Title | Memorial do convento-análise global |
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Author | Bruno Vieira |
Course | Português |
Institution | Ensino Secundário (Portugal) |
Pages | 24 |
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Português, 12º Ano Prof. António AlvesAnálise global de Memorial do Convento, de José Saramago1. TEXTO NARRATIVOO texto narrativo pode ser escrito em prosa ou em verso. O seu objetivo principal é representar a realidade, narrando acontecimentos do mundo exterior, verdadeiros ou verosímeis. Por conse...
Português, 12º Ano
Prof. António Alves
An Análise álise global de Memorial do Convento, de José Saramago 1. TEXTO NARRATIVO O texto narrativo pode ser escrito em prosa ou em verso. O seu objetivo principal é representar a realidade, narrando acontecimentos do mundo exterior, verdadeiros ou verosímeis. Por conseguinte, há sempre um narrador que conta o desenrolar da ação, sustentada por personagens que se movem num determinado tempo e num espaço. Este tipo de texto centra-se na terceira pessoa gramatical. Embora o texto narrativo recorra frequentemente à ficção, por vezes, funda-se em acontecimentos históricos como é, por exemplo, o caso de Memorial do Convento de José Saramago. Num texto narrativo há, ainda, que distinguir a história, ou diegese, isto é, o conjunto de eventos narrados, que envolvem personagens, situadas num tempo e num espaço; e o discurso, ou seja, a expressão desses eventos por um narrador que, explícita ou implicitamente, se dirige a um narratário. A história e o discurso estão em estreita ligação, estabelecendo entre si relações de dependência. O discurso pode ser:
Avaliativo – caracteriza-se pelo uso de expressões linguísticas que revelam uma atitude valorativa e, portanto, subjectiva; figurado – privilegia o uso de artifícios linguísticos pelo que atribui especial relevo aos recursos estilísticos, possuindo, igualmente, um cunho subjetivo; conotativo – enfatiza as dimensões subjetivas do significado dos signos linguísticos; abstracto – tem a ver com a expressão de enunciados com carácter geral de verdade atemporal (aforismos, máximas) que, muitas vezes, conferem verosimilhança à história narrada; adquirindo, portanto, uma dimensão objectiva.
Um texto narrativo é, normalmente, constituído por:
introdução – situação inicial que, geralmente, corresponde à apresentação das personagens e da ação (sua localização no tempo e no espaço); desenvolvimento – desenrolar dos acontecimentos; conclusão – desenlace da ação.
Quanto à tipologia, pode-se falar em narrativa de ação – centra-se nos acontecimentos; narrativa de personagem – valoriza o comportamento e o retrato psicológico de uma personagem; e narrativa de espaço – destaca o meio histórico-social onde se desenrola a ação. 1.1. O ROMANCE O romance consiste numa narrativa em prosa cuja ação é extensa e, não raro, complicada por ações secundárias. Envolve um número ilimitado de personagens, cuja caracterização é complexa, fazendo-se, em muitos casos, a análise da sua vida interior. Há liberdade total de tempo e de espaço e a recorrência à narração, descrição, diálogo e, por vezes, monólogo; a ação não se desenvolve linearmente. Dentro deste género narrativo, pode-se distinguir vários subgéneros, entre os quais se salientam:
romance cor de rosa – narra intrigas sentimentais cujo desfecho é sempre feliz; romance epistolar – possui um discurso marcadamente pessoal, de índole confessional, intimista e sentimental, com características próprias da carta; romance de família – foca a sua atenção na sucessão de várias gerações de uma família e das quais se destaca uma personagem; romance histórico – reenvia para épocas históricas remotas (seus aspetos sociais, políticos e culturais) que se interligam com personagens, acontecimentos e espaços ficcionais.
Note-se, contudo, que nem sempre é linear a classificação de um romance, pois este pode encerrar características que apontem para diferentes subgéneros.
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2. AS CATEGORIAS DA NARRATIVA As categorias da narrativa – a ação, o espaço, o tempo, as personagens e o narrador/narratário – são indispensáveis na análise de qualquer texto narrativo. 2.1. A AÇÃO A ação é constituída por sequências narrativas (acontecimentos) provocadas ou experimentadas pelas personagens, que se situam num espaço e decorrem num tempo, mais ou menos, extenso. A ação é fechada quando se conhece o desenlace da história, ou seja, o final é revelado; e é aberta sempre que se verifica o contrário, normalmente, incitando à reflexão sobre a mesma. Ação principal Consiste nas sequências narrativas com maior relevância dentro da história e que, por isso, detêm um tratamento privilegiado no universo narrativo. Em Memorial do Convento de José Saramago: A edificação do convento de Mafra – desejo e promessa de D. João V. Ação secundária A sua importância depende da ação principal, em relação à qual possui menor relevância. Em Memorial do Convento de José Saramago: A construção da «máquina voadora» – sonho do padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão; bem como a história de amor entre Blimunda Sete-Luas e Baltasar Sete-Sóis. 2.1. Construção da narrativa As sequências narrativas, que fazem parte da ação, variam em número e seguem, normalmente, a estrutura: apresentação, desenvolvimento [peripécia(s), clímax] e conclusão; podendo surgir articuladas de três maneiras diferentes, a seguir enunciadas. Encadeamento As sequências narrativas seguem uma ordenação cronológica, linear, em que o final de cada uma é o ponto de partida da seguinte: Seq. Inicial
Seq. 1
Apresentação
Seq. 2
Seq. (…)
desenvolvimento
Seq. Final conclusão
Encaixe Neste caso, uma ou mais histórias são introduzidas no interior da que estava a ser narrada, a qual é, por isso, interrompida, prosseguindo mais tarde: Narrativa principal Narrativa encaixada
Alternância Uma vez que a escrita é linear, não é possível contar várias histórias em simultâneo. Daí que, estas sejam narradas alternadamente, ou seja, uma história é interrompida para dar lugar a outra(s) de origem diversa, que, por sua vez, fica(m) em suspenso, cedendo o seu lugar, e assim sucessivamente: Hist. 1
Hist. 2
Hist. 3
Hist. 1 2
Hist. 1 3
As sequências narradas de forma alternada podem fundir-se no mesmo plano, nomeadamente no desenlace, tal como acontece, por exemplo, na maior parte das telenovelas. Publicado em http://port12ano.blogspot.com por Prof. António Alves
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Em Memorial do Convento de José Saramago: Encadeamento – por exemplo, o desenrolar da relação amorosa entre Blimunda e Baltasar, a partir do momento em que se conhecem no auto de fé, onde a mãe de Blimunda é condenada, até ao reencontro do casal no final da ação, na altura em que Baltasar está a ser queimado na fogueira da Inquisição. Encaixe – por exemplo, as histórias de vida que Francisco Marques, José Pequeno, Joaquim da Rocha, Manuel Milho, João Anes, Julião Mau-tempo e Baltasar Mateus contam uns aos outros (Capítulo XVIII), quando estes se encontram longe dos seus lares a trabalhar na construção do convento. Alternância – por exemplo, a história de Manuel Milho sobre uma rainha e um ermitão (Capítulo XIX) é contada por partes, à noite, dando lugar à narração de outros eventos. 2.2. ESPAÇO O espaço não se resume apenas ao lugar onde o(s) evento(s) se realiza(m), possuindo também uma dimensão social e psicológica importante para a interpretação textual. Espaço físico Consiste no espaço real (geográfico; interior e exterior) onde os acontecimentos ocorrem. As referências ao espaço físico conferem verosimilhança à história narrada. Em Memorial do Convento de José Saramago: Espaço geográfico – Lisboa e Mafra são os espaços fulcrais, até porque é aqui que se movimentam as personagens principais, sendo, por tal, considerados macroespaços. Dentro destes, destacam-se alguns microespaços, nomeadamente, o Terreiro do Paço (local que retrata a vida na corte), o Rossio (onde se realizam, por exemplo, os autos de fé), S. Sebastião da Pedreira (localidade situada nos arredores de Lisboa, onde decorre a construção da «passarola», na quinta do duque de Aveiro), a «Ilha da Madeira» (vale onde os trabalhadores do convento se alojam). Fazse, ainda, referência a Évora, Montemor, Pegões, Aldegalega (locais por onde Baltasar passa, depois da guerra, no seu percurso até chegar a Lisboa); à serra do Barregudo, ao Monte Junto, ao Monte Achique, a Pinheiro de Loures, a Pêro Pinheiro (onde os homens vão buscar a gigantesca pedra para o convento), a Cheleiros, Torres Vedras, Leiria; à região do Algarve, Alentejo e EntreDouro-e-Minho; entre outros espaços. Espaço interior – por exemplo, o Palácio Real (Lisboa), a abegoaria na quinta do duque de Aveiro (arredores de Lisboa), a casa dos pais de Baltasar (Mafra)... Espaço exterior – por exemplo, as ruas/praças, o Terreiro do Paço, o Rossio, Remolares, S. Roque, o morro das Taipas, Valverde, o vale da «Ilha da Madeira»... Espaço social Consiste no ambiente social vivido pelas personagens e cujos traços ilustram a atmosfera social (características culturais, económicas, políticas...) em que se movimentam. Em Memorial do Convento de José Saramago: Os espaços físicos de Lisboa, Mafra e Alentejo ilustram o ambiente e os costumes da época joanina, no início de século XVIII. Ao longo da ação, são apresentados diferentes ambientes sociais, vivenciados por diversas personagens, entre os quais se destaca: a vida na corte, com a apresentação do séquito real, do vestuário das personagens, das vénias protocolares, do ritual das relações entre o rei e a rainha e todos aqueles que frequentam o paço, sobretudo, o clero (Capítulo I); diversas procissões, nomeadamente, a de penitência pela altura da Quaresma (Capítulo III), as dos autos de fé (Capítulos V e XXV); a do Corpo de Deus em Junho (capítulo XIII); que atestam a influência da religião na sociedade; o batizado da princesa Maria Bárbara, filha de D. João V e D. Maria Ana, no dia da Nossa Senhora do Ó (Capítulo VII); a tourada em Lisboa, no Terreiro do Paço (Capítulo IX); os festejos da inauguração e da bênção da primeira pedra do convento de Mafra (Capítulo XII); as lições de música da infanta Maria Bárbara ministradas por Domenico Scarlatti (Capítulo XIV); a epidemia de cólera e febre amarela que dizima o povo (Capítulo XV); o cortejo nupcial que retrata os casamentos da infanta Maria Bárbara com o príncipe D. Fernando de Espanha e do príncipe D. José com a infanta espanhola Mariana Vitória (Capítulo XXII); a sagração, em 1730, do convento de Mafra, apesar de ainda não estarem concluídas as obras (Capítulo XXIV)... Publicado em http://port12ano.blogspot.com por Prof. António Alves
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Note-se a preferência do narrador por locais onde se movem grandes aglomerados populares, na medida em que estes permitem evidenciar as disparidades sociais, a exploração e a crueldade a que o povo estava sujeito. Pelo contrário, os ambientes das classes privilegiadas surgem em menor número e, não raro, são apresentados num tom irónico como forma de criticar aspectos políticos, económicos e religiosos de uma sociedade, onde uma minoria tem tudo e a maioria nada tem. Espaço psicológico Corresponde às vivências íntimas, pensamentos, sonhos, estados de espírito, memórias, reflexões... das personagens e que caracterizam o ambiente a elas associado. Em Memorial do Convento de José Saramago: O sonho – a rainha sonha diversas vezes com o infante D. Francisco, seu cunhado... D. Maria Ana (...) de repente adormece e acha-se dentro do coche, recolhendo-se ao paço noite já escura, com a sua guarda de archeiros, e subitamente um homem a cavalo, que vem da caça, com quatro criados em mulas, e animais de pêlo e pena pendurados dos arções, dentro de redes, rompe o homem em direcção ao coche, de espingarda na mão, o cavalo raspando lume nas pedras e deitando fumo pelas ventas, e quando como um raio rompe a guarda da rainha e chega à estribeira dificilmente sofreando a montada, dá-lhe na cara a luz das tochas, é o infante D. Francisco, de que lugares do sono veio ele e porque virá tantas vezes. (Capítulo III). Note-se que, ao longo do romance, são descritos com alguma insistência os sonhos de diversas personagens, dando conta dos seus mais íntimos desejos, ansiedades e inquietações... A imaginação – por exemplo, na peregrinação em busca de Baltasar, durante nove anos, Quantas vezes imaginou Blimunda que estando sentada na praça duma vila, a pedir esmola, um homem se aproximaria e em lugar de dinheiro ou pão lhe estenderia um gancho de ferro, e ela meteria a mão ao alforge e de lá tiraria um espigão da mesma forja, sinal da sua constância e guarda, Assim te encontro, Blimunda, Assim te encontro, Baltasar, Por onde foi que andaste em todos estes anos, que casos e misérias te aconteceram, Diz-me primeiramente de ti, tu é que estiveste perdido, Voute contar, e ficariam falando até ao fim do tempo. (Capítulo XXV)... A memória – quando Baltasar, por exemplo, relembra o momento em que perdeu a sua mão esquerda, na guerra ... e contudo já pensou tudo isto, e mais ainda, que foi lembrar-se dos seus próprios ossos, brancos entre a carne rasgada, quando o levavam para a retaguarda, e depois a mão caída, arredada para o lado pelo pé do cirurgião, Venha outro, e aquele que aí vinha, coitado, bem pior iria ficar, se escapasse com vida, sem as duas pernas. (Capítulo VIII)... A reflexão – nomeadamente, a conversa entre a infanta D. Maria Bárbara e sua mãe, a rainha D. Maria Ana Josefa, durante o cortejo nupcial: Então é nada esta infanta que eu sou, nada os homens que vão além, nada este coche que nos leva, nada aquele oficial que ali vai à chuva e olha para mim, nada, Assim é, minha filha, e quanto mais se for prolongando a tua vida, melhor verás que o mundo é como uma grande sombra que vai passando para dentro do nosso coração, por isso o mundo se torna vazio e o coração não resiste, Oh, minha mãe, que é nascer, Nascer é morrer, Maria Bárbara. (Capítulo XXII)... 2.3. TEMPO As sequências narrativas ocorrem durante um tempo que pode ser, mais ou menos, extenso e que abarca várias aceções. Tempo histórico Consiste na época ou período da História em que se desenrolam as sequências narrativas. Em Memorial do Convento de José Saramago: A ação passa-se no início do século XVIII, abrangendo o período compreendido entre 1711 - D. Maria Ana Josefa tinha chegado da Áustria «há mais de dois anos» – e 1739 – ano em que se realiza o auto de fé onde são sentenciados, entre outros, António José da silva, um judeu «que fazia comédias de bonifrates», e Baltasar Mateus. Tempo da diegese Consiste no tempo durante o qual a ação se desenrola, segundo uma ordenação cronológica, e em que surgem marcas objectivas da passagem das horas, dias, meses, anos, etc.
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Em Memorial do Convento de José Saramago: Em termos cronológicos, a ação decorre entre 1711 e 1739, portanto, durante cerca de 28 anos. Ao longo do romance, as referências temporais são escassas e, muitas vezes, apenas deduzidas. O crescimento e/ou envelhecimento das personagens também nos dá conta da passagem do tempo. De entre as anotações temporais ao longo da obra, destaca-se: ... D. Maria Ana Josefa, que chegou há mais de dois anos da Áustria para dar infantes à coroa portuguesa e até hoje ainda não emprenhou. (Capítulo I) – deduz-se que a ação tem início em 1711, pois o casamento real aconteceu dois anos antes; ... apenas há seis anos aconteceu, em mil setecentos e cinco, deu parecer desfavorável o Desembargo do Paço a nova petição... (Capítulo II) – confirma o ano de 1711 anteriormente focado; Enfim, chegou o dia da inauguração... do convento de Mafra, Benzeu-se a cruz no primeiro dia o dia seguinte [..] dezassete de Novembro deste ano da graça de mil setecentos e dezassete... (Capítulo XII); ... por agora vai a procissão [do Corpo de Deus] em meio, sente-se o calor da manhã adiantado, oito de Junho de mil setecentos e dezanove... (Capítulo XIII); Está a menina sentada ao cravo, tão novinha, ainda não fez nove anos... (Capítulo XIV) – referência às lições de música da infanta D. Maria Bárbara, filha do rei D. João V e de D. Maria Ana Josefa; Baltasar tem trinta e nove anos, embora com alguns cabelos brancos (Capítulo XVII) … o certo é ter nascido aqui, há quarenta anos feitos... (Capítulo XVIII); Desde que na vila de Mafra, já lá vão oito anos, foi lançada a primeira pedra... (Capítulo XVIII) – deduz-se que a ação se passa em 1725; ... e então el-rei mandou apurar quando cairia o dia do seu aniversário, vinte e dois de Outubro, a um domingo, [..] tal coincidência se daria daí a dois anos, em mil setecentos e trinta... (Capítulo XXI) – infere-se que a ação se situa em 1728; os casamentos de D. Maria Bárbara com o infante espanhol, D. Fernando; e de D. José com a infanta Mariana Vitória de Espanha (Capítulo XXII) realizaram-se em 1729; Jesus, como o tempo passou, como eu me tornei velho.... Tens a barba cheia de brancas, Baltasar, tens a testa carregada de rugas... (Capítulo XXIII); Enfim, chegou o mais glorioso dos dias, a data imorredoira de vinte e dois de Outubro do ano da graça de mil setecentos e trinta, quando el-rei D. João V faz quarenta anos... (Capítulo XXIV) – ano da sagração do convento de Mafra; Durante nove anos, Blimunda procurou Baltasar. (Capítulo XXV) – fim da ação, em 1739, com a condenação de Baltasar Sete-Sóis na fogueira da Inquisição no auto-de-fé, onde figuram onze supliciados... Tempo do discurso Consiste no modo como o narrador conta os acontecimentos, podendo elaborar o seu discurso segundo uma frequência, ordem e ritmo temporais diferentes. O tempo do discurso pode não ser igual ao da diegese.
Frequência temporal
Ordem temporal
Discurso singulativo – O narrador conta apenas uma vez o que aconteceu uma só vez. Discurso repetitivo – O narrador conta várias vezes o que aconteceu apenas uma vez. Discurso iterativo – O narrador conta uma vez o que aconteceu várias vezes1. O narrador conta no presente acontecimentos já passados - analepse → anisocronia temporal. O narrador antecipa acontecimentos futuros-prolepse → anisocronia temporal. O narrador segue uma ordem cronológica dos eventos - ordem linear → isocronia temporal. 2
O tempo da diegese pode ser maior do que o do discurso – anisocronia temporal. Ritmo temporal
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O tempo da diegese pode ser menor do que o do discurso – anisocronia temporal. 4 O tempo da diegese pode ser idêntico ao do discurso – isocronia temporal.
1
O narrador utiliza expressões como «habitualmente», «todos os dias/meses/ anos...», «muitas vezes», etc.
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O narrador omite (elipse), ou sumaria (sumário) o que aconteceu em determinado período temporal.
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O narrador procede a descrições, divagações, reflexões... (pausas narrativas)
4
Por exemplo, nos diálogos Publicado em http://port12ano.blogspot.com por Prof. António Alves
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Em Memorial do Convento de José Saramago: Embora o narrador siga uma ordem cronológica linear na apresentação dos eventos, há, por vezes, algumas anisocronias, sobretudo, prolepses, mas também analepses e elipses temporais. O narrador serve-se de prolepses, antecipando acontecimentos futuros, entre as quais se destacam: o número de filhos bastardos de D. João V – que sendo tão moço ainda [...] se diverte tanto com as freiras nos mosteiros e as vai emprenhando [..], que quando acabar a sua história se hão-de contar por dezenas os filhos assim arranjados... (Capítulo IX); a morte do sobrinho de Baltasar, filho de sua irmã (Inês Antónia) e do marido (Álvaro Diogo) – Trouxeram os filhos, um de quatro anos, outro de dois, só o mais velho vingará, porque ao outro hão-de levá-lo as bexigas antes de passados três meses. (Capítulo X); a morte do infante D. Pedro, filho de D. João V e D. Maria Ana Josefa – ... por compensação da morte desta criança, morrerá o infante D. Pedro quando chegar à mesma idade... (Capítulo X); a morte da mãe de Baltasar – Adeus, que não os torno a ver, e isto sim, vai ser verdade estreme, ainda as paredes da basílica não terão um metro acima do chão e já Marta Maria estará enterrada. (Capítulo XII); a morte de Manuela Xavier, filha dos viscondes de Mafra – Não vai haver muita música na vida desta criança, [..], daqui a dez anos morrerá e será sepultada na igrej...