O AUTO DA Compadecida - Analise e resumo da obra PDF

Title O AUTO DA Compadecida - Analise e resumo da obra
Course Literatura Brasileira
Institution Universidade Estadual do Oeste do Paraná
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Analise e resumo da obra...


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O AUTO DA COMPADECIDA

RESUMO

A peça é narrada pelo palhaço e a história se inicia quando Chicó e João Grilo tentam convencer o padre a benzer o cachorro de sua patroa, a mulher do padeiro. Como o padre se nega a benzer e o cachorro morre, o padeiro e sua esposa exigem que o padre faça o enterro do animal. João Grilo diz ao padre que o cachorro tinha um testamento e que lhe deixara dez contos de réis e três para o sacristão, caso rezassem o enterro em latim. Quando o bispo descobre, Grilo inventa que, na verdade, seis contos iriam para a arquidiocese e apenas quatro para paróquia, para que o bispo não arrumasse problemas.

Depois de toda a confusão sobre o enterro do cachorro, João Grilo arma com Chicó para também tirarem vantagem da situação. Manda Chicó enfiar moedas em um gato e esconder uma bexiga de sangue por baixo da camisa, para o caso de o primeiro plano falhar. Como havia perdido seu animal de estimação e também era interesseira, João resolve vender o gato que “descomia” dinheiro para a mulher do padeiro, o gato no qual Chicó tinha colocado moedas. Quando o padeiro descobre, volta à igreja para brigar com João. Neste momento, estão reunidos todos na igreja, pois João estava entregando o dinheiro prometido ao padre, ao bispo e ao sacristão.

Ouvem-se tiros e uma gritaria do lado de fora, era o cangaceiro Severino. Ele entrou na igreja, roubou o dinheiro e matou o bispo, o padre, o sacristão, o padeiro e a mulher. Na hora de matar João Grilo, este lhe dá de presente uma gaita abençoada por Padrinho Padre Cícero que teria o poder de ressuscitar as pessoas.

Para o cangaceiro acreditar, João dá uma facada em Chicó e estoura a bexiga com sangue; Chicó cai e João Grilo toca a gaita enquanto o amigo levanta dançando no ritmo da música. Severino, então, ordena a seu capanga que lhe dê um tiro e depois toque a gaita para que ele possa ir encontrar com Padre Cícero e depois voltar. O capanga obedece, atira, mas quando toca a gaita nada acontece. Chicó e João Grilo se atracam com o capanga e este leva uma facada. Quando os dois estão fugindo com o dinheiro que pegam do defunto

Severino, o capanga reage e mata João Grilo.

No céu, todos se encontram para o juízo final. O diabo e Jesus apresentam as acusações e defesas. João então chama Nossa Senhora para interceder por eles. É o que ela faz. O padre, o bispo, o sacristão, o padeiro e sua mulher são mandados para o purgatório. Severino e o seu capanga são absolvidos e enviados ao paraíso. João simplesmente retorna a seu corpo.

Quando retorna, vê Chicó lhe enterrando, levanta e dá um susto no amigo. Depois de conseguir fazer Chicó acreditar que está vivo, os dois se animam e fazem planos para o dinheiro do enterro. Até que Chicó se lembra da promessa que fez a Nossa Senhora, que daria todo dinheiro caso João sobrevivesse. Depois de uma discussão, decidem entregar todo o dinheiro à Igreja.

CONTEXTO Sobre o autor Ariano Suassuna é um escritor nascido em João Pessoa, Paraíba. Defensor da cultura da sua região, o autor de Auto da compadecida lançou o Movimento Armorial, que se interessava pelo conhecimento e desenvolvimento das formas de expressão populares tradicionais.

Importância do livro Auto da compadecida é uma peça teatral em forma de auto (gênero da literatura que trabalha com elementos cômicos e tem intenção moralizadora). É um drama nordestino apresentado em três atos. Contém elementos da literatura de cordel e está inserido no gênero da comédia, se aproximando, nos traços, do barroco católico brasileiro. Trabalha com a linguagem oral e apresenta também regionalismo através da caracterização do nordeste.

Período Histórico A peça foi escrita em 1955 e encenada pela primeira vez em 1956. Anos mais tarde, foi adaptada para a televisão e para o cinema, em 1999 e 2000 respectivamente.

ANÁLISE A peça trata, de maneira leve e com humor, do drama vivido pelo povo nordestino: acuado pela seca, atormentado pelo medo da fome e em constante luta contra a miséria. Traça o perfil dos sertanejos nordestinos que estão submetidos à opressão e subjugados por famílias de poderosos coronéis donos de terra. Nesse contexto, o personagem de João representa o povo oprimido que tenta sobreviver no sertão, utilizando a única arma do pobre: a inteligência. Fica evidente o cunho de sátira moralizante da peça, através das características de seus personagens. O padeiro e a mulher são avarentos, deixando passar necessidade o empregado enquanto cuidam bem do cachorro. O padre e o bispo, gananciosos, utilizam da autoridade religiosa para enriquecerem. Todos estes são condenados ao purgatório com a interseção de Nossa Senhora. Já Severino e o cangaceiro, apesar de todos os crimes cometidos em vida, são poupados por serem considerados vítimas naquela situação: a seca, a fome e toda a difícil realidade os obrigaram a levar este tipo de vida.

A peça é uma síntese do modelo medieval com o modelo regional: trabalha o tema religioso da moral católica (se aproximando dos temas barrocos), mas inserido no contexto nordestino, ou seja, regional. Por ser um dos objetivos do movimento modernista trabalhar tendências mundiais de forma regional, adaptando-se a nossa realidade, a peça pode ser considerada como uma tendência modernista.

PERSONAGENS - O Palhaço: como a peça é escrita para ser encenada em forma de teatro de rua, o palhaço atua como um apresentador, entrando e saindo da trama e conversando com o público.

- João Grilo: Um homem pobre e astuto que vive arranjando confusões. Trabalha para o Padeiro e é o melhor amigo de Chicó. Usa de sua inteligência para sobreviver.

- Chicó: É medroso quando se trata das confusões de João Grilo. Gosta de contar histórias. Também trabalha para o Padeiro e é o melhor amigo de João.

- O padeiro: Homem avarento, dono da padaria de Taperoá. Esposo de uma mulher infiel.

- A mulher do padeiro: Mulher adultera que se diz santa. Gosta de animais e é interesseira. Assim como o marido, é muito avarenta.

- Padre João: Padre que chefia a paróquia de Taperoá. Age conforme os interesses dos mais poderosos, é avarento e usa de sua autoridade religiosa para obter lucro material.

- Bispo: Assim como o padre, utiliza do cargo para obter lucro.

- Sacristão: é o sacristão da paróquia. Também cede a chantagem de João Grilo na tentativa de enterrar o cachorro quando descobre que ficaria com três contos de réis.

- Antônio Morais: é um major ignorante e autoritário, que usa seu poder para amedrontar os mais pobres.

- Severino: é um cangaceiro que encontrou no crime uma forma de sobrevivência, já que seus pais foram mortos pela Polícia.

- Cangaceiro: É um dos capangas de Severino. Vive fazendo de tudo para agradar seu chefe, ao qual idolatra.

- A Compadecida: É a própria Nossa Senhora. Bondosa e cândida, ela intercede por todos no Julgamento.

- Emanuel: É o próprio Jesus Cristo, e também o juiz do povo, julgando sempre com sabedoria e imparcialidade, mas tem o dom da misericórdia. Nesta versão, ele possui a pele negra, o que causa espanto em alguns.

- Encourado: é a encarnação do Diabo. Vive tentando imitar Manuel, por isso exige reverências pelos lugares onde passa. É o justo promotor do Julgamento, mas diferentemente de Emanuel e da Compadecida, não possui misericórdia.

A peça retoma elementos do teatro popular, contidos nos autos medievais, e da literatura de cordel para exaltar os humildes e satirizar os poderosos e os religiosos que se preocupam apenas com questões materiais. – Leia a análise de O auto da Compadecida Resumo A primeira peripécia narrativa da peça, o enterro do cachorro, pode ser encontrada em diversas obras anteriores, como no cordel "O Dinheiro", de Leandro Gomes de Barros (1865-1918). Nesse cordel, um cachorro também deixara uma soma em dinheiro no testamento com a condição de que fosse “enterrado em latim”. As duas próximas peripécias, ambas encontradas na segunda parte da peça (que pode ser dividida em três atos), apresentam um gato que supostamente “descome” dinheiro e de um instrumento musical que seria capaz de ressuscitar os mortos. Essas duas estruturas narrativas estão no romance de cordel "História do Cavalo que Defecava Dinheiro", também de Leandro Gomes de Barros. Na peça, porém, Suassuna substituiu o cavalo por um gato, certamente para facilitar a encenação. Esse é um exemplo de como uma necessidade prática pode influir na narrativa, obrigando o autor a transformá-la conforme as necessidades impostas pela forma de apresentação. A apropriação da tradição, ao contrário de ser facilitada pela

tematização prévia, é dificultada, pois, ao imitar, é preciso fazer jus a quem se imita, superando-o ou pelo menos igualando-se a ele em qualidade e inventividade. No texto de Leandro Gomes, o instrumento musical capaz de levantar defuntos era uma rabeca e, em Suassuna, passa a ser uma gaita, provavelmente também por causa de uma necessidade cênica. No último ato da peça ocorre o julgamento dos personagens que foram mortos por Severino de Aracaju, e do próprio Severino, morto por uma facada de João Grilo. É impossível não pensar no "Auto da Barca do Inferno", de Gil Vicente, em que uma série de personagens é julgada por seus atos em terra e tem como juízes um anjo e um demônio. A fonte direta de Suassuna, porém, estava mais próxima. É "O Castigo da Soberba", romance popular nordestino, de autoria anônima, no qual a compadecida aparece para salvar um grupo de condenados. Fica patente o cunho de sátira moralizante da peça, que assume uma posição cujo foco está na base da pirâmide social, a melhor maneira de desvelar os discursos mentirosos das autoridades e integrar os homens e mulheres por meio da compaixão, a qual só os desprendidos podem desenvolver. Nesse aspecto, a moral que se depreende da peça é muito semelhante à do cristianismo primitivo, que se baseava no preceito “amai-vos uns aos outros”. Personagens Os personagens de "Auto da Compadecida" são alegóricos, ou seja, não representam indivíduos, mas tipos que devem ser compreendidos de acordo com a posição estrutural que ocupam. A criação desses personagens possibilita que se enxergue a sociedade de uma cidadezinha do Nordeste. É por isso que a peça pode ser chamada sátira social, pois procura reformar os costumes, moralizar e salvar as instituições de sua vulgarização. Palhaço: é o anunciador da peça e também o grande comentador das

situações. Suas falas apresentam muitas vezes um discurso mais direto, que dá a impressão de vir do autor. Na verdade, o Palhaço exerce função metalinguística no espetáculo, ao refletir sobre o próprio mecanismo mágico de produção da imitação e ao suprimir a distância entre realidade e representação. João Grilo: protagonista, personagem pobre e franzino, que usa de sua infinita astúcia para garantir a sobrevivência. Já foi comparado a Macunaíma, o herói sem caráter. Tal comparação, no entanto, revela-se inadequada, já que João Grilo, ao contrário do personagem criado por Mário de Andrade, trabalha de forma dura, ajuda seu grande amigo Chicó e tem como justificativa de suas traquinagens ser assolado por uma pobreza absoluta. O mais acertado seria compará-lo ao personagem picaresco, encontrado no romance medieval Lazarilho de Tormes. Mas nem é preciso ir tão longe, pois Pedro Malazarte – cuja origem ibérica está em Pedro Urdemalas – é o personagem popular mais próximo de João Grilo. Chicó: é o contador de causos, o mentiroso ingênuo que cria histórias apenas para satisfazer um desejo inventivo. Chicó se aproxima do narrador popular, e suas histórias revelam muito do prazer narrativo desinteressado da cultura popular. Chicó e João Grilo são como a dupla de palhaços entre os quais a esperteza é mal repartida — um sempre a tem de mais e o outro, de menos. Padre João: mau sacerdote local, preocupado apenas em angariar fundos para sua aposentadoria. Sacristão: outro exemplo de mau religioso. Bispo: juntamente com o padre João e o sacristão, ajudará a compor o quadro de representação da Igreja corrompida. Antônio Moraes: típico senhor de terras, truculento e poderoso, que se impõe pelo medo, pelo dinheiro e pela força.

Padeiro: representante da burguesia interessada apenas em acumular capital, explora seus empregados e tem acordos com as autoridades da Igreja. Mulher do padeiro: esposa infiel e devassa, tem amor genuíno apenas por seus animais de estimação. Frade: bom sacerdote, serve, no enredo da peça, para salvaguardar a instituição Igreja das críticas do autor. Severino do Aracajú: cangaceiro violento e ignorante. Cangaceiro: ajudante de Severino, seu papel é apenas puxar o gatilho e executar outros personagens. Demônio: ajudante do Diabo, parece disposto a condenar todos os personagens mortos no final do segundo ato. O Encourado (o Diabo): segundo uma crença nordestina, o diabo utiliza roupas de couro e veste-se como um boiadeiro. Funciona como uma espécie de antagonista de João Grilo; como ele, também é astuto, mas acaba sendo derrotado pelo herói. Manuel (Nosso Senhor Jesus Cristo): personagem que simboliza o bem, porém um bem sem misericórdia. É representado por um ator negro, a fim de que isso produza um efeito de estranhamento no público. A Compadecida (Nossa Senhora): heroína da peça, funciona como uma advogada de João Grilo e de seus conterrâneos, derrotando com seus argumentos cheios de misericórdia os planos do Encourado de levar todos ao inferno. Sobre Ariano Suassuna Ariano Suassuna nasceu na cidade de João Pessoa, Paraíba, em 16 de junho de 1927. Quando tinha cerca de três anos de idade, seu pai foi assassinado por motivos políticos durante a Revolução

de 30 e após isso o restante da família mudou-se para Taperoá, no sertão paraibano. Nessa cidade ele realizou seus primeiros estudos e começou a se familiarizar com a linguagem e cultura do sertão nordestino. Em 1942, mudou-se com a família para o Recife, onde terminou seus estudos. Iniciou em 1946 a Faculdade de Direito, onde conhece Hermilo Borba Filho e com ele funda o Teatro do Estudante de Pernambuco. Em 1947, Ariano Suassuna publica sua primeira peça, Uma mulher vestida de sol, com a qual ganhou o prêmio Nicolau Carlos Magno. Em 1950, forma-se em Direito e passa a exercer também a carreira de advogado. Após escrever mais algumas peças, Suassuna publica O Auto da Compadecida em 1955. Dois anos depois, essa peça é encenada pelo Teatro Adolescente do Recife e ganha a medalha de ouro da Associação Brasileira de Críticos Teatrais, projetando o escritor para todo o país. Em 1957, abandona a carreira de advogado para tornar-se professor na Universidade Federal de Pernambuco. No ano seguinte, casa-se com Zélia de Andrade Lima, com a qual teve seis filhos. Mais uma vez junto com Hermilio Borba Filho, funda em 1959 o Teatro Popular do Nordeste. Além disso, foi membro fundador do Conselho Federal de Cultura (1967) e do Conselho Estadual de Cultura de Pernambuco (1968). Em 1969, Suassuna foi nomeado Diretor do Departamento de Extensão Cultural da Universidade Federal de Pernambuco, cargo que ocupou até o ano de 1974. Nessa mesma universidade, doutorou-se em História em 1976 e ocupou o cargo de professor de Estética e Teoria do Teatro, dentre outras matérias, durante mais de trinta anos. Em 1970, lança o Movimento Armorial, que se interessava pelo conhecimento e desenvolvimento das formas de expressão populares

tradicionais. Suas principais obras são: "Uma mulher vestida de sol" (1947), "O castigo da soberba" (1953), "O rico avarento" (1954), "O Auto da Compadecida" (1955), "O santo e a porca" (1957), "A caseira e a Catarina" (1962) e "O Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta" (1971)...


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