Os Maias PDF

Title Os Maias
Course Português
Institution Ensino Secundário (Portugal)
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Summary

Rui CoelhoEstrutura da ObraIntriga principal - Carlos da Maia e Mº EducardaIntriga Secundária - Pedro da Maia e Mª MonforteTítulo: “Os Maias”Narrativa fechada, pois há um desenlace: Afonso morre e os dois amantes separam-seSubtítulo: “Episódios da vida romântica” – crónica de costumesNarrativa abert...


Description

Os Maias – Resumo, estrutura interna, linguagem e simbolismo

Estrutura da Obra Intriga principal - Carlos da Maia e Mº Educarda Intriga Secundária - Pedro da Maia e Mª Monforte Título: “Os Maias” Narrativa fechada, pois há um desenlace: Afonso morre e os dois amantes separam-se Subtítulo: “Episódios da vida romântica” – crónica de costumes Narrativa aberta, pois os costumes da sociedade continuam a poder ser retratados

Significado da obra Retrata a sociedade e a mentalidade da época (realismo); É uma metáfora para o percurso da “Geração de 70”, “os vencidos da vida”: começa com grandes ambições, ilusões e fantasias, e acaba na desilusão e no desencanto.

Atualidade da obra A sociedade descrita e retratada por Eça está, ainda hoje, “à solta”. A sua atualidade reside também na linguagem utilizada no estilo literário de Eça de Queirós. A linguagem é de tal maneira soberba que nunca há-de sair de moda, mesmo que os tipos sociais tratados em Os Maias desapareçam.

As gerações em os maias 1ª Geração – (Caetano – decadência do absolutismo) | Afonso da Maia/Mª Eduarda Runa – lutas liberais 2ª Geração – Pedro da Maia/Mª Monforte – crises do liberalismo – ROMANTISMO 3ª Geração – Carlos da Maia/Mª Eduarda – decadência do liberalismo (Portugal da Regeneração)

Rui Coelho

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Os temas Educação: Pedro e Eusébiozinho ≠ Carlos Literatura: Romantismo (ultrarromantismo) (Alencar) ≠ Realismo (naturalismo), Ega - apesar de tudo, é romântico pela maneira de vive.

Os espaços Espaço Físico Geográfico - Lisboa (o centro de tudo),Coimbra (os estudos de Carlos), Sintra (o lazer e o ócio), Sta Olávia (meio rural) Micro-cenários interiores - para acentuar determinados defeitos das personagens e acentuar a sua caracterização - casa de Dâmaso, casa de Ega, reprografia da "Corneta do Diabo".

Espaço Social Personagens - tipo - Eusebiozinho (educação retrógrada portuguesa), Gouvarinho (ignorância dos políticos), Dâmaso (a baixeza moral) Representação de ambientes - Hotel Central, corrida de cavalos, sarau no Teatro da Trindade, os passeios na rua, O grémio, a casa Havaneza - tudo para demonstrar os comportamentos da alta sociedade e também de outras classes.

Afeição trágica de os maias O tema do incesto A presença do destino/fatalismo Os presságios A estrutura da fábula trágica: peripécia (o Sr. Guimarães entrega o cofre com documentos cobre Mª Eduarda ao Ega); reconhecimento (os documentos dentro do sofre); catástrofe (desenlace trágico) A existência de uma vítima inocente: Afonso

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Características da prosa queirosiana Discurso indireto livre: (evita o abuso excessivo dos verbos introdutores do diálogo, contribui para o tom oralizante, e confunde o leitor, propositadamente, para tornar as críticas feitas pelas personagens mais convincentes e persuasivas; criticas essas que são bem mais do que isso: são comentários do próprio Eça;) Ironia; Hipálages, metáforas, onomatopeias, sinestesias, gradações, personificações, repetições, comparações; Adjetivação; Diminutivo; Neologismos, estrangeirismos; Nome (“um cansaço, uma inércia...” – nome abstrato, com vários significados); Verbo (“ele rosnou...”) – preferência pela fórmula gerúndio +conjugação perifrástica para dar uma ideia de continuidade e muitas vezes, de arrastamento, no sentido de aborrecido; Advérbio de modo

Linguagem Apesar de reunir, não só pelo conteúdo, qualidades estrondosamente abonatórias para um romance, “Os Maias” é também rico em variedade e eficiência linguística. Várias são as faculdades do autor no campo da expressividade e na recursividade da escrita. Eça de Queirós soube, na esteira de Garrett (Viagens na Minha Terra), trazer para a literatura a verdadeira linguagem corrente da burguesia lisboeta, tirar partido do seu vocabulário habitual, relativamente reduzido, torná-la apta a exprimir um conteúdo ideológico e estético mais rico do que aquele em que até então fora utilizado. Ele soube tornar a língua um instrumento dócil a uma nova expressão, pondo de lado os lugares-comuns e criando novas associações vocabulares. Quase todo o substantivo é acompanhado de adjectivo(s), raramente antepostos ("na enorme e estranha cidade"), rodeando o substantivo ("espessos veludos escuros"). O uso expressivo do adjectivo é, porventura, o processo estilístico que melhor individualiza Eça de Queirós no panorama da produção literária portuguesa.

O adjetivo Adjetivação dupla “ Os seus dois olhos redondos e agoirentos.” Os adjetivos nem sempre vêm seguidos. “Os seus lindos dentes miudinhos alvejaram a sombra do véu.” A adjetivação pode ser tripla ou ainda com mais adjetivos.

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“Dâmaso era interminável, torrencial, inundante a falar das suas conquistas. Adjetivos com a mesma terminação criando, por vezes, um efeito cómico e depreciativo. “A viscondessa (…), uma carcaça esgalgada, caiada, reborada, gasta por todos os homens”.

O advérbio Adverbiação dupla “insensivelmente, irreversivelmente, Carlos achou-se (…)”. Adverbiação tripla “insensivelmente, irresistivelmente, fatalmente, marchando (…)”. O advérbio ligado à ironia “o Eusebiozinho foi então preciosamente colocado ao lado da titi”. Efeito de superlativação “e devia ser deliciosamente bem feita (…)”.

O verbo Neologismos “gouvarinhar”; “cervejando”. Recorrência de verbos derivados de adjectivos de cor “negrejava, no brilho do sol, um magote apertado de gente” Emprego do gerúndio “(…) Portugal (…) e decente, estudando, pensando, fazendo civilização como outrora.”

Discurso Indireto Livre Então Ega protestou com vermência. Como convinha a ninguém? Ora essa! Era justamente o que convinha a todos! Á bancarrota seguia-se uma revolução, evidentemente. (…)”

Figuras de estilo Aliteração “um moço loiro, lento, lânguido, que se curvava em silêncio diante dela.” Hipálege “O poeta tirou o chapéu, passou os dedos pelos anéis fofos da grenha inspirada…” Ironia “-É possível- respondeu o inteligente Silveira.”

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Sinestesia “…e, muito alto no ar, passava o claro repique de um sino.”

As linguagens Familiar “ O Baptista, familiarmente Tista”. Infantil “Teresinha, inha, inha”. Popular “deu-lhe goto”;”Melanie era uma gaja”. Neologismos “gouvarinhar”; “arvejar”.

Resumo Cap I Os Maias vêm habitar o Ramalhete (1875) A descrição do Ramalhete antes de 1875 Vilaça, procurador dos Maias O restauro do Ramalhete (descreve-se a nova decoração) Afonso (retrato físico) Caetano da Maia (pai intransigente) Juventude de Afonso Casamento e exílio Educação de Pedro (o padre Vasques) O regresso a Lisboa A morte de Maria Eduarda Runa (mãe de Pedro) A paixão de Pedro Alencar conhece a mulher que Pedro vai amar (Maria Monforte) O casamento de Pedro e o corte de relações com Afonso Cap.II

Regresso a Lisboa O nascimento de uma filha (Maria Eduarda) O nascimento de um filho (Carlos)

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Tancredo, o Napolitano, frequenta casa de Pedro Afonso vê, pela primeira vez Carlos Eduardo Pedro suicida-se Afonso parte com Carlos para Santa Olávia Cap.III Vilaça em Santa Olávia A educação de Carlos (Mr.Brown) Aeducação de Eusebiozinho (a tradicional portuguesa) Um serão em Santa Olávia Vilaça informa sobre paradeiro de Maria Monforte A confirmação da morte de Maria Eduarda (neta de Afonso) Carlos vai entrar na faculdade Cap.IV Paços de Celas (a estadia de Carlos em Coimbra) João da Ega (amigo de Carlos) Amores de Carlos Carlos forma-se em medicina Carloa parte para uma viagem O regresso de Carlos A instalação no Ramalhete (1875) Os projectos de Carlos (consultório, laboratório) Ega vem para Lisboa Cap.V O serão no Ramalhete. Primeira doença de Carlos. Fala-se de Ega, de Steinbroken. Taveira fala nos Gouvarinhos. Laboratório de Carlos e carreira médica Ega ama Raquel Cohen Ega visita Carlos no laboratório (consultório) Ega insulta os jornalistas (imprensa) Ega propõe que o apresentem aos Gouvarinhos Carlos vai a S.Carlos Carlos conversa com Baptista (criado de quarto) sobre os Gouvarinhos e sobre aventuras amorosas Em S.Carlos, Ega apresenta Carlos aos Gouvarinhos. Cap. VI

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Carlos visita Ega na vila Balzac Carlos e Ega conversam sobre Gouvarinhos Carlos é apresentado a Craft Convite de Ega para um jantar no Hotel Central Carlos vê uma senhora extremamente bela. Dâmaso informa acerca da identidade da senhora Castro Gomes Ega apresenta Alencar a Carlos Cohen O jantar: literatura, política… Depois do jantar um final agitado (entre Ega e Alencar) Discussão e reconciliação Carlos recorda o passado: recorda visão da bela senhora. Cap. VII Craft íntimo do Ramalhete Dâmaso íntimo do Ramalhete (persegue Carlos) Ega informa Carlos sobre a paixão da Gouvarinho Carlos vê novamente a senhora Castro Gomes. A Gouvarinho vai ao consultório de Carlos Dâmaso frequenta Castro Gomes Ega publica um artigo insensato sobre Cohen Carlos pensa que os Castro Gomes foram a Sintra Cap.VIII Carlos procura ver madame Castro Gomes Carlos e Cruges partem para Sintra Encontram Eusebiozinho Vão a Seteais (Alencar recita) Carlos pergunta pelos Castro Gomes: partiram na véspera – Dâmaso está com eles. Jantam Regresso a Lisboa. Cap.IX Convite dos Gouvarinhos a Carlos para jantar Dâmaso pede a Carlos que venha ver uma doente (filha de Castro Gomes) Dâmaso confidencia a Carlos perspectivas de ficar só com Madame Castro Gomes (Castro Gomes partirá para o Brasil). Carlos prepara-se para o baile em casa dos Cohen

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Noite em casa de Craft (Ega, Carlos e Craft) Dâmaso informa Carlos presumível doença de Castro Gomes Carlos cruza-se com Castro Gomes: pensa pedir a Dâmaso que lho apresente Carlos vai ao chá a casa dos Gouvarinho Sedução de Carlos pela condessa de Gouvarinho Cap. X As aventuras de Carlos/ condessa de Gouvarinho Carlos e o marquês, descendo a rua de s.roque, conversam Avistam Madame Castro Gomes (perturbação) sobre as corridas de cavalos. Carlos congemina a ideia de Dâmaso levar aos Olivais os Castro Gomes Carlos e Dâmaso falam sobre as corridas. Carlos fala a Dâmaso no passeio aos Olivais. Corridas Dâmaso informa Carlos sobre a partida de Castro Gomes para o Brasil; Carlos permite a insistência da Gouvarinho para ir visitar uma doente, decide-se a acompanhá-la. Carlos sai das corridas e vai à rua de S.Francisco na tentativa de se avistar com Madame Castro Gomes. Cap. XI Carlos vai a casa de Madame C. Gomes (Maria Eduarda) No Ramalhete Carlos revê o encontro Carlos recebe um bilhete da Gouvarinho sobre ida a Santarém Gouvarinho resolve a situação partindo com a mulher Carlos goza, durante semanas, a intimidade da casa de Maria Eduarda: grande amizade entre ambos Carlos em casaa de Maria Eduarda Aparece Dâmaso Dâmaso pede explicações a Carlos Cap.XII Ega volta para Lisboa (Ramalhete) Carlos e Ega vão ao jantar dos Gouvarinho Reconciliação Carlos/ condessa de Gouvarinho Carlos compra a quinta dos Olivais (p/instalar M.Eduarda) Afonso aprova a compra Ega confidente de Carlos Cap.XIII Ega informa Carlos das difamações de Dâmaso a seu respeito e a respeito de M.

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Eduarda. Preparativos da quinta dos Olivais (Toca) Carlos ameaça Dâmaso Dâmaso pede explicações Aniversário de Afonso A Gouvarinho pede explicações a Carlos Carlos rompe as relações com a Gouvarinho Cap. XIV Afonso parte para Santa Olávia Maria Eduarda parte para os Olivais Ega parte para Sintra Carlos só em Lisboa Alencar apresenta Guimarães a Carlos Idílio Carlos/Maria Eduarda Maria Eduarda visita o Ramalhete Carlos vai a Santa Olávia: regressa e recebe Castro Gomes Castro Gomes revela a Carlos que não é marido de Maria Eduarda Desespero de Carlos (a mentira): decide romper. Carlos perante Maria Eduarda não consegue manter decisão Longa história de Maria Eduarda Carlos propõe casamento a Maria Eduarda Cap. XV Maria Eduarda, na Toca, conta a Carlos a vida atribulada Carlos conta a Ega o propósito de partir com Maria Eduarda O avô-obstáculo a esta ideia Ega, Carlos e Maria Eduarda jantam nos Olivais Toca, ponto de reunião de amigos Dâmaso difama publicamente Carlos na “Corneta do Diabo” Ega e Cruges desafiam Dâmaso Dâmaso retrata-se num documento que é obrigado a escrever Carlos sente-se vingado Afonso regressa a Lisboa Carlos regressa ao Ramalhete Maria Eduarda regressa à rua de S. Francisco Festa de beneficiência: Ega vê Dâmaso com Raquel Cohen

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Ega publica a retratação de Dâmaso (sem repercussões) Cap. XVI Carlos e Ega em casa de Maria Eduarda O Sarau Guimarães entrega um cofre a Ega Guimarães revela a identidade de Maria Eduarda (irmã de Carlos) Cap. XVII Ega na posse do segredo, pensa na forma de o revelar a Carlos Vilaça é incumbido de o fazer: carta de M.Monforte esclarece e filiação de M. Eduarda Vilaça revela a Carlos a notícia Ega e Carlos conversam sobre o assunto Carlos dá abruptamente a notícia a Afonso Carlos decide dar ele mesmo a notícia a M.Eduarda Carlos, face a M.Eduarda, deixa-se levar e nada lhe revela Carlos a passar as noites com M.Eduarda Ega e Afonso certificam-se da situação Carlos vê pela última vez o avô Afonso morre Carlos parte para Santa Olávia Ega revela a M. Eduarda o seu parentesco com Carlos Maria Eduarda parte para Paris Ega vai ter com Carlos Cap. XVIII Notícia da partida de Carlos e Ega para o estrangeiro Ega volta a Lisboa ano e meio depois Carlos volta a Portugal (dez anos depois) Os velhos amigos: encontro ou notícias Carlos e Ega visitam Ramalhete: modificações operadas pelo tempo.

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Simbologia Maria Eduarda é a terceira figura feminina na panóplia de três gerações da família Maia apresentadas na obra. Simbolicamente, o número três é o número da completude e implica a conjugação de três momentos temporais: o passado, o presente e o futuro, ou seja, a mulher aparece na obra como um fator de transformação do mundo masculino, conduzindo à esterilidade, à estagnação. O terceiro elemento feminino torna-se a revelação simbólica dos outros dois que foram nefastos à família. Ainda relacionado com este simbolismo, é interessante ver a relação simbólica que, metonimicamente, se pode estabelecer entre os três lírios brancos que Carlos vê dentro de um vaso do Japão, quando, pela primeira vez, tem acesso ao espaço físico onde Maria Eduarda se move, a sua casa, na Rua de S. Francisco, e as três mulheres que penetram na família Maia. Apesar da brancura dos lírios (conotada na tradição oriental com o luto), as flores murcham num vaso do Japão. A cultura europeia presente na decoração contracena com a cultural oriental, na qual a alvura representa a morte: a morte física de Maria Eduarda Runa e de Maria Monforte e a morte moral e espiritual (num tempo futuro) de Maria Eduarda Maia. Os lírios brancos, à partida conotados com a pureza, perdem a sua conotação positiva ao murcharem e passam e simbolizar a morte. O lírio concentra a ideia de prosperidade da raça, continuada de geração em geração. Por outro lado, o facto dos três lírios brancos se encontrarem num vaso do Japão aponta já para o incesto, pelo exotismo que representa esta peça decorativa, pois insere no espaço físico de Maria Eduarda uma cultura estranha à cultura ocidental. Saliente-se que Carlos e Maria Eduarda terão os seus encontros quer na Toca, marcada por uma decoração excêntrica e exuberante, quer no quiosque japonês, pelo que retoma a simbologia de uma cultura estranha neste espaço.

A Toca é o nome dado à habitação de certos animais, apontando desde logo para o carácter animalesco do relacionamento amoroso entre Carlos e Maria Eduarda. Carlos introduz a chave no portão da Toca com todo o prazer, sugerindo não só poder mas também o prazer das relações incestuosas (é de lembrar que a chave é um símbolo fálico). Da segunda vez que se alude à chave, os dois amantes experimentam-na o que passa a simbolizar a aceitação e entrega mútua. Os aposentos de Maria Eduarda simbolizam a tragicidade da relação, estando carregados de presságios: nas tapeçarias do quarto “desmaiavam, na trama de lã, os amores de Vénus e Marte”, de igual modo este amor de Carlos e Maria Eduarda estava condenado a desmaiar e desaparecer; “... a alcova resplandecia como o interior de um tabernáculo profano...” misturando o sagrado e o profano para simbolizar o desrespeito pelas relações fraternas. Assim, a descrição do quarto tem traços próprios de um local dedicado ao culto: a porta de comunicação “em arco de capela”,

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Os Maias – Resumo, estrutura interna, linguagem e simbolismo donde pendia “uma pesada lâmpada da Renascença” conferindo maior solenidade. Com o sol, o quarto “resplandecia como (...) um tabernáculo. Carlos mostrava-se indiferente aos presságios, inconsciente e distante, mas Maria Eduarda impressiona-se ao ver a cabeça degolada de S. João Baptista, que foi degolado por ter denunciado a relação incestuosa de Herodes, e a enorme coruja a fitar, com ar sinistro, o seu leito de amor (lembre-se que a coruja é considerada uma ave de mau agoiro, que surge aqui para vaticinar um futuro sinistro para este amor). O ídolo japonês que há na Toca remeta para a sensualidade exótica, heterodoxa, bestial desta ligação incestuosa. Os guerreiros simbolizam a heroicidade, os evangelistas, a religião e os troféus agrícolas, o trabalho que terão existido na família Maia (e no Portugal). Os dois faunos simbolizam os dois amantes numa atitude hedonista e desprezadora de tudo e de todos. Na primeira noite de amor entre Carlos e Maria Eduarda, a qual se dá precisamente na Toca, dá-se uma grande trovoada como que a pressagiar um mau ambiente que se criaria resultante deste incesto.

Maria Eduarda tem receios, desconhece a sua verdadeira identidade, mas que perscruta o futuro através da análise de pequenos pormenores das coisas ou das pessoas, análise essa que assume um valor simbólico ou premonitório, como acontece quando ela descobre semelhanças entre Carlos e a sua mãe.

O Ramalhete está simbolicamente ligado à decadência moral do Portugal da Regeneração. O ramo de girassóis que ornamenta a casa simboliza a atitude do amante, que como um girassol, se vira continuamente para olhar o ser amado; girando sempre, numa atitude de submissão e de fidelidade para com o ser amado, o girassol associa-se à incapacidade de ultrapassar a paixão e a falta de receptividade do ser amado, ligando-se assim a Pedro e a Carlos. Os móveis do escritório de Afonso estão cobertos de panos brancos que são comparados a mortalhas com que se envolvem cadáveres, prenunciam já a morte que se abaterá na família Maia. Concentra em si o peso da fatalidade familiar, que lhe foi atribuída por Vilaça num relatório sobre a casa que enviou a Afonso, o qual se riu da observação; mas de facto é lá que morre Pedro na sequência do abandono de Maria Monforte, e é lá também que Afonso vai morrer de desgosto após descobrir o incesto dos netos.

O jardim do Ramalhete é rico em simbologias. Numa primeira e última fases, este espaço evidencia a tristeza e o abandono, e na desolação do jardim, sobressaem três símbolos do amor puro e imortal. O cipreste (símbolo da morte) e o cedro (símbolo do envelhecimento), unidos entre si por laços quase míticos que se perdem nos anais da mitologia grega, inseparáveis em vida, envolvidos num amor puro e ...


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