Explorando o universo mutante (2018) PDF

Title Explorando o universo mutante (2018)
Author M. Silva
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Editor: Flavio Felicio Botton Michel Silva (Org.) Supervisão Editorial: Fernanda Verdasca Botton Capa e diagramação: Studio Vintage Br Michel Goulart da Silva © Conselho Editorial Antonio Cleber Rudy Mateus Gamba Torres Ricardo Scopel Velho É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem a p...


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Explorando o universo mutante (2018) Michel Goulart da Silva

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Editor: Flavio Felicio Botton Supervisão Editorial: Fernanda Verdasca Botton Capa e diagramação: Studio Vintage Br Michel Goulart da Silva ©

Michel Silva (Org.)

Conselho Editorial Antonio Cleber Rudy Mateus Gamba Torres Ricardo Scopel Velho É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem a prévia autorização do organizador.

Para além dos X-Men: Embates e representações do universo mutante Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Kátia Aguilar CRB – 8/8898

Pa21

Para além dos X-Men: embates e representações do universo mutante/ Organização de: Michel Silva. São Paulo: Todas as Musas, 2018. 174p. Bibliografia ISBN 978-85-9583-030-1 1. História 2. Teoria e filosofia 3. X-Men – História em quadrinhos 4. X-Men – Cinema I. Silva, Michel.

1a Edição São Paulo Todas as Musas 2018

CDD 730.9 Catálogo Sistemático História 730.9; Teoria e filosofia 741.01; X-Men – História em quadrinhos 741.5; X-Men – Cinema 778.

Sumário 1 Explorando o universo mutante Michel Goulart da Silva 3 2 Novos pontos de acesso à mitologia mutante através da transmeditização dos textos de X-Men no cinema Breno Enzo Scafura 13 3 A “Mansão X” e a “Escola do Jardim”: uma leitura epicurista dos X-Men Edgar Indalecio Smaniotto 35 4 A escola das virtudes: X-Men e o bem aristotélico Gelson Weschenfelder 53 5 O corpo do super-herói e a vida mutante Alexandre Linck Vargas 67 6 As X-Woman como instrumento de gênero nas HQ’s Gelson Weschenfelder 83 7 Logan: Um Ciclo que (Re)Nasce Diogo Filipe Serras de Almeida 103 8 X23: Dilemas sociais e culturais da condição pós-humana em Logan Yasmim Pereira Yonekura 121 9 As estratégias de marketing digital utilizadas na campanha de divulgação do filme Deadpool Michelly Lira 135 10 Legion: uma possível heterotopia na televisão Lucas Bernardo Reis 157 Sobre os autores 173 1

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Explorando o Universo Mutante

Michel Goulart da Silva

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marco mais importante das produções cinematográficas e televisivas que reúnem o universo de personagens mutantes da Marvel é o primeiro filme centrado nos X-Men, dirigido por Bryan Singer e lançado em 2000. O filme, cujo tema central é o embate entre dois grupos de mutantes – um liderado por Charles Xavier e outro por Magneto –, teve duas sequências: X2 (Bryan Singer, 2003) e The Last Stand (Brett Ratner, 2006), que apresentaram as ações e reações dos humanos diante do medo provocado pela presença de mutantes na sociedade. Nesses filmes,

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Xavier quer organizar os mutantes e treiná-los para trabalhar a serviço do bem maior da humanidade e, como resultado, espera convencer as duas comunidades de que elas podem viver juntas em harmonia. Para esse fim, ele reúne um time conhecido como X-Men. Magneto segue um caminho diferente. Ele acredita que os humanos declararam guerra à população mutante e que os mutantes devem responder de acordo (HOUSEL, 2009, p. 84).

O enorme sucesso da adaptação cinematográfica dos X-Men rendeu uma série de outras produções. Uma delas, ligada diretamente à primeira, trazia a “primeira classe” que viria a dar origem aos X-Men, apresentando versões jovens não apenas de Xavier e Magneto, mas também de outros personagens, como Mística, Tempestade, Ciclope, Jean Grey e Hank McCoy. Fazem parte desse conjunto de filmes First Class (Matthew Vaughn, 2011), Days of Future Past (Bryan Singer, 2014) e Apocalypse (Bryan Singer, 2016), que mostraram como alguns dos mais importantes personagens da primeira trilogia foram incorporados aos X-Men. Além disso, os filmes narram o início da amizade entre Xavier e Magneto e como desde o começo ocorreram as tensões entre ambos, e as eventuais convergências, além de esclarecerem o grande rancor que Magneto tem dos humanos, 5

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relacionado aos sofrimentos pelos quais passou nos campos de concentração, na Segunda Guerra. Nessa leva de produções sobre as origens dos personagens também podem ser incluídos os três filmes solo centrados na vida de Wolverine, dos quais fazem parte Wolverine (Gavin Hood, 2009) e The Wolverine (James Mangold, 2013). O personagem, pelo menos em sua interpretação por Hugh Jackman, teria sua última aparição no filme Logan (James Mangold, 2017), que mostra, em um futuro próximo, uma sociedade onde os mutantes estão quase em extinção. Nessa sociedade, onde os X-Men se tornaram apenas produtos para vendas em forma de bonecos e revistas em quadrinhos, são ainda realizados experimentos genéticos que visam criar mutantes para uso como armas de guerra. Além desses filmes, o personagem Wade Wilson, introduzido no filme solo de Wolverine lançado em 2009, veio a ganhar sua própria produção, encarnando o mercenário tagarela em Deadpool (Tim Miller, 2016). Por outro lado, para os próximos anos estão previstos outros filmes, como a continuação de Deadpool, o filme centrado na jovem Jean Grey, intitulado Dark Phoenix, além do sombrio Novos mutantes. Posteriormente aos filmes, houve uma ampliação desse universo para algumas séries de televisão. Estreando em 2017, The Gifted apresentou um momento posterior ao fim dos X-Men e de outras organizações, em que os mutantes são caçados ou mesmo criminalizados por conta de sua condição genética. A série acompanha dois irmãos adolescentes que, depois de descobrirem que são mutantes, são forçados a fugir de agentes do governo, com o apoio dos pais, se unindo a uma rede de resistência de mutantes. Em The Gifted mostra-se um mundo em que há uma profunda opressão contra os mutantes, que são proibidos de usar seus poderes e até mesmo excluídos do convívio em sociedade. Nesse cenário de opressão e medo, “mesmo que os 6

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mutantes tenham os mesmos direitos básicos que os seres humanos normais, esses direitos podem ser suprimidos sob determinadas circunstâncias” (MCWILLIAMS, 2009, p. 108). Em The Gifted, essa situação de opressão leva os mutantes a organizarem um movimento de resistência, com vistas a lutar contra a opressão que sofrem cotidianamente. Por outro lado, em Legion, também uma série de televisão que estreou em 2017, o espectador é afastado do clima de luta entre mutantes e humanos, centrando-se na crise pessoal e existencial do poderoso telepata David Haller, filho de Xavier. Diagnosticado como esquizofrênico, David tem diversas passagens por hospitais psiquiátricos, em busca de tratamento, vindo a descobrir que as vozes e as visões que o perseguiram durante toda a vida talvez reais. Em Legion, que explora um clima psicodélico inspirado na década de 1960, as preocupações de David estão menos em resistir aos ataques dos humanos e mais em enfrentar seus próprios demônios, enquanto aprende a utilizar os grandes poderes que possui. Uma temática que povoou as produções desse universo cinematográfico e televisivo foi a construção social de que haveria dois grupos distintos – os mutantes e os humanos –, mostrando as tensões que ocorrem no que se refere à diferença e à tolerância na convivência entre ambos. Sem entrar numa dicotomia simplória entre vilões e heróis, apresenta, por um lado, as ações de diferentes agentes, especialmente o Estado, para controlar ou mesmo destruir os mutantes e, por outro, as reações de setores dos mutantes visando ou se defender ou mesmo contra-atacar os humanos. Essa tensão cria um clima de medo em que não se prioriza a tentativa de diálogo, o que leva ambos os lados a procurar a destruição daquele que enxerga como inimigo. Sabese que o medo libera

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uma energia desusada e a difunde por todo o organismo. Essa descarga é em si uma reação utilitária de legítima defesa, mas que o indivíduo, sobretudo sob o efeito das agressões repetidas de nossa época, nem sempre emprega com discernimento (DELUMEAU, 1993, p. 23).

Os filmes e as séries apresentam, em sua maioria, os mutantes como seres que querem viver uma vida como qualquer pessoa, inseridos na sociedade com direitos iguais e sendo respeitados apesar de suas eventuais diferenças genéticas. Mesmo no caso de mutantes que atacam a humanidade são apresentadas razões para essas ações, como o sofrimento extremo imposto a Magneto, que usa “a opressão dos mutantes nas mãos dos humanos médios como um grito de alerta e um motivo para ferir e até matar humanos, como bem entenderem” (MCWILLIAMS, 2009, p. 107). Magneto fala, em uma cena do filme The Last Stand, em resposta à crença de alguns mutantes de que os humanos não usariam a “cura mutante” como arma: Nunca falam isso. Eles simplesmente fazem isso. A vida continua e ignoramos os sinais à nossa volta. E um dia, quando tudo estiver quieto e a noite chegar, eles vêm atrás de você. E então percebem que enquanto falavam de organizar comitês, o extermínio já havia começado.

Como mostrados nos filmes e nas séries, os mutantes foram marginalizados da sociedade, construindo-se acerca deles uma estereotipagem, procedimento “que reduz as pessoas a algumas poucas características simples e essenciais, que são representadas como fixas por natureza” (HALL, 2016, p. 190). Essa estereotipagem divide o normal e aceitável do anormal e inaceitável, excluindo tudo o que é considerado diferente, sendo parte da manutenção de certa ordem social e simbólica. Como consequência, 8

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a estereotipagem facilita a “vinculação”, os laços, de todos nós que somos “normais” e uma “comunidade imaginária”; e envia para o exílio simbólico todos Eles, “os Outros”, que são de alguma forma diferentes, “que estão fora dos limites” (HALL, 2016, p. 192).

Esse procedimento de excluir simbolicamente os indivíduos não considerados normais mostra a hegemonia de um grupo no interior da sociedade, que, no caso do universo mutante, seriam aqueles que se identificam como humanos. Essa hegemonia é uma forma de poder baseada na liderança de um grupo em muitos campos de atividade de uma só vez, para que sua ascendência obrigue o consentimento generalizado e pareça natural e inevitável (HALL, 2016, p. 193).

Entender a construção social da estereotipagem mostra como não há sentido lógico na ideia de colocar os mutantes como um tipo de Outro, considerando-os externos à sociedade, afinal eles possuem “cérebros humanos comuns e personalidades”, ainda que estejam “em um corpo que possui habilidades e qualidades extraordinárias” (HOPKINS, 2009, p. 23). Portanto, cientificamente, não caberia considerar os mutantes como uma espécie diferente, afinal para isso os mutantes precisariam ter muito mais em comum que apenas um gene ou um grupo de genes. Um grupo com uma série de mutações tão diversa não é suficientemente coerente para ser uma espécie. Na melhor das hipóteses, é o primeiro passo na direção de uma nova espécie (PIERCE, 2009, p. 180).

Portanto, não seria equivocado considerar os mutantes como uma variação de humanos, especialmente levando-se em conta 9

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que faz parte da evolução das espécies a aquisição de especiações, ou seja, alterações genéticas que podem ocorrer em indivíduos. No entanto, o gene mutante tem muitos efeitos, e esses múltiplos efeitos na população mutante demonstram algo acerca da variação do comum nos seres humanos: ser comum é uma aposta segura, enquanto ser extraordinário é muito arriscado (HOPKINS, 2009, p. 23).

Essa insegurança do ser mutante ganha repercussão na “cura mutante”, afinal, como apresentado no filme The Last Stand, referindo-se aos mutantes, “o que os aflige é uma doença, uma corrupção da atividade saudável das células”. Quando anunciada a suposta cura, vários mutantes vão em busca da oportunidade de levar uma vida socialmente considerada normal, ainda que essa não seja a única reação. Essa suposta cura apresenta uma escolha difícil para os mutantes, e a reação deles, claro, é mista. Alguns a querem. Outros protestam contra ela. Muitos se zangam porque as pessoas os veem como defeituosos, como seres que precisam de ajuda (ILEA, 2009, p. 167).

Diante do preconceito e da marginalização social, alguns mutantes preferem deixar de lado o que os torna especiais ou até mesmo únicos. Contudo, a mensagem do filme, numa metáfora para todos os segmentos que sofrem com o preconceito, é bastante clara, sistematizada numa fala de Tempestade: “Eles não podem nos curar. E sabe por quê? Não há o que curar. Não há nada de errado com você ou com nenhum de nós”. Por outro lado, o descobrimento da cura significa também a existência avançada de estudos acerca da biologia mutante, que, além da possibilidade de mudança ou de manipulação, possibilita também a formação e a criação de armas, que não apenas 10

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podem matar, mas que inclusive se adaptam a cada mutação específica, como os robôs de Passado futuro. O discurso de tolerância e respeito às diferenças que permeia os filmes e séries acaba ganhando novos contornos nas produções mais recentes, em especial aquelas produzidas para a televisão. Se nos primeiros filmes o debate passava principalmente por comparação com populações negras e homossexuais, em sua busca pela ampliação de espaço político, atualmente o problema da imigração e da intolerância religiosa acabam se destacando. Em produções mais recentes são mostrados grandes aparatos que visam perseguir os mutantes, além de mostrar uma sociedade onde se tornou crime o uso dos poderes pelos mutantes. O universo mutante da Marvel, por meio de seus filmes e séries, mostrou em todos esses anos o debate sobre tolerância, descrevendo como a opressão que toma como discurso a diferença pode levar a tensões sociais que dificilmente chegarão a um fim. O absoluto controle sobre as vidas, seja de humanos ou de mutantes, seja por meio da coerção ou pela violência, acaba levando à resistência, em busca de liberdade para viver a vida que se quer. Por isso, a despeito de todas as suas contradições, os filmes e as séries acerca dos mutantes são obras de rebelião e resistência. Nesse sentido, são fundamentais as palavras de Tempestade no enterro de Xavier: “Vivemos numa era das trevas. Um mundo cheio de medo, ódio e intolerância. Mas, em cada era, existem aqueles que lutam contra isso”.

HOPKINS, Patrick. A sedução do normal: quem não quer ser mutante? In: HOUSEL, Rebecca & WISNEWSKI, Jeremy (Org.). X-Men e a filosofia. São Paulo: Madras, 2009. HOUSEL, Rebecca. Mito, moralidade e as mulheres dos X-Men. In: MORRIS, Matt & MORRIS, Tom (Org.). Super-heróis e a filosofia: verdade, justiça e o caminho socrático. São Paulo: Madras, 2009. ILEA, Ramona. A cura mutante ou mudança social: debatendo a deficiência. In: HOUSEL, Rebecca & WISNEWSKI, Jeremy (Org.). X-Men e a filosofia. São Paulo: Madras, 2009. MCWILLIAMS, Cynthia. Direitos de mutantes, tortura e x-perimentação. In: HOUSEL, Rebecca & WISNEWSKI, Jeremy (Org.). X-Men e a filosofia. São Paulo: Madras, 2009. PIERCE, Jeremy. Mutantes e a metafísica da raça. In: HOUSEL, Rebecca & WISNEWSKI, Jeremy (Org.). X-Men e a filosofia. São Paulo: Madras, 2009.

REFERÊNCIAS DELUMEAU, Jean. História do medo no Ocidente: 13001800, uma cidade sitiada. São Paulo: Cia. das Letras, 1993. HALL, Stuart. Cultura e representação. Rio de Janeiro: PUC: Apicuri, 2016. 11

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