Fiódor Dostoiévski - Anotações de aula 1 - 10 PDF

Title Fiódor Dostoiévski - Anotações de aula 1 - 10
Author gu stavo
Course Engenharia Civil
Institution Universidade de Brasília
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Fiódor Dostoiévski Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre. Fiódor Mikhailovitch Dostoiévski[nota 1][nota 2] (Moscou/Moscovo,

Fiódor Dostoiévski

30 de outubro de 1821 - São Petersburgo, 28 de janeiro de 1881)[1][2][3][4][nota 3] foi um escritor, filósofo e jornalista do Império Russo. É considerado um dos maiores romancistas e pensadores da história, bem como um dos maiores "psicólogos" que já existiram (na acepção mais ampla do termo, como investigadores da psiquê).[5][6][7] Após o término de sua formação acadêmica como engenheiro, Dostoiévski trabalhou integralmente como escritor, produzindo romances, novelas, contos, memórias, escritos jornalísticos e escritos críticos. Além disso, atuou como editor em revistas próprias, como preceptor e participou de atividades políticas. Suas obras mais importantes foram as literárias, onde abordou, entre outros temas, o significado do sofrimento e da culpa, o livre-arbítrio, o cristianismo, o racionalismo, o niilismo, a pobreza, a violência, o assassinato, o altruísmo, além de analisartranstornos mentais, muitas vezes ligados à humilhação, ao isolamento, ao sadismo, ao masoquismo e ao suicídio.

Fiódor Dostoiévski, fotografado em 1879, aos 58 anos de idade

Pela retratação filosófica e psicológica profunda e atemporal dessas

Nome completo

Фёдор Миха йлович Достое вский

questões, seus escritos são comumente chamados de romances

Nascimento

30 de outubro de 1821 Moscou, Império Russo

Morte

28 de janeiro de 1881 (59 anos) São Petersburgo, Império Russo

filosóficos e romances psicológicos.[7][8] Dostoiévski logrou atingir certo sucesso já com seu primeiro romance, Gente Pobre, o qual foi imediatamente elogiado e protegido pelo mais importante crítico literário russo da primeira metade do século XIX,

Nacionalidade russa

Vissarion Belinski.[9] Já seu segundo romance, O Duplo - obra hoje

Cônjuge

Maria Dmitriévna (1857-1864) Anna Dostoiévskaia (1867-1881)

cinematograficamente -, recebeu criticas muito negativas, inclusive do

Ocupação

Escritor

seu antigo protetor, críticas que acabaram por destruir o

Influências

muita

famosa,

tendo

sido

reinterpretada

literária

e

reconhecimento que Dostoiévski começava a adquirir como escritor.

Lista

Apenas após seu retorno da prisão na Sibéria - Dostoiévski foi preso

Vladimir Soloviov Victor Hugo Charles Dickens Nikolai Gógol Miguel de Cervantes Honoré de Balzac E.T.A. Hoffmann Johann Wolfgang von Goethe Friedrich Schiller Edgar Allan Poe William Shakespeare Aleksandr Pushkin Leo Tolstoy

por tramar contra o Czar -, repetiria o escritor seu sucesso inicial com a semi-biográfica obra Recordações da Casa dos Mortos, a qual trata dos anos que passou na prisão. Mais tarde sua fama aumentaria drasticamente graças a obras como Crime e Castigo, O Idiota e Os Demônios.[10] Foi entretanto já próximo da morte que Dostoiévski consolidou-se um dos maiores escritores de todos os tempos com sua obra-prima Os Irmãos Karamazov.[11] A influência de Dostoiévski é ímpar: ele influenciou diretamente a Literatura, a Filosofia, a Psicologia e a Teologia. Sob sua influência direta foram produzidas várias obras literárias e cinematográficas. Foi também reconhecido como precursor dos seguintes movimentos: nietzscheanismo, psicanálise, expressionismo, surrealismo, teologia da

Influenciados

crise e existencialismo.[12][6][13] O reconhecimento popular também é

Lista

imenso: é mundialmente conhecido, possui diversas estátuas, selos e

Sigmund Freud Albert Camus Jean-Paul Sartre Friedrich Nietzsche Mikhail Bakhtin Nelson Rodrigues Leo Tolstoy

moedas em sua homenagem e até hoje celebra-se em São Petesburgo o "Dia Dostoiévski".[14]

Índice Vida Primeiros anos Início da carreira literária Exílio na Sibéria Detenção, julgamento e falsa execução Sibéria Exército e primeiro casamento A conversão de Dostoiévski Carreira literária pós-exílio Regresso e contexto sociopolítico O reinício em São Petersburgo As grandes obras I: Notas do Subterrâneo, Crime e Castigo e O Jogador As grandes obras II:O Idiota e Os Demônios Obra prima e morte Obra Influências e controvérsias Temas Estilo e estética Personagens-tipo Posição política Niilismo Relação entre Intelligentsia e povo Nacionalismo e imperialismo Conservadorismo Influência Literatura Filosofia Psicanálise Religião Outros Obras influenciadas por Dostoiévski Lista de obras Romances Novelas e contos Não-ficção Notas Referências Bibliografia citada Obras completas Fontes secundárias Estudos Artigos científicos Introduções, prefácios e comentários Documentos

Principais trabalhos

Notas do Subterrâneo Crime e Castigo O Idiota Os Demônios Os Irmãos Karamazov

Religião

Cristianismo ortodoxo Assinatura

Sítios virtuais Ligações externas Sociedades e organizações Bibliografia on-line

Vida Primeiros anos Fiódor Dostoiévski, filho de Mikhail Dostoiévski e Maria Dostoevskaia,[15] nasceu em Moscou no dia 30 de outubro de 1821.[1][2][3] Ao contrário de outros grandes escritores russos da época - como Gogol, Turgueniev e Tolstoi -, seus pais não eram abastados financeiramente:[16] seu pai era médico militar e sua mãe dona de casa - a profissão de médico era pouca valorizada financeiramente na época -.[17] Mesmo com dificuldades financeiras, a família possuía seis serviçais, os quais, segundo o irmão de Dostoiévski, Andrei, serviam para manter o status social perdido da família, tendo em vista que o pai de Dostoiévski possuía um passado relativamente nobre, passado que abandonou

Pai e mãe de Dostoiévski

por vontade própria.[17] Além da educação religiosa no cristianismo ortodoxo,[18] Dostoiévski e seus irmãos estudavam literatura e outros estudos de [19] humanidades desde muito cedo, sempre por influência dos pais.

Os pais de Dostoiévski morreram quando o escritor ainda era muito jovem: a mãe morreu no ano de 1836[20] e há suspeitas de que o pai foi assassinado no início de junho de 1839 pelos próprios servos de sua propriedade rural em Daravói. A tese de assassinato é hoje muito questionada.[21]

Início da carreira literária Na Academia Militar de Engenharia de São Petersburgo, além das matérias militares essenciais e de engenharia, Dostoiévski também estudou a obra de Victor Hugo, Honoré de Balzac, George Sand e Eugène Sue, uma vez que a academia tinha um bom programa de literatura, focado principalmente na produção francesa.[22] Nesta época, foi também muito influenciado pelo poeta romântico alemão Friedrich Schiller.[23] A partir de agosto de 1841, Dostoiévski passou a morar fora da escola de engenharia, dividindo apartamentos com conhecidos[24] e com o irmão Andrei.[25] Nesta época escreveu - segundo relatos de um seu conhecido com o qual dividia o apartamento - partes de duas peças românticas, as quais não sobreviveram ao tempo e cujos títulos eram: Mary Stuart e Boris Godunov.[26] Termina o curso de engenharia em 1843.[25] Fiódor Dostoiévski

Em 1845 começa a escrever sua primeira obra, o romance epistolar Gente Pobre,[27] trabalho que

Por Kostyantyn Trutovsky,

iria fornecer-lhe êxitos da crítica literária, uma vez que Belinski, o mais influente crítico da

1847

literatura russa,[28] acreditou e fez acreditar ser Dostoiévski a mais nova revelação do cenário literário do país: Belinski estava extasiado com o movimento realista na Europa e considerou o

romance de Dostoiévski como a primeira tentativa do gênero na Rússia.[29] O livro foi publicado no Almanaque de Petesburgo no ano de 1846.[30] À Gente Pobre seguiu o romance O Duplo, publicado em 1846,[31] e os seguintes contos: Senhor Prokhartchin, publicado no volume de outubro de 1846 da revista Notas da Pátria,[32] dois contos escritos em 1846: Romance em Nove Cartas e Polzunkov,[33] A Senhoria, escrito entre 1846-47,[34] Coração Fraco, escrito em 1848,[35] três contos escritos entre 1847-48: O Ladrão Honesto, Uma

Árvore de Natal e uma Boda, A mulher alheia e o marido debaixo da cama[36] e Noites Brancas[37] e, ainda, o conto Netochka Nezvanova, cuja última parte foi publicada no volume de maio da Notas da pátria no ano de 1849, sem, entretanto, conter o nome de Dostoiévski, uma vez que ele tinha sido preso em 23 de abril.[38] Estas obras não tiveram o êxito esperado e sofreram críticas muito negativas, inclusive de Bielínski.[39] Nesta época,[40] desde que terminou o curso na academia militar até sua prisão, Dostoiévski entrou em contato com alguns grupos da Intelligentsia russa, sendo os principais do qual participou o Círculo Petrashevski[41] e o Círculo Palm-Durov.[42] O primeiro era dedicado à discussão sobre literatura e humanidades em geral, centrado nas obras da biblioteca de obras proibidas de Petrashevski,[43] obras que, segundo os registros da sociedade, Dostoiévski consultou em várias ocasiões.[44] O segundo, o Círculo Palm-Durov, foi formado a partir do Círculo Petrashevski e servia de fachada para radicais revolucionários, incluindo Dostoiévski,[45] o qual foi preso muito por conta de suas atividades neste círculo,[45] em que pese as acusações terem sido direcionadas apenas ao círculo principal de Petrashevski, uma vez que o Círculo Palm-Durov não chegou a ser descoberto pelas autoridades.[46]



Mais do que um sósia, era o seu duplo, o desdobramento dêle mesmo.



—Dostoiévski[47]

Exílio na Sibéria Detenção, julgamento e falsa execução Dostoiévski foi detido na noite de 22-23 de abril de 1849 por participar do Círculo Petrashevski sob acusação de conspirar contra o czar Nicolau I.[48][6] O czar mostrou-se, depois das revoluções de 1848 na Europa, vigoroso contra qualquer organização clandestina que pudesse pôr em risco seu reinado.[49][6] Apesar do Círculo Petrashevski não ser em si nem clandestino nem revolucionário, como chegou a conclusão o relatório oficial,[50] existiam vários grupos menores orbitanto ao seu redor e alguns de seus membros eram de fato revolucionários, como era o caso de Dostoiévski.[51] A ordem de detenção foi emitida baseada nos relatórios da chancelaria imperial russa da época, mais conhecida como "polícia secreta", realizados em conjunto com o Ministério dos Assuntos Internos, após mais de um

A falsa execução do Círculo Petrashevski

ano de investigação.[52] A principal acusação contra Dostoiévski foi de ter lido em público passagens de uma carta semi-aberta de Vissarion Belínski ao escritor Nikolai Gogol, na qual o escritor foi criticado por suas visões políticas e sociais conservadoras. Dostoiévski leu esta carta tanto no Círculo Petrashevski quanto no Círculo Palm-Durov, além de ter ajudado a disseminá-la.[53] Por conta do processo, Dostoiévski passou oito meses na Fortaleza de São Pedro e São Paulo, onde trabalhou escrevendo várias notas para diferentes obras.[54] As notas não sobreviveram e a única obra concluída desta época foi O Pequeno Herói.[55] Nestes oito meses continuaram as investigações do Círculo Petrashevski, as quais foram finalizadas apenas em 17 de setembro de 1849, quando foram enviadas ao czar, o qual ordenou a abertura de um tribunal misto (civil e militar) para julgar, sob leis militares, 28 acusados. Destes, 15, incluindo Dostoiévski, foram condenados no dia 16 de novembro à pena de morte por fuzilamento. Após diversos recursos, Nicolau I perdoou muitos dos sentenciados à morte. Dostoiévski foi então condenado a oito anos de trabalhos forçados, pena reduzida para quatro anos seguida de serviço militar por tempo indeterminado.[56] Mesmo assim, em 22 de dezembro os prisioneiros foram transferidos e levados ao lugar da suposta execução, a Praça Semenovski, onde suas sentenças de morte foram lidas publicamente.[57] Três membros do grupo - Petrashevski, Mombelli e Grigoriev - foram amarrados aos postes em frente ao pelotão de fuzilamento. Dostoiévski era um dos três próximos [58] e neste momento de aguardo disse a Nikolai Spetchniev, [59] o qual se encontrava atrás: -"Nós estaremos com Cristo", o revolucionário respondeu -"Um pouco de poeira".

Antes do comando para o fuzilamento, entretanto, chegou uma ordem do czar para que a pena fosse comutada para prisão com trabalhos forçados. Soube-se depois, que a ordem havia sido assinada há dias, mas que o czar exigira a falsa execução - através do Príncipe Michkin de O Idiota, Dostoiévski oferece uma descrição desta experiência de quase morte -.[60] Dostoiévski, então, recebeu os grilhões e partiu para a Sibéria poucos dias depois.[61] É comumente aceito e afirmado pelo próprio Dostoiévski, que após a simulação da execução ele passou a apreciar a vida de uma maneira muito diferente da anterior, iniciando um processo de transformação existencial, literária e política, que estaria terminada quando de seu retorno a São Petersburgo, 10 anos depois.[6] [62][63]



- Nós estaremos com Cristo. - Um pouco de poeira.



—Dostoiévski, Spechniev.[59]

Sibéria Dostoiévski foi primeiramente enviado a uma prisão localizada em Tobolsk, onde os presos eram redistribuidos para diversos campos de trabalho a fim de cumprirem suas penas de trabalho forçado (chamado sistema Katorga). Fato curioso, foi que em Tobolsk, Dostoiévski encontrou muitos dezembristas, diversos dos quais estavam acompanhados de suas esposas, as quais se exilavam espontaneamente para acompanhar seus maridos. Foram elas que forneceram a Dostoiévski, e aos outros prisioneiros recém chegados, Prisioneiros em Katorga

seus exemplares do Novo Testamento, o único livro permitido na

Por Aleksander Sochaczewski

prisão.[64] Dostoiévski foi, então, encaminhado para uma prisão em Omsk,

centro administrativo da Sibéria, onde cumpriu por quatro anos a sentença de trabalhos forçados. Esta prisão estava em péssima condições, tendo Dostoiévski escrito em carta ao irmão, que o local deveria ter sido demolido anos atrás.[65] Na prisão em Omsk era [66] possível, apesar de difícil, conseguir outro tipo de literatura além do Novoestamento. T

Um dos fatos que tiveram mais impacto em Dostoiévski nesta época foi descobrir que na prisão, em que pese diluídas as diferenças de classe, os servos não aceitavam as antigas (de fora da prisão) classes superiores como camaradas, como iguais.[67] Dostoiévski conta como os camponeses zombavam dos intelectuais por sua falta de destreza física nos trabalhos[68] e quando Dostoiévski, sem querer, acabou se juntando a um protesto contra a má qualidade da comida da prisão, os prisioneiros não o aceitaram e o expulsaram, uma vez que Dostoiévski podia comprar reforço alimentar , não pertencendo, assim, à manifestação.[69] Foi na prisão da Sibéria que Dostoiévski sofreu seu primeiro ataque de epilepsia, doença que o acompanharia pelo resto da vida e que também atinge vários de seus personagens, como o Príncipe Míchkin de O Idiota, Kiríllov de Os Demônios e Smerdiákov de Os Irmãos Karamazov. As cartas que Dostoiévski enviou ao irmão deixam claro que os ataques epilépticos iniciaram na Sibéria, em que [70] pese ele já ter apresentado problemas nervosos antes disso. [71] Em fevereiro de 1854, Dostoiévski deixou a prisão na Sibéria para cumprir pena de serviço militar por tempo indeterminado.

Exército e primeiro casamento Após libertado da prisão de Omsk, Dostoiévski foi mandado para cumprir pena servindo no exército russo em seu Sétimo Batalhão do Corpo Militar da Sibéria por tempo indeterminado,[72] permanecendo por quatro anos na fortaleza de Semipalatinsk, no Cazaquistão.[6]

Neste período, apaixonou-se por Maria Dmitriévna, mulher casada e mãe de um filho chamado Pável Issáiev (Pasha), do qual Dostoiévski era tutor.[73] Ela sofria de tuberculose.[74] Quando Maria Dmitriévna mudou-se com seu marido e filho para Kuinetsk, ambos trocaram cartas semanalmente e uma destas cartas ainda sobrevive.[75] Em agosto de 1855, morreu Alexander Ivanovich Isaev, marido de Maria Dmitriévna[76] e como em novembro de 1855 Dostoiévski foi promovido,[76] ele pediu a amada em casamento. Não sem muitas idas e vindas (inclusive um caso com outro homem)[77] Maria Dmitriévna aceita, em dezembro de 1856, se casar com [78] Dostoiévski e em 7 de fevereiro de 1857 ocorreu a cerimônia.

Na noite de núpcias, Dostoiévski sofreu uma violenta crise de epilepsia, quando recebeu pela primeira o diagnóstico médico de tal doença.[79] Aproximadamente um ano depois, em meandros de janeiro de 1858, Dostoiévski entrou oficialmente com pedido de aposentadoria do exército, a

Maria Dostoevskaya (1824-1864)

fim de receber tratamento médico. Já no início de 1859, Dostoiévski conseguiu ser dispensado do exército para tratar da saúde, sob a condição de não residir nem em São Petersburgo, nem em Moscou. Escolheu mudar-se para Tver, meio caminho entre as duas cidades proibidas. No início de julho [80] de 1859 inicia sua viagem para sua nova residência.

A conversão de Dostoiévski Por conversão de Dostoiévskientende-se a mudança radical de convicções existenciais, religiosas, morais e políticas pelas quais passou Dostoiévski no período entre sua detenção e seu retorno a São Petersburgo, conversão afirmada pelo próprio autor.[81] Segundo o próprio Dostoiévski, o momento exato da conversão foi durante as festividades de Páscoa do segundo ano que passara na Sibéria: após assistir a uma extremamente violenta, e para ele insuportável, festividade dos servos na prisão, Dostoiévski lembrou-se do caso do servo Marei (servo de seu pai), o qual teria ocorrido quando ele ainda era criança. O servo Marei teria tratado Dostoiévski com extremo amor paternal, quando este, com oito anos, estava desesperado de medo por acreditar ter ouvido uivos de lobos na propriedade da família. Esta lembrança modificou o modo como ele vinha compreendendo os servos desde que chegou ao presídio - com muito rancor , Dostoiévski em uniforme (1858)

por não ser aceito como um igual -: depois desta experiência e lembrança, como por um milagre, o rancor desapareceu.[82] Colocando de forma mais completa o significado da citada conversão, pode-se dizer que

Dostoiévski começou com uma crença socialista ingênua de que poderia liderar os servos como um igual - crença que sustinha antes da condenação -, passou por uma posição de extrema repulsa em relação aos servos da prisão - causada pelo fato dos servos não o aceitarem como igual - e chegou, finalmente, a ter fé na moral dos servos (cristianismo ortodoxo), do povo russo, não mais, porém, como movimento político, mas como seres humanos capazes de infinito amor[83] e, como qualquer ser humano, do infinito mal.[84] [85] Trata-se de amor cristão, o que mostra que a conversão também foi religiosa.

Carreira literária pós-exílio Regresso e contexto sociopolítico O reinício de Dostoiévski como escritor ocorre, de fato, antes mesmo de ser liberado do exército, isto é, logo após começar a receber seu ordenado como oficial (março de 1857) e de ser restituído de seus direitos civís - incluindo o direito de publicação (maio de 1857) -, quando então publicou seu único texto já completo na época, aquele escrito enquanto detido para investigação: O Pequeno Herói.[86] Entre 1857 e 1859 escreveu ainda dois contos cômicos: O Sonho do Tio e Aldeia de Stiepantchikov e Seus Habitantes, não obtendo nenhum deles sucesso.[87][88]

No final de dezembro de 1859, regressou finalmente com sua família (sua esposa e o enteado) a São Petersburgo.[89] O retorno não foi dos mais fáceis, tendo em vista que sua longa ausência não só o afastou dos antigos contatos de São Petersburgo, como também de toda a produção cultural russa, incluindo a literatura e o jornalismo, uma vez [90] que o acesso aos livros era bem difíc...


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