Analise do poema Pássaro Azul PDF

Title Analise do poema Pássaro Azul
Author Alice Silva Braga
Course Literatura Portuguesa Clássica
Institution Universidade Federal do Pará
Pages 10
File Size 221.2 KB
File Type PDF
Total Downloads 93
Total Views 142

Summary

Download Analise do poema Pássaro Azul PDF


Description

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE LETRAS E COMUNICAÇÃO FACULDADE DE LETRAS

ALICE SILVA ALVES BRAGA LAYSE DAIANE NASCIMENTO DE JESUS PAMELA RAISSA SOUZA FAVACHO ROGGER ALBERTO XAVIER VIANA

NÍVEIS DO POEMA

Belém – PA 2017

ALICE SILVA ALVES BRAGA LAYSE DAIANE NASCIMENTO DE JESUS PAMELA RAISSA SOUZA FAVACHO ROGGER ALBERTO XAVIER VIANA

NÍVEIS DO POEMA

Análise apresentada à Faculdade de Letras da Universidade Federal do Pará, com o objetivo da obtenção de conceito referente à disciplina Teoria do Texto Poético. Prof. Dr. Gunter Karl Pressler.

Belém – PA 2017

3

No poema autobiográfico, “O Pássaro Azul” de Charles Bukowski, utilizamos o método de análise proposto por Salvatore D’Onofrio, conforme os estratos gráfico, fônico, lexical, sintático e semântico. Conhecido como o Velho safado, Charles Bukowski se destacou dos demais poetas modernos por conta do caráter inicialmente obsceno e uma linguagem coloquial, com descrições de trabalhos braçais, uma vida boêmia, perspectivas dos sentimentos e das relações com bastante veracidade, agressividade e realismo. Assim, apresentamos a tradução de Pedro Gonzaga, conhecido por trabalhar com as traduções dos poemas de Bukowski.

O Pássaro Azul Há um pássaro azul em meu peito que quer sair mas sou duro demais com ele, eu digo, fique aí, não deixarei que ninguém o veja. há um pássaro azul em meu peito que quer sair mas eu despejo uísque sobre ele e inalo fumaça de cigarro e as putas e os atendentes dos bares e das mercearias nunca saberão que ele está lá dentro. há um pássaro azul em meu peito que quer sair mas sou duro demais com ele, eu digo, fique aí, quer acabar comigo? quer foder com minha escrita? quer arruinar a venda dos meus livros na Europa?

4

há um pássaro azul em meu peito que quer sair mas sou bastante esperto, deixo que ele saia somente em algumas noites quando todos estão dormindo. eu digo, sei que você esta aí, então não fique triste. depois o coloco de volta em seu lugar, mas ele ainda canta um pouquinho lá dentro, não deixo que morra completamente e nós dois dormimos juntos assim com nosso pacto secreto e isto é bom o suficiente para fazer um homem chorar, mas eu não choro, e você?

O poema de Bukowski apresenta uma regularidade de estrofes e de número de versos. A primeira estrofe possui seis versos, a segunda nove, a terceira dez, a quarta oito e a quinta treze. Pedro Gonzaga ao traduzir o poema manteve quase integralmente a estrutura original, como podemos observar a seguir:

5

Com base nas concepções de Salvatore, o poema não apresenta metrificação regrada, não havendo padrão para as sílabas poéticas. Conclui-se assim, que o poema é de forma livre. Na tradução de Gonzaga, não há musicalidade, ocorrendo apenas na forma original do poema, como constatamos na quarta e quinta estrofe:

there´s a bluebird in my heart that wants to get out but i´m too clever, i only let him out at night sometimes when everybody´s asleep. i say, i know that you´re there, so don´t be sad. then i put him back, but he´s singing a little in there, i haven´t quite let him die and we sleep together like that with our secret pact. and it´s nice enough to make a man weep, but i don´t weep, do you?

6

Além disto, nota-se a presença constante da fricativa alveolar ‘s’, exibindo uma agressividade ao longo da leitura do poema. Ao que refere-se à escolha das palavras, observamos a predominância de pronomes da 1ª pessoa do singular “EU/MEU”; 3ª pessoa do singular “ELE” e pronome de tratamento “VOCÊ”. há um pássaro azul em meu peito que (1ª estrofe- 1 verso) mas sou duro demais com ele, (1ª estrofe- 2verso) eu digo, fique aí, não deixarei (1ª estrofe- 4 verso) eu digo, sei que você está aí, (4ª estrofe- 7verso) você? (5ª estrofe- 12 verso) Os pronomes de 1ª pessoa referem-se ao eu-lírico, enquanto os de 3ª pessoa dizem respeito ao pássaro, já no pronome de tratamento “você” há duas referências, a primeira é ao pássaro (4ªestrofe-7 verso) quando o eu-lírico entra em um diálogo direto com ele, na segunda ele fala com o leitor no último verso do poema. Por conseguinte, percebemos o predomínio de verbos no presente do indicativo, os quais indicam um caráter narrativo do poema, isto é, o eu-lírico descreve suas ações.

eu digo, fique aí, não deixarei (1ª estrofe- 4 verso) mas eu despejo uísque sobre ele e inalo (2ª estrofe- 3 verso) depois o coloco de volta em seu lugar (5ª estrofe- 1 verso) lá dentro, não deixo que morra (5ª estrofe- 3 verso) No entanto, as ações não se restringem apenas a voz poética, o sujeito metafórico pássaro também as possui, e essas ações são preponderantes na análise do poema no estrato semântico.

7

Por exemplo: quer sair (1ª estrofe- 2 verso) mas ele ainda canta um pouquinho (5ª estrofe 2-verso) Há também o verbo no infinitivo Foder, nesse caso este verbo é utilizado no sentindo conotativo, isto é, trazer o mal, arruinar. quer foder com minha (3ª estrofe- 7 verso)

No que corresponde a organização sintática do poema, é onde verifica-se os desvios que a linguagem poética tem sobre a forma da frase, por meio de figuras retoricas, de gramaticas e de sintaxe. Durante a análise do poema, constatamos a predominância de três recursos retóricos utilizados pelo poeta. O uso de frases/orações curtas e longas no qual confere fluidez e agilidade durante a leitura do poema, além dos versos menores funcionarem como um esclarecimento e uma complementação dos versos de extensão maior. há um pássaro azul em meu peito que quer sair mas sou duro demais com ele, eu digo, fique aí, quer acabar comigo? quer foder com minha escrita? quer arruinar a venda dos meus livros na Europa? Na terceira estrofe, podemos observar que os versos menores funcionam como um complemento com relação as ações e as percepções do Eu-lírico diante da relação com o pássaro azul. Também percebemos que as alternâncias dos versos de extensão maior com os de extensão menor auxiliam na composição das situações e indagações expostas no poema.

8

Outro recurso sintático utilizado pelo poeta é o uso de sinais de coordenação, ou seja, o polissíndeto. há um pássaro azul em meu peito que quer sair mas eu despejo uísque sobre ele e inalo fumaça de cigarro e as putas e os atendentes dos bares e das mercearias nunca saberão que ele está lá dentro.

Na segunda estrofe nota-se o uso do conectivo “e”, que remete ao sentido de acréscimo no que diz respeito aos elementos visuais e os personagens que compõem o contexto da estrofe, produzindo uma sequência e uma conexão entre os versos. Por fim, observa-se o uso da elipse, que se dá pela supressão ou omissão de algum termo da frase. Como a supressão dos pronomes “eu”, “ele” e “você” na 1, 3 e 5 estrofe, respectivamente. Há um pássaro azul em meu peito que quer sair mas (eu) sou duro demais com ele, eu digo, fique aí, (eu) não deixarei que ninguém o veja. (...) há um pássaro azul em meu peito que quer sair mas (eu) sou duro demais com ele, eu digo, fique aí, (você) quer acabar comigo? (você) quer foder com minha escrita? (você) quer arruinar a venda dos meus livros na Europa?

9

(...) depois (eu) o coloco de volta em seu lugar, mas ele ainda canta um pouquinho lá dentro, (eu) não deixo que (ele) morra completamente e nós dois dormimos juntos assim com nosso pacto secreto e isto é bom o suficiente para fazer um homem chorar, mas eu não choro, e você? A escolha da alegoria pássaro diz muito a respeito do que o poema trata, haja vista que essas aves são delicadas, serenas e frágeis, ou seja, uma representação dos sentimentos do eulírico. Geralmente, as aves são presas em gaiolas, e metaforicamente a gaiola seria seu peito/interior, pois a voz poética afirma na 1ª estrofe que existe esse pássaro, no entanto, ele é severo demais e o prende para que ninguém o veja. Na 2ª estrofe o eu continua falando da existência desse pássaro, e agora expõe o que faz para acabar com ele. Inala cigarro e despeja uísque, metáforas para destruição desse sentimento frágil e sensível. Em seguida, afirma que não deixará que as putas, os atendentes de bares e das mercearias o vejam. Esses personagens são uma alegoria das pessoas que podem se aproveitar desse sentimento, e por esse motivo não quer que o vejam. Na estrofe seguinte, ele continua a expor a sua rigidez, e agora diz mais um motivo pelo qual não o deixa sair. Por ser um poema autobiográfico, Bukowisk (Eu lírico) afirma que deixar esse sentimento exposto arruinará a sua escrita e a venda dos seus livros. Sendo um poeta de caráter obsceno, com descrições de porres, relacionamentos baratos e escrita “agressiva”, esse sentimento acabaria com o seu estilo de escrita. Na 4ª estrofe, o eu-lírico continua explicitar a existência do pássaro que quer sair. Agora, no entanto, a voz expõe que ele é astuto e o deixa sair apenas em algumas noites quando todos estão dormindo. Essa alegoria ratifica as mesmas ideias das estrofes anteriores, ou seja, de que ninguém pode ver a sua sensibilidade e fragilidade.

10

Por fim, na última estrofe o eu-lírico afirma que não deixa o pássaro azul morrer completamente, e que dormem juntos em um pacto secreto. A representação diz a respeito a aceitar esses sentimentos, no entanto ele traz à tona somente quando está sozinho e todos estão dormindo. A noite é uma metáfora para a solidão, haja vista que o eu não pode demonstrar esses sentimentos, para não se aproveitarem de sua sensibilidade e nem com que isto arruíne sua escrita. O eu-lírico expõe que todo esse sentimento é o suficiente para fazer um homem chorar, porém ele não chora, confirmando novamente a preocupação do eu poético em não demostrar fraqueza. Portanto, Charles Bukowski depreende a poesia como sendo uma expurgação de seus pensamentos sem censura alguma, reverberando em suas produções poéticas e textuais um estilo de vida totalmente fora dos padrões impostos pela sociedade da época. Assim, o presente trabalho foi norteado com o objetivo de apresentar a poesia de Bukowski como uma possibilidade de entender os processos criativos do poeta por meio dos níveis do poema. Diante disto, para entender um poema é necessário transitar tanto pelos estudos linguísticos/gramáticos para identificar a organização estrutural do poema quanto utilizar a afinidade com a linguagem poética e a sensibilidade com a subjetividade para estabelecer relações e decodificar as metáforas encontradas no poema.

Referências Bibliográficas

D´ONOFRIO, Salvatore. Teoria do Texto 2: Teoria da Lírica e do drama. São Paulo: Ática: 2005 BUKOWSKI, Charles: The Last Night of the Earth Poems (1992) Alexandria, VA: 1998...


Similar Free PDFs