Teste sobre Maias PDF

Title Teste sobre Maias
Author luisa Carmo
Course portugues
Institution Universidade do Porto
Pages 6
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Summary

Grupo ILê atentamente o excerto d’ Os Maias abaixo transcrito.510152025Defronte do Ramalhete os candeeiros ainda ardiam. Abriu de leve a porta. Pé ante pé, subiuas escadas ensurdecidas pelo veludo cor de cereja. No patamar tateava, procurava a vela –quando, através do reposteiro entreaberto, avistou...


Description

Teste 4

Sequência 4. Eça de Queirós

Grupo I Lê atentamente o excerto d’ Os Maias abaixo transcrito.

5

10

15

20

25

Defronte do Ramalhete os candeeiros ainda ardiam. Abriu de leve a porta. Pé ante pé, subiu as escadas ensurdecidas pelo veludo cor de cereja. No patamar tateava, procurava a vela – quando, através do reposteiro entreaberto, avistou uma claridade que se movia no fundo do quarto. Nervoso, recuou, parou no recanto. O clarão chegava, crescendo; passos lentos, pesados, pisavam surdamente o tapete; a luz surgiu – e com ela o avô em mangas de camisa, lívido, mudo, grande, espetral. Carlos não se moveu, sufocado; e os dois olhos do velho, vermelhos, esgazeados, cheios de horror, caíram sobre ele, ficaram sobre ele, varando-o até às profundidades da alma, lendo lá o seu segredo. Depois, sem uma palavra, com a cabeça branca a tremer, Afonso atravessou o patamar, onde a luz sobre o veludo espalhava um tom de sangue – e os seus passos perderam-se no interior da casa, lentos, abafados, cada vez mais sumidos, como se fossem os derradeiros que devesse dar na vida! Carlos entrou no quarto às escuras, tropeçou num sofá. E ali se deixou cair, com a cabeça enterrada nos braços, sem pensar, sem sentir, vendo o velho lívido passar, repassar diante dele como um longo fantasma, com a luz avermelhada na mão. Pouco a pouco, foi-o tomando um cansaço, uma inércia, uma infinita lassidão 1 da vontade, onde um desejo apenas transparecia, se alongava – o desejo de interminavelmente repousar algures numa grande mudez e numa grande treva… Assim escorregou ao pensamento da morte. Ela seria a perfeita cura, o asilo seguro. Porque não iria ao seu encontro? Alguns grãos de láudano 2 nessa noite e penetrava na absoluta paz… Ficou muito tempo embebendo-se nesta ideia, que lhe dava alívio e consolo, como se, escorraçado por uma tormenta ruidosa, visse diante dos seus passos abrir-se uma porta, donde saísse calor e silêncio. Um rumor, o chilrear de um pássaro na janela, fez-lhe sentir o sol e o dia. Ergueu-se, despiu-se muito devagar, numa imensa moleza. E mergulhou na cama, enterrou a cabeça no travesseiro para recair na doçura daquela inércia, que era um antegosto da morte, e não sentir mais nas horas que lhe restavam nenhuma luz, nenhuma coisa da Terra. QUEIRÓS, Eça de, 2016. Os Maias. Porto: Porto Editora (Capítulo XVII, pp. 683-684) (1.ª ed.: 1888) 1. fadiga, fraqueza; 2. medicamento à base de ópio usado para adormecer e entorpecer.

Apresenta, de forma bem estruturada, as tuas respostas aos itens que se seguem.

Apresenta, de forma bem estruturada, as tuas respostas aos itens que se seguem. 1. Contextualiza o excerto na globalidade da obra a que pertence, destacando a sua relevância diegética. 2. Descreve a evolução do estado psicológico de Carlos. 2.1. Destaca a expressividade do recurso ao discurso indireto livre no final do segundo parágrafo.

1 OEXP11 © Porto Editora

Sequência 4. Eça de Queirós

Teste 4

3. Refere dois dos traços caracterizadores de Afonso, comprovando as tuas afirmações com elementos textuais. 4. Comenta a relevância da luz e da cor na criação da atmosfera trágica.

Grupo II Lê atentamente o texto que segue.

Levanta-te e lê, não sejas Oblomov OBLOMOV Ivan Gontcharov Tinta da China || 656 págs. €32 30

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10

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25

Em muitas alturas de Oblomov (1859), o leitor pode eventualmente lembrar-se d’ Os Maias (1888). A crítica social (especialmente às elites) é tão refinada que as páginas se leem com um sorriso nos lábios. Não por acaso, Oblomov aparece na coleção Literatura de Humor da Tinta da China. Lançado inicialmente em Portugal nos anos 70, é relançado agora, mas com a vantagem de pela primeira vez a tradução ter sido feita a partir do russo (por António Pescada). O protagonista, precisamente Oblomov, aparece no livro deitado e assim vai permanecer muito tempo, apesar das solicitações dos amigos que entram e saem de casa – parece uma peça de teatro. Cada amigo é uma caricatura da alta sociedade russa (especialmente a burguesia mais ou menos decadente) de finais de 1800. Aos 32 anos, Oblomov não tem mulher (uma canseira, as relações), nem pais, nem emprego (teve uma fugaz carreira de funcionário público, que deixou depois de um erro – com medo de encarar o chefe, apresentou um atestado médico e não apareceu mais).

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40

45

50

Como rendimentos, tem uma quinta distante (herdada dos pais), que, ao que parece, está a dar problemas. Mas não vai lá há muitos anos, nem parece ter muito vagar para isso agora. Para piorar as coisas, o senhorio do apartamento onde vive, em São Petersburgo, quer desalojá-lo. A casa está imunda – os espelhos têm tanto pó que dá para escrever neles. Nunca é limpa pelo criado porque o patrão não sai de casa. Oblomov vive num permanente estado de letargia, cansaço e tédio. Se algum projeto lhe assoma à cabeça, por mais pequeno que seja, dura o fogo de um fósforo. Os estudos não serviram para nada, e ele até já esperava isso. Os livros, se lhe interessam, são abandonados às primeiras páginas. A sala serve--lhe de quarto de dormir, gabinete e sala de receção. Oblomov é a obra-prima de Ivan Gontcharov e um dos clássicos da imortal literatura russa oitocentista [...]. É um clássico tão grande que na Rússia se chama oblomovista a alguém apático e excessivamente ocioso. Imprescindível, da primeira à 647.ª página. ALVES, Marco, 2016. “Levanta-te e lê, não sejas Oblomov”. GPS (Sábado), n.º 46, 14 de janeiro de 2016 (p. 27)

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Sequência 4. Eça de Queirós

Teste 4

Responde aos itens apresentados.

1. Identifica o género textual em que se integra o artigo, justificando a tua resposta com referências: a. ao objetivo do texto. b. à organização interna do artigo. 2. Interpreta a metáfora “fogo de um fósforo” (l. 40) e respetivo valor no contexto em que é utilizada. 3. Comenta a expressividade do título, atendendo ao conteúdo do artigo. 4. Assinala como verdadeiras (V) ou falsas (F) as afirmações seguintes: a.

Na primeira frase do artigo, a utilização do complemento oblíquo “d’ Os Maias (1888)” (ll. 2-3) constitui um mecanismo de coesão interfrásica.

b.

A palavra “que” utilizada na linha 4 é uma conjunção subordinativa completiva.

c.

Os três advérbios com valor de modo utilizados no primeiro parágrafo desempenham a função sintática de modificador (do grupo verbal).

d.

O antecedente do pronome pessoal utilizado em “Para piorar as coisas, o senhorio do apartamento onde vive, em São Petersburgo, quer desalojá-lo.” (ll. 30-32) é “Oblomov” (l. 20).

e.

O quinto parágrafo do texto integra uma oração subordinada adverbial comparativa e uma oração subordinada adverbial causal.

f.

A expressão “pelo criado”, usada na linha 35, desempenha a função sintática de complemento oblíquo.

g.

A utilização das passagens “O protagonista, precisamente Oblomov, aparece no livro deitado e assim vai permanecer muito tempo [...]” (ll. 12-14) e “Oblomov vive num permanente estado de letargia, cansaço e tédio.” (ll. 37-38) evidenciam, em termos de coerência textual, o respeito pelo princípio da relevância.

4.1. Corrige as afirmações falsas.

Grupo III A rotina da vida quotidiana conduz-nos, muitas vezes, ao desejo de evasão. Num texto bem estruturado, com um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas palavras, defende uma perspetiva pessoal sobre a importância da evasão da rotina nos dias de hoje. Fundamenta o teu ponto de vista recorrendo, no mínimo, a dois argumentos e ilustra cada um deles com, pelo menos, um exemplo significativo. (Item adaptado do Grupo III da Prova Escrita de Português, 2015, Época Especial, IAVE)

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Sequência 4. Eça de Queirós

Teste 4

Cotações do Teste 4 Questões

Cotação Total por questão

Grupo I

(C) Conteúdo

(F) Forma*

1.

12

8

20

2.

9

6

15

2.1.

12

8

20

3.

12

8

20

4.

9

6

15

Grupo II

Total do grupo

90 pontos

Total por questão

1.

6

4

10

2.

6

4

10

3.

6

4

10

4./4.1.





35

65 pontos

(7 x 5 pontos) Grupo III

ETD**

CL***

Total por questão

27

18

45 TOTAL

45 pontos 200 pontos (20 valores)

* Estruturação do discurso e correção linguística ** Estruturação temática e discursiva *** Correção linguística

Teste 4 · Eça de Queirós (Dossiê do Professor, p. 218)

Grupo I 1. O excerto corresponde ao momento em que, na intriga principal d’ Os Maias, se antecipa a tragédia familiar que corresponderá à morte de Afonso. Ao surpreender Carlos, que chega de mais um encontro amoroso com Maria Eduarda, já depois de ter conhecimento do carácter incestuoso dessa relação, Afonso revela o “horror” (l. 7) que o levará à morte, descoberta na manhã seguinte. 4 OEXP11 © Porto Editora

Sequência 4. Eça de Queirós

Teste 4

2. Ao chegar a casa, Carlos segue cauteloso, “recuou” (l. 4), “nervoso” (l. 4), procurando evitar um encontro com o avô. Surpreendido por este, “não se moveu, sufocado” (l. 6). Incapaz de enfrentar Afonso, refugiou-se no quarto, sentindo o “horror” (l. 7) expresso nos olhos do avô e que o dominava “até às profundidades da alma” (ll. 7-8) e que lhe provoca grande perturbação (l. 12). Finalmente, foi sendo dominado pelo “cansaço, uma inércia, uma infinita lassidão da vontade” (l. 15) e chega inclusivamente a desejar a morte (ll. 16-19). 2.1. O discurso indireto livre torna mais expressivos os pensamentos/sentimentos de Carlos, depois do encontro perturbador com o avô. Fundindo as suas palavras com as mentalmente produzidas pela personagem, o narrador transmite o interior de Carlos e expressa de modo vivo as suas reflexões sobre a morte e a “absoluta paz” (l. 19) que ela permitiria. 3. Afonso aparece perturbado, com uma aparência fantasmagórica (“lívido, mudo, grande, espetral”, com os olhos “vermelhos, esgazeados, cheios de horror” , ll. 5-7). Apesar disso, mantém a sua imponência (“grande”, l. 6) e a sua influência sobre o neto, “varando-o”, com o olhar, “até às profundidades da alma, lendo lá o seu segredo” (ll. 7-8). Contudo, a forma como se desloca denuncia já o declínio físico e anímico da personagem, que se vai subjugando ao peso da tragédia: caminha com “passos lentos, pesados” (ll. 4-5), “abafados, cada vez mais sumidos, como se fossem os derradeiros que devesse dar na vida!” (ll. 10-11). 4. A luz e a cor surgem associadas às personagens, contribuindo para a sua caracterização e para o adensamento da atmosfera trágica. Assim, cria-se, no início do excerto, uma oposição entre a escuridão em que tenta ocultar-se Carlos e a claridade que envolve o avô e que, surpreendendo-o, o paralisa e assusta (ll. 2-6). O predomínio do branco ( “lívido”, ll. 5 e 13, “espetral”, l. 6, e “branca”, l. 8) e do vermelho (“vermelhos”, l. 6, “luz avermelhada na mão”, l. 14) na descrição de Afonso concorre para a sua aparência fantasmagórica. Por outro lado, as notações cromáticas do cenário intensificam e antecipam a desgraça do dia seguinte, sugerindo o sangue e a morte de Afonso: o “veludo cor de cereja” (l. 2), “a luz sobre o veludo espalhava um tom de sangue” (l. 9). Grupo II 1. O texto corresponde a um artigo de apreciação crítica. a. O artigo tem como objetivo descrever e avaliar uma manifestação artística, no caso, um livro. b. Em termos de estrutura interna, o texto apresenta os dois momentos típicos do género, com os primeiro e último parágrafos dedicados ao comentário crítico da obra Oblomov e os restantes à descrição sucinta do conteúdo do romance. 2. A metáfora remete para a brevidade de uma ideia ou ação. No contexto, destaca a rapidez com que Oblomov abandona quaisquer hipóteses de alterar o seu estilo de vida. 3. O título joga com o assunto do romance que é objeto da crítica no artigo. O autor interpela os leitores a que, assumindo-se como diferentes de Oblomov, o protagonista “apático e excessivamente ocioso” (l. 50) cujo nome originou o adjetivo com esse significado, tomem a iniciativa de ler a obra de Ivan Gontcharov. 4. a. Falsa. Coesão frásica. b. Falsa. Conjunção subordinativa adverbial consecutiva. c. Verdadeira. d. Verdadeira. e. Falsa. Oração subordinada adverbial consecutiva e oração 5 OEXP11 © Porto Editora

Sequência 4. Eça de Queirós

Teste 4

subordinada adverbial causal. f. Falsa. Complemento agente da passiva. g. Falsa. Respeito pelo princípio da não contradição.

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