Teorias Socias do Brasil - O Homem Cordial PDF

Title Teorias Socias do Brasil - O Homem Cordial
Author Diego Migliorini
Course Teorias Sociais Do Brasil
Institution Fundação Armando Alvares Penteado
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Summary

A partir da análise de um dos “intérpretes do Brasil” apresentados na disciplina de Teorias Sociais do Brasil, este trabalho pretende relacionar o Brasil do passado com o do futuro. Escolheu-se o texto “O Homem Cordial”, extraído do livro “Raízes do Brasil” de Sérgio Buarque de Holanda.
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Description

Introdução A partir da análise de um dos “intérpretes do Brasil” apresentados na disciplina de Teorias Sociais do Brasil, este trabalho pretende relacionar o Brasil do passado com o do futuro. Escolheu-se o texto “O Homem Cordial”, extraído do livro “Raízes do Brasil” de Sérgio Buarque de Holanda. Neste texto, o autor trabalha uma análise crítica do funcionamento do Estado brasileiro, reflexo de seu desenvolvimento social, tendo em vista que aquele não tem uma organização estritamente burocrática. Ademais, há um impedimento da constituição de um Estado moderno, visto que o sistema se baseia no modelo da família patriarcal e não há um preparo técnico do funcionalismo público de fato. O trabalho está organizado em 4 partes. A primeira refere-se à apresentação de Holanda, e trata das características de sua obra. Em seguida, há um análise dos efeitos passados do Brasil e exemplos. Em terceiro, uma discussão sobre o país de hoje e a teoria do autor inserida na atualidade, e, por fim, uma análise sobre o Brasil do futuro. Sérgio Buarque de Holanda, nascido em 1902, foi um importante sociólogo, jornalista e historiador brasileiro que, a partir das raízes históricas do país, estudou o âmbito social-político do Brasil. No começo de sua carreira como jornalista, o autor teve influências de diversos autores do modernismo nacional, como Oswald e Mário de Andrade, e a partir disso, passou a escrever em revistas com temática semelhante. Durante vários anos de sua vida trabalhou também em muitos jornais e órgãos da imprensa nacional, como a “Folha de S. Paulo”. Em 1925, Sérgio concluiu seu estudos em direito, pela - atualmente extinta Universidade do Brasil. Todavia, isso não o impediu de continuar atuando no meio jornalístico e trabalhou, inclusive, como representante da imprensa nacional na Europa. Ao trabalhar internacionalmente, Buarque entrou em contato com inúmeros estudos e acontecimentos que, consequentemente, influenciaram suas obras, como Weber e Dilthey. Além disso, O estudioso teve marcada em sua jornada a ascensão do Nazismo na Alemanha. No programa “Os inventores do Brasil”, exibido pelo Canal Brasil, o apresentador Fernando Henrique Cardoso refere-se ao autor: “Sérgio Buarque viu o povo. Foi um dos poucos intelectuais de sua época que inegavelmente tinham compromisso democrático. Durante o período onde quase toda a esquerda brasileira era dominada pelo partido comunista mais stalinista, Sérgio se opôs. Na União Brasileira de Escritores, ele ficava do outro lado, o que confundia muita gente. Mais tarde, foi fundador do PT, que é de 1980. Morreu pouco tempo depois, em 1982” (Canal Brasil, 2015)

Por fim, o autor escreveu muitos livros importantes para a estruturação da cultura nacional, como “Visão do Paraíso”, “Cobra de Vidro”, “Monções” e “Caminhos e Fronteiras” e a maior contribuição de sua obra foi o estudo sobre o período monárquico e a relação entre monarquia e escravidão. Embora em “Raízes do Brasil” - um de seus livros mais conhecidos - Sérgio Buarque de Holanda tenha reunido variados textos que criticam a grande influência de características portuguesas na sociedade brasileira, o autor teve também grande reconhecimento internacional, participando da Cadeira de Estudos Brasileiros na Universidade de Roma. O Homem Cordial Atendo-se ao termo “homem cordial” é admissível a confusão semântica da palavra. Tanto no sentido positivo da cordialidade e do gesto polido em relação a outrem, quanto em um segundo sentido que assume o homem cordial como articulador de interesses através das relações interpessoais, aquele que age pelo coração, pela emoção, como indica a raiz etimológica da palavra. Ao escrever sobre este tema, o autor restringe sua análise de acordo com o segundo sentido, mostrando que para o homem cordial há uma extensão natural entre o plano público e privado no Estado. Não há ideia de individualidade quando se fala deste termo, pois o homem cordial entende-se na coletividade carecendo “viver nos outros”, em função deles. Como exemplo, percebemos diariamente expressões linguísticas com o sufixo “inho”, que simboliza mascaradamente a ânsia por aproximação e afeto. Ser um homem cordial é utilizar de artifícios psicológicos e comportamentais para viver em sociedade. Essa prática se tornou hábito caracterizando mundialmente o brasileiro e suas atitudes como “o jeitinho brasileiro” de ser, independente das dificuldades de se conseguir algo, o brasileiro dá seu jeitinho para resolvê-lo: furando filas, sendo extremamente sentimental, felicidade exagerada e os diminutivos intimistas. Pode-se dizer que o autor resumiu o povo brasileiro em duas palavras a fim de analisar e ironizar, ao mesmo tempo, o jeito brasileiro ante a caracterização do civil. O que o levou a usar o termo foi a mistura de vários fatores em relação à genealogia brasileira e ao exercício diário de tratar seus concidadãos: “Já se disse, numa expressão feliz, que a contribuição brasileira para a civilização será de cordialidade — daremos ao mundo o “ homem cordial” . A

lhaneza no trato, a hospitalidade, a generosidade, virtudes tão gabadas por estrangeiros que nos visitam, representam, com efeito, um traço definido do caráter brasileiro, na medida, ao menos, em que permanece ativa e fecunda a influência ancestral dos padrões de convívio humano, informados no meio rural e patriarcal. “ (HOLANDA, p.146)

O país foi colonizado por Portugal, que era fortemente alicerçado no patriarcalismo. A lógica patriarcal afirma a autoridade una masculina sobre os subalternos e familiares criando um laço de dependência de favores para com ele, como uma espécie de vassalagem. Ao longo da história, o patriarca manteve o poder inquestionável sobre todos os indivíduos da sociedade podendo tomar decisões que lhe eram arbitrárias: mesmo oficialmente ilegítimas, seu arbítrio as legitimava. Além disso, deixaram também como herança lusa o patrimonialismo vindo do absolutismo português. Este é caracterizado como um Estado livre de bloqueios civis e políticos, deixando o monarca como possuidor da palavra e da ordem. Muitas vezes, as ações desse tipo não possuíam distinções entre os limites públicos e privados, caindo novamente no teor patriarcal, propiciando privilégios aos seus familiares e próximos. Essa disposição de auxílios mútuos caracteriza o vasto cenário político e social brasileiro. Regado por políticos que usam de seu poder governamental para assuntos de interesses pessoais; e por sujeitos civis que ao se basearem na bancada política, se colocam como vítimas incapazes de mudar a situação atual, comprovando que, ao tomarem as mesmas decisões pessoais, são apenas reflexos daquele cenário governamental. O homem cordial de Sérgio Buarque salienta as atitudes brasileiras ligadas às ocupações particulares, deixando as funções públicas para a lei e racionalização. A predisposição ao cargo é substituída pela figura afetiva, vista como ícone de confiança e cordialidade sendo que, na verdade, encontramos apenas indivíduos movidos pelos interesses próprios ou próximos com gestos espontâneos e emotivos, sustentando uma falsa posição adequada ante o social, para sempre ter como finalidade “algo em troca”. “Para ele (Holanda), o homem cordial é o homem do arbítrio, o homem que vai pelo impulso do coração, não é o homem que respeita a regra, portanto não é o democrata, não é homem que constrói tudo a partir da crença de que há uma igualdade básica, não! O cordial no Brasil é o ‘Eu mando mais que você, eu mando, eu sou arbitrário.’ É preciso portanto entender bem o significado dessa obra de Sérgio Buarque de Holanda que é uma obra eminentemente crítica da nossa cultura e não, portanto, apologética.” (Cardoso, F.H. 2015)

Podemos contextualizar essas ideias com a realidade nacional do passado e do presente. O Brasil constituiu-se como uma sociedade com grande desigualdade social, não só entre os povos, mas também entre as grandes regiões do país, que sofrem com a má distribuição de renda e, algumas, com terra infértil e falta de água. O sertão, por exemplo, desenvolveu-se com tremendas dificuldades. Grandes senhores de engenho controlavam, e até hoje, controlam a política e governabilidade da região, imperando sobre o restante dos moradores. A justiça é feita pelas próprias mãos ou através de subordinados, de acordo com interesses de grandes latifundiários. Enquanto isso, o povo é assolado pela fome, sede e por doenças hoje facilmente evitáveis por uma estrutura mínima de saneamento básico. Apesar de o tempo ter passado, a realidade da região pouco mudou, e sua desigualdade e falta de necessidades básicas ainda impera. Essas características foram mais profundamente estudadas pelo jornalista e escritor Euclides da Cunha, outro ‘inventor do Brasil’, em sua obra social ontológica “Os Sertões”. De acordo com Sérgio Buarque de Holanda, a tradição da família sempre se sobressaiu ao Estado. Grandes famílias munidas de poder político e econômico sempre deram preferência a parentes e amigos próximos ao eleger para cargos importantes ou fazer alguma contribuição: ‘Ao contrário, é possível acompanhar, ao longo de nossa história, o predomínio constante das vontades particulares que encontram seu ambiente próprio em círculos fechados e pouco acessíveis a uma ordenação impessoal. Dentre esses círculos, foi sem dúvida o da família aquele que se exprimiu com mais força e desenvoltura em nossa sociedade. E um dos efeitos decisivos da supremacia incontestável, absorvente, do núcleo familiar — a esfera, por excelência dos chamados “ contatos primários” , dos laços de sangue e de coração — está em que as relações que se criam na vida doméstica sempre forneceram o modelo obrigatório de qualquer composição social entre nós. ‘ (HOLANDA. p.146)

Desde o início, a política constitui-se como uma grande ‘troca de favores’. No período regencial, por exemplo, houve uma ampliação de poderes nas mãos dos proprietários de terra, visando excluir soldados e oficiais que não eram fiéis ao império. Os grandes proprietários, então, recebiam a patente de ‘coronel’ para assim recrutarem pessoas que fossem alinhadas aos interesses do governo e das elites. O exercício de poder local pelos latifundiários através dessas práticas ficou conhecida como ‘Coronelismo’. Grandes latifundiários ganhavam cada vez mais espaço na esfera política da nação, e a região rural era o grande palco de decisões políticas.

Os coronéis exerciam poder autoritário sobre a população que, através do voto de cabresto, nome pelo qual ficou conhecida a prática, interferiam na democracia do país. Qualquer pessoa que se negasse a votar no candidato indicado pelo coronel era vítima de violência física ou perseguição pessoal e familiar. Essa medida garantia que os mesmos grupos políticos se consolidassem no poder. O movimento perdurou de 1831 até aproximadamente 1924, tendo seu fim com a implantação do Estado Novo. Entretanto, essas práticas ainda estão completamente enraizadas e presentes em regiões onde imperam os latifúndios e a pobreza, infelizmente ainda a maior parte do país. Nesse contexto, nasceu Virgulino Ferreira da Silva, famoso Lampião, que deixou sua marca na história do cangaço brasileiro. O cangaço foi um movimento de banditismo social que aconteceu no sertão nordestino do fim do século XIX até meados da década de 40. Característico de regiões com grande desigualdade social, o banditismo social se caracteriza pela ação de grupos autônomos paraestatais que tem sua ação voltada para a criminalidade, em sua maioria por ausência de qualquer estrutura estatal que possa garantir qualquer necessidade básica: “O ponto sobre bandidos sociais é que eles são criminosos camponeses a quem o senhor feudal e o Estado enxergam como criminosos, mas que permanecem dentro da sociedade camponesa, e são considerados por seu povo como heróis, como campeões, vingadores, lutadores pela justiça, talvez até mesmo líderes de libertação e, em qualquer caso, homens para serem admirados, ajudados e apoiados.” (HOBSBAWM, p.40)

Antes de entrar para o cangaço, Lampião era considerado diferenciado entre os nordestinos da época, pois era alfabetizado e trabalhava como artesão. Com a grande disputa de terra acontecendo no sertão na época, o cangaceiro perdeu seu pai e jurou vingança, juntando-se ao cangaço em aproximadamente 1918, forma como viveu até o fim de sua vida, 20 anos mais tarde, tendo atuado em diferentes regiões nordestinas. Lampião e o cangaço são exemplo de como parte do Brasil foi construída numa ideia de ‘cada um por si’, travando-se guerras por interesses pessoais, e não em prol da sociedade como um todo, seja do lado dos grandes proprietários de terra, ou dos que lutam contra eles. O cangaceiro era visto como um rebelde, na contramão de interesses políticos e de grandes proprietários, mas de encontro a seus próprios interesses e de pessoas próximas a si. ‘No “ homem cordial” , a vida em sociedade é, de certo modo, uma verdadeira libertação do pavor que ele sente em viver consigo mesmo, em

apoiar-se sobre si próprio em todas as circunstâncias da existência. Sua maneira de expansão para com os outros reduz o indivíduo, cada vez mais, à parcela social, periférica, que no brasileiro — como bom americano — tende a ser a que mais importa. Ela é antes um viver nos outros. Foi a esse tipo humano que se dirigiu Nietzsche, quando disse: “ Vosso mau amor de vós mesmos vos faz do isolamento um cativeiro”.’ (HOLANDA, p.147)

O Brasil do presente Uma maneira clara de detectar os privilégios que a cordialidade exerce até os dias atuais é observando e analisando a forma como a lei é executada. Quando o assunto é política e administração de bens públicos e impessoais no Brasil, a teoria de Sérgio Buarque de Holanda não falha. O homem cordial e sua intrínseca mistura do campo público e privado beiram até mesmo limites éticos fundamentais. Os representantes no poder tendem a ajudar aqueles próximos de si, como familiares e amigos, e aplicar a lei nos que lhe convém, como se pode ver nitidamente nos discursos dos deputados federais durante o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff em maio de 2016. Tal rede de atitudes abre portas à corrupção e à ineficiência do sistema, germinando e refletindo resultados insatisfatórios na vida de toda uma população. Tem-se como um grande exemplo da cordialidade presente na política brasileira, e infelizmente não somente, as ações recentes do juiz Sérgio Moro, reconhecido por liderar a Lava-Jato, chamada por alguns de "gincana para incriminar petistas", e sua demonstração de parcialidade nas decisões tomadas. Vale retomar que todo cidadão tem direito a um julgamento justo, segundo a Constituição Federal de 1988, incluindo o "princípio da imparcialidade do juiz". Moro tem comprovado ao longo de todo o processo que sua opinião sobre o caso e seus valores morais são maiores do que os de toda uma população - ou pior - maiores do que àquele que consta na Constituição. Suas preferências pessoais e partidárias entre PT e PSDB ruminam no campo público, e isso se dá não somente por culpa única do juiz, mas de toda uma extensa gama de outros homens igualmente cordiais à sua volta, apoiadores de Moro e de suas atitudes a partir de uma posição privilegiada. A partir do caso brevemente abordado, pode-se notar que a teoria de Sérgio Buarque de Holanda continua vívida e sua precisão, cirúrgica. O autor foi capaz de explorar algo profundamente inerente ao brasileiro, que o define e o limita, e prova disso é a persistência do mesmo comportamento. Sérgio Buarque nunca se

posicionou definitivamente a respeito do desaparecimento ou sobrevivência do "jeitinho brasileiro", no entanto, sugeriu que quanto maior o progresso, a civilidade e a urbanização, menor a possibilidade da cordialidade se manter presente. Observando alguns outros vários exemplos, pode-se concluir que o fenômeno não se encontra enraizado somente no lençol do positivismo, mas da cultura e da história de origem do país. O Brasil do futuro A questão da impunidade e favoritismos que é típica da polícia nacional e reflete a teoria do homem cordial de forma institucionalizada, parece, contudo, sujeita a forças externas que podem forçar uma alteração dessa dinâmica. Em maio de 2016, jornais como o The New York Times, dos Eua, The Guardian, da Inglaterra e Der Spiegel, da Alemanha, para citar os maiores, publicaram manchetes condenando o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff como “golpista”, “exagerado” e “perigoso”. A repercussão disso no país não foi tão notável devido ao alinhamento das forças conservadoras reformistas com os órgãos midiáticos, aliança tradicional desde a instalação do sistema de concessão de exploração fortemente estruturado durante o período da ditadura militar. Em outubro, o ACNUDH - Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos divulgou a aceitação de uma petição a favor do ex-presidente petista Luís Inácio Lula da Silva, que afirmou sofrer perseguição política da Operação Lava Jato. De fato, Lula vem sendo alvo de várias fases da operação de forma pouco convencional, como sua condução coercitiva para depor à Polícia Federal e a divulgação de gravações de conversas telefônicas, mesmo que as provas, para suscitar uma eventual condenação, não tenham sido apresentadas pela promotoria do processo. Políticos de outros partidos que possuem acusações mais graves e contundentes não tiveram o mesmo tratamento, a maioria não sendo ao menos considerada como réu da operação. Esse posicionamento da ONU, embora ainda primário, é reflexo de uma configuração da política internacional e da sociedade em rede que é capaz de pressionar as forças internas do país para uma reforma política efetiva. A ONU, como cristalização das estruturas de poder que se instalam no pós-guerra, não tem se mostrado particularmente eficaz na resolução de conflitos armados que assolam a comunidade internacional, mas tem um papel importante na consolidação dos

direitos da sociedade civil. Assim como outros órgãos independentes e nãogovernamentais que participam da discussão sobre direitos humanos e são responsáveis por uma vigilância sobre a manutenção das políticas garantidas nesse sentido, a comunidade internacional é fonte legítima de discussão e contestação das políticas que ameaçam as instituições democráticas. Além disso, ao incluir movimentos da sociedade civil que aumentam a demanda por debates importantes, como meio-ambiente, direitos das mulheres, pobreza e educação, a ONU e os órgãos internacionais enriquecem a discussão muitas vezes abafada no contexto doméstico por conflitar com interesses econômicos. É justamente no conflito com esses interesses que reside o maior poder de contestação das organizações internacionais no modo de produção capitalista. Através de embargos econômicos e sanções impostas por membros da comunidade internacional, é possível forçar governos a alterar seu comportamento em relação a certas políticas nacionais que entram em desacordo com os acordos internacionais, alterações que não seriam alcançadas apenas no campo ideológico. É o caso das sanções aplicadas ao Irã a partir de 2006 quando o país se recusou a ceder informações sobre seu programa de enriquecimento de urânio a AIEA, a Agência Internacional de Energia Atômica, subsidiária da ONU. É também o caso da suspensão do Paraguai como membro do Mercosul em junho de 2013 quando do acelerado processo de impeachment do presidente Fernando Lugo em abril do mesmo ano. Contudo, não é objetivo deste trabalho indicar que a solução para a questão apontada por Sérgio Buarque como determinante nas relações sociais e institucionais brasileiras resta apenas na boa vontade dos órgãos internacionais. Esta estrutura visa apenas indicar a tendência a que estão sujeitos os países e diferentes graus da sociedade civil internacional na contemporaneidade, sob a influência da cooperação e convergência internacional, dificultando aos países exercer sua soberania de forma tirana e exclusiva. É, portanto, o entendimento de uma correlação entre o aumento do acesso à informação e consequente aumento do ativismo e demandas populares por melhora, visto que a sociedade em rede permite o conhecimento das condições de vida de países socialmente mais desenvolvidos e a interação com os membros e organizações de seus movimentos sociais. É fácil enxergar que as condi...


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