Os cavaleiros templários na obra de Orlando Paes Filho PDF

Title Os cavaleiros templários na obra de Orlando Paes Filho
Author Philipe Azevedo
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História, imagem e narrativas  No 15,  outubro/2012 ‐ ISSN 1808‐9895 ‐ http://www.historiaimagem.com.br    Os cavaleiros templários na obra de Orlando Paes Filho Philipe Luiz Trindade de Azevedo Mestrando em História Social, UFMA/PPGHIS, bolsista FAPEMA. [email protected] Resumo: O pres...


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História, imagem e narrativas  No 15,  outubro/2012 ‐ ISSN 1808‐9895 ‐ http://www.historiaimagem.com.br   

Os cavaleiros templários na obra de Orlando Paes Filho

Philipe Luiz Trindade de Azevedo Mestrando em História Social, UFMA/PPGHIS, bolsista FAPEMA. [email protected]

Resumo: O presente artigo dedica-se a fazer uma análise das representações acerca da Ordem dos Cavaleiros Templários perceptíveis em dois romances de autoria do brasileiro Orlando Paes Filho, que ficou relativamente famoso entre o público infanto-juvenil após criar um personagem literário chamado Angus. Angus tornou-se o protagonista de uma série de romances que contam a saga de sua família, o clã MacLachlan. Uma das obras que serve de objeto a este artigo é justamente o segundo volume da série de livros do herói Angus, Angus: o guerreiro de Deus. O segundo romance de Orlando Paes Filho que se fará presente aqui intitula-se Diário de um Cavaleiro Templário e traz como protagonista o fictício Robert de la Croix, cavaleiro da Ordem dos Templários. Palavras-chave: Representação. Templários. Romance.

1 A Segunda Cruzada: localizando os romances no espaço e no tempo. 1   

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Os dois romances utilizados neste artigo trazem em suas narrativas acontecimentos ligados à Segunda Cruzada. Este empreendimento bélico cristalizou-se na historiografia como tendo sido empreendido entre os anos de 1147 e 1149, suas motivações e seus principais engajados são destacados na citação que segue. Menos de meio século depois da conquista da Primeira Cruzada, uma parte da Síria católica foi recuperada pelos muçulmanos. Para impedir que, entusiasmados, os infiéis partissem sobre Jerusalém, resolveu-se promover uma nova cruzada. Ela foi pregada por São Bernardo, talvez a personagem de maior prestígio em sua época, o que permitiu reunir três contingentes o exército alemão do imperador Conrado III, o exército francês do rei Luís VII e o exército de europeus do norte (ingleses, flamengos e frísios) (FRANCO JR., 1999, p. 35-36). Na citação notamos um nome de grande relevância, que é o de São Bernardo de Claraval, sua figura está diretamente ligada à dos Templários por ser considerado o mentor espiritual da Ordem. Essa ligação se faz desde os primórdios da criação da Ordem, pois o abade cirsteciense Bernardo de Claraval (São Bernardo) atende a um apelo especial de Hugo de Payns, o primeiro mestre da Ordem do Templo. Bernardo foi a figura principal que incitou o clero a convocar o Concílio de Troyes, que tinha por principal objetivo reconhecer os Templários como Ordem da Igreja. Mas o espírito reinante no Concílio foi Bernardo aqui escondido pelo modesto epíteto de “abade de Clairvaux”. Fora por influência sua que o Concílio acontecera, e ele encarnava os objetivos complexos e as contradições intrísecas dos Cavaleiros Templários em sua própria pessoa. Até sua conversão, com idade de vinte anos, ele fora dedicado a uma carreira de cavaleiro, e os conflitos espirituais de sua vida influenciaram o espírito da nova Ordem (BURMAN, 2005, p.31). São Bernardo funciona como um grande conciliador aproximando do ocidente o ideal do monge-guerreiro inaugurada pela Ordem dos Cavaleiros Templários, representada por Hugo de Payns. E mais do que isso essa configuração atendia a um desejo de secularização da cavalaria e atendia as necessidades criadas pelas Cruzadas, “São Bernardo permaneceu monge. No entanto, contribuiu para encontrar uma esfera original para essas aspirações religiosas dos laicos: a ordem religiosa e militar” (DEMURGER, 2007, p.64). Sabendo que São Bernardo era o mentor espiritual da Ordem e principal pregador da Segunda Cruzada poderíamos concluir que essas informações serviram para introduzir nossos cavaleiros de Cristo nas narrativas dos dois romances, que é exatamente o que autor faz; o sexto capítulo de Angus: o guerreiro de Deus que se chama Duas espadas, trata 2   

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exclusivamente desta questão, iniciando-se com uma carta dirigida ao mestre da Ordem do Templo Everard de Barres e assinada por Bertrand Dupreus, o abade de Citeaux, que traz as informações iniciais sobre o empreendimento e sobre os esforços de Bernardo de Claraval para que suas palavras alcançassem à todos, “(...) Por toda a parte onde Bernardo não pôde fazer ouvir a sua voz, suas cartas eloqüentes foram lidas do alto dos púlpitos e inflamaram de ardor os fiéis (...)” (PAES FILHO, 2004, p. 110). Acrescenta-se que “a eloqüência envolvente do santo e o ímpeto que sabia transmitir propagavam-se na multidão” (FRALE, 2007, p. 78). Também se faz um apelo direto à Ordem do Templo e dos Hospitalários, que durante a missa de purificação, realizada no Krak dos cavaleiros1, escutam o sermão proferido por Arnaud de Saint-Martin, Bispo de Trípoli que os incita a unir-se à Luis VII, rei de França, nesta Cruzada. Observe a citação. A Igreja tem duas espadas, o que o Senhor Jesus julgou ser “o suficiente”. Uma deve ser brandida de forma espiritual pelo Clero; a outra, pelos príncipes e militares cristãos. A primeira pelas lições dos prelados, a outra, com a sua aprovação. Foi o que escreveu Bernardo de Claraval ao santo Papa Eugênio: O Senhor disse a Pedro, a respeito da espada material: “Embainhe a tua espada!” e deveis fazer o mesmo. Ela deverá ser tirada da bainha sob o seu comando, mas não pela sua mão. As duas espadas são suas, mas uma é a espada da Igreja e a outra deve ser brandida em favor da Igreja. Uma estará na mão do sacerdote, a outra na do cavaleiro; a ordem deverá vir do Imperador” (PAES FILHO, 2004, p. 118). Este trecho do romance que destacamos representa mais que o desejo de engrossar as fileiras contra os infiéis, mais do que isso ela traduz o conceito de Guerra Santa discutido por Jacques Le Goff em Uma Longa Idade Média e em A civilização do Ocidente medieval e que perpassa todo o movimento das Cruzadas. Para Le Goff a Guerra Santa virou doutrina da Igreja, reconhecendo entre os séculos X e XI a figura dos guerreiros como “defensores de Deus, defensores da viúva, do órfão, dos pobres” (LE GOFF, 2008, p. 109) e que “queriam purgar a Cristandade do escândalo e dos combates entre correligionários, dar ao ardor belicoso do mundo feudal uma finalidade louvável (...)” (LE GOFF, 2005, p. 66). E isso é sabiamente aplicado pelas palavras do Bispo de Trípoli retiradas do romance já citado. Porém, os romances não giram apenas em uma trama que a todo custo tenta justificar as Cruzadas, Orlando Paes Filho promove uma discussão sobre as verdadeiras motivações dos monarcas que estavam à frente da campanha, estariam eles interessados apenas em servir à Igreja e por consequência à Deus ou seus interesses eram materiais?                                                              1

Fortificação erguida durante o século XII que está localizado no atual território do Líbano e que durante seu funcionamento defendia o limite nordeste do Condado de Trípoli.

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Em ambos os romances o Imperador Conrado III da Germânia e seu contingente são apresentados como descontrolados e impulsivos que saqueiam e queimam aldeias nos limites do Império Bizantino, desrespeitando a hospitalidade do rei Manuel Comeno. Em um dos trechos de Diário de um Cavaleiro Templário o protagonista fictício Robert de la Croix destaca que “após a experiência de Constantinopla com o rei Conrado e as atrocidades que seus cavaleiros cometeram, temo que o imperador não esteja disposto a receber o monarca francês[Luis VII]” (PAES FILHO, 2006, p. 145). O comportamento de Conrado III prejudica até mesmo as relações entre Manuel Comeno e Luis VII; não que as relações entre estes dois últimos monarcas tenham sido amigáveis, nos romances Luis VII é apresentado como um rei de gênio fraco e facilmente manipulável por seus conselheiros, o que frustra o Mestre da Ordem do Templo Everard de Barres, que em ambos os romances representa o ideal Templário no oriente. Observemos o trecho a seguir retirado de Angus: o Guerreiro de Deus e que traduz o sentimento expressado pelo Mestre da Ordem. Do livro de Crônicas de Everard de Barres, Cavaleiro e Mestre da Ordem do Templo: Depois da confusão com a vinda dos alemães, esperávamos que a passagem dos cruzados franceses fosse menos turbulenta e que o rei Luis VII impusesse disciplina entre seus nobres e soldados, o que facilitaria meu trabalho junto ao imperador Manuel Comeno (PAES FILHO, 2004, p. 357). A falta de pulso firme e as constantes demonstrações de fragilidade se fazem presentes até mais em Diário de um Cavaleiro Templário onde o rei da França não consegue se impor nas reuniões e audiências com os conselheiros e os Templários. Aquela reunião se tornava mais tensa e pesada a cada instante. Em meu coração, eu temia uma investida daqueles homens contra Manuel Comeno. Seria o bispo de Langres, com seu discurso encomendado, quem viria elucidar as razões do agastamento de Luis. O rei fez-lhe sinal e ele se tornou o centro das atenções. (...) Desde que dera a palavra ao bispo de Langres, o rei Luis se calara. Eu o observava atentamente. Depois de aprovar com a cabeça o discurso do bispo e as primeiras propostas dos cavaleiros, a perspectiva de um ataque à capital do Império Bizantino o fazia voltar à sua costumeira atitude de hesitação. (...) Por duas vezes fez menção de falar, mas eram muitas vozes que esbravejavam ao seu redor (PAES FILHO, 2006, p. 163-165). O rei da França não consegue nem se fazer ouvir, tomado pela indecisão e por sua fraqueza. Algo que desperta a impaciência de outra personagem que se sente extremamente incomodada com o posicionamento do rei, é Eleonor da Aquitânia, esposa do rei francês, que tem destaque nos dois romances do autor brasileiro, ela é descrita como dona de grande beleza, de gênio forte, sedutora e um tanto quanto promíscua. Hilário Franco Jr., destaca que as ações de Eleonor da Aquitânia chegam também a causar conflitos no andamento da 4   

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Segunda Cruzada, “(...) ocorriam também desentendimentos entre Luis VII e Raimundo de Poitiers, príncipe da Antioquia, por causa de Eleonor da Aquitânia, esposa do primeiro e sobrinha do segundo, que, mesmo acompanhando o marido à Cruzada, não chegava a merecer a indulgência por fidelidade conjugal” (FRANCO JR., 1999, p. 36). Em umas das passagens de Diário de um Cavaleiro Templário Eleonor se encontra extremamente contrariada, pois seus pertences se perderam e ninguém consegue encontrá-los, demonstrando toda a sua indignação ela ameaça. “- Ou meus pertences aparecem, ou juro que entrarei em Constantinopla nua como vim ao mundo! – e, juntando o gesto à palavra, deixou o vestido cair até as ancas, mostrando os seios. Eu baixei os olhos enquanto ela saía por onde entrara, empurrando as damas que tentaram em vão cobri-la” (PAES FILHO, 2006, p. 152). A beleza e o fascínio que a rainha da França causava nos homens é exposta abaixo no décimo capítulo de Angus: o Guerreiro de Deus, intitulado A Espada e a Flor. A elegância e o requinte do ambiente agradaram a rainha de França. Sua aparição no salão principal causou, como sempre, alvoroço entre os nobres franceses. Os gregos se escandalizavam com os olhares maliciosos dirigidos à rainha pelos cavaleiros vassalos do rei. Fato que a rainha apreciava. Eleonor era a mais bela entra as belas e tinha consciência do fascínio que exercia. Usava vestido amarelo adornado com pedrarias, modelado em seu corpo que revelava sua forma, exibia os ombros e a parte superior dos seios. Ostentava delicadas jóias e coroa de ouro cravejada de esmeraldas que usava sobre seus longos cabelos dourados. Andava com graciosidade e sorria para todos, demonstrando desenvoltura que contrastava com a atitude tímida do rei que a seguia por todo o salão (PAES FILHO, 2004, p.391). A Segunda Cruzada é descrita na historiografia como conflituosa e permeada por erros de estratégia, provocados por todos esses sentimentos, rixas e mesquinharias dos nobres ressaltados nas obras. Conrado III, como foi descrito anteriormente, chegou a Terra Santa antes do rei Francês, por ganância se lançou contra os turcos, em Doriléia, sem esperar reforços e foi arrasado, “os sobreviventes juntaram-se ao exército francês, que chegou logo depois, porém os constantes atritos entre alemães e franceses dificultavam uma ação conjunta dos cristãos” (FRANCO JR, 1999, p. 36). Todos esses elementos contribuem para o total fracasso desta Cruzada, “(...) Luís VII e Conrado III mostram-se impotentes para socorrer (...)” (LE GOFF, 2005, p. 67), algo que Orlando Paes Filho não faz menção em esconder, o discurso do autor nos romances é justamente o de apresentar os erros cometidos durante esta empreitada, afim de, conscientizar o público leitor que talvez os valores cristãos atualmente estejam se desvirtuando, assim como, nos parece ter sido naquele período. Assim o autor quer passar aos leitores que é 5   

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preciso renovar a fé no mundo cristão, deixando de lado a ganância e os desejos materiais que aqueles monarcas demonstraram ter. Justamente por tentar promover esta reflexão sobre os valores cristãos é que podemos chegar à conclusão de que a escolha do autor de não dá muito destaque ao desfecho da Cruzada não foi mera coincidência, já que a mesma, enfatizando, foi um total fracasso. Em Angus: o Guerreiro de Deus as informações finais sobre o empreendimento belicoso são apontados apenas em um capítulo chamado A Dama das Pernas de Ouro e são narrados por Everard de Barres em “seu livro de crônicas”, são apontados a derrota em Anatólia, a investida mal planejada contra os Damascenos e a união entre Conrado III e Manuel Comeno contra Rogério da Sicilia. Paes Filho faz reproduções interessantes como pode ser visto, o que pressupõe que o autor desenvolveu pesquisas e levantamentos apurados, afim de, produzir um romance histórico mais fidedigno possível. Chamamos à atenção apenas para um detalhe, que é fato de o autor recorrer a termos pos facto em sua narrativa. Ou seja, Paes Filho emprega termos criados pela historiografia e que não eram utilizados in loco. Por exemplo, em muitos momentos o autor utiliza-se das palavras cruzado e cruzada, enquanto que Hilário Franco Jr. recomenda que os termos mais apropriados ao período seriam peregrino e peregrinação da cruz.2 Nas próximas linhas tentaremos nos focar exclusivamente na figura dos Cavaleiros Templários, apontaremos as características particulares que se fazem presentes nos textos de Paes Filho, teceremos críticas e discutiremos a bibliografia disponível sobre o assunto.

2 Mestre Everard: o cavaleiro perfeito.

Mencionamos constantemente até a gora a figura de Everard de Barres, personagem real, Mestre e Cavaleiro da Ordem do Templo, sua figura é notoriamente explorada por Orlando Paes Filho que a todo o momento o coloca como uma personagem de grandes virtudes, a personificação pura do cavaleiro digno em todos os sentidos. O Mestre Everard de Barres parece ter sido escolhido por Paes Filho para agregar os valores que deveriam prevalecer nos corações dos cruzados e dos reis cristãos do oriente.                                                              2

Sobre o assunto ver: FRANCO JR., Hilário. As Cruzadas: Guerra Santa entre Ocidente e Oriente. São Paulo: Editora Moderna, 1999.

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Everard de Barres é introduzido de maneiras diferentes nos dois romances trabalhados aqui. Em Angus: o Guerreiro de Deus, onde Barres possui um destaque maior, Orlando Paes Filho usa um artifício interessante que é a criação de um fictício livro de crônicas redigido pelo nosso Templário, cujo os trechos já foram destacados neste artigo e onde podemos perceber com maior clareza seus sentimentos e os traços de personalidade que o autor quis destacar nele. Em Diário de um Cavaleiro Templário suas aparições se fazem de maneira mais modesta, sendo o perfil romantizado de cavaleiro atribuído ao protagonista do romance, Robert de la Croix. Mas, retornando ao livro de crônicas citado à pouco, notamos que o seu uso se faz muito pertinente ao autor que com a sua utilização consegue apresentar de maneira rápida informações sobre o andamento da Segunda Cruzada e das atividades dos Templários na Terra Santa, como pode ser destacado abaixo: Naqueles dias do ano de graça de Nosso Senhor Jesus Cristo de 1147, eu liderava uma tropa de sessenta irmãos. Galopávamos em direção a um vilarejo na rota dos peregrinos. Notícias davam conta de que estavam sendo atacados por um grupo cristão. Sabíamos tratar-se de aventureiros sem fé e escravos da cobiça, alimentados por relatos sobre as riquezas nos reinos no Oriente. Somavam aos seus delitos, outros igualmente graves, tanto contra peregrinos como contra a gente que os acolhia (PAES FILHO, 2004, p. 17).

A diligência a que se refere Everard de Barres trata do comportamento indevido de Cristãos movidos pela ganância, o que nos faz pensar de novo que Paes Filho deseja embutir em seu discurso a vontade de repensar os valores da Igreja. O Mestre Everard mostra em muitos momentos ser dotado de grande humildade, sempre rodeado pelos cavaleiros do Templo, o que nos remeteria até a uma aproximação da imagem de Cristo e seus apóstolos. Ele se mantém versado às orações, nunca se esquecendo que acima de tudo tinha proferido os santos votos. “Everard era um religioso, um cavaleiro, dirigindo-se a um príncipe da Igreja. (...) Mestre Everard acenou com a cabeça e colocou-se de joelhos, voltando o olhar para o altar e dando continuidade as suas orações” (PAES FILHO, 2006, p. 167). Em alguns momentos ele se esquece de sua posição de superior e abandonando a hierarquia trata seus cavaleiros como seus iguais, como em Diário de um Cavaleiro Templário quando os Cruzados se preparam para partir de Constantinopla em direção à Antioquia: Como um olhar de hesitação pairasse sob os olhos de Everard, não por medo de morte sua ou de seus irmãos, mas por medo de mortes desnecessárias, Richard o animou, relembrando-o de nossa jornada: - Mestre, lembra-se de quando fizemos essa viagem com menos de quarenta homens e sobrevivemos? Acho que com trinta mil chegará em segurança a Antióquia! Emocionou-me 7   

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sua demonstração de amizade, e o mestre o abraçou, despedindo-se (PAES FILHO, 2006, p. 172-173). O Mestre do Templo pode ser considerado perfeito em muitos sentidos se considerarmos tudo o que foi escrito sobre a sua pessoa até agora, e aqueles que se interessarem em ler um dos dois romances trabalhados poderá concluir que muitas outras informações colaboram para a construção da imagem de cavaleiro perfeito. Porém, será que a historiografia concorda com o que o foi posto a partir dos romances? Vejamos a partir de agora o que a bibliografia sugere sobre o Mestre Everard de Barres. O primeiro ponto a destacar é que autores divergem sobre o posicionamento que Everard de Barres ocuparia dentro da hierarquia do Templo durante a Segunda Cruzada. Alain Demurger afirma que na verdade ele não se encontrava na posição de Grão-mestre da Ordem do Templo no momento em que a Segunda Cruzada passa a se desenrolar, ele seria apenas mestre da província da França, como nos confirma a citação. “Em 27 de abril de 1147, cento e trinta cavaleiros do Templo reúnem-se em capítulo em Paris sob a direção do mestre da província da França Évrard des Barres, e na presença do papa [Eugenio III]; fornecerão ao rei Luís VII um contingente, cujo papel se mostrará decisivo” (BULST-THIELE, apud DEMURGER, 2007, p.209). Já Edward Burman, ao contrário, lhe coloca nesta posição afirmando que “o rei Luís ...


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