2000 93433 Resenha Critica do Livro Vidas Secas PDF

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Resenha Crítica do Livro Vidas Secas, de Graciliano Ramos.

Vidas Secas, de Graciliano Ramos narra a história de uma família de retirantes que sofrem a ação agressiva da seca do nordeste e rumam em busca de uma vida melhor. Os personagens desta história e o contexto de miséria em que se encontram retratam fielmente a realidade da época o que, infelizmente, tem atravessado décadas da mesma forma. A ação castigadora da seca e a falta de conhecimento para atuar na melhoria desta terrível situação, fizeram de Fabiano um homem rude e bruto, resistente a tudo que poderia fugir do mundo ao qual havia concebido, inclusive maltratando seu filho mais velho por lhe fazer “perguntas demais”. Este tipo de comportamento, salvo exceções, faz com o que este estilo de vida, rude e ignorante, acabe se perpetuando de geração em geração. Exemplo disso é o próprio filho mais novo que encontra no pai, a sua projeção para o futuro como sendo um homem que tem domínio sobre os animais, ainda que de forma grosseira e espalhafatosa. A limitação de conhecimento faz com que Fabiano submeta-se aos desmandos do governo, representado pelo soldado amarelo. A falta de posicionamento e de argumentação contra o uso indevido de poder do governo, fez com que Fabiano sofresse injustamente. Isso nos traz à tona uma triste realidade que ainda permeia a vida de muitos cidadãos, impotentes e “encarcerados” assim como Fabiano em meio às injustiças sociais. Tais injustiças são estimuladas pela própria falta de políticas públicas, voltadas para a resolução dos problemas desta natureza. A luta pela sobrevivência com dignidade de muitas pessoas que vivem esta infeliz realidade, piora quando se trata das relações de negócio entre “patrão e empregado”. À custa de muitos “Fabianos”, pessoas têm aumentado exponencialmente seus patrimônios, uma vez que o poder de barganha sempre há de concentrar-se em suas mãos. Triste realidade nordestina, triste realidade dos lugares miseráveis do nosso país. A situação deprimente do agreste brasileiro torna-se tão caótica, a ponto de gente e animal, tornar-se quase uma só “substância”, assim como é

demonstrado na relação entre a família e seus animais, em especial a Baleia. O ápice da vida sofredora desta família, assim como de muitas famílias contemporâneas e antepassadas, dá-se no momento da morte da cachorra. Triste realidade nordestina, triste realidade dos lugares miseráveis do nosso país. O prenúncio de grandes dificuldades ocorreria mais uma vez à vida desta família, revelado na chegada das aves que bebiam sua água e matariam os animais. Certamente se pode entender que em meio a estes lugares miseráveis, a falta de atenção dos governantes faz com que seus habitantes, forçadamente, tenham que sonhar com novas perspectivas de vida na cidade. Neste caso, retirando-se mais uma vez para uma triste e escaldante caminhada na aridez da terra judiada pela seca. No entanto, um fio de esperança sempre existe em meio a estas situações e histórias de mazelas sociais, representadas por este livro. Sinha Vitória interpreta bem este fio de esperança, sendo um esteio para a família, principalmente para seu marido, Fabiano. As ações de encorajamento que nascem no coração desta mulher sofredora, revelam a disposição de muitas pessoas que encontram em alguma forma de crença, força para lutar exercendo assim algo que poderíamos chamar de “fé”. Seja conseguindo uma cama igual ao do Tomás da Bolandeira, seja conseguindo realizar algum outro desejo, a família parte para a realização do seu sonho que nada mais é do que viver uma vida com dignidade. De forma realística e funesta, a narrativa de Graciliano Ramos nos deixa um legado de conhecimento das mazelas sociais do sertão nordestino que ainda avançam devastadoramente. No entanto, independente das condições climatológicas desta região, espera-se que o momento de lutas e manifestações que o nosso país atravessa, sirva de alguma forma para que os governantes repensem novas ações políticas, a fim de reverter este quadro de misérias, de devastação e de vidas secas....