O túmulo de D. Lopo Fernandes Pacheco PDF

Title O túmulo de D. Lopo Fernandes Pacheco
Course História da Arte Colonial
Institution Universidade Nova de Lisboa
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O Túmulo de D. Lopo Fernandes Pacheco

Faculdade de Ciências Sociais e Humanas História da Arte Românica e Gótica em Portugal Raquel Rodrigues nº55965

Índice

Os jacentes em Portugal ……………………………………………………………….1 D. Lopo Fernandes Pacheco……………………………………………………………1 Iconografia e análise formal……………………………………………………………2 Heráldica………………………………………………………………………………...3 Pontos de semelhança com o túmulo de D. Maria de Vilalobos……………………...4 Conclusão………………………………………………………………………………...5 Anexos……………………………………………………………………………………6 Bibliografia………………………………………………………………………………6

Os jacentes em Portugal Na criação plástica medieval portuguesa, uma das áreas dotadas de maior variedade plástica são os jacentes. Esta manifestação essencialmente aristocrática é o ponto culminante no processo evolutivo das sepulturas. É uma tradição tardia em Portugal, chegando na primeira metade do século XIII Trata-se de uma manifestação essencialmente aristocrática e masculina que penetra tardiamente em Portugal, nos meados da primeira metade do século XIII, resultado de influências exteriores e que teve logo aceitação e adesão. A partir do primeiro quartel do século XIV começaram a difundir-se os jacentes de olhos abertos, preferindo-se representar não o morto mas o ressuscitado, sublinhando-se, assim, a crença na Ressurreição Final e a certeza de que quem jazia naquele monumento tinha garantido o acesso ao Paraíso. É também a partir de então que se começam a generalizar as estátuas que abandonam a postura “jacente” passando a adoptar uma pose característica do século XIV, que visa contemplar gestos que mantém uma ligação contínua à vida dos tumulados.

D. Lopo Fernandes Pacheco Sétimo senhor de Ferreira de Aves, D. Lopo Fernandes Pacheco nasce em 1280 no berço de uma nobreza regional através da sua ascensão nobiliárquica leva os Pachecos à mais alta nobreza. Muito próximo do rei D. Afonso IV (1291 – 1357) desempenha os papéis cargos militares, administrativos e cortesãos, tais como mordomo-mor do infante D. Pedro, conselheiro do rei, embaixador nas Cortes papal, tutor de seus netos Vasco, Leonor e Inês, entrou outros. O seu maior destaque depreende-se com a participação na Batalha do Salado3 a 30 de Outubro de 1340 onde o reino de Portugal saiu vitorioso. Pelo seu prestígio, foi presenteado com a Rosa de ouro, benzida e consagrada pelo papa sendo assim o primeiro português a receber tal distinção. Num belo trabalho de pedra, o túmulo de D. Lopo Fernandes Pacheco terá sido encomendado por D. Maria de Vilalobos após a morte de seu marido que por esta ocasião aproveitou por providenciar o seu próprio túmulo. Mário Barroca atribui a datação dos jacentes entre 1349 e 1369, morte de D. Lopo Fernandes Pacheco e D. Maria Vilalobos, respectivamente. Os túmulos localizam-se na Capela de S. Damião e Cosme, no deambulatório da Sé de Lisboa. Junto ao túmulo de D. Lopo encontra-se, pregada na parede da esquerda, uma inscrição de mármore provida de grande mestria, também providenciada pela dama, onde está escrita a informação do Casamento de D. Lopo Fernandes com D. Maria Vilalobos e os seus feitos enquanto par do rei. Nesta inscrição não está ocultado o primeiro casamento de D. Lopo com D. Maria de Taveira, do qual nasceram Diogo Lopes Pacheco e Violante Lopes Pacheco. 1

D. Maria de Vilalobos nasce do casamento de D. Rui Gonçalves de Vilalobos com D. Teresa Sanches, filha bastarda do rei de castelã. Esta linha ao rei de castelã confere a D. Maria de Vilalobos uma maior importância nobre, mais antiga e com origens mais remotas, aspectos estes que os Pachecos não partilhavam.

Iconografia e análise formal Estátua jacente de D. Lopo Fernandes Pacheco Colocado sob quatro colunelos de base quadrangulares, fustes de corte hexagonal e capitéis com motivos vegetalistas com um trabalho bastante aplanado, não se sobressaindo do suporte. A anatomia da figura de Lopo Pacheco adopta grandes proporções, sobretudo no grande relevo que o escultor confere ao rosto de onde sobressaem os dois grandes olhos, excessivamente rasgados e semicerrados bem como o saliente e largo nariz. A dimensão e volume da espada chamam à atenção do observador, tal como o cão que, assente nas quatro patas, funciona como um verdadeiro guardião do jacente. As proporções desta figura zoomórfica não têm par na escultura tumular medieval portuguesa. Todas as grandes dimensões do jacente tornam-no desproporcionado quando em relação à arca. O rosto do cavaleiro e a barca longa, pontiaguda e entrelaçada, bem como os cabelos, enrolados em dois canudos, de cada lado do rosto, com duas pequenas madeixas sobre a testa receberam um especial cuidado. O corpo veste uma túnica e manto. As pregas da túnica caem uniformes e a direito, como se toda a composição estivesse na vertical. O manto passa pela frente da figura para se enrolar no seu braço direito, enquanto a ponta do lado oposto cobre parte do jacente e cai sobre a tampa, num muito bem executado efeito de pregas, enroladas e em voluta. Podemos facilmente verificar a mestria do escultor para expressar o melhor da sua arte. O escudo de D. Lopo é de tipo peninsular, constituído por uma caldeira veirada e de asa serpentífera também presentes nas três faces visíveis da arca. Este estudo apresenta um adorno com bordaduras, cujo significado permanecer por descodificar e constitui segundo o autor6um elemento inédito nos monumentos heráldicos medievais portugueses. O mesmo brasão, agora em campo circular, volta a revelar-se na empunhadura da espada do cavaleiro, no cinto que se enrola à volta da espada, na bainha da mesma e, ainda, nas orlas das mangas do camisão, constituindo outro facto pouco comum no panorama nacional. Uma pequeníssima cabeça, muito escondida, colocada debaixo da espada, mais parecendo um pequeno suporte de pedra, destinado a manter direito esse pesado objecto, representa uma figura humana. Alguns autores apontam para a possibilidade de ser tratar de uma analogia à Batalha do 2

Salado. Podemos propor que se trate de um auto-retrato ou de uma assinatura do autor do trabalho escultórico. Contudo, a ausência de documentação coeva não nos permite identificar o autor. Ainda, não existem auto-retratos de um artista medieval e as assinaturas ou simples referência ao autor só irá surgir no século XV, no túmulo de Fernão Gomes de Góis, na Igreja Matriz de Oliveira do Conde (1439). Logo a proposta que identifique a pequena figura humana, deverá ficar em aberto, até que novos indícios nos permitem assumir uma interpretação.

Heráldica No programa iconográfico do jacente em análise, as armas dos Pachecos estão praticamente ausentes. D. Maria Vilalobos era neta, pelo lado materno, do rei castelhano D. Sancho IV, descendendo de uma linhagem mais relevante da que descendia Lopo Pacheco. O que provavelmente motivou a decisão de colocar as armas da sua família em maior evidencia, em detrimento das do seu marido. As armas dos Pachecos (Fig. 4) aparentam estar carregados ou ornados com bordaduras muito simples, nas quais alguns heraldistas têm pensado ter a ver um cordão dito de S. Francisco com os seus nós, justificando esta interpretação através da viuvez de D. Lopo, conhecimento expresso em termos orais e nunca escrito. Contudo e em contrapartida, D. Lopo casou pela segunda vez com D. Maria Vilalobos, deixando assim de ser viúvo. D. Luíz Távora considera não justificável o uso dessa heráldica e apresenta a possibilidade de se tratar de uma diferença pessoal, uma alteração daquela geração, em virtude de este elemento emblemático surgir também na heráldica do túmulo de D. Maria de Vilalobos. Além desta hipótese, D. Luíz Távora supõe ser, possivelmente, um resultado da liberdade artística do autor. No pomo da espada, encontra-se outra caldeira veirada e de asa serpentífera, revelada num campo circular. Também aqui nos encontramos perante um caso pouco comum em Portugal, o de a heráldica da família servir de elemento decorativo a ornamentar as espadas das estátuas jacentes.

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Pontos de semelhança com o túmulo de D. Maria de Vilalobos

As afinidades que se detetam entre o sarcófago de D. Lopo Fernandes Pacheco e o de D. Maria de Vilalobos, nos laterais e nos colunelos que os sustentam, são tão profundas que nos levam a pensar que as duas peças terão saído da mesma oficina e mesmo autor e produzidas num momento relativamente próximo. A iniciativa de D. Maria de Vilalobos, que terá encomendado o sarcófago com jacente de seu marido e a sua inscrição funerária, pouco depois do falecimento deste, e que terá, na mesma altura, providenciado a execução do próprio monumento apresenta-se como uma dado histórico que possibilita fundamentar a suposição que agora apontámos. O facto de D. Lopo Fernandes Pacheco se querer fazer sepultar na Sé de Lisboa somado às afinidades técnicas dos monumentos de que já tratamos, levam-nos a crer que a oficina onde os túmulos terão sido executados deveria ser a de Lisboa.

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Conclusão O jacente esteve desde sempre relacionado com os estratos sociais mais elevados, aqueles que tinham possibilidade de pagar túmulos tão dispendiosos. No século XIV multiplicam-se os jacentes, quer de eclesiásticos, quer de laicos, existindo, contudo, uma predominância para os jacentes laicos. Estes laicos são senhores e damas cujas posses permitem despender de um valor elevado para providenciar o lugar do descanso final. D. Lopo Fernandes Pacheco e D. Maria Vilalobos fazem, ambos, parte da nobreza abastada pelas suas origens e através do matrimónio. São exemplo daqueles que podiam providenciar um túmulo com jacente de tão grandes dimensões e que acompanha a corrente Europeia. Desta forma, o túmulo que analisámos nestas páginas ocupa um especial lugar no panorama artístico português ao lado dos túmulos que adoptam o morte-sono, outros cavaleiros e outras damas, contemporâneos a D. Lopo e D. Maria. É sabido que era comum aplicar cor aos túmulos e jacentes. Todavia, não nos foi indicado nas fontes consultadas, que este túmulo terá sido alvo de trabalho de cor. Será que os túmulos de D. Lopo Fernandes Pacheco e de D. Maria Vilalobos foram uma excepção à regra? Terá D. Maria, aquando da encomenda, recusado qualquer trabalho de cor sobre as obras? O trabalho destes jacentes marca o panorama artístico do século XIV constituindo um leque de túmulos excecionalmente bem executados. Pauta pela qualidade técnica e artística com que o artista talhou a pedra, denotando alguns traços de arcaísmo mas uma total idealização da figura humana, tal como se pretende representar para toda a eternidade. Mário Barroca afirma que se faziam idealizar os tumulados com a idade de 33 anos, idade com que Cristo foi crucificado. Não nos é possível confirmar essa proposta, contudo deixamo-la em aberto. Em suma, este jacente da segunda metade do século XIV segue o caminho do novo modo de representação, presente em todo o século XIV, que confere uma posição e retrato realista aos tumulados, num tratamento belo e menos arcaizante.

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ANEXOS

Figura 1 – Lateral do túmulo (Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/common s/0/0e/Lopo_Fernandes_Pacheco._Sepulcro.jpg)

Figura 2 – Detalhe da parte superior (Fonte: https://www.flickr.com/photos/fgc/393145507)

Figura 4 – Armas dos Pacheco (Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Lopo_Fernandes _Pacheco._Sepulcro.jpg)

Figura 3 – Perspectiva da parte inferior (Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Tomb_of_Lopo_Fe rnandes_Pacheco_from_above.jpg)

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Bibliografia ALMEIDA, Carlos Aberto Ferreira, BARROCA, Mário Jorge, História da Arte em Portugal – O Gótico, Lisboa: Editorial Presença, 2002 BARROCA, Mário, Epigrafia Medieval Portuguesa, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, Vol. II, tomo 2, data 2000 DIAS, Pedro – O Gótico. História da Arte em Portugal. Vol. 4. Lisboa: Publicações Alfa, 1986 GOULÃO, Maria José, Coord.: RODRIGUES, Dalila; Arte Portuguesa da Pré-História ao século XX - Expressões Artísticas do Universo Medieval, Vol. 4 FERNANDES, Carla Varela – Memórias de Pedra. Escultura Tumular Medieval da Sé de Lisboa. Lisboa, IPPAR, 2001 LOURENÇO, Vanda, Lopo Fernandes Pacheco: um valido de D. Afonso IV, in Medievalista Online. Instituto de Estudos Medievais – Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, (UNL) ano 2, número 2, 2006 MACEDO, Francisco Pato de – O descanso eterno. A tumulária. História da Arte Portuguesa. Dir. de Paulo. Vol. I. Lisboa: Círculo de Leitores, 1995 SOUSA, J. M. Cordeiro e, Inscrições Sepulcrais da Sé de Lisboa, (2ª edição), Empresa Nacional de Publicidade, Lisboa, 1935 SOUSA, J. M. Cordeiro e, Os jacentes medievais da Sé de Lisboa e a Sua Indumentária, Lisboa, Câmara Municipal, 1951 TÁVORA, Luiz Gonzaga de Lencastre e, Dicionário das Famílias Portuguesas, Lisboa: Quetzal, 1989. TÁVORA, Luiz Gonzaga de Lencastre e, Heráldica Medieval na Sé de Lisboa, Separata do Boletim Cultural da Assembleia Distrital de Lisboa, III Série, Nº 88, 1º Tomo, Lisboa, 1982 VIEIRA DA SILVA, José Custódio, Memória e Imagem – Reflexões sobre História da Arte, Faculdade de Ciência Sociais e Humanas, nº 1, 2005

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