Anarquia é o que os Estados fazem dela - Wendt PDF

Title Anarquia é o que os Estados fazem dela - Wendt
Author Tamires Sena Afonso
Course Teoria Das Relações Internacionais Iii
Institution Universidade Federal de São Paulo
Pages 4
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Summary

Teoria das internacionais Anarquia o que os Estados fazem dela WENDT, Alexander debate entre realistas e liberais tem reemergido como um eixo de disputa em teoria das internacionais. Se, no passado, girava em torno de teorias sobre a natureza humana, o debate hoje mais preocupado com a que a estatal...


Description

Teoria das relações internacionais III Anarquia é o que os Estados fazem dela – WENDT, Alexander 











"O debate entre realistas e liberais tem reemergido como um eixo de disputa em teoria das relações internacionais. Se, no passado, girava em torno de teorias sobre a natureza humana, o debate hoje está mais preocupado com a extensão que a ação estatal é influenciada pela estrutura (anarquia e distribuição de poder) e o processo (interação e aprendizagem) e as instituições". O autor problematiza algumas das questões centrais de ambas perspectivas teóricas, como a falta de uma entidade que regule as ações estatais no sistema internacional e se a existência de regimes internacional conseguiria realizar esse papel; também o faz em relação a teoria da escolha racional, que faz parte de ambas as correntes, pois a sua construção, no entendimento do autor, limita a compreensão das ações dos atores devido ao foco dado quase exclusivamente aos motivos considerados exógenos, para suas ações e os resultados delas decorrentes; e sob a concepção de Estado como um ente auto interessado, discordando, no entanto, da intensidade desse autointeresse e da motivação do mesmo. Autoajuda entendida para os realistas como um pressuposto que limita a capacidade de aprendizado e mudança concebida pelos liberais, pelo fato de que qualquer tentativa de elaboração de um comportamento alternativo a lógica realista levará a um "contrataque" por parte da estrutura, colocando-o este de volta para a esta lógica. Mesmo reconhecendo a existência da anarquia que rege o sistema internacional e a característica fundamental dos Estados, o interesse próprio, os liberais defendem a possibilidade de uma mudança de comportamento por meio do processo, que levaria a cooperação. -> Os liberais chegam a reconhecer, mesmo que de maneira subentendida, das necessidades de mudança nas instituições e na identidades que os Estados dão a si mesmos. -> A ontologia individualista do realismo é contrária a epistemologia intersubjetivista = a impossibilidade de mudança no núcleo realista vai contra os desenvolvimentos teóricos do liberalismo Enfatizar o foco dessas teorias na construção social da subjetividade e minimizar os riscos que sua explicação causa na realidade. = objetivo da teoria construtivista, segundo Wendt. Compartilhamento com outras correntes em relação a construção das identidades e interesses. Debates acontecem tanto em relação a questões epistemológicas, como a forma de se construir a ciência que diverge da convencional, como concretas, a relação entre práticas e a construção dos sujeitos das relações internacionais. Objetivo do artigo = relacionar ambas as correntes tradicionais e desenvolver uma argumentação construtivista, que, não só se assemelha, mas se aprofunda sobre o argumento liberal sobre o papel das instituições na mudança das identidades dos atores. "A anarquia justifica o desinteresse [dos Estados] na transformação institucional de identidades e interesses" e "Não há uma 'lógica' da anarquia à parte das práticas que criam e instanciam uma estrutura de interesses em detrimento de outras; a estrutura não tem existência ou poderes causais à parte do processo".



Maneiras concebidas por Wendt para a transformação dos interesses e das identidades sob a anarquia: pela instituição da soberania, por uma evolução da cooperação e por esforços intencionais de transformar identidades egoístas em identidades coletivas.

Anarquia e Política de poder 





Realistas clássicos atribuem a política de poder ao egoísmo e a natureza humana. Realistas estruturais ou neorrealistas enfatizam a anarquia. Anarquia, segundo Waltz, é uma condição de permissibilidade para a guerra, pois estas ocorreriam devido a inexistência de uma entidade que as impeça de acontecerem. "É a natureza humana ou a política doméstica dos Estados, que fornece o ímpeto inicial – ou causa 'eficiente' do conflito que força outros Estados a responderem de maneira semelhante". Falta de consistência do autor realista, pois diz tanto sobre guerra ser um fenômeno específico do contexto anárquico como ser um fenômeno intrínseco das relações internacionais, podendo ocorrer a qualquer momento. Esse caráter competitivo, baseado na ideia do contexto anárquico, só funciona devido ao fato de que autoajuda e política de poder são considerados como pressupostos para a compreensão das ações dos Estados no sistema internacional e que estas definem e são definidas por estes pressupostos. As ideias de que os Estados seguem somente o próprio interesse e da necessidade de segurança por todo tempo sejam elementos constitutivos da anarquia, de que a política de poder e as ações voltadas para si mesmo são exigências do contexto anárquico e, por último, de como a concepção de anarquia, unida a ideia de guerra e natureza humana ou contexto doméstico, auxilia na formação das identidades e dos interesses.

Anarquia, autoajuda e conhecimento intersubjetivo 







A partir de dois conceitos da teoria de Waltz, primeiro os princípios ordenadores (anarquia) e a distribuição de capacidades, colocando de lado os pressupostos, Wendt entende que não é possível estabelecer qual será o comportamento de determinado Estado, se este será hostil ou amigável em relação a outro nem se este questionará a ordem ou se encaixará nela; pois para tanto é preciso se pensar em questões socialmente construídas. "Um princípio fundamental da teoria social construtivista é o de que as pessoas agem relativamente aos objetos, incluindo outros atores, com base no significado que os objetos têm para elas". "A anarquia e a distribuição de poder são insuficientes" para distinguir quem é o inimigo e quem é o amigo. "A distribuição do poder pode sempre afetar os cálculos dos Estados, mas como isso ocorre depende da compreensão intersubjetiva e das expectativas, da 'distribuição do conhecimento', que constituem as concepções acerca de si próprio e de outros", ou seja, a distribuição de poder é um dado material das relações internacionais e como tal nos dá a possibilidade de uma medição mais ou menos exata, no entanto, o significado que estes dados tem para um ou outro Estado é constituído pela sua concepção em relação as fontes desses dados. Ex: os mísseis nucleares da Inglaterra não significam a mesma coisa para EUA e URSS. "É o significado coletivo que constituem as estruturas que organizam as nossas ações". As identidades estão incluídas nesse significado coletivo. (soberano, potência imperial e defensor do mundo livre, etc). "Cada identidade é uma definição















inerentemente social do ator fundamentado nas teorias que atores coletivamente possuem de si próprios e de outros, e que constitui a estrutura do mundo social". As identidades são as bases dos interesses", ou seja, se o primeiro é socialmente construído o segundo também o é, pois primeiro o conjunto de interesses será, obviamente, definido pela visão que o ator tem de si mesmo, e segundo, pois este não é sempre o mesmo, mas se alterna dependendo do contexto social em questão. Portanto, quando a sua própria identidade é colocada em risco, a definição de quais são seus interesses fica ainda mais comprometida. -> Ex: Após a dissolução da URSS e o fim da Guerra Fria, tanto Rússia quanto EUA não sabiam quais eram seus próprios interesses. "Uma instituição é um conjunto ou uma "estrutura" relativamente estável de identidades e interesses"*. "As instituições são entidades fundamentalmente cognitivas que não existem à parte das ideias dos atores sobre como o mundo funciona" ou deve funcionar. É necessário ter em mente que elas não existem só no pensamento, mas também não se pode achar que elas funcionam independentemente das concepções que os membros têm delas, do eles "sabem sobre elas". Não importando qual seja a dinâmica interna da instituição, a maneira como os atores entendem a sua relação com os outros dentro dela e com ela, é construída intersubjetivamente, ou seja, a partir da ideia que um tem do outro e do que o outro tem do um. Para Wendt, a anarquia é uma instituição*, e a composição das identidades que a compõe são definidas em sua maioria pela questão da segurança, principalmente, a sua própria em detrimento da dos outros, portanto, como na definição das identidades, por um processo cognitivo. O autor propõe a existência de dois sistemas de segurança baseados nas concepções realistas e liberais. O primeiro onde o ganho de um necessariamente significa a perda do outro, portanto se levando a um jogo de soma zero, priorização de ganhos relativos. O segundo propõe um sistema individualista, na qual os Estados são indiferentes um aos outros, priorizando ganhos absolutos, ou seja, pouco importa se alguém perde desde que eu ganhe no final, dando mais espaço para a ação coletiva. "Os sistemas competitivos e individualistas são ambos formas de 'autoajuda' da anarquia, no sentido de que os Estados não identificam positivamente a segurança de si próprios com a dos outros, mas, pelo contrário, tratam a segurança como uma responsabilidade individual de cada um". "Isso contrasta com o sistema de segurança 'cooperativo', no qual os Estados identificam positivamente uns com os outros para que a segurança de cada um seja percebida como responsabilidade de todos. Isto não é 'autoajuda' em nenhum sentido interessante, uma vez que o 'eu', nos termos em que os interesses são definidos, é a comunidade; os interesses nacionais são interesses internacionais". Este "eu" coletivo se torna uma variável a partir do momento em que a forma da sua construção e o nível de identificação que os Estados têm com ele, definirá a quantidade de ameaças ativas e o parasitismo baseado em ganhos relativos (= ganho de uns perda de outros), reestruturando as formas de ação de cada um, tornando-as menos "política de poder" e mais compartilhamento de normas. "Nessa visão, a tendência nos estudos de relações internacionais em ver o poder e as instituições como duas explanações opostas de política externa é, portanto, ilusória,





uma vez que a anarquia e a distribuição de poder só têm significado para a ação estatal em virtude dos entendimentos e expectativas que constituem identidades e interesses institucionais". As concepções dos Estados de si mesmo e de outros só são constituídas após a interação, rejeitando-se a possibilidade de se pensar em questões como um egoísmo constitutivo do ente estatal ou questões como o dilema da segurança, que estão presentes no pensamento realista. Assim "é necessário atribuir aos Estados no estado de natureza qualidades que só possuem em sociedade. A autoajuda é uma instituição, não uma característica constitutiva da anarquia. Então se a concepção do eu só existe após a interação, o que pode ser considerado como pré-existente a interação nos Estados? Primeiro a estrutura material de organização do Estado, sem qualquer tipo de interesse ou ideais (como soberania), que só é construído posteriormente; e, o desejo de manutenção desta mesma estrutura, apesar de que as considerações a respeito do que é necessário para tal só estabelecida após a interação e a evolução do "eu"....


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