AnÁlise - bras cubas - análise do Capítulo CLX – Das negativas, do romance Memórias Póstumas PDF

Title AnÁlise - bras cubas - análise do Capítulo CLX – Das negativas, do romance Memórias Póstumas
Author grazyele lopes pereira
Course Literatura Brasileira Ii
Institution Universidade Federal de São Paulo
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análise do Capítulo CLX – Das negativas, do romance Memórias Póstumas de Brás Cubas, do escritor Machado de Assis,...


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O PERSONAGEM MAIS INSOLENTE DA LITERATURA BRASILEIRA E SUAS ÁCIDAS VERDADES Grazyele Lopes Pereira1 UNIFESP – Universidade Federal de São Paulo

Resumo: O presente texto visa fazer uma análise do Capítulo CLX – Das negativas, do romance Memórias Póstumas de Brás Cubas, do escritor Machado de Assis, acerca de sua personalidade, baseado no fato do narrador ser um defunto-autor e por este motivo, não temer mais as represálias da sociedade por dizer a verdade, da maneira que for e de como e quem isto irá afetar. Uma das personagens mais irônicas e polêmicas de todos os tempos, com Brás Cubas, Machado de Assis de uma maneira irreverente, dá um salto de qualidade em sua carreira e um importante salto na história da literatura brasileira. O último capítulo do livro, narra de maneira sucinta um resumo de sua vida, e de como a maneira que ela foi levada, pode se chegar à conclusão de que não ouve nem perda e nem ganhos em sua estadia pelo mundo, porém, a ultima negativa – o fato de não ter tido filhos – o deixa com um saldo positivo na Terra.

Introdução: Uma das mais célebres e aclamadas obras de todos os tempos da literatura brasileira com certeza é Memórias Póstumas de Brás Cubas, cujo autor Machado de Assis também é conhecido do grande público e cultuado pelos amantes da literatura nacional. O personagem narrador Brás Cubas relata sua vida a partir da morte, narrando os fatos sem ordem cronológica e lógica: os fatos são mencionados à medida que emergem a consciência da personagem, saltando e voltando no tempo, criando desta forma as famosas digressões machadianas, que tornam a narrativa mais lenta, porém salientam o caráter do narrador. Com um toque de humor e ironia, as digressões do narrador conversam com o leitor para comentar um episódio, comentam sobre outra personagem ou outro assunto que seja pertinente de ser registrado, que acabam por revelar ideias do autor sobre a narrativa e a vida. É a partir de Memórias Póstumas, que Machado de Assis atinge o ponto alto de sua obra e dá inicio a sua fase realista: Brás Cubas é o anti-herói burguês, que descreve sua vida sem nenhum pudor e não poupa a verdade. Relata a burguesia da qual pertence 1 87557 Professora Doutora Francine Weiss Riciere Disciplina Literatura Portuguesa II

e toda a sua futilidade nela inserida, porém o próprio Brás Cubas não está disposto a não pertencer a esta burguesia, uma vez que a causa de sua morte foi uma pneumonia contraída enquanto tentava a criação do Emplastro Brás Cubas, que lhe traria glória, fama e dinheiro. São diversos os temas retratados nua e cruamente por Machado nesta obra, com o toque de sarcasmo que a personagem principal traz por não precisar mais dar satisfações ou se preocupar com os outros a sua volta, pois não faz mais parte deste mundo, por isso abandona a polidez e relata os fatos com franqueza. Nesta obra prima da literatura brasileira, a escravidão é relatada sem nenhuma maquiagem, de maneira tão simples e sucinta, que um leitor mais desatento, pode não perceber as alusões do escritor/narrador sobre o período escravocrata do Brasil. Os personagens da elite são descritos em sua forma mais pura e franca, mostrando a futilidade desta classe, desta forma sendo ironizada pelo autor, de forma que o leitor repara na superficialidade e na insignificância de pessoas que tem a personalidade rasa e só se preocupam com o status social. Uma critica feroz a sociedade, uma vez que estavam no início do realismo no Brasil e a literatura realizada até aquele ponto, tinha como base a descrição da vida social e a observação do ambiente. Um detalhe que não é visto em Memórias Póstumas, uma vez que não é retratado nenhum ambiente, não é descrita uma paisagem da natureza como nos antigos romances e nenhum personagem é idealizado e elevado à perfeição. Diferente de escritores como Flaubert, considerado o pai do Realismo, que acreditava que o romance narra a si mesmo, Machado não segue ao modismo é possível identificar quem é o narrador. Este defunto/autor do livro mantém uma peculiar relação com o leitor, uma vez que este é convidado a participar da construção, a se indagar sobre os personagens e também é insultado e provocado pelo narrador. É a partir de sua morte, que Brás de despede da sua civilidade e narra os fatos sem se importar com as implicações. O desenlace de sua vida na terra é o inicio de sua biografia, para um ou mais leitores, tanto faz. E adverte: “Escrevi-a com pena da galhofa e a tinta da melancolia, e não é difícil antever o que poderá sair deste conúbio.” (p.09).

Para esta análise foi utilizado o último capítulo que resume de forma prática a vida de Brás e o seu desfecho, tão como a sua ultima reflexão para com a humanidade. Corpus: CAPÍTULO CLX DAS NEGATIVAS Entre a morte do Quincas Borba e a minha, mediram os sucessos narrados na primeira parte do livro. O principal deles foi a invenção do emplastro Brás Cubas, que morreu comigo, por causa da moléstia que apanhei. Divino emplastro, tu me darias o primeiro lugar entre os homens, acima da ciência e da riqueza, porque eras a genuína e direta inspiração do Céu. O caso determinou o contrário; e aí vos ficais eternamente hipocondríacos. Este último capítulo é todo de negativas. Não alcancei a celebridade do emplastro, não fui ministro, não fui califa, não conheci o casamento. Verdade é que, ao lado dessas faltas, coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com o suor do meu rosto. Mais; não padeci a morte de Dona Plácida, nem a semidemência do Quincas Borba. Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoa imaginará que não houve míngua nem sobra, e conseguintemente que saí quite com a vida. E imaginará mal; porque ao chegar a este outro lado do mistério, achei-me com um pequeno saldo, que é a derradeira negativa deste capítulo de negativas: - Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria. (p.152) Considerações iniciais: Como podemos observar, neste último capítulo Das negativas, Brás Cubas volta ao início da narrativa, retomando para a causa da sua morte e a morte da própria invenção do Emplastro, que lhe daria a fama e o dinheiro. Brás escreve que o “Divino Emplastro” lhe daria o primeiro lugar entre os homens, pois era uma inspiração vinda do Céu, desta forma ele coloca-se em um patamar de importância maior que os demais habitantes da Terra, pois de todos os homens, foi ele que recebeu a inspiração divina da criação do remédio que curaria todos os males da humanidade.

O emplastro se foi junto com seu cadáver, não foi ministro, porque como é habilmente mostrado no CAP. CXXXIX – De como não fui ministro d’estado, Brás não fez nada que o pudesse ter colocado lá. Não se casou também, pois seu primeiro amor Marcela amou-o “durante quinze meses e onze contos de réis, nada menos.” (p.34). Neste trecho é clara a ironia de que Marcela apenas amou Brás enquanto ele lhe vestia de joias e mimos, isto é claro, se um dia Marcela o amou; Eulália é filha de Dona Eusébia, jovem e bonita, porém coxa. O que é motivo o suficiente para o descarado Brás não a mais querer para si; Neste meio tempo, seu pai armou um encontro com Virgília, mas esta preferiu Lobo Neves, um homem mais rico e poderoso, revelando assim também o seu caráter, acabando com o modelo de mulher romântica que outrora era tão cultuado. Mais tarde os dois tornam-se amantes, mas apesar de terem se amado, Virgília nunca cogitou a hipótese de seguir outra vida com Brás, porque era demasiadamente preocupada com o status social. Quando finalmente Brás encontra uma mulher que possa passar o fim de seus dias, Nhá Loló é acometida por uma doença que acaba por levá-la a morte (CAP. CXXV – Epitáfio). Todos os amores efêmeros de Brás são uma clara sátira ao herói romântico, que idealiza a amada sem nenhum defeito, perfeita em um pedestal e inalcançável. Para equilibrar a balança ao lado de suas ambições que não foram alcançadas, Brás ressalta que não precisou comprar o pão com o suor de seu próprio rosto. Nunca trabalhou de verdade e viveu apenas de sua fortuna e herança deixadas pelo pai. Todos os projetos começados eram logo abandonados ou não batalhava com afinco para poder concluí-lo. A única ideia que teve e estava fixa em sua cabeça, com tanta vontade e tantas boas consequências para seu ego, foi o próprio emplastro, que acabou levando-o a morte. Logo se percebe que a personagem colocou a fama, glória e dinheiro a frente de sua própria saúde, o que acabou por levá-lo a morte, sem a possibilidade de conclusão. Ele morre tentando encontrar uma cura para o mundo. Também se vangloria por não ter que amargar a morte de Dona Plácida e a demência de seu amigo Quincas Borba. Em uma atitude egoísta, demonstra que enquanto precisou de Dona Plácida, ela lhe foi útil. Apesar de lhe ter ajudado no passado com cinco contos de réis, não demonstra nenhum carinho ou solidariedade com a morte da idosa. Diz como se não se importasse com mulher que lhe ajudou a concretizar e nutrir seus encontros com Virgília e seu amigo desde os tempos de colégio. Ao final desse balanceamento, Brás encontra uma ultima negativa, mas que lhe deixa

com saldo positivo “- não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria.” (p.152), ou seja, apesar de não ter precisado trabalhar, ter vivido a vida como um solteiro, conhecendo e desmanchando romances com mulheres, não encontra na vida algo que realmente signifique a existência. Machado revela uma visão desiludida da vida e dos homens. Considerações finais: Brás Cubas é o personagem mais atrevido e insolente da história da literatura brasileira. Com suas verdades descaradas, e a narração de toda e qualquer circunstância sem nenhuma culpa, torna-o também o mais sincero. O anti-herói bem humorado, sarcástico e irônico ganhou fama por fazer o que todos têm vontade de fazer e poucos realmente o fazem: dizer a verdade, sem se importar com as consequências. Machado de Assis, colocando como personagem principal um homem tão diferente dos retratados pela literatura mostrou que é necessário retratar a verdadeira vida como ela é, e não mascarada e fantasiosa como se faziam os antigos romances. O personagem pode ser cínico e ter uma postura niilista, mas desta forma, Machado desmascara o cinismo, a hipocrisia, o egoísmo e o interesse pessoal que as pessoas escondem por trás de suas atitudes.

Referências Bibliográficas: ACHCAR & MASSARANDUBA, Francisco e Elizabeth de Mello. Objetivo Caderno Dois. Literatura Frente Dois. In: Realismo no Brasil: Machado de Assis (I e II). Editora CERED – Centro de Recursos Educacionais Ltda. – São Paulo – SP. 2012. (p.55-57) ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas / Machado de Assis. – São Paulo, SP: Ciranda Cultural Editora e Distribuidora Ltda., 2007. BOSI, Alfredo. “O realismo na obra de Machado de Assis”. In: Junqueira, Ivan (Org.). Escolas Literárias no Brasil – Vol.1 Rio De Janeiro: Academia Brasileira De Letras, 2004. GUIMARÃES, Hélio de Seixas. Os leitores de Machado de Assis. O romance Machadiano e o público de literatura no século 19. São Paulo: Nankin Editoral/ EDUSP, 2004....


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