Resenha do artigo: OS CINE-TEATROS GUARANY (PELOTAS) E INDEPENDÊNCIA (SANTA MARIA): SINGULARIDADES DOS MODOS DE PROTEÇÃO NO RIO GRANDE DO SUL PDF

Title Resenha do artigo: OS CINE-TEATROS GUARANY (PELOTAS) E INDEPENDÊNCIA (SANTA MARIA): SINGULARIDADES DOS MODOS DE PROTEÇÃO NO RIO GRANDE DO SUL
Author Gabriela de Freitas
Course Teoria e História da Arquitetura e Urbanismo VIII
Institution Universidade Federal de Santa Maria
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Resenha crítica do artigo: OS CINE-TEATROS GUARANY (PELOTAS) E INDEPENDÊNCIA (SANTA MARIA): SINGULARIDADES DOS MODOS DE PROTEÇÃO NO RIO GRANDE DO SUL...


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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE TECNOLOGIA CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

RESENHA: OS CINE-TEATROS GUARANY (PELOTAS) E INDEPENDÊNCIA (SANTA MARIA): SINGULARIDADES DOS MODOS DE PROTEÇÃO NO RIO GRANDE DO SUL Disciplina: Teoria e História da Arquitetura e Urbanismo VIII

Santa Maria, RS 2017

RESENHA: OS CINE-TEATROS GUARANY (PELOTAS) E INDEPENDÊNCIA (SANTA MARIA): SINGULARIDADES DOS MODOS DE PROTEÇÃO NO RIO GRANDE DO SUL (MICHELON, F. F. ; TAVARES, Francine Silveira ; SILVA, A. C.) O artigo objeto desta resenha foi publicado no livro “Políticas públicas e patrimônio cultural: ensaios, trajetórias e contextos” publicado pela Editora e Gráfica Universitária da UFPel no ano de 2012, sob organização dos professores Ana María Sosa González, Cláudio de Sá Machado Júnior e Francisca Ferreira Michelon. As autoras do artigo são Francisca Ferreira1 Michelon, Francine Silveira Tavares2 e Amanda Costa da Silva3. As autoras iniciam o artigo apresentando os dois cineteatros que serão analisados sob o ponto de vista de preservação patrimonial, sendo eles o Cine-teatro Guarany, localizado na cidade de Pelotas e o Cine-teatro Independência, em Santa Maria, ambos no estado do Rio Grande do Sul. Apresenta-se a principal questão a ser levantada no artigo: os limites e os contornos das políticas - e da sua aplicação – de proteção ao patrimônio. Os dois cineteatros têm o início de suas trajetórias com similaridades, participando da história dos cines de calçada da segunda década do século 20. O sucesso desse tipo de empreendimento dava-se pela escassez de locais de lazer e entretenimento para a classe média, em cidades que cresciam cada vez mais em população. Logo, as casas de espetáculo e cinema despertaram muito interesse de investidores, e fizeram parte do dia a dia das grandes cidades gaúchas da época. O Cine-teatro Guarany e o Independência fazem parte da memória das cidades aos quais pertencem, porém, as intervenções e a situação em que se encontram hoje os diferem em muitos aspectos, instigando a reflexão sobre a conservação do patrimônio – tanto material quanto imaterial. A história do Cine-teatro Guarany, em Pelotas, inicia-se em maio de 1921 com a exibição de filmes e apresentação de peças, e estende-se até o ano de 1996, momento em que 1 Francisca Ferreira Michelon possui mestrado em Artes Visuais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1993) e doutorado em História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (2001). Orienta alunos em pesquisa nos níveis de graduação e pós-graduação desde 1996. 2 Francine Silveira Tavares possui mestrado em Memória Social e Patrimônio Cultural (2010), especialização em Memória, Identidade e Cultural Material (2006) e graduação em Bacharelado em Artes Visuais - Habilitação em Pintura (2004) pela Universidade Federal de Pelotas. 3 Amanda Costa da Silva possui graduação em Comunicação Social - Habilitação Jornalismo pelo Centro Universitário Franciscano (2006). Possui também Pós-graduação (Especialização) em História, Comunicação e Memória do Brasil Contemporâneo pela Universidade Feevale (2009). É mestre pelo Programa de Pósgraduação em Memória Social e Patrimônio Cultural da Universidade Federal de Pelotas (2013).

encerrou suas atividades. Os sócios Francisco Santos e Franciso Xavier já atuavam no ramo de audiovisual, e dois fatores foram decisivos para que ambos investissem na construção de um Cine-teatro. Esses fatores consistiam nas desvantagens da divisão de lucros quando eram arrendados locais de exibição e uma lei municipal que concedia isenção de impostos por 20 anos a empresa que construísse um teatro “de acordo com o código de Construcções e Reconstrucções”. Para levar adiante a ideia do empreendimento também foi convidado mais um sócio, Rosauro Zambrano, que ficou com o cinema após desfeita a sociedade. Após a inauguração, o teatro Guarany, com 2300 lugares, recebeu diversas peças e filmes, tendo participado da evolução do cinema com a introdução dos filmes coloridos, sonoros e posteriormente em 3D. Na década de 70 iniciou-se o período de falência dos cinemas de calçada, devido a chegada ao Brasil de outras formas de entretenimento e mesmo reprodução de filmes: a televisão em casa e a fita magnética tornaram o cinema acessível e sem a necessidade de deslocamento a grandes teatros. A família Zambrano, dona do Cine Guarany, só encerrou as atividades como local de exibição cinematográfica no ano 1996, quando o negócio tornou-se insustentável devido à baixa procura da população e à falta de autonomia na escolha do filme, data e período de projeção (que eram definidos pelos distribuidores Warner e Paris). Após o encerramento das atividades como cinema, porém, o prédio do Cine-teatro Guarany continuou sendo alugado para eventos, bailes e recebendo apresentações, mantendo sua fachada e salão interno quase sem alterações, o que o difere de outros cinemas da cidade e do estado, que perderam sua essência como patrimônio da memória material e imaterial devido ao descaso dos proprietários e do poder público, tornando-se prédios esvaídos de história. Nesse cenário, encontra-se o Cine Independência, sendo outro objeto de análise do artigo. O Cine Independência foi inaugurado no ano de 1922, em um contexto semelhante ao Cine-teatro Guarany: a população da cidade crescia e ansiava por espaços de entretenimento. Assim, inaugurou-se o Cine-teatro Independência, localizado na Praça Saldanha Marinho, local de destaque na cidade de Santa Maria. A construção tinha inspiração Art Nouveau e 2000 lugares, e, diferentemente do Cine Guarany, o Independência passou por drásticas intervenções arquitetônicas interna e externamente ao longo de sua história. A maior delas ocorreu no ano de 1956, em que se buscou uma modernização completa do espaço: foram instalados um novo aparelho de som estereofônico, novas poltronas e um novo assoalho, além de ser retirado o palco. Mas a maior alteração foi feita na fachada: a estética Art Nouveu foi

substituída por uma fachada que seguia os preceitos modernistas: platibanda, pouca ornamentação e uso de brises. Devido aos mesmos motivos citados anteriormente, que resultaram na falência dos cinemas de calçada, o Cine Independência fez sua última sessão em 1995, segundo relatos da época “com meia dúzia de pessoas”. Ao contrário dos donos do Guarany, os proprietários do Independência não possuíam laços afetivo com o local, por isso, os riscos de demolição e descaracterização eram mais eminentes. Entretanto, em 2003, um grupo de moradores da cidade resolveu se manifestar e tentar impedir a demolição do prédio, fazendo protestos a frente o local. Um período conturbado de falhas administrativas levaram a não concretização do tombamento do local, uma vez que a legislação do município exige que para que o processo seja de fato efetivado haja a realização da homologação do Prefeito, o que não ocorreu. Em abril de 2005, porém, o Prefeito Valdeci Oliveira divulgou a intenção da Prefeitura de adquirir o prédio para que nele fosse instalado o Shopping Popular da cidade, num plano de retirar os camelôs que até então ocupavam a Avenida Rio Branco. O projeto do executivo contava com uma reforma do local, que compreendia a construção de mais dois andares e a reprodução da fachada original (datada de 1922). O Conselho Municipal do Patrimônio Histórico e Cultural (COMPHIC-SM) posicionou-se totalmente contrário a ideia da reforma, afirmando que “o tombamento da fachada atual se deu em defesa da memória cultural da cidade que viu, naquele prédio, e na aparência atual, um monumento à importância do cinema para Santa Maria. Não é copiando uma fachada antiga que isso se fará, mas, preservando a atual, que é a que está na memória da população.” (A RAZÃO, 15/7/2005, p. 10) Apesar das manifestações, o projeto teve continuidade, e hoje o prédio abriga o Shopping Popular e tem a fachada como uma réplica daquela de 1922. A história desses dois cineteatros difere-se e demonstra os dois caminhos que muitas edificações de importância histórica têm ao longo dos anos: o da adaptação aos novos usos, com cuidado e respeito ao patrimônio e a que descaracteriza a edificação e subtrai qualquer ligação de memória que o prédio poderia provocar. O primeiro caso pode ser observado no Cine-teatro Guarany, que apesar de mudanças em suas atividades continua como marco da cidade de Pelotas, mantendo sua fachada e interior preservados. O segundo caso aplica-se ao Cine-teatro Independência: o descaso dos proprietários e as tentativas frustradas de tombamento fizeram com que ele perdesse suas características arquitetônicas e se transformasse em um mero cenário, que não evoca nem aos anos inicias de seu funcionamento (1922) e nem a memória da população que viu sua modernização na década de 50. A crítica estende-se ao fato do Prefeito da cidade decidir qual o caminho a ser seguido em termos de

preservação, sem o respaldo de profissionais de Arquitetura e Urbanismo e outros técnicos ligados a órgãos de preservação do patrimônio público. A análise desses dois casos traz a reflexão da importância da educação patrimonial e da presença de órgãos competes à função de tombar, intervir e orientar proprietários de bens históricos. Cabe ao governo utilizar os conhecimentos dos profissionais capacitados, de modo a não modificar tanto uma edificação que a própria identificação dos moradores com o local seja nula – e assim, perca-se um pedaço de história....


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