Bartolomeu Costa Cabral, arquitecto PDF

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BARTOLOMEU COSTA CABRAL, ARQUITECTO1 Bartolomeu Maria Albuquerque da Costa Cabral nasceu em Lisboa a 8 de Fevereiro de 1929. Com mais de seis décadas de carreira, tem uma obra vasta que compreende uma grande diversidade de objectos, escalas e programas. Inicia a sua formação na Escola de Belas-Artes...


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BARTOLOMEU COSTA CABRAL, ARQUITECTO1

Bartolomeu Maria Albuquerque da Costa Cabral nasceu em Lisboa a 8 de Fevereiro de 1929. Com mais de seis décadas de carreira, tem uma obra vasta que compreende uma grande diversidade de objectos, escalas e programas. Inicia a sua formação na Escola de Belas-Artes de Lisboa (EBAL) em 1947, depois da preparação para o exame de admissão no atelier do Arquitecto Frederico George (1915-1994). Nesse ano, Frederico George participa pela primeira vez nas “Gerais”, expondo na II Exposição Geral de Artes Plásticas em cujo catálogo se sublinha a importância de “aproximar a arte do povo.”1 Em 1947, a EBAL encontrava-se sob direcção de Luís Cunha, nomeado na década de 30 para implementar a Reforma de 1931-32. Este foi, contudo, substituído, em 1949, por 2

Paulino Montez (1897-1988), arquitecto que se manteria no cargo até 1957. Na EBAL prevalece um ensino inspirado nas Beaux-Arts, caracterizado “pela transmissão de conteúdos obsoletos e pelo exercício de técnicas de desenho desajustadas da prática profissional”: a formação em desenho, que assumia um papel de destaque, era baseada na cópia das ordens clássicas. A partir de 1948, Luís Cristino da Silva (1896-1976) acompanha o percurso de Bartolomeu Costa Cabral na cadeira “Arquitectura.” Nuno Teotónio Pereira (1922-2016) recorda Cristino da Silva como um “anti-modernista, mau grado ter sido entre nós um dos pioneiros (depois arrependido);” segundo Gonçalo Canto Moniz, a pedagogia de Cristino da 3

Silva assentava numa base clássica e analítica, numa passagem pelos estilos e pela cópia dos monumentos antigos e análise de construções de várias épocas e estilos.

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Apesar do

anacronismo, o ensino Beaux-Arts, contribuiu, possivelmente, para o desenvolvimento de um olhar atento à harmonia das proporções, a cuja importância Costa Cabral frequentemente se refere. É ainda na EBAL que contacta com as ideologias revolucionárias que permeiam os meios estudantis e culturais e que, contra uma arquitectura académica, “falsa e nacionalista,”5 reivindicam uma arquitectura verdadeira, actual, moderna. É também na Escola que José Pedro Martins Barata lhe põe “um livro de Le Corbusier na mão.”6 É ainda na Escola que surge o primeiro projecto. Em 1948, Gustavo de Medeiros e Almeida, pai de João de Almeida, seu colega, solicita a este último e a Bartolomeu Costa Cabral projectos para três casas de férias em Colares. A Costa Cabral, que era estudante de segundo ano da EBAL, é, deste modo, atribuído o projecto de uma das moradias. Ambos os arquitectos, inexperientes, contam com a ajuda de Maurício de Vasconcelos (1925-1997), aluno mais velho. A casa de férias em Colares (1948-1949) nasce num tempo de transformação da arquitectura em Portugal: no rescaldo do “Congresso,”7 recusa-se o“falso portuguesismo” da

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Publicado em Baía, Pedro e Providência, Paulo (ed.), “Bartolomeu Costa Cabral, 18 Obras”. Porto: Circo de Ideias,

2016, pp.151-169.

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“Casa Portuguesa” mas também o“estilo internacional”, questionando-se o“irracionalismo de algumas obras modernas;”8 fala-se do estudo da “arquitectura regional” para dela extrair lições com vista à “formação de uma moderna arquitectura portuguesa,”9 da integração do “valor emocional nas funções da arquitectura” e da importância da história e da “tradição” no projecto.10 No CIAM VI (Congresso Internacional de Arquitectura Moderna que se realiza em Bridgwater, Inglaterra, de 7 a 14 de Setembro de 1947), primeiro congresso após a II Guerra Mundial, registara-se uma viragem no rumo da arquitectura contemporânea, com a contestação da esterilidade abstracta da cidade funcional e a afirmação de que o objectivo da arquitectura consiste em criar um ambiente físico capaz de satisfazer as necessidades emocionais e materiais do homem.

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A casa de férias, à qual se acede por um pequeno arruamento, está voltada a Sul e desenvolve-se num único piso, com uma planta em T que distingue as áreas de serviço (cozinha, roupas e quarto de serviço) da sala comum e das áreas mais privadas (quartos). A memória descritiva, de Janeiro de 1949, com indicações técnicas e construtivas de carácter geral, sublinha a intenção de distribuição lógica dos compartimentos, “agrupando-os em três alas em que as várias funções da habitação se relacionam convenientemente”, e a importância da orientação,“expondo bem os compartimentos onde se permanece mais de dia ou de noite, sem deixar de se conseguir um certo isolamento em relação à via pública com vista a uma intimidade defendida.”12 Esta primeira obra revela uma procura por uma nova arquitectura integrada na cultura arquitectónica portuguesa, manifestando uma abordagem lógica e um desejo de estabelecer o diálogo entre a linguagem moderna e as técnicas de construção correntes em Portugal, preocupação também patente no projecto para a pousada na Praia do Vau (1955-1957) apresentada no Concurso para Obtenção do Diploma de Arquitecto (CODA) na Escola de Belas Artes de Lisboa, já depois de concluído o Bloco das Águas Livres (1953-1956). A integração da arquitectura moderna no contexto português era também uma preocupação de Nuno Teotónio Pereira, em cujo atelier Costa Cabral encontra, em 1952-53, uma verdadeira Escola. Para além de Nuno Teotónio Pereira, constituíam o atelier Manuel Alzina de Menezes (1920-2001), Manuel Tainha (1922-2012), Rafael Botelho (1923) e Raul Chorão Ramalho (1914-2002). Nuno Teotónio Pereira assumia, já desde a década de 40, uma significativa importância no panorama da cultura arquitectónica em Portugal, tendo publicado pioneiramente textos de Le Corbusier, entre os quais a “Carta de Atenas”, e promovido, em 1947, a publicação de “O Problema da Casa Portuguesa”, de Fernando Távora. A integração 13

da linguagem moderna no contexto cultural português era também preocupação de Manuel Tainha, que publica na Revista Arquitectura, desde o início da década de 50, textos do arquitecto finlandês Alvar Aalto, propondo, em 1953, uma “revisão do caminho já percorrido pelos arquitectos modernos.”14 Ainda em 1953 surge a encomenda da Companhia de Seguros Fidelidade para a elaboração do projecto do Bloco das Águas Livres (1953-1956) – projecto do qual Costa Cabral se torna co-autor e que justifica a sua entrada no atelier. Este edifício apresenta um programa 2

habitacional e urbanístico que inova profundamente as estruturas portuguesas da habitação, escreve José-Augusto França.15 Embora se afirme como construção de luxo, os apartamentos têm dimensões mais reduzidas do que o habitual. O edifício apresenta ainda uma galeria exterior, na qual os autores pretendiam também fomentar o convívio entre os habitantes.16 O Bloco das Águas Livres tem sido associado à Unité d’Habitation de Le Corbusier, em Marselha (1947-1953); as diferenças são, porém, evidentes, não só no tratamento das fachadas – pela ausência do béton brut e pela recusa do purismo do volume, evidente nas varandas e na cobertura das lojas – mas sobretudo na relação com a envolvente urbana e com a rua. O plano camarário, com autoria de Manuel Tainha, prevê a convivência de diversas escalas – as estruturas urbanas consolidadas da área, uma praça a criar e o grande volume multifuncional.17 O edifício, por sua vez, revela uma clara intenção de relação com a rua através da localização de conjunto de lojas no piso térreo. Trata-se de uma solução que se pretendia realista, segundo os próprios autores: a organização do fogo é uma resposta a novos hábitos de vida, a escassez de recursos levou ao desenho e construção in loco de vários elementos e à introdução de novas tecnologias de construção e as artes plásticas surgem como expressão da vida, ao mesmo tempo que conferem qualidade aos espaços comuns. 18 Bartolomeu Costa Cabral permanece no atelier de Nuno Teotónio Pereira até 1958, ano em forma sociedade com Nuno Teotónio Pereira e Nuno Portas que dura tanto quanto a crise política: de 1958 a 1962.

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Durante esta época escreve, com Nuno Teotónio Pereira, o

primeiro artigo para a revista Arquitectura, sobre o Bloco das Águas Livres (1959) e escreve, com Nuno Portas, um artigo sobre o Bairro da Pasteleira (1960), no qual se refere à construção destas habitações económicas pela Câmara Municipal do Porto. 20 No atelier de Teotónio Pereira colabora sobretudo em projectos de habitação, destacando-se, para além do Bloco das Águas Livres, os projectos para habitações económicas, programa que aprofundaria particularmente a partir de 1959 no Gabinete de Habitações Económicas da Federação das Caixas de Previdência (FCP-HE). Exemplos são o complexo fabril e residencial para a Fábrica da Companhia de Celulose do Ultramar Português (1958-1960), em Angola, cuja obra não acompanha, e o conjunto habitacional para a Associação de Inquilinos Lisbonenses (1954-1957), experiência inovadora no que diz respeito à divulgação de novas concepções no desenho da habitação e à promoção da participação dos utentes em Portugal.21 Em 1957, foi exposta uma maquete de um dos fogos à escala real, juntamente com desenhos e maquetes do conjunto, na Sociedade Nacional de Belas-Artes, por ocasião da exposição “O Cooperativismo Habitacional no Mundo”. Depois de percorrer o fogo devidamente equipado e mobilado, os visitantes eram convidados a preencher um inquérito e registar a sua opinião. De 1954 a 1959, Costa Cabral trabalha também no Gabinete de Estudos de Urbanização da Câmara Municipal de Lisboa (GEU), dirigido pelo Eng. Luís Guimarães Lobato (1915-2009), gabinete criado em Fevereiro de 1954 com o objectivo de actualizar o Plano de 194822 e de planear a rede de Metro de Lisboa. No GEU, desenvolve estudos à escala urbana, 3

como o Estudo Base de Urbanização do Vale Escuro (1957), com José Aleixo Sommer Ribeiro (1924-2006), Francisco Caldeira Cabral (1908-1992) e Gonçalo Ribeiro Telles (1922),

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e um

estudo sobre escolas de Lisboa que o aproxima do tema escolar e em virtude do qual, em 1959, Guimarães Lobato lhe atribui o projecto da Escola do Castelo. O projecto do Grupo Escolar e Balneário do Castelo é a primeira obra individual de vulto de Bartolomeu Costa Cabral e introduz, na produção deste autor, o programa escolar, um dos temas mais desenvolvidos pelo arquitecto. O programa funcional, em grande parte desenvolvido pelo arquitecto, propõe uma escola sem estrados para o professor e salas que se pretendiam flexíveis para a realização de várias actividades inéditas no programa escolar – educação plástica (pintura, modelação, desenho), educação musical (canto, iniciação musical), trabalhos manuais (carpintaria, lavores), ciências naturais (observação da natureza), trabalhos domésticos e educação física. Com espaços amplos e polifuncionais, esta escola materializa, assim, uma nova proposta pedagógica. É também a sua primeira proposta para uma zona histórica: o edifício localiza-se no centro histórico de Lisboa, junto ao Castelo de São Jorge e entre a Rua das Flores de Santa Cruz (acesso à escola) e a Rua de Santa Cruz do Castelo (acesso ao balneário público), num terreno de área exígua para o programa pretendido (1200m2). O programa distribui-se em volumes que se fragmentam no terreno, procurando uma integração do novo edifício no tecido urbano envolvente, favorecida pelas coberturas inclinadas e pela cércea dos novos volumes, que não ultrapassa a das construções existentes. Na Rua das Flores e na Rua de Santa Cruz, as fachadas são constituídas por muros rebocados e pintados com um embasamento em betão pintado. Sóbrias, reduzidas ao essencial, integram, sem mimetismo, o edifício no contexto e distinguem--se, tanto pela linguagem como pelos materiais, das construções antigas. A escola abre-se para o pátio central no interior do quarteirão, oferecendo espaços de recreio protegidos. A Escola tem seis salas, todas aproximadamente quadrangulares, com cerca de 62m 2 e cuidadosamente equipadas (com cacifos, lavatórios para as aulas de pintura, armários de altura variável) permitindo múltiplas actividades. Foi também colocado grande cuidado no desenho dos caixilhos e das peças de mobiliário, na colocação e dimensionamento das aberturas, permitindo uma iluminação bilateral e uma ventilação transversal, e na própria inclinação das coberturas, que não só contribuem para a integração dos volumes da Escola no bairro do Castelo como favorecem o comportamento acústico (pela geometria e pelo revestimento a cortiça) e a iluminação natural superior. A escola tem ainda dois recreios ao ar livre e um recreio coberto, uma sala polivalente em continuidade com o vestíbulo da entrada para servir de refeitório/ginásio, uma biblioteca (que pode ser aberta à comunidade, dispondo de uma entrada independente que foi construída para permitir o acesso à Escola quando a Rua das Flores de Santa Cruz se encontrava em obras), uma cozinha (actualmente inactiva) e gabinetes para professores e funcionários. Para além da escola, o edifício inclui um balneário público que foi, recentemente, encerrado. Madalena Cunha Matos reconhece, na Escola do Castelo, uma “domesticidade bem4

-vinda”24 que concretiza a ideia de escola como continuação da casa, sugerida por Alfred Roth (1903-1998). De facto, Costa Cabral refere ter-se inspirado nas escolas suíças e inglesas da época e, entre esboços e notas, no seu arquivo pessoal, emergem apontamentos referentes a Roth e às escolas mencionadas na publicação desse autor, “The New School. Das Neue Schulhaus. La Nouvelle École.”25 A Escola do Castelo introduz, na produção de Costa Cabral, o programa escolar, a que este arquitecto se dedicará a partir da década de 70, e revela já o seu posicionamento relativamente à intervenção em locais de reconhecida importância histórica, para além da preocupação com a polivalência dos espaços comuns. Estas preocupações também se verificam nos projectos para habitação económica, tema que marca particularmente o percurso de Costa Cabral a partir de 1959, quando o GEU é substituído pelo Gabinete Técnico de Habitação (GTH)

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e Costa Cabral é admitido no gabinete de Habitações Económicas da

Federação das Caixas de Previdência (FCP-HE). A admissão de Costa Cabral no gabinete de Habitações Económicas da Federação das Caixas de Previdência (FCP-HE) surge por ocasião da sua reestruturação e ampliação do seu aparelho técnico que se segue ao lançamento da Lei n.º2092 de 1958 (a qual permitia a concessão de empréstimos para a construção de habitação própria a beneficiários da Previdência) integrando, assim, um núcleo inicial com “espírito de atelier” liderado por João Braula Reis (1927-1989) e constituído também por Vasco Croft de Moura (1922).27 Permanece no gabinete da FCP-HE até 1968, elaborando vários projectos para habitações económicas, entre os quais se destacam o Bairro da Chamusca (1960, com Croft de Moura), publicado em 1962 na revista Arquitectura,

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e o Bairro da Estação (1963), primeiro projecto na Covilhã,

cidade para a qual desenharia, mais tarde e durante várias décadas, os projectos para a futura Universidade da Beira Interior. No gabinete da FCP-HE, para além da realização de projectos de arquitectura, Costa Cabral trabalha com Braula Reis na legislação sobre habitação social. Em 1960, inicia, com Nuno Portas (1934), os projectos para o bairro de Olivais Sul que, segundo Pedro Vieira de Almeida, constituem uma experiência significativa “de estruturação de espaços colectivos e espaços-rua.”29 Integra, além disso, a Direcção do Sindicato Nacional dos Arquitectos (-1965) e a comissão organizadora do I Colóquio do Habitat, juntamente com Nuno Portas, Peres Fernandes, Rui Mendes Paula, Raul Chorão Ramalho, Octávio Lixa Filgueiras e Coutinho Raposo.30 O I Colóquio do Habitat realiza-se em 1960, manifestando as preocupações com a situação da habitação em Portugal que se vinham, progressivamente, afirmando e que eram já evidentes em 1954, quando Costa Cabral, com Nuno Teotónio Pereira e José António Esteves da Costa, se associa à comissão organizadora da Cooperativa de Construção e Habitação que surge da tomada de consciência da “situação grave do problema da habitação em Lisboa para as classes economicamente fracas.”31 O colóquio contou com conferências proferidas por Robert Auzelle (1913-1983) e Paul-Henri Chombart de Lauwe (1913-1998); este último, então Director do Grupo de Etnologia Social no Centre Scientifique et Technique du Bâtiment (CSTB) em Paris, fala sobre as realizações francesas no âmbito da habitação social (HLM) 32 – que 5

Costa Cabral conheceria de perto alguns anos depois. Insiste-se na responsabilidade social do arquitecto e na necessidade de analisar, com o auxílio das ciências humanas – às quais cabe a definição das bases que deverão orientar o planeamento do “habitat” – as necessidades reais dos grupos humanos, particularmente das famílias. Criticam-se as áreas mínimas, sugere-se a revisão das estratégias de organização interna e das formas de agrupamento dos fogos e a análise dos esquemas distributivos de acessos, sublinha-se a importância do equipamento colectivo, realça-se a necessidade da integração das habitações económicas no planeamento urbano, de modo a que respeitem os interesses mais vastos do conjunto em que se inserem e propõe-se a realização periódica de colóquios e a constituição de unidades de investigação destes fenómenos para a formação dos arquitectos envolvidos na construção de habitações económicas. Em 1962, por razões pessoais e movido pelo debate decorrente do Colóquio do Habitat – porventura motivado pelas observações de Chombart de Lauwe em torno das realizações francesas –, com a ajuda de Duccio Turin, Costa Cabral parte para Paris para desenvolver um estágio de cerca de seis meses no CSTB com o apoio financeiro da FCP-HE e do governo francês. Costa Cabral conhece Duccio Alfredo Turin (1926-1975) em 1961, em Barcelona. Turin trabalhava nas Nações Unidas no apoio a refugiados palestinianos – integrando a UNRWA (United Nations Relief and Work Agency for Palestinian Refugees ), como Engenheiro de Materiais de Construção no Conseil International du Bâtiment (CIB), no CSTB em Paris, e colaborava, ao mesmo tempo, com o ATBAT-Afrique,“Vladimir Bodiansky et ses Jeunes,” Candilis, Josic e Woods, nos seus projectos para o Norte de África. Particularmente interessado pelos aspectos económicos da construção, sobretudo em países em vias de desenvolvimento, Turin elaborara diversos estudos centrados na produção de habitações em França e na construção no deserto do Sahara.33 Em Março de 1962, no mesmo número da revista Arquitectura em que Costa Cabral publica, com Vasco Croft, o artigo sobre o Bairro da Chamusca, Duccio Turin publica, com tradução de Nuno Portas, um artigo intitulado “Aspectos Económicos da Industrialização da Construção.”34 Também em Março de 1962, depois de visitar Turin em Genebra, Costa Cabral apresenta-se no CSTB, estabelecimento público francês criado em 1947 e votado ao estudo da “habitação social”, para iniciar o estágio em Paris. Apesar das dificuldades iniciais, que descreve em carta dirigida a Nuno Teotónio Pereira, permanece em França até Setembro para aprofundar “conhecimentos em vários aspectos da habitação social, nomeadamente os sociológicos e respectivos métodos de investigação.” Neste período, visita várias obras nas imediações de Paris e na Provence,35 como se documenta no relatório apresentado em Paris e publicado no Boletim de circulação restrita da FCP-HE.36 Seguindo o debate do I Colóquio do Habitat sobre problemas de habitação, Costa Cabral destaca a importância do papel do Estado para a satisfação desta “necessidade primordial do ser humano,”

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opõe-se à excessiva redução das áreas mínimas

das habitações, defende a racionalização e industrialização da construção, sublinha a 6

necessidade de conferir à habitação a flexibilidade necessária à vida e ao tamanho das famílias e sua evolução, alerta para a necessidade de planificação integral do país e a criação de políticas fundiárias eficazes, enfatiza a importância do planeamento na construção dos “grandes conjuntos” e destaca a necessidade de permitir acessos fáceis e boas comuni...


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