. BRAUDEL, Fernand 1979 [1997]. Civilização material, economia e capitalismo, sé-culos XV-XVIII–as estruturas do cotidiano,São Paulo, Martins Fontes.

FARAH, Paulo Daniel Elias. Deleite do estrangeiro em tudo o que é espantoso e maravilhoso – Estudo de um relato de viagem Baghdádi. (tradução, notas, prefácio, texto analítico e transposição do manuscrito). Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 2007. GIL, Gilberto. Ministério da Cultura do Brasil. In: FARAH, Paulo Daniel Elias. Deleite do estrangeiro em tudo o que é espantoso e maravilhoso – Estudo de um relato de viagem Baghdádi. (tradução, notas, prefácio, texto analítico e transposição do manuscrito). Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 2007. LEMOS, Carlos Alberto Cerqueira. História da casa brasileira. São Paulo: Contexto, 1989.

Lobo, Eulalia M. L. et alii. Evolução dos preços e do padrão de vida no Rio de Janeiro - resultados preliminares. Revista Brasileira de Economia, 25 (4): 23565,1971. SODRÉ, Muniz. Fundação Biblioteca Nacional. In: FARAH, Paulo Daniel Elias. Deleite do estrangeiro em tudo o que é espantoso e maravilhoso – Estudo de um relato de viagem Baghdádi. (tradução, notas, prefácio, texto analítico e transposição do manuscrito). Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 2007....


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