As origens do pensamento grego PDF

Title As origens do pensamento grego
Author Alexandre Souza
Course Teoria do Direito I
Institution Universidade Católica do Salvador
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Introdução

Neste estudo, tratando de forma específica do segundo capítulo do livro As Origens do Pensamento Grego, de Jean Pierre Vernant, abordaremos o seu método de análise em distintos momentos que definiram uma significativa parte da história grega, utilizando-se para isso um exame sistemático das relações daquela época. Entretanto – à medida que iremos expor este pensamento com uma série de conceitos – iremos descrever um peculiar jogo de interações interpessoais através de um contexto histórico. Ademais, Vernant buscara exprimir essas relações constituintes em uma forma atemporal que tende a subsistir de maneira indiferente a mudanças que surgem ao nível em que estas mesmas interações entre determinados elementos variam à medida que a velocidade da sua atividade se transforma.

O autor inicia o capítulo relatando as dificuldades encontradas para decifrar e/ou interpretar as plaquetas em linear B (este é definido como um silabário que fora utilizado pelos povos micênicos – civilização micênica – entre os séculos XV a.C. e XII a.C.). Esta escrita é a forma mais antiga do grego que se tem ideia, resultante provavelmente de uma escrita ora denominada como linear A, que ainda não foi compreendida. No entanto, essas tabuinhas não eram desconhecidas, algo semelhante já tinha sido encontrado no palácio de Cnossos, em Creta, por Artur Evans nos primeiros anos do século XX (Taylour, 1964:28). Nas ruínas deste palácio, Evans (na época um estudante de arqueologia) encontrou uma vasta quantidade de tabuinhas de argila com inscrições. Então, ele batizara esse sistema gráfico de “linear A”, porque os sinais eram simples esboços (Chadwick 1996:180). Mais tarde, tornou-se comprovado de que essas tabuinhas em argila possuíam características da linear B, retificando a informação acerca do seu achado arqueológico. As inscrições em linear B foram localizadas talhadas em algumas tabuinhas feitas com argila, além de vasos encontrados nos palácios do período micênico. Como o texto descreve, “não se descobriram verdadeiros documentos antigos, mas sim inventários anuais redigidos em tijolos crus que teriam sem dúvida sido apagados para servir de novo, se o incêndio dos palácios não os tivesse conservado pelo cozimento”. O linear B passara a ser estudado, com a decifração de sua rudimentar escrita através de Michael Ventris, vindo a publicar a obra Documents in Mycenaean Greek, em parceria com Chadwick. A obra relata justamente que o linear B fora uma ferramenta burocrática, comumente utilizada pela administração, centralizada na figura dos reis micênicos, cuja finalidade era de relatar a administração do palácio – dentre outras anotações de finalidade predominantemente contábil – pelo período de, pelo menos, um ano. Uma vez encerrado o ano administrativo, estes registros eram destruídos e reiniciados. Não há registros de uso particular dessa escrita (Chadwick, 1996:155). No entanto, isso não implica que os escribas micênicos não atribuíssem o valor devido às tabuinhas (Finley, 1989:219).

Apesar disso, o aproveitamento deste material foi relevante para ajudar a descobrir e conhecer como funcionava do governo (de certa forma, autocrático), os tipos de atividades executadas dentro do palácio, assim como era formulada a economia, armamentos em geral, nomes de territórios, nomes de meses, unidades de medidas, dentre outros objetos que poderiam ser descritos através do linear B. Essas tabuinhas revelaram diversas características da economia interna de vários reinos, os seus detalhes, o funcionamento de um governo (como dissera acima, autocrático) com o qual atuava através de um exército de funcionários que contabilizavam tudo. Revelaram uma vida social que girava em torno do palácio real, cujas atribuições eram – ao mesmo tempo – político, religioso, militar, administrativo e econômico. Por intermédio de escribas e uma hierarquia de dignitários do palácio, este rei micênico (anax) controlara todos os setores da vida social (Vernant, 2003: 24). Voltando aos escribas micênicos, estes detinham a relevante função de fiscalizar e contabilizar em seus arquivos a circulação de mercadorias, escravos, mão-de-obra e recursos; em suma, possuíam a função de manter uma inscrição privada de registros contábeis. Podemos observar, com isso – com base nas descrições acima – que não havia lugar para que se pudesse desenvolver uma prática que resultasse em um comércio onde o mesmo fosse regulado de forma espontânea e autônoma, haja vista que os agentes que compunham essa economia micênica agiam de maneira tal que houvesse uma existência de um ordenamento determinado por outrem, que deveria estar em observância com as vontades do anax. Vernant já descrevia em seu livro que “não se compreenda que haja lugar, numa economia desse gênero, para um comércio privado... não se encontra testemunho de uma forma de pagamento em ouro ou em prata”. Ora, havendo um controle entre a interatividade de uns com os outros, o que resultaria em uma interferência – não somente entre as ações dos agentes de circulação de produtos e serviços – como também, podemos assim dizer, de uma fiscalização das relações denominadas comerciais que fossem do interesse do palácio (Chadwick 1973:157). Como o próprio autor descrevera, “uma realeza burocrática”. Sendo assim, podemos relatar que as relações de cunho econômico entre os micênicos não eram feitas através de uma “compra e venda”, pois não ficou

evidenciada uma troca mútua de um objeto cedido ou adquirido através de uma certa quantidade equivalente em prata, ouro ou qualquer evidência que denominasse uma moeda transacional. Ademais, não há nenhuma evidência que denote qualquer espécie que pudesse ser denominada ou interpretada como um escambo. Por conta de tudo isso, Vernant fica relutante em reconhecer algum tipo de comércio privado, baseados no “adquirir-ceder”. Segundo Finley (1990:51), “o que aconteceu exatamente continua um mistério, assunto de especulações infindáveis e controvérsias”. Importante relatar a aproximação com os hititas (dignitários do palácio que formam o séquito do rei), o que o autor define como “frutuosa, pois dá o maior relevo às diferenças que separam o mundo micênico da civilização palaciana de Creta que lhes serviu de modelo”. Além disso, esse vínculo pessoal, firmado em uma relação mútua entre monarca e subordinado, não incorre em uma transferência a este último de algum tipo de autonomia e/ou liberdade e nem delegar uma autoridade que ora está concentrada no primeiro, fazendo com que esta seja distribuída (Finley, 1990:67). Esse – possamos assim dizer – delegar/executar micênico, o soberano detém consigo a exclusividade na autoridade. E o descrito nas plaquetas em linear B, descreve o autor, “permite-nos precisar esse quadro de corte e do palácio micênicos”.

Referências bibliográficas: CHADWICK, J. A linear B. In.: HOOKER, C. B. F. (introd.). Lendo o passado: a história da escrita antiga do cuneiforme ao alfabeto. São Paulo: Edusp, 1996, pp. 175-243 FINLEY, M. Grécia primitiva: Idade do Bronze e Idade Arcaica. São Paulo: Martins Fontes, 1990. FINLEY, M. Economia e sociedade na Grécia Antiga. São Paulo: Martins Fontes,1989. Gabrecht, Ana Penha da Silva; Silva, Gilvan Ventura (2006). Homero e o contexto de produção de A Ilíada e A Odisseia. Revista Ágora, Vitória, n.3, p. 1-27. SILVA, Daniel Neves. “Civilização Micênica”; Brasil Escola. Disponível em: brasilescola.uol.com.br/historiag/civilização-micenica.htm. Acesso em 10 de abril de 2020. TAYLOUR, W. The Mycenaeans. London: Thames and Hudson, 1964. VERNANT, J.P. As origens do pensamento grego. Rio de Janeiro: Difel, 2003....


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