Resumo - Análise do conto Pai contra mãe PDF

Title Resumo - Análise do conto Pai contra mãe
Course Literatura Brasileira
Institution Universidade do Estado do Rio Grande do Norte
Pages 6
File Size 179.5 KB
File Type PDF
Total Downloads 88
Total Views 129

Summary

Resumo - Análise do conto Pai contra mãe...


Description

Resumo: Análise do conto “Pai Contra mãe”, Machado de Assis O conto “Pai contra mãe”, de Machado de Assis, retrata a imagem do Rio de Janeiro do século XIX, abordando a questão da escravidão. A partir disso, apresenta a história de Cândido Neves, Candinho, de 30 anos, um indivíduo pobre que trabalha com o ofício de pegar escravos fugidos. Cândido tem necessidade de estabilidade, já trabalhou em tudo que é ramo, mas não se contenta com emprego algum. Casa-se com Clara, uma moça órfã de vinte e dois anos, que mora com a tia Mônica, com a qual também trabalha como costureira. O sonho do casal sempre foi o de terem uma criança e, quando tal se torna real, surge o problema do sustento do filho. Diante dessa situação, a tia de Clara aconselha Cândido a arrumar um emprego fixo e digno, alertando-o da triste vida que terão e que o filho morrerá de fome, já que a atual ocupação do homem, a de pegar escravos fugidos, está em “crise” com a falta de escravos determinados a fugirem e a andarem pelas localidades já conhecidas por Cândido. Desse modo, pede que a criança seja levada à Roda dos enjeitados *. De início o pedido foi visto como errado, desumano e injusto mas, com a situação agravando-se, com a prolongada escassez de escravos fugidos, Cândido não vê outra saída senão fazer o que lhe pede a tia de sua mulher. Portanto, indo a caminho da Roda, o homem avista uma mulata no outro lado da rua e, lembrando-se do anúncio que viu apresentando uma escrava fugida e de sua recompensa de bom custo, dispõese a capturá-la e assim a acabar de vez com a ideia de entregar-lhe o filho. Deixa a criança com um conhecido da rua e vai em busca da mulher. Consegue fazer tal ato, captura a escrava, cuja afirma que está grávida, e leva-a para a casa do seu proprietário. Porém, a escrava, assustada e desesperada, aborta em meio à situação. O ocorrido nada importou para Cândido, que recebe a recompensa e vai em busca do seu filho, alegre com a ideia de que não vai precisar mais levá-lo para a Roda dos enjeitados. A situação é repassada para Clara e para sua tia, que aceitam o fato e perdoam Cândido, uma vez que conseguiu trazer dinheiro para amenizar a situação de ambos.

* Roda dos enjeitados: tratava-se de um guichê giratório instalado na fachada dos orfanatos; esse dispositivo permitia aos pais depositarem seu filho no anonimato e com toda segurança.

Elementos da narrativa a)

Enredo.



Partes do enredo



Exposição: Introdução e descrição ao tema do conto, escravidão, mostrando

como eram tratados os escravos e o hábito que ambos tinham de praticar a fuga; início da história, com apresentação do protagonista. “A escravidão levou consigo ofícios e aparelhos, como terá sucedido a outras instituições sociais. [...] quando adquiriu o oficio de pegar escravos fugidos”.



Complicação: Desenvolvimento da história de Cândido, mostrando-se suas

características e o desenrolar de sua vida: seu emprego de capturar escravos fugidos, seu casamento com Clara, o nascimento do filho e a péssima situação em que se encontrava por causa da falta de dinheiro. “Tinha uma defeito grave esse homem, não agüentava emprego, nem ofício [...] Mas não sendo a rua infinita ou sequer longa, viria a acabá-la.”



Clímax: O momento em que ele encontra a tão procurada mulata fugida,

Arminda, com o intuito de receber a recompensa. “Foi então que lhe ocorreu entrar por um dos becos que ligavam aquela à Rua da Ajuda. [...], e foi o que ele fez sem querer reconhecer as conseqüências do desastre.”



Desfecho: Com a recompensa em mãos, Cândido pôde amenizar a situação da

família e levar sua criança pra casa. “Quando lá chegou, viu o farmacêutico sozinho, sem o filho que lhe entregara. [...] – Nem todas as crianças vingam, bateu-lhe o coração.”



Conflito (s): o principal e os secundários. O principal conflito encontrado no texto é justamente o fato da falta de

estabilidade do personagem Cândido, cujo trabalhava como “caçador” de escravos

fugidos e, no atual momento, era clara a escassez de tal escravos e, em consequência, a falta de dinheiro. E após se casar com Clara a situação não melhorou, ele, cheio de dívidas, e ela pobre, órfã, e dependente de sua tia Mônica que nada possuía, apenas trabalhava pesado como costureira e quase não dava conta. Com o nascimento do filho isso se agravou, pois significava mais uma boca a alimentar e assim uma vida mais difícil. Tudo isso desencadeou a principal “angústia” presente no conto, que seria a de levar o filho à Roda dos enjeitados. Um exemplo disso encontra-se nesse trecho que mostra parte de um diálogo entre a tia Mônica e Clara, mulher de Cândido: “– Vocês verão a triste vida, suspirava ela. – Mas as outras crianças não nascem também? perguntou Clara. – Nascem, e acham sempre alguma coisa certa que comer, ainda que pouco... – Certa como? – Certa, um emprego, um ofício, uma ocupação, mas em que é que o pai dessa infeliz criatura que aí vem gasta o tempo?”

Podemos considerar como conflitos secundários aqueles que rodeiam o principal, ou seja, que fazem relação com a péssima situação da família de Cândido, a falta de dinheiro, de sustento, de moradia. Como quando o dono da casa onde morava Cândido, em função dos três meses atrasados de aluguel, ameaçou pô-los na rua, acabando mais tarde por cumprir a ameaça. Observa-se isso no trecho que segue: “O credor entrou e recusou sentar-se; deitou os olhos à mobília para ver se daria algo à penhora; achou que pouco. Vinha receber os aluguéis vencidos, não podia esperar mais; se dentro de cinco dias não fosse pago, pô-lo-ia na rua. Não havia trabalhado para regalo dos outros.”

b)

Personagens

c)

Tempo

d)

Ambiente:



Época. A partir da leitura detalhada e observando-se a parte inicial do conto, podemos

perceber que o autor trata da luta que os escravos tinham para conseguirem fugir de seus proprietários e, tendo com base o contexto histórico, pode-se dizer que a história

ambienta-se na época que antecede a abolição da escravatura, basicamente por volta do século XVIII – XIX . Nessa época os escravos eram a principal mãe de obra utilizada, eram eles que faziam todos os serviços determinados por seus proprietários, sendo tratados como objeto, sendo alvos de castigos e maus tratos. Assim como é bem relatado no começo do conto: “O ferro ao pescoço era aplicado aos escravos fujões. Imaginai uma coleira grossa, com a haste grossa também à direita ou à esquerda, até ao alto da cabeça e fechada atrás com chave. Pesava, naturalmente, mas era menos castigo que sinal. Escravo que fugia assim, onde quer que andasse, mostrava um reincidente, e com pouco era pegado.” 

Localização geográfica. Tomando por base o nome das diversas ruas citadas no texto, e por meio de

uma pesquisa, permitiu-se a conclusão de que a história se passa em um ambiente urbano, no Rio de Janeiro. Por exemplo: “Saiu de manhã a ver e indagar pela Rua e Largo da Carioca, Rua do Parto e da Ajuda, onde ela parecia andar, segundo o anúncio.”



Clima psicológico. A partir desse ambiente de escravidão, cria-se um clima violento e brutal, que

se torna possível observar através da descrição das crueldades das quais os escravos eram vítimas, onde pareciam ser transformados em coisas, objetos. Um mundo insano e capitalista que visava apenas o dinheiro e os seus ideais, agarrando a ideia de que os valores, as necessidades e prioridades dos outros de nada valiam. 

Situação econômico-política. A situação econômico-política dos personagens retratam-se pela miséria, as

grandes dificuldades que encontravam, a dependência e a escassez de escravos que tinha como consequência também a falta de dinheiro. Cândido e a família moravam de aluguel, claramente em precárias condições, e mesmo assim foram postos pra fora e obrigados a morar de favor em quartos do fundo da casa de uma senhora velha. É possível perceber também no conto, a indiferença que as pessoas tinham com relação àqueles que viviam em condições de extrema pobreza, e o tratamento de “coisificação” que tinham para com elas. Outro ponto a destacar está no título do conto, “Pai contra mãe”, que estabelece a ideia de extrema pobreza que resulta na luta que obriga o pai (Cândido)

a lutar contra a mãe (Arminda), ambos lutando pela sobrevivência de seus filhos, fazendo com que Cândido entregue Arminda às mãos de seu senhor, sendo quase que o principal responsável pela morte do filho desta.



Moral/religião. A história nos faz criar uma imagem de que o escravo não é ser humano, ao

afirmar que “nem todas as crianças vingam”. Deixa claro o poder da classe dominante e da qual sai vencedor o mais forte, sendo relevante a fraqueza moral e instabilidade emocional de ambas. O ideal da escravidão como algo natural, tornando os negros seres inferiores, que podem ser tratados mercadorias.

e) Narrador

Tema-Assunto-Mensagem O tema tratado no conto é a escravidão, como já foi citado várias vezes nos itens acima. O modo como eram tratados os escravos naquela época, a forma de vida e as crueldades que sofriam. A partir disso, cria-se a o ambiente da história de Cândido, que envolve toda a problemática da falta de estabilidade, do emprego de captura de escravos fugidos, bem como a relação entre patrões e escravos, o nível em que cada um era colocado. A busca por um sustento, principalmente após o nascimento do filho, cujo “molda” o decorrer da história e a luta para que não fosse levado à Roda dos enjeitados; dentre diversos outros acontecimentos. Porém, se olharmos por outro lado, talvez até pelo mesmo, evidencia-se o olhar machadiano focado também para a questão de emergência do trabalhador livre no Brasil escravagista dentro do contexto da miséria. Ou seja, existia a possibilidade de libertação do escravo, entretanto ele ficaria sem trabalho e consequentemente sem o seu “ganha pão”, entregue à mendicância. “A liberdade não passava, nas circunstâncias, de retórica cruel ou de mentira”, de acordo com o crítico Raymundo Faoro, em seu livro sobre a obra de Machado de Assis. E é justamente essa a mensagem que nos é repassada, a imagem do Brasil perante as condições daquela época, as dificuldades encontradas pela maioria da

população, até onde o ser humano pode suportar quando existe a necessidade de sobrevivência, de estabilidade....


Similar Free PDFs