A cidade ideal de Platão: O papel da educação e da justiça PDF

Title A cidade ideal de Platão: O papel da educação e da justiça
Course Teoria Política
Institution Universidade da Beira Interior
Pages 10
File Size 241.3 KB
File Type PDF
Total Downloads 34
Total Views 149

Summary

A cidade ideal de Platão: O papel da educação e da justiça...


Description

Artes e Letras

A Cidade Ideal de Platão O papel da Educação e da Justiça

Ana Araújo

39314

Mariana Pereira

39651

Beatriz Campos

40006

Inês Lopes

40008

Trabalho no âmbito da unidade curricular de

Teoria Política (Licenciatura em Ciências da Comunicação)

Professor Doutor David Santos

Covilhã, dezembro de 2019

Índice

Introdução Biografia de Platão A cosmologia de Platão A teoria do conhecimento Sócrates e os seus interlocutores A origem da cidade O conceito de Justiça de Platão Divisão social da República A educação da juventude na República A educação dos filósofos governantes A prática da Eugenia O papel das mulheres O filósofo rei Crítica Conclusão Webgrafia

2

Universidade da Beira Interior Licenciatura em Ciências da Comunicação

Biografia de Platão Platão (427-347 a.C) nasceu em Atenas, no seio de uma das mais nobres famílias de Atenas. Era um filósofo e matemático que se destacou no período clássico da Grécia antiga. Teve como mestre Sócrates e este por sua vez, foi mestre de Aristóteles. Portanto, estes são considerados os pais da filosofia ocidental. Platão foi autor de inúmeros diálogos filosóficos, num período onde se verificava a transição do oral para a escrita. O seu conhecimento funde-se com o de Sócrates. Podemos ainda, defini-lo como um racionalista, realista, idealista e dualista, dado que as suas ideias serviram de mote/inspiração para as filosofias, anos mais tarde.

Figura 1- Platão, autor da República

A cosmologia platónica A metafísica de Platão divide o mundo em duas realidades completamente distintas: o mundo das ideias e o mundo sensível. O mundo das ideias é considerado invisível, inteligível, já o mundo sensível é aquele que está visível aos nossos olhos, o mundo dos reflexos. Assim sendo, este afirma que apesar dissemelhantes, estas duas realidades estão interligadas, contudo uma apresenta-se como verdadeira e outra como falsa. Por conseguinte, a falsa realidade não passa de uma mera ilusão. Existe assim, um mundo superior, o das ideias e um mundo sensível que é inferior, mas é importante denotar que é o próprio mundo das ideias que dá origem ao sensível.

3

Universidade da Beira Interior Licenciatura em Ciências da Comunicação

Neste sentido, é relevante pensar nesta dicotomia para no fundo entender a posição do próprio homem, tal como o seu destino. Ou seja, o mundo das ideias está associado à alma (razão) e à eternidade, um mundo onde tudo é perfeito e que nos dá acesso ao verdadeiro conhecimento e que só é alcançável após a nossa morte. Este mundo permite o contacto com o divino. Já o mundo sensível está correlacionado com o corpo e a nossa finitude enquanto seres humanos, demonstrando-se como um mundo imperfeito.

Figura 2- Quadro que simboliza a metafísica de Platão

A teoria do conhecimento A teoria do conhecimento platónica está relacionada com a sua conceção do mundo. Deste modo, conhecer para Platão é relembrar o que já sabíamos e esquecemos na encarnação da nossa alma ao longo da nossa existência no mundo sensível. A verdade encontra-se na nossa memória, no entanto com as várias passagens terrestres esta pode ficar obscurecida pelo corpo ou pelo tempo. Como forma de explicar esta situação Platão recorre à alegoria da caverna que é uma alegoria de caráter filosófico-pedagógico. Começa por descrever um conjunto de indivíduos que foram acorrentados na sua infância, sem poderem sair do sítio onde estão. Desta maneira, o seu campo de visão é limitado, uma vez que, só conseguem observar uma parede desse mesmo local. A única iluminação que a caverna tem é uma fogueira que está atrás dos acorrentados e assim faz transparecer na parede que os 4

Universidade da Beira Interior Licenciatura em Ciências da Comunicação

mesmos conseguem percecionar, umas sombras de outros indivíduos e animais. Em virtude de apenas conhecerem aquilo que lhes foi apresentado desde sempre, estes apropriam-se daquelas imagens e tomam-nas como verdadeiras. Todavia, um destes indivíduos consegue soltar-se e quando chega lá a cima fica embebido com tanta beleza que volta atrás para salvar os outros, mas de facto aquilo que aconteceu foi que estes o acharam louco e acabaram por matá-lo (metáfora com a morte de Sócrates). Uma das conclusões a retirar é que a alegoria é uma metáfora da importância da educação na vida dos seres humanos. Aqui podemos de melhor forma compreender a sua ideia da existência dos dois mundos, posto que o sensível foi o que estes indivíduos apreenderam por intermédio dos sentidos, constatando-se assim a sua parcialidade e imperfeição. Para Platão, a verdade e a justiça estão presentes no mundo das ideias e, portanto, estas devem servir como padrão e meta para que assim, no mundo sensível se possa alcançar uma sociedade justa. Sem esquecer que a ascensão da alma ao mundo superior requer muita disciplina e perseverança, em que deve haver uma libertação dos bens materiais para que assim, possam contactar com a verdade e a justiça.

Sócrates e seus interlocutores A República começa com um debate sobre o que é a justiça, onde Sócrates se apresenta no centro. Os interlocutores, que vão aparecendo ao longo da República, são apenas personagens secundárias pois só servem como exemplos para fundamentar ainda mais as ideias de Sócrates, já que nenhum deles está à altura do debate. Durante o diálogo, Sócrates pratica manipulação para controlar a mente do interlocutor e levá-lo para onde ele quer.

A origem da cidade A cidade surgiu das necessidades humanas que são múltiplas e, portanto, forçam os homens a agruparem-se a fim de as satisfazerem. Através da República, Sócrates imagina como seria a cidade ideal. Esta seria dividida em três grupos, onde constariam a parte produtiva, os guerreiros e aqueles que recebem educação. 5

Universidade da Beira Interior Licenciatura em Ciências da Comunicação

Nesta cidade ideal vigorava o Programa Eugenia, em que apenas os melhores se reproduzem com os melhores através de um sorteio viciado de casamentos. Já que o grande problema da política é a diferença entre “o que é meu” e “o que é teu”, Sócrates implanta uma solução que passaria por acabar com a propriedade privada. Tudo passaria a ser do Estado, acabando com a política. A solução para acabar com o nepotismo seria trocar os filhos para que todos fossem cuidados do mesmo modo, tornando-se em filhos da comunidade. Nesta cidade ideal quem governa é aquele que for mais qualificado.

O conceito de justiça de Platão O ponto de partida do diálogo A República é a indagação sobre a justiça. Uma tarefa que, a princípio, parecia não ter solução, pois a grande maioria dos seres humanos, encontram-se “na caverna”. Assim, a cidade aparece como uma confusão de vozes discordantes, sem nenhuma compreensão adequada da essência e da necessidade do todo. A única solução encontrada por Platão, capaz de resolver essa confusão a respeito da justiça e de muitas outras coisas, é a educação: a experiência da caverna reflete, essencialmente, a natureza humana “relativamente à educação ou à sua falta”. Sendo assim, essa natureza precisa, necessariamente, de uma educação adequada que possibilite ao homem sair da confusão da caverna e construir uma cidade justa. A justiça não pode ser tratada unicamente do ponto de vista humano pois esta é questão de metafísica e possui raízes no Além já que, para além da Justiça humana, existe uma Justiça que governa o universo, onde a pena pelo mal e a recompensa pelo bem se constitui como uma forma de Justiça Universal. A Justiça agrada a Deus, sendo que a injustiça o desagrada. Além disto, a Justiça é a causa de bem para aquele que a pratica e a causa de mal para aquele que a transgride. O que se pode retirar desta passagem da “República” de Platão é a de que não se pode ser justo ou injusto apenas nesta vida pois toda a alma irá ser sentenciada no Além, onde se ditará o seu fim. Também é possível considerar que a Justiça praticada entre os homens é uma cópia da Justiça divina. A ordem política platónica dita que os governados obedecem e os governantes ordenam, sempre seguindo uma cooperação entre as partes para que assim se realize Justiça. Assim, a cidade ideal deve ser liderada por uma teocracia, onde a coordenação do trabalho se divide em política, defesa e economia. No entanto, este Estado ideal platónico não existe na Terra, e sim no Além. 6

Universidade da Beira Interior Licenciatura em Ciências da Comunicação

Divisão social da República Platão primeiramente exterioriza a relevância da divisão social, pois a mesma, irá definir a educação de cada membro apropriada a sua função na sociedade. Com efeito, Platão divide a sociedade em três classes, o povo, os guardas e os governantes. Como é de pressagiar, cada um terá um desempenho na sociedade que Platão pretende criar e cada um deve cumprir o seu dever da forma mais rigorosa. A justiça consiste nesta conscientização: cumprir suas obrigações sociais atribuídas. Com algum pasmar se afirma que Platão, na sua índole de Estado Ideal, não anseia por uma sociedade igualitária. O mesmo irá se dedicar com maior crédito aos guardiães, tanto na sua seleção, como também na formação física e intelectual, tonar-se-ia uma elite aristocrática, que se dedicava as coisas do espírito e da guerra.

A educação da juventude na República A educação é um valor que se deve começar o mais prematuramente, pois depois de um determinado período, os jovens já estariam corrompidos pelos valores dos pais, já não existiria pureza para absorver o conhecimento bom e fundamental para formar pessoas dignas de um estado ideal. Nesta plenitude, a educação passa por um longo processo, na qual irá se definindo as aptidões de cada um e sua futura posição na sociedade. Nesta marcha, o ensino é dividido por fases, na sociedade de Platão, as crianças seriam retiradas das famílias aos 10 anos, enquanto os demais habitantes da cidade seriam encaminhados para o campo. Os que prosseguem, iram receber formação baseada na ginástica que fortalecerá o seu copo e perícia na música. Ao mergulhar na obra de Platão, podemos constatar a magnitude da música na sociedade, a sua utilidade para glorificar a cidade, só admitindo na República hinos cívicos, que exaltassem a bravura, a vitória, a pátria. Neste primeiro momento de ensino que irá até os vinte anos, possibilitará aos educadores realização da primeira apuração, destinando os menos qualificados 7

Universidade da Beira Interior Licenciatura em Ciências da Comunicação

intelectualmente, as almas de bronze, para as atividades práticas: agricultura, artesanato, comércio, etc. Os que “sobreviverem” à primeira seleção, iram continuar estudando por mais dez anos, até aos trinta anos, quando haverá nova triagem, definindo os que serão destinados a função de guardiões da cidade designadas de almas de prata, que possuem a virtude da coragem. Esta classe social será examinada com maior circunspeção, pois é dela que surgirão os governantes da República. Por fim, no longo processo de formação do cidadão, os mais notáveis, aqueles que evidenciam aptidões intelectuais eximias, apelidados de almas de ouro, continuariam os estudos na arte da dialética, com o objetivo de alcançar a essência das coisas e transmitilas aos próximos. Esta formação se estenderia por mais vinte anos, até os cinquenta anos, quando poderiam assumir os cargos raríssimos de magistrados na República.

A educação dos filósofos governantes O filósofo rei no entroncamento de um elevado conhecimento, de uma vocação e dedicação será considerado um ser especial e escolhido. Após quarenta anos de formação e desenvolvimento intelectual, o filosofo rei puro, intocável ás forças do mal, superior a todos os desejos e possíveis extravios a outros caminhos, ele deverá ser capaz de ascender a essência das coisas, que está no mundo das ideias, apreender o ser, o bem, a justiça. Os interesses dos comuns mortais passaram despercebidos perante tal desenvolvimento intelectual.

A prática da eugenia Na República de Platão encontramos o programa Eugenia que avança para uma purificação cultural e física dos seus membros. Nele está pressuposta a ideia de que, na cidade ideal, apenas os melhores se podem reproduzir com os melhores. Neste sentido, o que é racional é sortear as relações. Apesar de existir sorteio, os piores ficarão sempre sem par pois não têm aquilo que Platão quer para os seus cidadãos e por isso não podem reproduzir-se. Desta forma, Platão apenas aceitaria relações onde soubesse que daí

8

Universidade da Beira Interior Licenciatura em Ciências da Comunicação

resultavam filhos desejáveis para a República. Podemos ver esses filhos como ocorridos de um processo de seleção, são filhos apenas da Sociedade. Além disto, Platão pretende eliminar os mais fracos, como doentes, inválidos ou inferiores. A ideia de Platão relativa a estas pessoas é deixá-las morrer, uma vez que, para ele, é a única coisa a fazer com tais pessoas. Para o bem da Sociedade, não poderiam viver, pois, constituíam-se como membros indesejáveis que não iam de acordo com os ideais de cidadão da República. Posto isto, compreende-se que não há aqui espaço para qualquer liberdade. É uma sociedade onde tudo é controlado, desde as relações à própria vida das pessoas. É de notar que iriam gerar-se descontentamentos por parte do povo. É por isso que Platão faria tudo em segredo para evitar revoltas.

O papel das mulheres na República Ao contrário do pensamento da sua altura que menosprezava a mulher, Platão acreditava que esta devia ter uma posição social na República. Na sociedade grega não existe nada semelhante ao que Platão fez em relação ao papel da mulher na sociedade. Deste modo, na sua República, Platão defende a igualdade de géneros. A mulher passa a ter uma convivência livre com os homens. Platão tinha um objetivo maior que resulta deste equilíbrio entre sexos: o da partilha das mulheres para conseguir posteriormente acabar com a família tradicional. Consequentemente, a família constitui-se como uma barreira pois desafia o poder do Estado e, para haver domínio absoluto, é necessário acabar com os laços de sangue uma vez que estes são muito mais fortes do que laços cívicos. Desta forma, a lealdade deve ser sempre para com o Estado e nunca com a família. Ao acabar com a família, controlando as relações e acabando também com o amor, o Estado tem a posse dos filhos que são gerados. Os filhos apenas se produzem para a República. Nesta sociedade não há nada que se possa chamar de seu, nem sequer os próprios filhos, uma vez que é tudo comum. Não existem atos livres, o Estado encontra-se presente em todos os momentos da vida dos seus membros. Por conseguinte, as mulheres são livres e iguais, mas não estão disponíveis para um homem qualquer. São utilizadas para gerar filhos saudáveis e fortes para poderem fazer parte do ideal de cidadão da República. 9

Universidade da Beira Interior Licenciatura em Ciências da Comunicação

O filósofo rei Preparado durante talvez o mais longo tempo de formação de um líder da história para assumir o poder, o filósofo rei governará de acordo com o ideal de justiça da República. Com efeito, esse ideal de justiça constitui-se pelo facto de cada pessoa saber qual o seu papel na sociedade, sem opinar sobre aquilo que não entende. O filósofo rei teve uma formação intensa, aprendeu sobre o mundo que Platão queria que aprendesse, sendo que apenas existia na sua sociedade um pensamento único. A sua República era justa, perfeita. O pensamento de Platão existente na sua sociedade era rígido, sendo que os outros todos foram descartados. Ligado a este aspeto, temos o facto de o filósofo rei ser alguém especial, que foi escolhido para governar por ser o mais próximo da perfeição na República. Este, como o resto dos membros, não tem família, nem bens, nem filhos. Deve ser obedecido cegamente, sem questionar, pois, é aquele que teve acesso à verdade. Quer isto dizer que, de acordo com as ideias de Platão sobre o divino, a sua alma foi aquela que teve mais contacto com o divino no mundo das ideias.

10

Universidade da Beira Interior Licenciatura em Ciências da Comunicação...


Similar Free PDFs