sistematizacao da obra os maias de eça de queiroz PDF

Title sistematizacao da obra os maias de eça de queiroz
Author Joana Gomes
Course Português
Institution Ensino Secundário (Portugal)
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Resumos e sistematização de português 11, os maias de eça de queiroz...


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UNIDADE 3 AMOR UNIDADE DE PERDIÇÃO, 4 OS de

MAIAS, CAMILO de CASTELO EÇA DE QUEIRÓS BRANCO

OS MAIAS, de EÇA DE QUEIRÓS

OS TEMAS D’OS MAIAS • Os principais temas d’Os Maias associam-se à ideologia e às preocupações nucleares do Realismo e do Naturalismo, que são as principais referências artísticas do romance. a) O amor é um dos temas centrais d’Os Maias. Trata-se da força motriz que desencadeia e faz avançar a intriga principal — a relação sentimental entre Carlos e Maria Eduarda —, mas também do ingrediente que precipita as personagens para um desfecho desditoso, infeliz: o fim de um amor verdadeiro e de um projeto de vida a dois, mas também a morte de Afonso. A ligação amorosa entre as duas personagens centrais termina quando se descobre que são irmão e irmã e, portanto, que vivem em situação de incesto (outro tema da obra), ainda que involuntário e inconsciente. Carlos sobrevive, profundamente desiludido, à frustração sentimental. De alguma maneira, a possibilidade de realização pessoal no amor e de uma existência feliz naufraga com a separação dos dois irmãos. b) Tema profundamente realista, o adultério assume, assim, uma expressividade considerável neste romance. A infidelidade amorosa está presente em linhas narrativas secundárias do romance, condicionando a vida de certas personagens. N’Os Maias estuda-se literariamente este fenómeno social, revelando como ele se associa à futilidade e à esterilidade do modo de vida e da mentalidade das classes burguesa e aristocrática bem como à educação que os seus membros receberam. Em primeiro lugar, é o amor o responsável pelos sobressaltos da vida de Pedro da Maia: a saída, em rutura, do lar paterno, a paixão inflamada por Maria Monforte e o seu suicídio. Aqui emerge outro tópico relevante da nar- rativa: o adultério, que é praticado por figuras femininas como a condessa de Gouvarinho, Raquel Cohen e, como vimos, Maria Monforte. c) A educação é outro tema da obra. Desde logo porque condiciona o trajeto de vida de várias personagens do romance, como Carlos, Pedro da Maia e Euse- biozinho, mas também, pela análise que o processo narrativo se encarrega de fazer, Maria Monforte e Dâmaso, entre outras. Ao longo da narrativa, equa- ciona-se o problema de apurar qual o melhor modelo a seguir para educar um jovem português do século XIX. (A educação era um tópico de reflexão dos pensadores da Geração de 70, que acreditavam que ela podia ser a pedra filosofal que resgataria o povo português do seu atraso e da sua decadência.) Dois modelos de educação são colocados em confronto: o modelo tradicio- nal português, orientado pelos valores da fé católica, baseado no estudo teórico e livresco e na aprendizagem do latim; e o modelo britânico, apolo- gista do exercício físico, do contacto com a natureza, de uma formação moral sólida e humanista e do estudo das línguas vivas. O modelo de educação português produz indivíduos de

carácter fraco, de condição débil e sem uma orientação prática para a vida; exemplos disso são Pedro da Maia e Eusebiozinho. Carlos é educado segundo o modelo britânico mas falha na vida, ainda que não por causa deste tipo de educa- ção: são as circunstâncias da sua existência e os condicionalismos do Portugal em que vive que o tornarão um «vencido da vida». (Desta forma, o diletantismo — de Carlos, de Ega e da classe dirigente — acaba por constituir outra questão relevante da obra.)

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hereditariedade e a educação não são fatores que garantam a realização pessoal, o carácter forte e a prosperidade de um indivíduo).

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• Podemos incluir neste elenco outros temas (ou subtemas) da obra, que ocupadito se depreende que a decadência é orão uma posição secundária ou subordinada em relação aos temas principais: o progresso, o jornalismo, o donjuanismo ou o tédio. estudiosos da obra, o tema é a própria ideia de Portugal no éculo XIX). Isto porque o romance procede a uma análise dos s causas da decadência nacional. A análise social empreendida A REPRESENTAÇÃO DE ESPAÇOS SOCIAIS E A CRÍTICA DE roblema em vários domínios da sociedade, como a degradação s e da moral (por exemplo, a falta de carácter dos portugueses), cia e a indiferença da classe dirigente (com políticos como banqueiros como Cohen), a falta de civismo da sociedade decorre, em grande parte, em vários lugares de Lisboa e corde-se o episódio das corridas de cavados seus arredores, como em Sintra; no entanto, na infância e na juventude de a falta de cultura (lembre-se o Sarau no TCarlos da Maia, o leitor vai encontrar a personagem e o seu avô na quinta de a é política, social, económica, cultural e família de Santa Olávia e em Coimbra. do romance traduzem a descrença numa regeneração da pátria • Esses lugares, que constituem o espaço físico do enredo do romance, são lidades, facto que é ilustrado na conversa galhofeira do jantar olhados de outra forma quando criam ambientes povoados com personagens tral. da narrativa — várias delas personagens-tipo — e proporcionam momentos de a d’Os Maias, que se associa ao da dcaracterização de grupos sociais, de figuras individuais e, sobretudo, de crítica será analisado na secção «O título de costumes. A estes cenários que convidam à análise de comportamentos e de ão. Leia-se esta mesma secção para compersonagens dá-se o nome de espaço social. mantismo, enquanto mentalidade dominante, é tematizado nesta • Lisboa é o grande palco onde se desenrola o enredo d’Os Maias porque é na bém Reis, 2000: 40-42). capital portuguesa que se movimenta a sociedade nacional, que é estudada e ro lado, a própria literatura e criticada no romance. É nos episódios que têm lugar em vários espaços lisboeralistas (mas também as românticas tas e dos arredores da cidade que assistimos ao vícios e à decadência da socieue são abor- dadas por persona dade burguesa da segunda metade do século XIX. Subtilmente, estabelecem-se das por Eça de Queirós na composição contrastes entre Lisboa e outras capitais europeias — sobretudo Paris e Londres a a falência do Roman- tismo (sobretu— para melhor dar a conhecer os vícios cívicos e civilizacionais do nosso país. omo questiona a ideologia do Naturalismo (demonstrando que a • Entre vários espaços da capital onde a ação do romance se desenrola, destaca-se o Ramalhete, a casa dos Maias em Lisboa, que alberga a família ao longo de várias gerações e que, por isso, assiste aos seus reveses e aos momen- tos trágicos. É ela que corresponde à noção de lar da família na capital. Por outro lado, a quinta de Santa Olávia, propriedade dos Maias no Douro, repre- senta as origens rurais da família, o que lhe confere uma ligação ao campo, à natureza e ao que há de mais genuinamente

português e não foi corrompido pela cidade. Funciona também como um santuário onde Carlos cresce e o avô Afonso se refugia. • Já a Toca, vivenda dos Olivais com um nome simbólico e que serve de ninho ao amor de Carlos e Maria Eduarda, é um lugar afastado e resguardado do epicen- tro da vida social de Lisboa e, até certa altura, dos rumores e da maledicência. Por fim, a Vila Balzac é a casa que acolhe os amores de Ega e de Raquel Cohen. Ambas as casas estão marcadas pelo signo dos sentimentos impuros: a primeira, porque está associada ao adultério, e a segunda, ao incesto. • Por seu lado, Coimbra, onde Carlos estuda, é a cidade que forma a futura classe dirigente do reino. Aí chegam as ideias filosóficas e científicas de filósofos e cientistas da Europa, como Hegel, Proudhon, Comte, Darwin, etc. Mas, na vida boémia estudantil coimbrã, encontramos já o embrião da vida diletante e estéril que minará personagens centrais do romance como Carlos da Maia e Ega. • Já Sintra é a vila pitoresca aonde Carlos se desloca, no Capítulo VIII, na esperança de encontrar Maria Eduarda. Pela sua beleza natural e pela proximidade de Lisboa, este local afigura-se como um cenário que con- vida, com algum recato, aos amores... tanto aos puros como aos impuros. • No Hotel Central, onde jantam Carlos, Ega e outras personagens da narrativa (Capítulo VI), o leitor assiste a uma discussão literária (que encena a polémica entre o Ultrarromantismo e o Realismo/Naturalismo) e às reflexões tro- cistas sobre a situação política e económica de Portugal. Nesta confraternização entre personagens com formação e com relevo na vida nacional (Cohen é um banqueiro e um homem influente; Alencar, o tipo do poeta ultrarromântico), não só observamos a indiferença e a insensibilidade perante a decadên- cia do País como a incapacidade de alguns membros da elite lisboeta se comportarem com civismo e dignidade. • No episódio das corridas de cavalos (capítulo X), que decorre no hipódromo, é denunciado o culto da aparência da sociedade burguesa e a sua aspiração de se mostrar requintada e cos- mopolita, imitando a realidade das corridas inglesas. No entanto, o evento revela-se monótono e entediante, e os comportamentos, artificiais. Mais ainda, o ambiente apenas anima quando o provincia- nismo lusitano vem à superfície numa cena de discussão e pugilato que põe a nu a genuína falta de civismo do português. UNIDADE 4 OS MAIAS, de EÇA DE QUEIRÓSGeorge

Leonard Lewis, Palácio da Pena (1883).

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asa dos condes de Gouvarinho (Capítulo XII), é a classe dirigente da nação — representada pelo conde de Gouvarinho, ente, e por Sousa Neto, alto funcionário da Instrução Pública — que revela a sua falta de cultura bem como a s suas ideias e das propostas que tem para o País. Tal facto é notório quando estas personagens abordam tópicos m a educação (das mulheres), a filosofia e a literatura. os vícios do jornalismo e a aspiração da burguesia são tratados nos episódios que decorrem nas redações dos jornais A o e A Tarde (Capítulo XV). co no Teatro da Trindade (Capítulo XVI) critica-se a futilidade da sociedade burguesa. A cultura das classes privilegiadas es o gosto e a sensibilidade pela arte mais exigente.

S E O SEU VALOR SIMBÓLICO E EMOTIVO Ramalhete o e Carlos decidirem habitar o Ramalhete, este espaço «possuía apenas, ao fundo de um terraço de tijolo, um pobre bando- nado às ervas bravas, com um cipreste, um cedro, uma cascatazinha seca, um tanque entulhado, e uma estátua Vénus Citereia) enegre- cendo a um canto na lenta humidade das ramagens silvestres.» (Capítulo I).

e neto se terem instalado neste espaço, o jardim é descrito da seguinte forma: «tinha o ar simpático, com os seus os ao pé dos degraus do terraço, o cipreste e o cedro envelhecendo juntos como amigos tristes e a Vénus Citereia , no seu tom claro de estátua de par- que, ter chegado de Versalhes, do fundo do grande século... e desde que a água catazinha era deliciosa, dentro do nicho de conchas, com os seus pedregulhos arranjados em despenhadeiro bucólico, aquele fundo de quintal soalheiro com um pranto de náiade doméstica esfiado gota a gota na bacia de mármore.» ando Ega e Carlos visitam o Ramalhete, dez anos depois, depa- ram com este cenário: «Em baixo o jardim, bem areado, a nudez de inverno, tinha a melancolia de um retiro esquecido, que já ninguém ama: uma ferrugem verde, de humidade, s membros da Vénus Citereia; o cipreste e o cedro envelheciam juntos, como dois amigos num ermo; e mais lento corria cascata, esfiado saudosamente gota a gota, na bacia de mármore.» (Capítulo XVIII). a Monforte surge aos olhos de Pedro como uma deusa, é possí- vel associá-la à estátua de Vénus Citereia na sua como se a presença desta figura feminina fosse sugerida obscuramente no quintal do Ramalhete, simbolizando a uma nova tragédia. e Afonso e de Carlos para Lisboa, a estátua renova-se, passando a simbolizar uma nova deusa que surge em Lisboa: De notar, no entanto, que, apesar da nota de alegria proporcionada pela referência ao renasci- mento da estátua e à eliciosa», a verdade é que o ambiente de melancolia se mantém parcialmente, sendo sugerido pela comparação do ro a dois «amigos tristes» e pela alusão ao «pranto de náiade doméstica». É possível, pois, considerar que se aponta a presença de um destino funesto, cuja ameaça, mesmo em momentos felizes, parece estar latente. • Quando pratica o incesto, Carlos começa a sentir alterações na forma como via o corpo de Maria Eduarda: fora dela, adorado sempre como um mármore ideal, que de repente lhe aparecera, como era na realidade, forte de mais de grossos membros de amazona bárbara, com todas as suas belezas copiosas do animal de prazer.» (Capítu imagem pode ser associada à que a estátua tem no momento em que Carlos regressa ao casarão após o seu aba ferrugem verde, de humidade, cobria os grossos membros da Vénus Citereia» (Capítulo XVIII).

2. O interior do Ramalhete no epílogo • No epílogo (isto é, no Capítulo XVIII), Carlos e Ega visitam o Rama- lhete, espaço a propósito do qual o primeiro curioso! Só vivi dois anos nesta casa e é nela que me parece estar metida a minha vida inteira!» O seu amigo refe fica ao dever ao facto de ter sido naquele espaço que Carlos viveu «aquilo que dá sabor e relevo à vida — a p efeito, o protagonista tem uma intensa relação emotiva com este espaço não só pelo facto de ele estar associado seu amor com Maria Eduarda, mas também pelas recordações que lhe proporciona do seu avô, Afonso da Maia. UNIDADE 4 OS MAIAS, de EÇA DE QUEIRÓSVénus

Citereia (Bertel Thorvaldsen, Vénus com uma maçã, 1813-1816).

• Nesta medida, a redução do Ramalhete à condição de um depósito de recordações do passado torna-se muito pungente, sendo possível interpretar a destruição que neste espaço se operou como um símbolo da efemeridade da vida: «De repente, deu com o pé numa caixa de chapéu sem tampa, atulhada de coisas velhas — um véu, luvas desirmanadas, uma meia de seda, fitas, flores artificiais. Eram objetos de Maria, achados nalgum canto da Toca, para ali atirados no momento de esvaziar a casa! E, coisa lamentável, entre estes restos dela, misturados como na promiscuidade de um lixo, aparecia uma chinela de veludo bordada a matiz, uma velha chinela de Afonso da Maia!» (Capítulo XVIII). • A morte é também simbolicamente representada neste passo pelos panos brancos que cobrem os móveis do escritório de Afonso da Maia — e que são

designados como «sudários brancos» (Capítulo XVIII).

3. A Toca • O nome «Toca» aponta para um espaço de proteção, imune às perturbações do exterior. O próprio Carlos sugere que se lhe ponha «Uma divisa de bicho egoísta na sua felicidade e no seu buraco: Não me mexam!» (Capítulo XIII). Com efeito, os elementos perturbadores da relação (o artigo difamatório da Corneta do Diabo e o encontro de Guimarães com Maria Eduarda e subsequentes revelações) pro- vêm de Lisboa ou decorrem após Maria Eduarda regressar à Rua de S. Francisco. No entanto, podemos ainda considerar que esta designação pode referir-se sim- bolicamente uma relação de carácter animalesco, porque incestuosa. • O facto de Carlos introduzir «a chave devagar e com inútil cautela na fechadura daquela morada», o que «foi [...] um prazer» (Capítulo XIII), pode ser entendido como um símbolo da relação sexual entre os dois amantes. • Quanto ao quarto de Maria Eduarda, está carregado de símbolos que se assumem como presságios do desfecho trágico desta relação amorosa. Em primeiro lugar, temos a referência ao facto de a alcova se assemelhar ao «interior de um tabernáculo profanado, convertido em retiro lascivo de serralho» (Capítulo XIII).

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tempo da Liga Hanseática, luxuoso e sombrio» e que «tinha uma majestade arquitetural: na base quatro guerreiros, armados como Marte, flanqueavam as portas, mostrando cada um em baixo-relevo o assalto de uma cidade ou as literários tendas de um acampamento; a peça superior era guardada aos quatro cantos te lugar sagrado, também a relação pelos quatro evangelistas, João, Marcos, Lucas e Mateus, imagens rígidas, bará por perder a sua dimensão sublimeenvolvidas nessas roupagens violentas que um vento de profecia parece agitar: o seu grau de parentesco, numa ligação depois, na cornija, erguia-se um troféu agrícola com molhos de espigas, foices, o deste amor (não pela sua dimensão acachos de uvas e rabiças de arados; e, à sombra destas coisas de labor e fares serem irmãos) é sugerido pela refe tura, dois faunos, recostados em simetria, indiferentes aos heróis e aos santos, Vénus» (Capítulo XIII), bem como a Lutocavam, num desafio bucólico, a frauta de quatro tubos.» (Capítulo XIII). É hecida pela luxúria e pelas relações inpossível considerar os dois faunos como Carlos e Maria Eduarda, na medida em ona também como um indício de umaque os amantes, tal como as figuras míticas, se entregam exclusivamente à forma trágica. Final- mente, também sensualidade, indiferentes a valores fundamentais representados pelas restanta para a denúncia de uma relação ctes figuras: o heroísmo, a religião e o trabalho. dado que Herodes casara com a sua cunhada — grau de equivalente, nesta fase, ao de irmã —• De notar que no epílogo, quando Carlos regressa ao Ramalhete, verifica que indícios de catástrofe são também houvera «um desastre na cornija, nos dois faunos que entre troféus agrícolas uma coruja embalsamada. Finalmente, tocavam ao desafio. Um partira o seu pé de cabra, outro perdera a sua frauta bucólica...» (Capítulo XVIII). ourada pode ser entendida como uma referência à vitalidade e ardente do seu amor, mas também à perversão que marca esta • Finalmente, destaca-se ainda, como «génio tutelar» (Capítulo XIII) da Toca, rosa, dado que a cor amarela pode também esta conotação «um ter ídolo japonês de bronze, um deus bestial, nu, pelado, obeso, de papeira,

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faceto e banhado de riso, com o ventre ovante, distendido na indigestão de todo universo —talha e as do duas perninhas bambas, moles e flácidas como peles morto em destaque um armário «“divino” do um Craft, obra de

(Capítulo XIII). Esta figura de contorn• Carlos e Ega começam por percorrer o Loreto, espaço em que a estátua de o um símbolo da dimensão monstruosaCamões representa simbolicamente a época áurea dos Descobrimentos, que quele local. contrasta com a estagnação, inércia e decadência que marcam a sociedade do (daí a caracterização da estátua de Camões como «triste»).

de Lisboa percorridos no passeio• A decadência da sociedade está associada à degenerescência da própria população portuguesa, que é descrita como «feiéssima, encardida, molenga, reles, amarelada, acabrunhada» (Capítulo XVIII). UNIDADE 4 OS MAIAS, de EÇA DE QUEIRÓSJoão

Christino, Lisboa, Avenida da Liberdade (litografia publicada na Mala da Europa, n.o 488, 1905).

• De seguida, os dois amigos chegam à Avenida da Liberdade, espaço que repre- senta simbolicamente um Portugal pretensamente moderno e cosmopolita. • No entanto, podemos verificar que as tentativas de modernização do espaço urbano se resumem a uma zona muito limitada, terminando de forma abrupta no fim da Avenida, não passando, portanto, de um «curto rompante de luxo barato» (Capítulo XVIII). • Neste espaço se confirma também a degenerescência dos portugueses — neste caso, especificamente, através da descrição da juventude. Com efeito, esta «mocidade pálida» (Capítulo XVIII) — cuja falta de vitalidade é, provavelmente, uma consequência da educação tradicional portuguesa — limita-se a passear pela Avenida da Liberdade sem propósito aparente. Assim — ao contrário da geração de Carlos e de Ega —, nem sequer tem qualquer ideia de transformação do país, tendo apenas o objetivo de ostentar um luxo artificial com o qual não se sente confortável. O absurdo desta situação é agravado pelas botas que estes jovens calçam: na sua ânsia de parecerem muito civilizados, os portugueses copiaram o modelo do estrangeiro, mas levaram-no ao excesso, acabando por cair no ridículo. De acordo com Ega, este é o processo seguido por toda a sociedade portuguesa da época que, no seu provincianismo, julga que este é o caminho para a modernização. • Finalmente, Carlos aponta para os «velhos outeiros da Graça e da Penha», que representam simbolicamente a hipótese de orientação para aquilo que é genuinamente português. No entanto, como Ega refere, esta solução também não é satisfatória, uma vez que implicaria o regresso ao um passad...


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