Fichamento - Antígona PDF

Title Fichamento - Antígona
Author Beatriz Ferruzzi Sacchetin
Course Linguagem Jurídica
Institution Pontifícia Universidade Católica de Campinas
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Fichamento de texto....


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FICHAMENTO

SÓFOCLES. Antígona. 6 ed. Fundação Calouste Gulbenkian: Coimbra, 1992. Pode-se dizer que esta obra retrata características marcantes do tempo em que foi escrita, datada em torno de 441 a. C. Não se sabe se a história é verídica, contudo. Apresenta características importantes, que valem ser apontadas, como a ironia dramática e a valorização do homem. Creonte, detentor do poder político, é um tirano e governa apenas de acordo com o que considera correto para si e o que acredita que lhe favorece. Após uma batalha entre dois irmãos (seus sobrinhos), Etéocles e Polinices, Creonte ordena que apenas o primeiro seja sepultado, enquanto o segundo deve perecer e servir de alimento para aves de rapina. O soberano não aceita críticas a respeito de suas decisões, como o faz o coro quando indaga se não foi obra dos próprios deuses o corpo de Polinices estar coberto por pó. Antígona, irmã de Etéocles e Polinices (e também de Ismena) não se conforma com a decisão de Creonte e resolve desafiá-lo, sepultando seu irmão, guiada pela crença numa justiça divina de que todos merecem – e devem – ser sepultados com honra. Convida também Ismena, mas a irmã tem receio de acompanha-la por tratar-se de algo proibido pelo rei. Quando Creonte descobre que foi Antígona quem o desrespeitou, manda chama-la e os dois começam a debater sobre seus ideais (Creonte defendendo a justiça dos homens – que ele próprio faz – e Antígona defendendo a justiça dos deuses). Hêmon, filho de Creonte tenta conversar com ele para que o pai mude de ideia em relação à sua decisão, uma vez que era o futuro marido de Antígona. Nesse diálogo mostra-se clara a tirania de Creonte, mesmo frente à sensatez de Hêmon, que tenta mostrar ao pai que o estado que ele governa não pertence a ele: Creonte deveria estar a serviço do estado, e não o contrário (Hêmon: “Não há estado algum que seja pertença de um só homem”; Creonte: “Acaso não se deve entender que o Estado é de quem manda?” (v. 737-738, p. 70)). Mesmo após todos os diálogos, Creonte decide aprisionar Antígona numa caverna escavada na rocha, para que lá definhasse. Antígona, então, começa a lamentar-se e passa a ter dúvidas a respeito de suas ações, mostrando uma mudança de característica da personagem em relação ao início da peça. Por fim, Sófocles apresenta um final bastante trágico: Antígona se mata devido a tudo o que passou, Hêmon se mata quando fica sabendo da morte de Antígona, sua amada, e

Eurídice, mãe de Hêmon e esposa de Creonte, também se mata quando ouve da morte de seu filho. Creonte, além de todo sofrimento devido às mortes causadas (Antígona – pela culpa –, seu filho e sua esposa) ainda “cai no isolamento como chefe da cidade, pois fica politicamente desqualificado e privado da sua representatividade social” (p. 16) 1. Não é tarefa muito fácil definir quem é o protagonista da obra, pois a figura cênica principal é Creonte, apesar de Antígona ser uma figura temática importantíssima. A respeito do sentido deste drama, também não há consenso entre os comentadores e estudiosos. De acordo com Maria Helena da Rocha Pereira, na introdução à obra, existiram diferentes interpretações feitas ao longo da História: Hegel acreditava que o sentido da obra era o conflito entre o ideal (amor da família, representado por Antígona) e a lei positiva (representada por Creonte), e ambos são aniquilados ao fim; Bultmann acredita que Antígona é a representação do fundamento da polis, da vida comunitária; Reinhardt afirma que a novidade da peça é o embate de duas vontades distintas; Mueller aponta a dialética entre “verdade” e “aparência”, que não se limitam e não se relativizam; Knox mostra o embate entre vida particular (família) e vida pública (polis); Segal e Seale afirmam que a obra põe em questão a natureza da ordem social; e por último, Rohdich coloca, contrariamente, que a antinomia não é entre família e Estado, mas que o significado maior da obra é a metamorfose de Antífona: da liberdade e autonomia em relação à polis para um hino à existência da polis, construindo uma dialética entre o individual e o social. Porém, um ponto é de extrema importância e deve ser colocado: a importância da natureza da lei, tanto positiva quanto natural. A Lei positiva ( nomos) representa a justiça da polis (no caso, feita por um tirano) e a Lei natural, ou costume ( nomima) representa a justiça divina, no caso do ritual aos mortos. Sófocles discute, então, no plano da justiça: o que seria justo e o que seria injusto nessa narrativa? Percebe-se que a Lei não necessariamente corresponde à justiça, pois pode emanar de diversas fontes (como a humana e a divina, retratadas aqui). Num paralelo com a obra “A Luta pelo Direito” de Rudolph von Ihering, podemos entender Antígona como uma personagem que luta pelos seus direitos, contudo, a Lei que ela segue é uma Lei diferente da de Creonte: ela busca seus direitos de acordo com a Lei divina. Também importante considerar o que representa a personagem na narrativa: Antígona é um símbolo poderoso da representação da polis, pois defende um direito que nem sequer é para

1 Maria Helena da Rocha Pereira, na Introdução à obra.

si; e mostra-se contra a tirania de Creonte, mostrando a ideia de direito coletivo, nesse aspecto. A respeito do personagem Creonte, podemos dizer que se assemelha muito a Napoleão, em “A Revolução dos Bichos”, de George Orwell, por se mostrar um personagem tirânico que defende apenas os próprios interesses, e não aquilo que representa o bem comum, ou da polis. Porém, em relação a“O Príncipe”, de Maquiavel, os personagens destoam muito, uma vez que este autor condena atitudes despóticas e governantes que governam apenas em benefício próprio; o príncipe não deve ser odiado em hipótese alguma, diferente do que acontece com Creonte, que tem um fim bastante trágico tanto em relação à instituição família, quanto à polis....


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