análise do poema \"as duas boas irmãs\" do baudelaire PDF

Title análise do poema \"as duas boas irmãs\" do baudelaire
Author fabiana angelim
Course Teoria Literária I
Institution Universidade Federal do Rio de Janeiro
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO UFRJ

ANÁLISE DO POEMA “AS DUAS BOAS IRMÃS” DO LIVRO “FLORES DO MAL” DE CHARLES BAUDELAIRE

FABIANA ANGELIM MACHADO 119017730 TEORIA LITERÁRIA I (14H – 15H40) 2019.1 25/06/2019

A utilização de símbolos, por parte do homem, é frequentemente usada como um meio de expressão. Esses símbolos, entretanto, não significam somente uma palavra, mas sim um conjunto de ideias que podem determinar um estado de espírito. Dentro do movimento Simbolista, esses símbolos são sugestivamente vagos e subjetivos. As poesias simbolistas tratam, essencialmente, de um mundo físico e espiritual por meio de imagens, frequentemente desconhecidas. Em datas oficiais, o Simbolismo surgiu no fim dos anos de 1880. Mesmo que sua principal obra seja datada de 1857, Baudelaire é considerado um dos maiores poetas simbolistas. “Flores do Mal”, sua obra mais importante, é dividido em onze partes – Spleen e Ideala, Quadros Parisienses, O Vinho, Flores do Mal, Revolta, A Morte, Novas Flores do Mal, Marginália, Galanteios, Peças Várias e Pilhérias. Percebe-se ao que ao longo do livro há um crescente pessimismo na escrita do autor, expressando o contexto em que Baudelaire estava inserido. Já na quarta parte, Flores do Mal, no soneto “As duas boas irmãs”, no qual é relatada sua relação com a morte e o erotismo, Baudelaire escreve: Morte e devassidão são a dupla fatal, (A) Amorosas e sãs, juntas são pelo fado, (B) Cujo flanco andrajoso e sempre virginal (A) Ninguém soube que um dia houvessem procriado. (B) Nessa estrofe, Baudelaire apresenta rimas alternadas. Logo no primeiro verso, tem-se a relação direta com o título do poema. Morte e devassidão seriam as duas boas irmãs. Uma vez que, morte pode significar uma liberdade eterna e a devassidão, um comportamento de libertinagem, fica claro que as duas, juntas, podem ser mortais – já que, explicitado pelo autor, são a dupla fatal. No segundo verso, o autor aprofunda ao dizer que as irmãs estariam unidas por um destino inevitável, reforçado pelo uso do “sãs”, já que, racionalmente, ninguém poderia impedir, por exemplo, a morte. O uso de “amorosas” ao descrever as irmãs causa um contraste, podendo ser considerado um paradoxo, já que a morte e a devassidão podem ser consideradas liberdades perigosas.

Nos próximos dois versos, fica expressa a ideia de que ninguém sabia que o ventre, que Baudelaire escreve como flanco, coberto de roupas, ou trapos, uma vez que andrajoso, das irmãs houvesse procriado. Acrescenta, entretanto, a ideia de virgindade, que seria incompatível com a ideia de procriação. Nesse caso, portanto, pode ser entendido como um ventre sem pecados, puro. Ao poeta mais sinistro, ao amigo do mal, (A) Favorito do inferno e cortesão rafado, (B) Túmulo e lupanar apontam do frontal (A) Um leito que jamais de remorso é habitado (B) Nessa estrofe, além da presença das rimas alternadas, é necessária a alteração da ordem. Com isso, a leitura dos versos deixaria claro que o túmulo e lupanar apontam para o poeta o leito, nunca habitado de remorso. Nos dois primeiros versos, fica clara a relação do poeta para com o demônio por meio das descrições de Baudelaire. Começa a estrofe direcionando o leitor sobre uma pessoa especifica – o poeta. Depois, descreve o poeta como o amigo do mal. Salienta, ainda, quando diz que o poeta é o favorito do inferno, esclarecendo sua relação. Os dois versos fazem oposição ao poema inicial, intitulado “Benção”, de “Flores do Mal”, no qual o autor compara o poeta com Cristo. Quando Baudelaire cita o túmulo, um lugar que representa o final da vida, refere-se à irmã morte. Já com o termo lupanar, que significa bordel, um lugar que, normalmente, é considerado lugar de depravação, faz relação com a irmã devassidão. No último verso, o poeta escreve que o arrependimento nunca habitou a cama, o leito. Portanto, deixa claro que, mesmo as irmãs representando ideias devassas, o poeta não sente remorso. Tal ideia é enfatizada pelas descrições feitas anteriormente – ao poeta mais sinistro, ao amigo do mal. Fica evidente que Baudelaire, mesmo com seus poemas pessimistas, em certo momento se encantou pelas mulheres depravadas e se define por meio de tal encanto.

E a sepultura e a alcova - a blasfêmia fecunda – (C) Alternam-se a ofertar - duas boas irmãs – (D Os terríveis prazeres e as doçuras vãs. (D) No primeiro verso, Baudelaire utiliza novamente de dois termos para representar as irmãs. A sepultura, significante do fim da existência, representa a irmã morte. Porém, o termo utilizado chama atenção, pois significa que o corpo ainda não foi enterrado, fato que será retomado na próxima estrofe. Já a alcova, que significa abrigo, representa, para o poeta, a irmã devassidão. É sob esse prisma, então, que se percebe que Baudelaire encontra abrigo na vida devassa. Quando o autor escreve “a blasfêmia fecunda” está deixando claro que a ofensa a algo divino ou sagrado, por isso blasfêmia, não é estéril, e, por isso, produz em abundância. No segundo verso, então, confirma que as duas boas irmãs, morte e devassidão, oferecem algo – a ser visto no próximo verso - uma de cada vez, uma vez que alternadamente. Pode, aqui, ser retomado o conceito de lupanar, usado no terceiro verso da segunda estrofe. Uma vez que o bordel é, usualmente, o lugar que as mulheres oferecem serviços em troca de algo. No terceiro verso, o autor esclarece o que as duas irmãs oferecem. Caracteriza os prazeres e as doçuras de forma negativa – terríveis e vãs, respectivamente -, causando um contraste claro. Já que os prazeres, supostamente algo agradável, são tomados pelo pessimismo do autor. As doçuras, mesmo que insignificantes e inúteis, não são ofertas despercebidas pelo autor. Devassidão, não queres enterrar-me, inunda? (C) Morte, quando virás, rua rival ao encanto, (E) Enxertar em seu mirto o cipreste do pranto? (E) Em sua última estrofe, o poema conclui com duas indagações direcionadas às duas irmãs, deixando claro, mais uma vez, uma relação direta do poeta com as duas. A ordem da apresentação das irmãs é interessante, pois ele cita, primeiramente, a irmã devassidão. Como explicado anteriormente, devassidão pode ser considerado um tipo de libertinagem, um comportamento frequente na vida devassa. A morte, citada no segundo verso, também é considerada um tipo de liberdade, porém eterno. Portanto, citar primeiro a devassidão e a morte, por último, simboliza uma ordem natural da vida.

No primeiro verso, o eu lírico pergunta a devassidão sobre enterrá-lo, retomando o conceito de sepultura, do primeiro verso da terceira estrofe. O ato de sepultar, no qual o corpo ainda não foi enterrado, se corelaciona com a pergunta do eu lírico, pois o mesmo sabe que é inevitável, mas não é a irmã devassidão que é fatal. Uma vez que já foi visto, na primeira estrofe, que somente as duas, juntas, são a dupla fatal. No segundo verso, o autor deixa claro que está a espera da irmã morte. O pessimismo, nesse verso, fica evidente quando o eu lírico caracteriza a morte como contrária ao encanto. Ou seja, a irmã morte não é, de certa forma, algo que o agrada. No terceiro verso, Baudelaire faz uso de termos botânicos, como mirto e cipreste. Mirto, por sua vez, é um gênero de plantas, entretanto sua flor está ligada ao universo feminino. Cipreste, então, é uma designação dada a diversas árvores, porém, figurativamente, pode significar luto ou morte. Portanto, nesse verso, o eu lírico, direcionado a morte, pergunta se tal irmã irá acrescentar a sua flor à morte. Conectando tal flor, que se liga as mulheres, vistas por Baudelaire como malditas, com a parte do livro em que esse poema está inserido. O mirto, para o eu lírico, representaria a flor da mulher, a flor do mal. Nas duas últimas estrofes, percebe-se a presença de uma ordem das rimas. Na terceira estrofe, Baudelaire usa CDD, e, na quarta, CEE. Finalizando, assim, o soneto de dois quartetos e dois tercetos. Enquanto o livro “Flores do Mal” apresenta sinais claros de progressão pessimista durante sua escrita, tal aspecto pode ser recuperado no poema analisado. Na primeira estrofe, o eu lírico caracteriza as irmãs como amorosas e sãs. Porém, pela terceira estrofe, caracteriza o que as mesmas oferecem como terrível e inútil. Portanto, dentro da poesia de Charles Baudelaire, há um aspecto coerente e, além disso, amargo.

Referências bibliográficas BAUDELAIRE, Charles. “As duas boas irmãs” in. Flores do Mal. Planeta, 1857 CARDOSO GOMES, Álvaro. “O Simbolismo: uma Revolução Poética” in A Poética do Indizível. teorias estéticas do simbolismo. 1 ed. São Paulo: Unimarco Editora, 2001. pp 53115. CHADWICK, Charles. “”Correspondances de Baudelaire”” in O Simbolismo. a linguagem crítica. Trad. Maria Leonor de Castro H. Telles. Lisboa: Lysia, 1975. pp 21-31....


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