1- emoções - Apontamentos 3 PDF

Title 1- emoções - Apontamentos 3
Course Psicologia das Emoções
Institution Universidade da Beira Interior
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Summary

IntroduçãoA expressão facial é um meio fundamental para a comunicação em várias espécies e é reconhecida como um elemento crítico que regula as interações sociais e as relações interpessoais (Kunz, Chen, Lautenbacher, Vachon-Presseau & Rainville, 2011). Esta incorpora a maioria da informação vis...


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UC: Psicologia da Emoções

Introdução

A expressão facial é um meio fundamental para a comunicação em várias espécies e é reconhecida como um elemento crítico que regula as interações sociais e as relações interpessoais (Kunz, Chen, Lautenbacher, Vachon-Presseau & Rainville, 2011). Esta incorpora a maioria da informação visual usada para comunicar emoções e intenções aos outros. Como resultado, os humanos têm desenvolvido uma capacidade específica para compreender as expressões faciais dos outros e para obter uma impressão imediata dos seus estados emocionais. Estes processos são altamente adaptativos a um mundo que exige constante reação, e que normalmente antecipa os comportamentos dos outros (Prigent, Amorim & Oliveira, 2017). O ser humano poderá demonstrar as suas emoções através de diversos canais, o sistema auditivo, o sistema somatossensorial, o sistema olfativo e o sistema visual. A capacidade para discriminar as expressões faciais surge nos primeiros 5 a 6 meses de vida, e as respostas neurais e a função da amígdala têm um papel decisivo no desenvolvimento emocional infantil (Magalhães, 2011). A codificação dos estados afetivos em expressões faciais é, em grande parte, inata, contudo, o grau com que esse meio é usado para exibir abertamente as emoções pode variar de pessoa para pessoa. A expressividade facial pode variar entre alta expressividade a estoicismo (no qual nenhuma expressão facial é mostrada apesar dos relatos subjetivos indicarem fortes experiências emocionais). Posto isto, tem sido sugerido que a falta de expressividade reflete um controlo inibitório aprendido, regulado pelas normas sociais sobre como e quando se deve expressar emoções. Deste modo, a expressão comportamental das emoções seria considerada uma “resposta padrão” (Kunz, Chen, Lautenbacher, Vachon-Presseau & Rainville, 2011). Tendo em conta o importante papel das expressões faciais nas interações sociais, não é surpreendente o facto de que muitos estudos tenham sido realizados examinando a base neural da comunicação dos estados afetivos através das expressões faciais. Estes estudos sugerem a existência de uma rede de regiões subcorticais e corticais que contribuem para a exibição de expressões faciais espontâneas e voluntárias. Estudos comportamentais sugerem o envolvimento do córtex frontal na regulação das expressões faciais (Kunz, Chen, Lautenbacher, Vachon-Presseau & Rainville, 2011).

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A tendência de expressar ou não estados afetivos através das expressões faciais desenvolve-se durante a infância, com os pais geralmente desencorajando a forte demonstração de emoções. Por exemplo, um estudo demonstrou que crianças entre os oito e os doze anos, foram capazes de suprimir a expressão facial da dor quando lhes solicitado, estas relataram que às vezes suprimem a expressão para evitar constrangimento perante os colegas ou para evitar preocupação por parte dos pais. Concluíram que a tendência para suprimir a expressão facial da dor parece ser um comportamento aprendido que pode ser benéfico em alguns contextos sociais (Kunz, Chen, Lautenbacher, Vachon-Presseau & Rainville, 2011). Acredita-se que as respostas faciais à dor sejam um ato de comunicação e, como tal, provavelmente são afetadas pela relação entre emissor e recetor. A comunicação da dor pode ser definida como “ação”, “interação” e “transação”. Enquanto a “ação” pode ser considerada uma propensão individual ou um impulso para mostrar a dor através da manifestação do comportamento, a “interação” e a “transação” exigem a consideração de um recetor que apenas descodifica a mensagem comportamental da dor ou que depois reage para o remetente, respetivamente (Karmann, Lautenbacher, Bauer & Kunz, 2014). Certas características dos parceiros em “interação” ou “transação” podem constituir influências. Uma variável que pode ter influência e que deve ser considerada é o sexo do observador, por exemplo, o relato verbal subjetivo da dor pode variar de acordo com o sexo do recetor, sendo que os homens relatam menos dor se o observador for do sexo feminino. Mostrar o mesmo tipo de resposta, independentemente da relação entre o emissor e o observador, provavelmente preserva o reconhecimento essencial da expressão facial da dor (Karmann, Lautenbacher, Bauer & Kunz, 2014). As respostas faciais da dor não se caracterizam apenas pelo grau de expressividade, mas também pelos elementos da linguagem facial usadas para comunicar a dor (tipos de respostas faciais). Sabe-se que a dor é sinalizada por um número limitado de ações faciais, que ocorrem em diferentes modalidades da dor experimental, bem como, em condições experimentais e clínicas da dor de maneira aparentemente uniforme. Mesmo que a variação dentro do número limitado das ações faciais seja pequena, tem relevância comunicativa, na presença de um íntimo, um indivíduo pode, por exemplo, favorecer a sinalização da dor desagradável através da contração da sobrancelha e do seu levantamento, enquanto que sozinho o mesmo 2

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indivíduo pode expressar seletivamente a dimensão sensorial da sua dor contraindo os músculos ao redor dos olhos (Karmann, Lautenbacher, Bauer & Kunz, 2014). Dado que as respostas faciais da dor podem ser um poderoso meio de provocar empatia e apoio social no observador é razoável comunicar a dor em maior grau para com os observadores que são simpáticos, pois estes têm mais probabilidade de oferecer ajuda. Um estudo demonstrou que a quantidade de tempo que dois indivíduos comumente gastam um com o outro prediz se esses indivíduos cuidam e interpretam corretamente o comportamento da dor um do outro. Com isto, parece sensato que um indivíduo exiba a dor mais abertamente para com observadores com quem passa mais tempo, por exemplo, parceiro, e que podem estar mais dispostos a atender à sua dor e mais capazes de descodificar a mensagem enviada (Karmann, Lautenbacher, Bauer & Kunz, 2014).

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Principais aspetos apresentados pelo orador O professor começou a aula por referir a divisão desta em três partes, sendo a primeira acerca das representações dinâmicas; a segunda sobre estudos de álgebra cognitiva da emoção e dor; e a última relativa à possível convergência entre os temas anteriores. Relativamente à primeira parte, foi nos apresentado o fenómeno de representações dinâmicas, ou seja, o modo como uma imagem é representada internamente e que inclui também a dimensão do tempo, de forma necessária, de forma intrínseca. Isto é, o que é representado não é a imagem estática, mas sim uma imagem incluindo uma representação, que abrange o que sabemos sempre ser. A consequência de ser incluída esta dimensão do tempo, é que num mundo gravitacional, a representação feita tem em si um elemento transformador. Por exemplo, se observarmos uma fotografia instantânea de uma criança a saltar, ao relembrá-la a criança estará mais perto do solo, isto porque vivemos num mundo gravitacional, onde um objeto sem suporte tende a cair. Um interesse comum destas representações passa por terem uma importante função de resolver um problema da nossa perceção, sendo que esta está condenada a viver no passado, por causa dos atrasos neurais. Têm também a vantagem de criarem um mecanismo de previsão. Na segunda parte, começa por questionar o que se deve considerar como fonte de expressão facial, afirmando que existe um debate muito grande acerca da questão. Mencionou a existência de vários pontos de vista e métodos de análise, ressaltando a abordagem de Ekman e Friesen, nomeadamente o FACS. Este descreve todo o reportório de unidades de movimentos observáveis na face (designados como unidades de ação) em resultado da contração da musculatura facial (base anatômica). Foi escolhido porque é operacional e tem um vocabulário comum a todos, tendo como principais vantagens, a codificação “exaustiva” do leque integral de comportamentos faciais e uma separação clara entre descrição e inferência (as unidades de ação fornecem um vocabulário transversal e teoricamente neutro). Para fazer um estudo

funcional com o FACS, é preciso converter as unidades de ação em variáveis experimentais, utilizando faces sintéticas realistas como estímulos. A investigação com este sistema admite duas direções: a medida do comportamento facial “espontâneo” (a face como variável dependente ou o “ponto de vista” do codificador); e o estudo da expressão facial do ponto de vista do observador (a face como variável independente, afetando o comportamento – julgamento – dos observadores). Foram apresentados alguns dados de investigação de vários estudos em que se observa a relação com as representações dinâmicas, em que se destacam alguns pontos. Quanto mais extrema a emoção maior a artificialidade e menos intensidade percebida, ou seja, quanto mais alta a intensidade da UA9 e UA10, mais baixa é a naturalidade. Isto pode ter relação com o que sabe sobre os profissionais de saúde poderem negligenciar ou desvalorizar as altas intensidades de expressão (porque não são vistos como naturais). Na representação da emoção da tristeza, por exemplo, juntar mais intensidade e mais unidades de ação, diminui a naturalidade, isto acontece também com a alegria e a repugnância. Existem emoções que têm em si próprias uma espécie de natureza intensiva, que faz parte em certo sentido do protótipo, e outras não, o que pode explicar porque é que em algumas emoções como a dor, a naturalidade cai com o aumento da intensidade. Mencionou o desenvolvimento do “Body Action and Posture (BAP) coding system” que visa fazer com o corpo, aquilo que o FACS faz com a face. Fornece descrições de posturas/ações corporais a diferentes níveis de expressão: ao nível anatómico, da forma e funcional. Os dois últimos níveis envolvem a consideração da dinâmica temporal do movimento. Diferentemente do FACS, o BAP não codifica a intensidade. Por fim na parte três, é criada a ligação entre as representações dinâmicas e o que foi referido acerca da abordagem da integração da informação expressiva. Foi feita a referência a um estudo com faces manipuladas sinteticamente, que envolvem as mesmas unidades da ação da dor. Sendo que neste estudo, não existe uma verdadeira combinação fatorial dos níveis das faces, pois não estão a ser combinadas a todos os níveis, os resultados divergiram dos referidos anteriormente. Um dado adquirido importante é que sendo utilizadas as unidades de ação inferiores da face existem altas intensidades. Num vídeo é apresentado uma expressão de dor a acontecer, que quando atinge uma certa intensidade desaparece e fica uma imagem pixilizada, ou seja, deixa de se poder ver. Depois da imagem desaparecer, apresentava-se uma face estanque e era colocada a questão “Esta face tem uma

expressão de dor mais ou menos intensa do que a última?”. Com isto, era recriada uma situação representacional com expressões dinâmicas de dor. As pessoas parecem ter uma espécie de conhecimento implícito sobre o grau até onde as unidades de ação podem ir, ou seja, um conhecimento implícito anatómico de até onde aquela expressão pode ir no seu máximo. Estas utilizam então as intensidades como um regulador, mas também, o conhecimento delas próprias da dinâmica muscular da expressão. Se for verdade que a extrapolação acontece com base no nosso sistema muscular expressivo, pode ter relação com os neurónios espelhos, isto é, observar algo no outro que eu próprio faço e aquela perceção de atividade muscular, gera a minha própria atividade muscular, e ao gerar essa imitação facial, eu próprio sinto a dor do outro e posso antecipar a dor do outro. Isto poderia ser um mecanismo de empatia para com quem tem dor, sobretudo quando a dor ainda tem baixa intensidade.

Principais conclusões

Ao longo do desenvolvimento do ser humano, as interações sociais estão sempre presentes e, por isso, os indivíduos desenvolveram habilidades específicas para percecionar e perceber as expressões faciais dos outros, nomeadamente a emoção da dor. Algumas dessas habilidades baseiam-se em mecanismos de predição/antecipação, voluntários ou involuntários. A um nível representacional, é sugerido que sentir emoções com frequência depende da nossa antecipação das situações com uma interação dialética entre “o que é” e “o que não é ainda”. Além disso, a antecipação de situações futuras pode induzir uma emoção (Prigent, Amorim & Oliveira, 2017). Tem sido proposto que, quando os indivíduos observam uma expressão facial dinâmica, involuntariamente antecipam como é que os estados emocionais das pessoas se manifestarão no futuro. Este fenómeno referido como “antecipação emocional”, tem sido enfatizado mais precisamente através da medição de uma forma de viés de perceção conhecido como “representação dinâmica”. Esta representação foi originalmente estabelecida em estudos que envolviam objetos em movimento, correspondendo ao fenômeno de que a memória de um observador para a posição final de um alvo subitamente desaparecido é deslocada ao longo do tempo observado. De particular interesse, as representações dinâmicas também foram

medidas por expressões faciais dinâmicas de emoções distintas: medo, alegria, desgosto, tristeza e raiva. A antecipação emocional indexada em termos de representação dinâmica tem

mostrado operar tanto para frente (polarização de memória positiva) quanto para trás (polarização negativa de memória), dependendo da emoção apresentada e da sua intensidade, da tarefa proposta, o envolvimento emocional e o tempo de resposta (Prigent, Amorim & Oliveira, 2017). A expressão facial da dor é particularmente propensa à antecipação automática dos seus futuros níveis de intensidade, neste caso as expressões faciais são concebidas como sendo caracterizadas pela combinação do tipo e do número dos músculos faciais contraídos, e pela intensidade da sua contração. O FACS, usado nas experiências descritas pelo orador, fornece uma estrutura para a descrição das expressões faciais em termos de unidades de ação. As três principais unidades de ação da expressão facial da dor são a UA4, movimento do sobrolho, as unidades 6 e 7, subida da bochecha e tensão da pálpebra respetivamente, e as unidades 9 e 10, que correspondem ao enrugamento do nariz e à contração do lábio superior (Prigent, Amorim & Oliveira, 2017). O programa FACS apesar de ter como cofundador Ekamn, defensor das teorias das emoções discretas, nas quais a existência de estados emocionais primários ou emoções básicas, a que correspondem “expressões faciais prototípicas” e universais a todas as culturas, possui uma linguagem comum e teoricamente neutra. Ou seja, independentemente da teoria ou ponto de vista tido em conta é possível a sua aplicação (De Sousa, Oliveira, Marques & Silva, 2014). Por exemplo, adeptos das conceções dimensionais da emoção, como J. Russell, consideram no reconhecimento duma emoção na face um processo de inferência de significado pelo observador, fundamentalmente dependente do contexto e baseado na deteção automática de informações afetivas pré-emocionais como a valência (caráter positivo/agradável negativo/desagradável)

e

ativação/arousal

(calma-agitação).

Russel

fez

a

correspondência entre cada uma das unidades de ação em prazer e arousal, isto é, traduziu o vocabulário das conceções dimensionais no vocabulário das unidades de ação (Silva, 2017). Outro exemplo, são os modelos componenciais, que contam como defensor Scherer, que defendem que as expressões emocionais resultam de uma série de avaliações consecutivas das situações (até que ponto a situação suscita prazer ou desprazer, até que ponto posso dominá-la, até que ponto é obstrutiva em relação aos meus objetivos) que vão dando lugar a diferentes movimentos da face, que por acumulação resultam numa espécie de expressão global. Tudo isto resulta na ativação de certas unidades de ação que posteriormente, originam uma expressão final. Portanto, todas estas teorias utilizam/não se importam de utilizar o vocabulário das unidades de ação.

Para concluir, estudos fornecem evidências de que a antecipação involuntária de um estado doloroso (indexado por representações dinâmicas) ao observar uma expressão facial de dor pode variar tanto em direção e magnitude, dependendo do nível de dor percebida, que por sua vez varia em função de dois tipos de informação visual facial: o tipo e o número de unidades de ação ativados e a intensidade da ativação (Prigent, Amorim & Oliveira, 2017)....


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