Fichamento - A arte de Argumentar PDF

Title Fichamento - A arte de Argumentar
Author Beatriz Ferruzzi Sacchetin
Course Linguagem Jurídica
Institution Pontifícia Universidade Católica de Campinas
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Fichamento de texto....


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FICHAMENTO

ABREU, António Suárez. P. 129. A Arte de Argumentar . 7ª ed. São Paulo. Ateliê Editorial.

Antônio Suárez Abreu escreve “A arte de argumentar” na ânsia de convencer as pessoas de que não basta ser inteligente, ter boa formação universitária, falar várias línguas, para ser bem-sucedido. Busca mostrar que o verdadeiro sucesso depende da habilidade de relacionamento interpessoal, da capacidade de compreender e comunicar ideias e emoções. O mais importante não são as informações em si, mas o ato de transformálas em conhecimento e de que fonte tirá-las. Desde 1924 fala-se sobre os perigos da cultura de massa e da indústria cultural. A mídia oferece uma espécie de “visão tubular”, fazendo com que as pessoas enxerguem apenas uma parte da realidade e da maneira como ela quer que as interpretem. Como, então, defender-se de tudo isso? Obtendo informações em outras fontes (por exemplo, livros, como sugere o autor). Visto que quando entramos em contato com o outro, não gerenciamos informações, mas também a nossa relação com ele. Essa relação vem sofrendo mudanças, mas nunca se extingue. Pelo contrário, torna-se cada vez mais presente no âmbito familiar, profissional, pessoal. Por isso, saber gerenciar relações é muito importante, além de ter consciência de que é no relacionamento com o outro que nos construímos como pessoa humana. Argumentar é a arte de convencer e persuadir. Convencer é saber gerenciar informação, é falar à razão do outro, provando. Etimologicamente significa “vencer junto com o outro”. Convencer é construir algo no campo das ideias. Quando convencemos alguém, esse alguém passa a pensar como nós. Persuadir é saber gerenciar relação, é falar à emoção do outro. Persuadir é sensibilizar o outro para agir. Quando persuadimos alguém, esse alguém realiza algo que desejamos que ele realize. Muitas vezes, conseguimos convencer as pessoas, mas não conseguimos persuadi-las. Por exemplo, podemos convencer um fumante de que o cigarro faz mal à saúde e, apesar disso, ele continuar fumando. Por outro lado, é possível uma

pessoa ser persuadida a fazer alguma coisa, sem estar convencida. Por exemplo, alguém que consulta uma cartomante, apesar de, racionalmente, não acreditar em nada disso. O autor, então, afirma que “argumentar é a arte de, gerenciando informações, convencer o outro de alguma coisa no plano das ideias e de, gerenciando informações, persuadi-lo, nos planos das emoções, a fazer alguma coisa que nós desejamos que ele faça” (p. 26). Assim, é mostrada a importância de argumentar e as diferenças existentes entre convencer e persuadir. O convencimento relacionado ao plano da razão, aproximar o pensamento do outro ao nosso, enquanto a persuasão usa do campo da emoção, para fazer com que os outros ajam da forma que imaginamos. Um pode existir sem o outro e ambos advêm da argumentação. A retórica, inicialmente praticada na Grécia pelos sofistas, foi a primeira a confrontar com os filósofos e trabalhou com a teoria dos pontos de vista e paradigmas. A arte de argumentar é por assim dizem uma evolução da retórica clássica, que tinha natureza heurística (método de análise) e escolhia temas como amor e razão para discussão, como no exemplo dado pelo autor o “Elogio a Helena”, escrito por Górgias. Subsequente a essas ideias, são abordados o senso comum, paradoxo e maravilhamento. O autor define o senso comum como a opinião popular que atinge a todos, um discurso construído mediante fragmentos de discursos mais fundamentados, os ditos populares servem de exemplo. O poder destas ideias comuns na sociedade é tão grande, que aqueles que se opõe a elas são incompreendidos e erroneamente acusados, a solução encontrada por essas pessoas, foi usar de paradoxos a partir do antimodelo, assim causando estranhamento/maravilhamento nas pessoas. A nova retórica do século XX ainda é baseada na “habilidade de ver e sentir um objeto ou uma situação sobre diferentes pontos de vista” (p. 29) – o que está fortemente relacionado com a capacidade de ser criativo. O tema “Condições da Argumentação” é apresentado de forma bastante teórica, como uma formula composta por: lançar um tema, criar uma tese sobre o tema definido, saber importância de discuti-lo, usar de linguagem comum (adequada ao seu público), manter contato positivo com o auditório e finalmente agir de forma ética. “Em um processo argumentativo, nós somos os únicos responsáveis pela

clareza de tudo aquilo que dissermos. Se houver alguma falha de comunicação, a culpa é exclusivamente nossa!” (p. 31). Compreender o público e o ambiente de argumentação são colocados como pontos chave para o convencimento e ou persuasão, o auditório, assim chamado, pode ser uma imensidão de pessoas ou apenas uma (que não deve ser confundida com interlocutor, segundo o autor). O auditório é dividido em particular e universal, o primeiro faz referencia a pessoas sobre as quais o locutor tem certo controle, sabe o nível de conhecimento, os interesses e o ultimo quando são pessoas estranhas ao locutor, grupo formado por variáveis. A ética é essencial e uma das formas para que ela exista, é lembrar que: tudo que é dito para um auditório particular deve poder ser dito em um universal. Na parte do livro intitulada “convencendo as pessoas”, o objetivo do autor é ensinar aos leitores os tipos de argumentos e como utilizá-los. Sua primeira lição, por exemplo, é nunca começar um processo argumentativo pela tese principal; devese antes apresentar o que ele chama de tese preparatória ou tese de adesão inicial. De acordo com o autor, uma vez que a tese preparatória é aceita, é mais fácil de sustentar a tese principal. São trazidos diversos exemplos, entre eles o discurso do então candidato à presidência dos Estados Unidos, Ronald Reagan, que começou com a seguinte pergunta “Vocês estão hoje melhores do que estavam há quatro anos?”. Outro exemplo foi “a bola é feita de couro. O couro vem da vaca. A vaca gosta de grama. Por isso a bola tem que ser jogada rasteira, na grama...” que, além da tese de adesão inicial (a bola é feita de couro) utiliza também a presunção, que são suposições fundamentadas dentro daquilo que é normal ou verossímil. O autor define técnicas argumentativas como os fundamentos que estabelecem a ligação entre as teses de adesão inicial e a tese principal, e divide-as em dois grupos principais: os argumentos quase lógicos e os argumentos fundamentados na estrutura do real. Assim, são apresentados exemplos de argumentos quase lógicos, entre eles: 1) compatibilidade e incompatibilidade: utilizando essa técnica, a pessoa que argumenta procura demonstrar que a tese de adesão inicial é compatível ou incompatível com a tese principal; 2) regra de justiça: a regra de justiça fundamentase no tratamento idêntico a seres e situações integrados em uma mesma categoria;

3) retorsão: réplica que é feita, utilizando os próprios argumentos do interlocutor; 4) ridículo: consiste em criar uma situação irônica, ao se adotar, de forma provisória, um argumento do outro, extraindo dele todas as conclusões, por mais absurdas que sejam. Além disso, traz também tipos de definições que podem ser usadas como técnicas argumentativas:1) definições lógicas: explicitam as diferenças entre dois tópicos; 2) definições expressivas: não têm compromisso com a lógica, dependem apenas de um ponto de vista; 3) definições normativas: indicam o sentido que se quer dar a uma palavra em um determinado discurso e dependem de um acordo feito com o auditório; 4) definições etimológicas: fundamentadas na origem das palavras; Os argumentos baseados na estrutura do real não estão ligados a uma descrição objetiva dos fatos, mas a pontos de vista, ou seja, a opiniões relativas a ele. Os principais argumentos baseados na estrutura do real são: argumento pragmático, argumento do desperdício, argumentação pelo exemplo, pelo modelo ou antimodelo e pela analogia. 1) pragmático: fundamenta-se na relação de dois acontecimentos sucessivos por meio de um vínculo causal; 2) do desperdício: consiste em dizer que, uma vez iniciado um trabalho, é preciso ir até o fim para não perder o tempo e o investimento; 3) pelo exemplo: quando sugerimos a imitação das ações de outras pessoas; 4) por modelo ou antimodelo: é uma variação da argumentação pelo exemplo. Um exemplo são os filhos de alcoólatras que acabam tornando-se completamente abstêmios devido ao horror ao antimodelo do pai; e 5) pela analogia: a tese de adesão inicial é um fato que tenha uma relação analógica com a tese principal. Para enriquecer uma argumentação, como aponta o autor, podem ser utilizados diversos artifícios no intuito de atingir as pretensões desejadas pelo agente. Os Recursos de Presença, por exemplo, são procedimentos que têm por objetivo ilustrar a tese defendida pelo argumentador por meio de histórias ou exemplos práticos. Dessa forma, o indivíduo a ser persuadido capta com maior amplitude a situação-problema e a interpreta com outros vieses, geralmente passando a aderir á tese proposta; trata-se de uma operação lógica de raciocínio e demonstração. Sem o uso de Recursos de Presença, o efeito do argumento não seria o mesmo, pois estes tornam o discurso infinitamente mais sedutor e eloqüente.

Outro instrumento de discurso se trata da persuasão, ou seja, conseguir que outras pessoas façam o que desejamos. Para isso, o autor expõe que é necessário atingir os desejos internos e pessoais de quem queremos convencer e saber manejá-los, colocando-os a frente de nossas próprias ambições para, mais tarde, colher os frutos da vitória e a satisfação de ter alcançado nossos objetivos. Aqui, se observa a tendência do autor de relacionar a vitória em debates com a felicidade interna e satisfação para o ego de quem persuade. Outra necessidade encontrada no exercício da persuasão é a de aguçar os sentidos na apreensão dos valores alheios, visto que, apesar de o senso comum classificar o ser humano como ser racional, somos movidos por emoções e sentimentos, e isso é facilmente observável em nossas escolhas e atos do cotidiano. Os valores são subjetivos e estão sujeitos à influência do meio, cultura, tempo e realidade social do indivíduo; são motivados pelos sentimentos eufóricos, ou seja, aqueles que trazem benefícios emocionais internos e externos para cada um. Assim, para persuadir, é necessário que se saiba os valores de seu interlocutor para atingir seus sentimentos eufóricos e motivar reações passionais a respeito de determinadas situações, podendo o persuasivo moldar suas ações a seu bel prazer. Os

valores

possuem

como

característica

intrínseca

a

importância

diferenciada para cada pessoa. Constitui-se uma hierarquia entre os valores, determinada pelas variáveis externas que englobam a consciência individual. Para persuadir, é possível reorganizar, ou melhor, re-hierarquizar os valores individuais para que o interlocutor dê mais ou menos importância a um valor considerado mais ou menos interessante para o agente ativo. A re-hierarquização consiste menos em contrapor os valores indesejados e mais em questionar o interlocutor e fazê-lo refletir sobre seus próprios valores em uma técnica chamada Lugares da Argumentação. Na técnica do Lugar de Quantidade, se faz a comparação entre valores por meio de dados quantitativos, números e estatísticas. Comparando estatísticas do efeito de se prezar mais ou menos para um valor acaba-se por descobrir qual dos valores em pauta se adéqua melhor aos princípios utilitaristas, ou seja, qual preza mais pela felicidade ou gera efeitos mais positivos no plano real. Já na técnica do Lugar de Qualidade se faz operação diametralmente inversa ao Lugar de Quantidade: a maior ou menor importância de um valor não se dá pela grandiosidade de seus números, mas sim por suas qualidades e motivos pelos quais ele deve ser preservado.

O autor expõe que o ‘lugar de ordem’ é baseado em competições, sendo analisado no dia-a-dia nas propagandas de publicidade, por exemplo, como se o consumidor relacionasse ‘o primeiro’ com ‘o melhor’. Também faz relação com as premiações, onde o primeiro colocado se situa acima dos demais, o segundo colocado se situa à direita do primeiro – que é considerado uma posição melhor hierarquicamente – e o terceiro, à esquerda do primeiro, o que também é refletido pelos prêmios: primeiro lugar, ouro; segundo lugar; prata e terceiro lugar, bronze. Em seguida, utiliza-se de dois textos para exemplificar diferentes lugares de ordem. O primeiro é um poema oriental de Ilia Abu-Madi, em que ele utiliza, além do lugar de qualidade – carpe diem –, também do lugar de ordem quando o autor situa hierarquicamente Deus, os homens e os elementos naturais (pássaros e flores) para argumentar com sua amada que, se até os pássaros – seres inferiores – podem amar, por que os homens não? O segundo texto é de Chico Buarque de Holanda, Sobre Todas as Coisas, onde o artista também hierarquiza Deus acima de todas as coisas. Já o lugar de essência é caracterizado pela opinião de certo grupo em um determinado tempo e local, como por exemplo, os concursos de miss: uma mulher só será considerada bonita se se aproximar da essência de ‘bonita’ acatada pelos jurados naquela determinada cultura e sociedade. O exposto acima também é válido para objetos de marcas famosas, produtos alimentícios, etc. O ‘lugar de pessoa’ é tudo aquilo relacionado às pessoas: um político que use do argumento de ‘lugar de pessoa’ dirá que irá dar condições mais humanas ao trabalho do professor, melhores salários, programas de reciclagem, etc., colocando o ser-humano em primeiro plano, diferentemente daquele que prometerá a construção de novas escolas. O primeiro dará preferência ao homem, não aos tijolos. O lugar da argumentação baseado no ‘lugar do existente’ tem como característica a preferência daquilo que já existe, em detrimento daquilo que não existe. O emprego daquilo que existe, em um argumento, é hierarquizado acima daquele que não existe. Portanto, após o exposto acima, argumentar não se trata sempre em provar ter ‘razão’, mas sim em convencer, vencer junto do outro, expor ideias de modo que consiga demonstrar um ponto de vista, removendo os obstáculos para se chegar ao consenso.

Argumentar é saber ouvir o outro e sentir suas emoções, motivando-o a fazer o que queremos, mas de forma livre, tendo consciência de seus resultados; saber dosar e persuadir na hora certa, levando em consideração os valores dos outros. Uma parte fundamental de um bom argumento é a escolha das palavras, pois a combinação dessas possui grande importância na construção da argumentação. Abreu coloca que as palavras “(...) não se encontram organizadas em nossa memória, como nos dicionários, mas em relações associativas, pela forma e pelo conteúdo” (p. 101). Assim sendo, é recomendado que os sons e sentidos das palavras sejam explorados antes da argumentação em si ser construída. São apresentados, então, diversos tipos de figuras para auxiliar a construção desse sentido. As “figuras retóricas” servem para persuadir o interlocutor, pois afetam as emoções deste. As “figuras retóricas” são divididas em quatro: “figuras de som, de palavra, de construção e de pensamento” (p. 106). “Figuras de som” são selecionadas por sua sonoridade, conforme o nome já sugere; e a mais conhecida delas é a “paronomásia”, formada por palavras com sons parecidos e significados distintos; a repetição de sons é, então, um recurso de grande valor na construção de argumentos. As “figuras de palavra” apresentadas são metonímia e metáfora. A primeira é construída substituindo a parte pelo todo; e a segunda é uma comparação de maneira sintetizada. A metáfora é dividida pelo autor em cinco grupos: Metáforas i) de restauração; ii) de percurso; iii) de unificação; iv) criativas e v) naturais. Cada uma dessas divisões é ainda subdividida e exemplificada: i) metáfora médica, do roubo, de conserto e de limpeza; ii) metáfora de percurso em terra, de percurso em mar, de cativeiro e de percurso no ar; iii) metáfora de parentesco, pastoral e esportiva; iv) metáfora de construção, de tecelagem, de composição musical e de lavrador; e v) metáfora de claro-escuro e de fenômenos naturais e biológica. No capítulo intitulado “Figuras de Construção” o autor valeu-se das explicações de cada figura, que, muitas vezes são empregadas nos textos. Dentre as principais destacam-se: Pleonasmo é a repetição daquilo que já ficou óbvio em uma primeira vez. Muitas vezes esse erro ocorre devido à distração daquele que escreve. Contudo há o pleonasmo de destaque, o qual é utilizado para realçar uma ideia ou argumento, fazendo desta ferramenta, um estilo de cada autor;

Hipálage: é a transferência de uma qualidade humana para entidades não humanas, dessa forma, criando uma figura de construção válida para a produção de seus textos; Anáfora: essa figura fundamenta-se na repetição da mesma palavra no início de frases sucessivas, ou de membros ou sujeitos sucessivos em uma mesma frase. Sua função é manter a atenção em fluxo para o entendimento do contexto pelo leitor; Epístrofe: é a repetição de palavras no final de sucessivas frases. Essa figura de construção é muito utilizada em linguagem poética; Concatenação: consiste em iniciar uma frase com uma palavra do final da frase anterior. Quando o enunciador faz o uso da Concatenação, anáfora e epístrofe “(...) mantém o fluxo de atenção de seus ouvintes concentrado em conceitos que para ele são importantes na construção de um argumento” (p. 129). Já no capítulo “Figuras de Pensamento”, o autor apresenta as principais figuras de pensamento, dentre estas, destacam-se: Antítese: consiste na contraposição de uma palavra ou frase a outra, de significado oposto. Essa figura foi muito utilizada no período literário barroco; Paradoxo: reúne ideias contraditórias em uma mesma frase, aumentando assim, a expressividade do texto. O que diferencia o paradoxo da antítese é sua ideia de profundidade, já que a antítese cria contraposições entre palavras superficiais, não aprofundando em seu sentido atribuído, que, geralmente, encontrase de forma implícita no texto; Alusão: é uma referência a um fato, a uma pessoa real ou fictícia, conhecida do interlocutor. “A moderna análise do discurso chama esse fenômeno de polifonia ou intertextualidade” (p. 132). Por fim, na conclusão de sua obra, Antônio Suaréz Abreu diz que a resposta para suas lições que formam seu livro “(...) é, pois, a seguinte: com o tempo e prática, você mesmo ficará surpreendido com a facilidade com que será capaz de argumentar, “desenhando e pintando com as palavras” (p. 136). Ainda nas palavras finais, o autor roga condições para o sucesso do leitor na prática de suas lições nas mais diversas atividades diárias, “(...) não como estratégias de varejo, mas como um programa de vida, um programa de qualidade de vida!” (p. 136)....


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