Pai Contra Mãe, de Machado de Assis PDF

Title Pai Contra Mãe, de Machado de Assis
Author Rayane Morais
Course Literatura Brasileira
Institution Universidade Federal Rural de Pernambuco
Pages 3
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Summary

O trabalho consta como uma resenha crítica acerca de um autor brasileiro chamado João do Rio, cujo texto está contido na seleção de Ítalo Moriconi, contribuindo assim para um maior acervo para a literatura brasileira....


Description

Resenha Crítica - Pai Contra Mãe, de Machado de Assis MORICONI, Ítalo (org). Os Cem melhores contos brasileiros do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. Rayane Vitória Morais de Lima Machado de Assis foi um dos maiores escritores de todos os tempos, isso é certo. Escreveu obras como Memórias Póstumas de Brás Cubas e, a famosa por deixar em aberto as mais variadas interpretações, Dom Casmurro. Assim como foi um ótimo romancista foi também um excelente cronista, sendo este conto parte da obra Relíquias de Casa Velha. O contexto da obra, de uma forma geral, corresponde ao período entre Simbolismo e Modernismo, uma vez que foi publicada em 1906, no entanto, quem conhece um pouco de suas obras sabe que Machado se dividiu em alguns dos importantes movimentos literários, mas, sobretudo, impondo-se bem mais no Realismo. O escritor também enfrentou alguns problemas relacionados à Escravidão, por ser mulato. Assim sendo, este conto, possui um desdobramento mais amplo, de alcance humano, no qual nada é acidental ou episódico. A obra conta a história de um caçador de escravos chamado Cândido Neves que casa-se com Clara, a qual fica grávida mais tarde. Por conta da escassez de escravos fugidos e por sua repentina vaidade de não se submeter a outros empregos, Cândido enfrenta dificuldades em manter sua casa, indo morar de favor na casa de uma senhora amiga de Monica, a tia de Clara. Sem saída, Cândido decide levar o filho à Roda dos Enjeitados, mas no caminho encontra uma escrava fugitiva, Arminda. Mesmo que ela tenha lhe suplicado, por estar grávida, Cândido a entrega ao seu dono e com toda essa agitação, Arminda aborta o filho que esperava. O protagonista volta à sua casa, com seu filho, e dinheiro, dando a justificativa de que "Nem todas as crianças vingam". (ASSIS, 1906 apud MORICONI, 2001, p. 27). Pai contra Mãe apresenta duas temporalidades, posto que, primeiramente, o narrador coloca-se em um momento pós-abolição, explicitando as principais características desse período, mas em outro momento conta a ação, a anterior a esse.

Dentre essa primeira parte, encontra-se uma explicitação informativa e histórica sobre como a narrativa será conduzida. Faz uso do exemplum, gênero literário medieval utilizado para sermões de pregadores da época, porque mostra o ponto de vista da narrativa. É perceptível muito do estilo do autor, posto que muitos dos seus personagens são burgueses e há a exposição de um elemento muito explorado por Machado de Assis, a aparência versus a essência, assim como também a vaidade e a hipocrisia humana. Também se encontra o pessimismo denotado pela hipocrisia social, no qual, causas nobres ocultam interesses impuros. Há articulação entre enredo e as reflexões que ele aciona, a parte introdutória explica as práticas relacionadas ao período de escravidão e as que se fazem presentes quando o "caçador de escravos" as executa, além das angústias as quais sofre em sua profissão - que logicamente não se comparam as dores sentidas pelos escravos que conseguem fugir e logo são capturados pelo protagonista. É nessa construção que um conto melhor se desenvolve na brincadeira de ambientar duas histórias, se essas fossem contadas por outro personagem, se esse fosse o caso de Arminda, a escrava, por exemplo, veríamos um ponto de vista completamente diferente. Participam da história a ironia e o humor sombrio de Machado de Assis, há frases que merecem destaque como: “Eram muitos [escravos], e nem todos gostavam da escravidão. Sucedia ocasionalmente apanharem pancada, e nem todos gostavam de apanhar pancada” (ASSIS, 1906 apud MORICONI, 2001, p. 19) e “não davam que comer, mas davam que rir, e o riso digeria-se sem esforço”. (ASSIS, 1906 apud MORICONI, 2001, p. 21). Afinal de contas qual o escravo que gostaria da escravidão? Como se digere a fome se está passando por ela? Além da ironia clara posta ao final sobre salvar uma criança através da morte de outra, unindo os personagens através das dores da perda de um filho e vítimas de um mesmo sistema: a escravidão. Machado faz uma crítica dura ao comportamento humano na frase final do conto: “Nem todas as crianças vingam”, pois esclarece a nossa pior faceta, a de dar justificativas para os gestos mais baixos, mais reprováveis.

Sobre os aspectos do conto, destaca-se a pouca quantidade de páginas, o espaço reduzido, pois ocorre numa cidade do Rio de Janeiro. O tempo é dado de maneira cronológica, mesmo que não linear, e também há um narrador onisciente, que tudo vê e que tudo sabe, principalmente quanto aos sentimentos dos personagens. Os diálogos são objetivos e constroem a dinâmica do conto: a fala da tia que move Cândido a procurar por solução quanto à falta de dinheiro, o pedido da escrava, a frase final que define o que acontecera. A separação da apresentação é bem definida, assim como a do conflito a falta de dinheiro -, o clímax - quando se encontra a escrava-, e o desfecho. Machado brinca com as definições de conto comentadas por Córtazar, fazendo com que o conto perdure mesmo depois que acabe. Pois, “um bom conto é incisivo, mordente, sem trégua desde as primeiras frases. [...] Um conto é ruim quando é escrito sem essa tensão”. (CÓRTAZAR, 2013, p. 152) Além de brincar com a expectativa do leitor que mesmo conhecendo o protagonista, sua vaidade, sua teimosia, chega a acreditar, nem que por um mísero segundo, que ele libertará a escrava, pois foi tocado com a história de seu próprio filho. Ou seja, o conto cumpre o propósito de deixar que reflitamos sobre o depois que não é esclarecido, sobre situações que cometemos que podem se igualar com as do protagonista. Por gosto pessoal e por qualidade da obra, se este fosse avaliado até cinco estrelas, então receberia a nota máxima.

Referências Bibliográficas CORTÁZAR, Julio. “Alguns aspectos do conto”. In: ______. Valise de Cronópio. Trad.:Davi Arriguci Jr e João Alexandre Barbosa. São Paulo: Perspectiva, 2013. p. 147167....


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