Bem Vindos Ao Rio Marcos Rey PDF

Title Bem Vindos Ao Rio Marcos Rey
Author adrian alfonso
Course Historia
Institution Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil
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Marcos Rey BEM-VINDOS AO RIO Série Vaga-Lume

  Texto Edição: Fernando Paixão Assistência: Marta de Mello e Souza Suplemento de trabalho: Antônio Carlos Olivieri Preparação dos originais: Pedro Cunha Jr. Arte Edição: Antônio do Amaral Rocha Layout de capa: Ary de Almeida Normânha Ilustrações de capa e miolo: Cláudio Rocha e Jô Fevereiro Diagramacão: Elaine Regina de Oliveira Arte-final: René Etiene Ardanuy Editora Ática, 1986 Este e-book: Digitalização: ? OCR, revisão e formatação: SCS em setembro/2013

ILUSTRAÇÃO

SUMÁRIO Quem é o autor.....................................5 Rio, estou aqui! .....................................7 A garota que veio de Brasília ................7 O anjo colorido e o Cristo Redentor .....9 Meu Deus, onde está Pat?..................10 Os dois na casa abandonada ..............15 À espera do chefe ...............................19 Os sequestradores se reúnem ............21 O interrogatório..................................25 Os pássaros rezam ..............................31 Quem é que manda na Toca? .............32 Tia Elisa começa a se mexer ...............33 Meia-noite em Curitiba ......................35 O caso chega à polícia.........................35 Antes do dia seguinte .........................37 O retrato de Pat, uma esperança........38 Ninguém atende no 322.....................39 O rádio colabora .................................39 Surge uma pista vaga: o museu..........41 O primeiro susto depois do sarampo .42 Um que deserta ..................................43 Um dos sequestradores ao telefone...45 Um rosto aflito no vídeo: tia Elisa.......46 O Baixo retoma o comando................47 Uma conversa amigável com os pássaros ..............................................50 Quem rouba os ladrões ......................52 Um buraco na gaiola ...........................55 Uma ida até o morro...........................56 Chegam os pais de Cláudio.................59 A divisão dos milhões que ainda não chegaram ............................................60 Seu Walter e uma voz .........................62 Sequestrados também fazem planos..63 Chegam também os pais de Pat .........64 Baden, que já foi Raimundo ...............66

Quatro pessoas sofredoras se encontram.......................................... 67 Intervalo para um banho de mar: o Baixo e a Tereca.................................. 69 A oportunidade .................................. 71 Outro telefonema .............................. 79 O ensaio geral para o resgate............. 81 Visita à casa da estrada...................... 84 O palco do resgate ............................. 86 Se escrevem carta, estão vivos .......... 87 É fácil roubar um carro?..................... 91 Cláudio e Pat: confidências à luz de vela ........................................................... 93 Uma fuga desesperada....................... 95 Uma camiseta serve de pista? ........... 98 Uma carta feita de letras de jornais... 99 Sonhos duma noite de verão ........... 101 Um receio a mais para os pássaros.. 102 Uma carta para Deus entregar......... 103 Uns esperam, outros agem .............. 103 Acabaram as palavras, começa a ação ......................................................... 105 A primeira entrega ........................... 109 Uma fortuna sobe o Morro.............. 113 Enquanto isso................................... 116 Baden e Pequinês: o que fizeram com os milhões ........................................ 116 Por que não soltam Pat?.................. 118 Que bom! Cláudio revê sua mãe! .... 119 Comam doces, Tito paga ................. 120 Mágica: o carro branco fica preto.... 124 Perseguição na zona sul ................... 126 Feliz aniversário, Nariz!.................... 130 Qual foi o pior momento?................ 131 Tereca, à janela, vê o seu destino .... 132 A volta da camiseta: BEM-VINDOS AO RIO.................................................... 133

QUEM É O AUTOR Marcos Rey chegou à Escola para bater um papo com seus leitores. No pátio, sentados, reuniam-se alunos da 5ª à 8ª série. Ele foi logo dizendo que não faria nenhum discurso, preferia responder a perguntas, como se cada aluno fosse um repórter de jornal ou televisão. A primeira pergunta custou um pouco a sair mas saiu. Aluno — Quem foi que o estimulou a escrever? Marcos — Foi o próprio livro. Meu pai, Luís Donato, era gráfico e encadernador. Minha casa vivia cheia de livros. Um dia resolvi ler um deles. E adquiri o hábito da leitura. Daí a começar a escrever não demorou muito. Aluno — Foi fácil publicar seu primeiro livro? Marcos — Foi difícil escrever e mais difícil ainda publicar. Durante quatro anos os editores o recusaram. Chamava-se Um gato no triângulo. Nada é fácil no início, seja qual for a carreira. Aluno — Prefere escrever livros para adultos ou para a juventude? Marcos — Para mim não há diferença, pois muitos adultos lêem meus livros para a juventude e muitos jovens já estão lendo meus livros para adultos. Aluno — Quais os livros que já escreveu para jovens? Marcos — O mistério do cinco estrelas, O rapto do Garoto de Ouro, Um cadáver ouve rádio. Sozinha no mundo, Dinheiro do céu e este. Para crianças até a 5ª série só um: Não era uma vez. Aluno — E quantos para adultos? Marcos — Somando romances e livros de contos, doze. Pela Ática saíram Malditos paulistas, um policial superquente, A última corrida, cheio de emoções e surpresas, A arca dos marechais, com muito suspense e perigo em cada página e Esta noite ou nunca, para quem quiser saber algo mais sobre o mundo e a vida. Aluno — Quanto demora para escrever um livro?

Marcos — Depende do tamanho, é claro. Mas antes de escrever há outro trabalho: planejar a história. Isso pode levar muito tempo. Depois sim, com um resumo feito, começo a escrever. Mas não pensem que acerto logo na primeira vez. Geralmente, é só na terceira que o prato pode ser servido. Aluno — Que mensagem ou conselho gostaria de transmitir aos seus leitores? Marcos — Que procurem ler muito, mesmo se não sentirem vocação pelas letras. A leitura, além do prazer que proporciona, desenvolve o raciocínio e passa toda a sorte de conhecimento. Tudo que o homem sabe está nos livros, sejam de estudo ou ficção. Mesmo não tendo o hábito da leitura, você poderá até ser um bom aluno, o primeiro da classe, mas a vida não termina com um diploma, termina?

RIO, ESTOU AQUI! A mão que mais acenava (em média dez adeuses por segundo!) era de Cláudio; o aeroporto, não um qualquer, mas o Galeão, internacional, cheio de truques de computação, um luxo! E quem partia naquele Jumbo era o Giba (Gilberto), retrato em todas as páginas esportivas dos jornais, um dos ases do vôlei, irmão de Cláudio. O time seguia para Guadalajara, México, onde se realizaria um interclube muito badalado. Imaginem o entusiasmo de Giba em sua primeira viagem ao exterior. Cláudio, o caçula, seis anos mais jovem, acompanhara-o de Curitiba, residência da família. Ele também fazia sua primeira viagem sem os pais e nunca estivera no Rio. — Eu lhe pago a passagem de ida e volta — dissera-lhe o craque. — E ainda lhe dou um dinheiro para ficar três dias na Cidade Maravilhosa. Isso, claro, se seu Walter e dona Celina permitirem. Cláudio estava de férias na escola, seus pais permitiram, mas depois de mil advertências. Toda cidade com milhões de habitantes é perigosa, que tivesse todo cuidado e só fechasse os olhos para dormir. Sempre alerta, como os escoteiros. Quando o Jumbo desapareceu no céu, Cláudio, que chegara na véspera, à noite, teve a impressão desagradável de estar perdido e achou que três dias seria tempo demais para um turista solitário. Retirou do bolso um guia turístico da cidade. Consultou-o lá mesmo, no aeroporto. Como se ia ao Corcovado?

A GAROTA QUE VEIO DE BRASÍLIA Pat, Patrícia para os não-íntimos, já estivera no Rio de Janeiro, mas com um aninho. Filha dum arquiteto paulistano, pioneiro da construção da nova capital, vivia em Brasília, onde nascera. Conhecia São Paulo, onde tinha parentes, bem como Goiânia e Belo Horizonte, porém envergonhava-se duma coisa, que não confessava às colegas

do colégio: nunca vira o mar. Há meses, contudo — que sorte! —, uma de suas tias, viúva, mudara-se para o Rio e convidara-a para passar as férias no seu pequeno apartamento em Ipanema. Pat disse sim pelo telefone e pegou o avião. Na primeira semana de Pat no Rio, ela e a tia passearam o tempo todo e deu praia todas as manhãs. O sol ajudou. À tarde, os roteiros turísticos: Pão de Açúcar, Corcovado, Jardim Botânico, Quinta da Boa Vista, Paquetá; à noite, teatros, salas de concertos, restaurantes. Na segunda semana, Elisa, a tia de Pat, que já não era moça quando a sobrinha nasceu, pifou. — Me dê um dia de folga — pediu. — Não tenho o seu fôlego, gata. — Mas eu queria ir a Santa Teresa, ver os Arcos, o Catete... — Iremos amanhã, tá? No dia seguinte tia Elisa continuava pifada. Além de exausta, estava com os pés inchados; o calor fazia isso com ela. Ficaram as duas assistindo televisão, porém Pat logo se cansou. — Me deixa dar meus passeios sozinha, tia? — Você não vai se perder? — Já sei me orientar aqui e depois existem táxis, não? Pat adorou pegar o bondinho de Santa Teresa e mesmo sozinha se divertiu bastante. O Rio é lindo!, dizia-se a todo instante. Foi até o fim da linha e voltou sem desmanchar o mesmo sorriso. Ao retornar ao ponto de partida, lembrou-se de visitar o palácio do Catete, residência de tantos presidentes, e que, após a transferência da capital para Brasília, virara museu. A distância não era longa, melhor, porque podia ir a pé e ver o povo, pois uma cidade não é feita apenas de construções e paisagens. O mais importante é sua população.

O ANJO COLORIDO E O CRISTO REDENTOR No primeiro dia de Rio, Cláudio não parou um só momento. No Corcovado viu a coisa mais bonita, uma asa delta voando em torno do Cristo como um grande anjo colorido. Ignorava que se fazia a viagem ao Pão de Açúcar em duas etapas; no morro da Urca, a primeira, tomou um imenso sorvete. Depois foi até Niterói pela ponte que a liga ao Rio; ficou deslumbrado. Mas voltou de barco, não tinha pressa. Não era só o prazer de ver, sentia-se livre, dono de seus próprios passos, mais adulto. Retornou ao hotel quase noite. Nunca estivera sozinho num hotel; achou bacana pedir a chave, subir pelo elevador e entrar em seu apartamento. Havia tudo lá, telefone, televisão a cores, rádio e um frigobar. Apanhou um refrigerante e com ares de importante ligou para a copa e pediu um sanduíche. Enquanto comia e bebia, assistia a programas de televisão. Passava uma telenovela. Ocorreu-lhe que sua mãe e sua irmã faziam o mesmo naquele momento. Mal a saudade bateu, tocou o telefone. Quem seria? Ora, quem podia ser. — Você está bem, meu filho? — Mamãe! tudo bem comigo! Hoje cedo fui com o Giba para o Galeão. Acho que já chegou no México. — Quando volta, amanhã? — Não, depois de amanhã, como ficou combinado. — Você não vai sair à noite, não? — Vou ficar no hotel. Estou cansado, passeei muito. Puxa, como o Rio é grande! — Muito cuidado, filho. Sua irmã está mandando lembranças. — Um beijo pra ela e outro pro velho. — O que está fazendo agora? — Comendo sanduíche, tomando refrigerante e vendo televisão. — Tome um bom banho antes de dormir. — Claro!

— Seu pai está aqui dizendo que sente inveja. Ele adora o Rio. Um beijão e boa noite. Não tome muito gelado que você se resfria. — Tchau, mãe. E não se preocupe. Mais tarde, já no telejornal, Cláudio arregalou os olhos e aumentou o volume da televisão: lá estava o time de vôlei, partindo para o México, o Giba em primeiro plano, num teipe da manhã no Galeão. Não poderia haver melhor imagem para encerrar a noite.

MEU DEUS, ONDE ESTÁ PAT? Cláudio levantou-se cedo e foi tomar café no luxuoso refeitório do hotel. Café? Aquilo era uma refeição! Gostoso ser tratado com atenção pelos garçons, "aceita mais, senhor?", enquanto encenava uma naturalidade de quem estava habituado a hospedar-se sozinho em hotéis de luxo. Comeu e bebeu tudo a que tinha direito e depois rua. Pegou um táxi para conhecer o centro, a parte histórica da cidade, visita recomendada pelo guia turístico. Passeou por ruas estreitas, muito movimentadas, tomou sorvete na centenária confeitaria Colombo, percorreu de ponta a ponta a avenida Rio Branco, conheceu a Lapa, dos sambas de Noel Rosa, chegou ao bairro do Catete, onde um edifício majestoso e antigo lhe chamou a atenção. Já o vira em reportagens pela televisão, a residência e local de trabalho dos presidentes quando o Rio de Janeiro era a capital federal. Consultou o guia; aquilo virara museu. Por que não visitá-lo? Mais coisa para contar à família e aos amigos em sua volta. Logo no saguão Cláudio impressionou-se com a sobriedade de tons escuros dos móveis, verdadeiro retrato duma época extinta. Viu um cicerone que guiava os passos e fornecia esclarecimentos a um pequeno grupo de visitantes. Agregou-se a ele, ouvindo atenciosamente. O grupo subiu escadas de mármore e circulou por muitos salões, silenciosos e graves, nos quais o tempo parecia ter parado. Chegaram à sala de reunião dos ministros, ponto de partida de grandes decisões; penetraram no escritório particular dos presidentes, onde só os mais chegados tinham acesso. Daquela janela o

presidente Vargas trocara tiros com os integralistas. A última porta abriu-se para o quarto de Vargas, onde ele se suicidara em agosto de 1954. Cláudio ouvia tudo, mas seus olhos não se voltavam apenas para a História. Entre os visitantes, quase todos na faixa etária de seu pai, havia uma garota duns quinze ou dezesseis anos, muito bonita, que também deixara de fixar alguns detalhes do Catete para olhá-lo. Antes do final da visita Cláudio já concluíra que ela estava sozinha como ele, observação que intensificou sua curiosidade. Desde a partida do mano, na manhã anterior, só falara com garçons, com a camareira e com a mãe, pelo telefone. Mesmo se a garota fosse feia gostaria de puxar conversa. Ela seria carioca? Supunha que não. O grupo saía do Catete, desfazendo-se, mas a garota permaneceu à porta, como se não soubesse para que lado ir. Para Cláudio aquela pareceu uma oportunidade de encomenda. Aproximou-se, fabricando um tom de voz de quem não quer nada além duma informação: — Por favor, onde fica o Museu de Arte Moderna? Ela olhou para ele e riu. — Engraçado, era justamente para onde eu queria ir. — Você não é daqui? — Sou de Brasília, já vim ao Rio uma vez, mas tinha um ano de idade. Estou passando parte das férias aqui, no apartamento de minha tia, em Ipanema. — Eu também estou no Rio pela primeira vez. Cheguei ontem e vou embora amanhã. Vim acompanhar meu irmão mais velho, que partiu ontem para o México, jogador de vôlei. — De que cidade você é? — Curitiba. — Não conheço Curitiba, mas se há coisa que pretendo nesta vida é viajar muito. Acho que não há nada melhor. Diga, está gostando do Rio? — Se estou! E não apenas das belezas naturais, gosto desta parte velha, que já era assim no começo do século ou ainda antes. Quanta gente que estudamos na escola, nas

aulas de História, já passou por aqui. Mas você quer ir ao Museu de Arte Moderna? Vamos juntos? — Você não sabe onde é! Cláudio tirou o guia turístico do bolso. Fingiu que o consultava, pois já sabia onde era. — Ê perto da praia, pode-se ir a pé. — Como é seu nome? — Cláudio. — O meu é Patrícia, mas todos me chamam de Pat. — Também chamarei, Pat. Vamos por lá, acho que a gente chega. Lentamente Pat e Cláudio afastaram-se do Palácio do Catete sem notar que eram observados e depois seguidos. Atravessaram a rua e dobraram uma esquina sob olhos atentos. Num trecho os dois apressaram os passos; uma sombra que os perseguia também se apressou. Mais adiante, Cláudio ficou indeciso. Estariam no caminho certo? Não é fácil orientar-se pelos pequenos e simplificados mapas turísticos de bolso. Quase sempre uma informação oral é mais clara e segura. Pararam, mas não passava ninguém que lhes pudesse dar informação. Cláudio viu apenas alguns moleques na calçada, grandões, mas que com certeza não conheciam a localização de nenhum museu. E se fossem de táxi? — Acho melhor — disse Pat. — Assim ganhamos tempo para depois tomarmos um refrigerante. Postaram-se à beira da calçada, mas notaram que não passava carro algum. — O trânsito está interrompido — concluiu Cláudio. — Algum conserto de rua. — Temos mesmo de ir a pé. Dê outra olhada no mapa. — Lá tem um boteco — disse o rapaz. — Espere um momento, vou pedir informação. Cláudio atravessou a rua e entrou no bar. Nenhum freguês, apenas um homem que dormitava de pé, atrás do balcão. — Por favor, como faço para ir ao museu?

— Que museu? — O de Arte Moderna. — Arte Moderna? Nunca ouvi falar nisso. Cláudio saiu do boteco, olhou para o outro lado da rua e não viu Pat. Que acontecera? Ela não teria tempo para chegar à esquina. Atravessou intrigado, observando que os moleques também tinham desaparecido. E não viu nenhuma casa comercial onde ela pudesse ter entrado para fazer compras, apenas residências baixas e antigas, de fachada descorada. Essa uniformidade de construções somente era quebrada por um casarão ali bem perto de onde ele e Pat haviam estado, mas de aparência muito mais decrépita, provavelmente abandonado, já que parte dos tijolos da frente estava à mostra, como uma demolição interrompida. Passou um homem apressado, que Cláudio pensou chamar para lhe perguntar de Pat, porém não o fez porque ele não poderia têla visto. Resolveu gritar: — Pat! Patrícia! Pat! Onde está você? Pat!

Sem ouvir resposta, apenas a própria voz, solta na rua, concentrou sua atenção no casarão. Se Pat estivesse sendo vítima dum tarado ou demente, somente lá ele poderia estar entocado. Começou a espancar o portão com os punhos. Apesar de cheio de rachaduras, era muito resistente. Havia

campainha, mas sem botão, somente fios enrolados. Passou a dar pontapés no portão, chamando desesperado por Pat. Nenhum resultado. Voltou o olhar para a rua, procurando alguém que pudesse ajudá-lo. Do outro lado viu uma mulher que se afastava, e longe um menino tentando empinar um papagaio. Que deveria fazer? Tocar a campainha das casas próximas e dizer que sua companheira desaparecera? Perguntar se havia maníacos no quarteirão? Se aquela casa estava mesmo abandonada? Enquanto lançava perguntas sem som, o tempo passava. O que poderia estar acontecendo com Pat? Voltou a gritar pelo seu nome e de quando em quando esmurrava o portão. Já tinha decidido procurar um telefone para chamar a polícia, quando ouviu alguns ruídos confusos, talvez passos e vozes, e o portão, arrastando no chão, se abriu.

OS DOIS NA CASA ABANDONADA Cláudio viu-se diante de dois, depois três, rapazes de sua idade, um mais moço, formando um quadro inesperado, de cores misturadas e desenhos diversos. Usavam camisetas coloridas, vistosas, uma delas com letras impressas, o que para Cláudio era tudo apenas um borrão, surpreso que estava. Não gostou da cara deles; não pareciam agressivos, mas não gostou da cara deles. — Por que está batendo no portão? — perguntou um deles. — Procuro uma garota que estava comigo. — Alguém disse que ela está aqui? — Ninguém, mas foi aqui que ela desapareceu. Eu me afastei um minuto só, não podia ter chegado até a esquina. Eles se olharam, ainda não tinham um plano, só receios. — Você é irmão dela? — perguntou o mais alto. — O que interessa o que sou dela? Para mim ela está aí dentro, e se não a soltarem, chamo a polícia — ameaçou Cláudio sem muita convicção.

Um, de camiseta amarela, espiou a rua dum lado e outro. — É a que teve um desmaio? Se for essa... O mais alto, cuja camiseta tinha uma legenda BEMVINDOS .... fez uma cara mais amigável e escancarou a porta. — Por que não disse logo? Você procura a moça que teve um treco. Minha tia ia saindo, viu ela, cai-não-cai, e a levou pra dentro. Quer conferir? — Mora gente aí? — admirou-se Cláudio. — A casa está caindo aos pedaços, mas mora. Entre. Cláudio hesitou, não convencido da história do desmaio. Se Pat estivera tão bem o tempo todo, por que perderia os sentidos? A não ser que sofresse de alguma doença, como epilepsia. Afinal, conhecera-a naquela mesma hora. Podia ser. O do BEM-VINDOS AO... fez um ar impaciente. — Minha tia não vai deixar ela sair, antes de ficar boa. Ela foi enfermei...


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