Análise do conto a missa do galo PDF

Title Análise do conto a missa do galo
Author grazyele lopes pereira
Course Leitura E Produção De Textos Ii
Institution Universidade Federal de São Paulo
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Summary

análise do conto A MISSA DO GALO, de Machado de Assis, a fim de analisar a sequência descritiva...


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EFEITO DE SENTIDO DA SEQUÊNCIA DESCRITIVA NO CONTO “A MISSA DO GALO” Resumo: O presente artigo procura analisar o conto A missa do galo de Machado de Assis acerca da sequência descritiva atribuída ao conto para alcançar o efeito de sentido pretendido. A mensagem que o autor quer passar através dos personagens do conto é compreendida pelo recurso de sequência descritiva que ele faz uso e desta maneira esta sequência descritiva também altera o modo do leitor ver os personagens. Aplicada a teoria de KOCH (2011), sobre os sentidos do texto, é possível perceber suas diversas faces utilizando recursos lexicais e sintáticos, que nos levam às sequências descritivas. Constata-se que as utilizações desses recursos permitem que o autor alcance o objetivo almejado. Ou seja, é através desses recursos que se pode alcançar o efeito de sentido desejado pelo autor. Palavras-chave: conto, sequência textual, gênero.

Metodologia: Emprega-se as considerações de Bakthin (2003) de que todo tipo de comunicação social é feita por gêneros do discurso, de Koch (2011) sobre os sentidos do texto e o emprego desses para construir um texto, as avaliações de Piglia (2004) sobre o gênero conto e Lopes e Reis (1987) sobre o papel da descrição no texto.

Considerações iniciais: De acordo com Bakthin (2003), todas as atividades humanas se ligam à utilização da língua. Qualquer tipo de comunicação, seja falada ou escrita, é feita pelos gêneros do discurso, que derivam de enunciados. É a partir destes enunciados que é possível discriminar, baseado em elementos como conteúdo (temático) e por seu estilo verbal, ou seja pela seleção nos recursos da língua – recursos lexicais, fraseológicos e gramaticais – e a construção composicional. Ele divide os gêneros em primários e secundários. Os primários representam as situações comunicacionais cotidianas, que são informais. Exemplo disso são as conversas, em que os indivíduos se comunicam dependendo do que o outro responde. Os secundários, por sua vez, exigem uma elaboração maior e são, portanto, mais complexos. O romance, os textos científicos e o teatro são bons exemplos. Os dois tipos de gêneros se diferem pela complexidade, já que são compostos por enunciados verbais. 1

KOCH (2011) expõe que os tipos textuais se constituem como sequências definidas por propriedades linguísticas intrínsecas, relacionadas a aspectos lexicais, sintáticos, etc. Esses constituintes teóricos abrangem um número limitado de categorias: narração, descrição, argumentação, exposição e injunção; ao passo que os gêneros se configuram como a realização concreta de textos que cumprem uma função comunicativa específica e abrangem um conjunto incomensurável de categorias. A autora ainda defende que todo texto é hipertextual, pois já carrega em si a possibilidade de realizar leituras múltiplas e de gerar uma compreensão de forma não-linear, uma vez que, as informações do texto não são explícitas , mas mobilizam uma série de conhecimentos partilhados e prévios dos leitores, fornecendo pistas para o desvendamento dos sentidos do texto. Partindo do prisma literário, PIGLIA (2004) explica que um conto sempre irá contar duas histórias, que podem aparecer separadas ou entrelaçadas uma à outra. É uma narrativa curta e concisa, diferentemente da novela e do romance. Tendo isso em vista, pode-se dizer que o conto Missa do Galo (ASSIS, 1994) conta suas duas histórias de maneira simultânea e cabe ao leitor separá-las. Ainda no campo literário, LOPES e REIS (1987) elucidam que a descrição possui um papel muito importante na construção da legibilidade e da coerência do texto. Nas palavras dos autores: (...) é sobretudo na interação contínua e fecunda com os eventos diegéticos que a descrição se justifica, ganhando um papel de relevo na construção e na compreensão global da história. É, por exemplo, através da descrição que o narrador produz o , pela acumulação de informantes geradores de verossimilhança; é ainda nos momentos descritivos que regra geral surgem os indícios prospectivos da sequência de ações que essa personagem irá desenvolver (...) (LOPES E REIS, 1987, p. 94).1

Desenvolvimento: O conto Missa do Galo de Machado de Assis (1994) relata o diálogo, na noite de Natal, entre um jovem e uma senhora casada e traída pelo marido. A história é contada do prisma do jovem Sr. Nogueira, que fica bastante intrigado ao se ver em uma história banal e ao mesmo tempo misteriosa e envolta em um clima se sensualidade. É através do olhar do narrador que os acontecimentos são mostrados. 1

LOPES, Ana Cristina M.; REIS, Carlos A. Alves dos . Dicionário de Narratologia. Coimbra. Livraria Almedina.

1987. p. 94.

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A descrição constitui uma forma de organização sequencial que pode ser inserida em diferentes tipos de discurso, sendo no interior dos discursos da ordem do narrar que a tradição e o uso identificam as sequências descritivas, ocorrendo uma articulação entre os segmentos narrativos e descritivos, que pode ser analisada de forma a perceber frases que expressam a progressão cronológica dos acontecimentos e outras que apresentam características do quadro em que se inscreve essa progressão. Embora a maior parte das descrições seja integrada à narração, algumas delas, às vezes, podem desligar-se completamente, tornando-se “entidades textuais autônomas”. Vários são os pontos que chamam atenção na obra, mas o mais curioso é a maneira como a casada e “santa” Conceição se comporta durante a conversa. Da mesma forma que sua lascívia é exaltada, a inocência do rapaz também o é. O autor, ao contar essa história, descreve minuciosamente cada movimento de Conceição. Ele não faz questão de descrever suas personagens. Ele prefere descrever o lado psicológico delas e isso causa uma espécie de ruptura entre o que é real e o que é psicológico. O conto possui várias sequências de descrição e elas alteram o modo como os leitores veem a personagem. A princípio o narrador nos mostra uma pessoa totalmente diferente. Uma mulher doce, resignada, natural, benigna, correta e nada sedutora. A partir do momento que eles ficam a sós na sala, tudo muda e uma outra mulher surge. Uma outra Conceição muito diferente da primeira. Pouco a pouco tinha-se inclinado; fincara os cotovelos no mármore da mesa e metera o rosto entre as mãos espalmadas. Não estando abotoadas as mangas, caíram naturalmente, e eu vi-lhe metade dos braços, muito claros e menos magros do que se poderia supor. (...). As veias eram tão azuis que, apesar da pouca claridade, podia conta-las do meu lugar. (ASSIS, 1994, p. 48)

Ela, pelo seu modo de vestir, seus gestos, suas atitudes, seu andar e suas frases ambíguas, parecia disposta a seduzir o ingênuo estudante. Suas feições não são reveladas, mas deixa pistas para que o leitor observe seus movimentos, como pode-se ver no seguinte trecho: De vez em quando passava a língua pelos beiços, para umedecê-los. Quando acabei de falar, não me disse nada; ficamos assim alguns segundos. Em seguida, vi-a endireitar a cabeça, cruzar os dedos e sobre eles pousar o queixo, tendo os cotovelos nos braços da cadeira, tudo sem desviar de mim os grandes olhos despertos. (ASSIS, 1994, p. 47)

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Nos dois trechos acima percebe-se a presença de verbos de ação, como passava e fincara. Cada elemento permanece em seu lugar não representando uma interação que gere consequências. É o panorama de uma situação. Do ponto de vista discursivo, a escolha da sequência descritiva pode estar relacionada ao objetivo de guiar o olhar do destinatário, ressaltando determinados detalhes do objeto do discurso, através de procedimentos que são determinados pelo objetivo que o autor busca alcançar e o efeito que deseja produzir.

Considerações finais: A maneira como o autor descreve a personagem e os elementos linguísticos que ele mobiliza nesta descrição, alteram o modo como o leitor irá interpretar a história. Os elementos linguísticos utilizados são fundamentas para que essa interpretação se dê de forma a atingir os intuitos do dele. Ao descrever a personagem e suas atitudes da forma como foi feito, Machado de Assis quis, efetivamente, que o leitor a visse de uma forma diferente. Ele alterou com muita maestria a sentido do texto ao mobilizar as sequências descritivas. É justo dizer que essa alteração se dá de forma completa.

Bibliografia: ASSIS, Machado de. A missa do galo. In: Onze Contos de Machado de Assis . São Paulo. Editora Núcleo. Coleção Núcleo de Literatura. 2ª ed. 1994. p. 45 -50 BAKTHIN, M. Os gêneros do discurso. In: Estética da criação verbal. Tradução de Paulo Bezerra. São Paulo: Martins Fontes, 2003 [1951-1953], p. 261-306. KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça, 1993- Desvendando os segredos do texto / Ingedore Grunfeld Villaça – 7. ed. – São Paulo: Cortez, 20 PIGLIA, Ricardo. Teses sobre o conto. In: Formas breves. São Paulo. Cia. das Letras. 2004

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