Documento 3 - Análise do Longa metragem Os miseráveis (1998) numa adaptação do romance PDF

Title Documento 3 - Análise do Longa metragem Os miseráveis (1998) numa adaptação do romance
Author Renata Batista
Course História contemporânea 2
Institution Universidade Federal de Alagoas
Pages 4
File Size 135.2 KB
File Type PDF
Total Downloads 20
Total Views 146

Summary

Análise do Longa metragem Os miseráveis (1998) numa adaptação do romance de Victor Hugo. ...


Description

Análise do Longa metragem Os miseráveis (1998) numa adaptação do romance de Victor Hugo. Renata Maria da conceição Batista1

Busca-se com o respectivo texto analisar o longa metragem adaptado do romance de Victor Hugo Os Miseráveis (1998); percebendo o período histórico que marca o início do século XIX (1815-1832) e os movimentos liberais que o perpassam como resultados das novas dinâmicas sociais advindas da Revolução Francesa. Ao caracterizar personagens como Jean Valjean, um ex presidiário que é condenado por 19 anos por roubar um pão, ou de Javert, um investigador de polícia rigoroso e inflexível; Victor Hugo nos faz alusão à momentos históricos pertinentes, pois a partir deles podemos problematizar os contextos históricos que perpassam a França pós Revolução Francesa. A transição do mundo feudal para a sociedade moderna conduziu novas categorias sociais (novas classes sociais e suas relações, burguesia x proletariado), intencionalmente moldados por grupos que necessitam de mão de obra de trabalho nas primeiras fábricas no final do século XVIII na Grã-Bretanha e França por exemplo. Podemos comparar os ideais que advém do iluminismo (séc. XVIII) embasados nas "ciências e na racionalidade do mundo" como criadoras dos mecanismos de sujeição dos indivíduos, estes se fundamentam de forma dialética aos racismos e genocídios do período. Personagens como Javert que persegue Valjean a vida inteira movido por suas ideias de justiça, estes moldados pela criação de mecanismos de poder jurídico que serviam na manutenção e criação de indivíduos que não se tornaram burgueses 2 e, portanto, seriam proletários que trabalhariam nas fábricas. Estes miseráveis como Jean Valjean, encontravamse aos milhares; antes camponeses que produziam e se sustentavam nas tradições da terra 3, acabaram sendo de certa forma impelidos ao banditismo ( Thérnardier) e a prostituição 4 ( Cosette) nos novos centros urbanos. Esta classe burguesa se consolidou num duplo movimento, que se fortaleceu com a expulsão dos camponeses de suas terras (aumento dos impostos e a criação da lei dos pobres em 1834 5) e a criação das primeiras fábricas que necessitavam de mão de obra "livre" 6 possível graças à uma revolução político-legal que foi a Revolução Francesa. 1 Graduanda no curso de História Bacharelado pela Universidade Federal de Alagoas. 2 " A criação de uma grande força de trabalho "livre" constituída dos que não se tornaram burgueses" (HOBSBAWM, Eric. A era das Revoluções: 1789-1848. Editora Paz e Terra: São Paulo, 2009 Pág.114) 3 "A introdução do liberalismo na terra foi uma espécie de bombardeio silencioso que destruiu a estrutura social dos camponeses..." (HOBSBAWM, 2009 Pág.121) 4 Desde do século XV na França " as autoridades municipais praticamente descriminalizaram o estupro nos casos em que as mulheres eram de classe baixa" (FEDERICI, 2004 APUD: ROSSIAUD ,1988 Pág. 86) 5 " A Lei dos Pobres de 1834 foi projetada para tornar a vida tão intolerável para os pobres do campo [levandoos à miséria]. " Levou ao que foi proporcionalmente o maior movimento de emigração do século XIX" (HOBSBAWM,2009 Pág. 115/116) 6 A grande massa da população rural tinha que ser transformada de alguma forma (...) em trabalhadores assalariados, com liberdade de movimento, para o crescente setor não agrícola da economia"(HOBSBAWN, 2009 Pág.112)

O personagem principal, Jean Valjean preso por roubar um pão torna-se emblemático por corresponder a um novo perfil social (que a partir do contato com o Bispo de Digne pôde existir) e que em seguida tornou possível a existência do senhor Madeleine. Valjean transita os extremos dessas duas classes que surgem em nossa sociedade moderna, sendo inicialmente um prisioneiro das galés e sendo obrigado a usar seu documento amarelo de identificação num segundo momento de sua caracterização, recebendo menos do que o devido na venda de sua força braçal. Num outro momento ao transformar-se em Madeleine dono de uma Fábrica, adquire status de burguês, não sendo um nobre, mas possuindo bens e acumulando capital. Na parte final ao conversar com Cosette sobre Marius ele lhe diz que; " Ele lhe dará algo que eu não posso". O que seria isto senão um nome e um status social dignos do título de Barão, título que foi dado ao pai de Marius por Napoleão. Títulos como esses tentavam ser combatidos neste período por serem percebidos como resquícios de um absolutismo que deveria ser derrubado; estas perspectivas tornaram-se possíveis graças a criação dos "Direitos do Homem e do cidadão". Na cena em que o Bispo de Digne absolve Jean Valjean do roubo da prataria podemos relacioná-la a autoridade que a Igreja Católica possuía 7, tendo sua ação em conjunto com as leis jurídicas que estão sendo consolidadas neste período. Não podemos esquecer que um verdadeiro genocídio das comunidades indígenas8 foi feito pelos europeus em nome da civilização e da cristianização. Tamanho era o projeto de colonização que os povos do novo mundo e sua imensa diversidade étnica foram aniquilados; Marius quando dá o dinheiro para Thérnardier o manda ir para as Américas, para ali este poder praticar a liberdade, mesmo que para tal este se encontre exilado de sua terra. Para o Brasil colônia bem o sabemos, as primeiras caravanas vieram abarrotadas de homens condenados pela justiça Portuguesa, pequenos ladrões, homicidas e prostitutas, com o objetivo de povoar o novo mundo. A criação da personagem Fantine remete a uma dupla problemática, uma que se situa no âmbito historiográfico, em que vê a necessidade de uma escrita historiográfica que coloque as mulheres como sujeitos históricos. Que diferença faz saber que as mulheres participaram da Revolução? Com toda certeza, faz toda a diferença. Sendo estas em geral as " que iniciavam e lideravam as revoltas por comida na França desde o século XVII"(FEDERICI, 2004 Pág.140). Pois de todo modo no século XIX tais rebeldias e misérias não haviam desaparecido, mas apareceriam camufladas pelos mecanismos que institucionalizaram a escravidão, e as dinâmicas internacionais de expansão colonial. 9 Para nossa sociedade moderna ocidental, o corpo passa a ser mercadoria, com equivalência de preços e valores, estes constituídos culturalmente; sendo necessários na criação e manutenção de grupos heteronormativos. 10Já o jovem Marius de Potmercy nos representa um personagem que faz parte de uma outra classe, a de estudantes republicanos 11 que tentam derrubar o

7 "Uma das primeiras atitudes da Revolução, a primeira a acender- se e a última a extinguir-se foi a paixão pela irreligiosidade" Tocqueville, Alexis. O Antigo Regime e a Revolução. Editora Universidade de Brasília: Brasília, 1997. Pág. 8 8 " Após tentativas frustradas de converter os "pele-vermelhas" ao cristianismo, os pioneiros massacraram tribos inteiras, seja pela violência direta, seja pela rápida deterioração dos costumes." (VISENTINI Paulo G. Facundes, PEREIRA, DAnalúcia DAnilevicz. HIstória Mundial Contemporânea (17761991) Da Independência dos Estados Unidos ao colcapso da União Soviética. Fundação Albuquerque de Gusmão: Brasília, 2010 Pág.69) 9 FEDERICI, Silvia. Calibã e a Bruxa: mulheres, corpo e acumulação primitiva. Editora Elefante ,2017. 10 FOUCAULT, Michel. A História da sexualidade: a vontade de saber. Editora Graal: Rio de Janeiro, 1988.

absolutismo12. Essa classe média nacionalista demarcava as linhas de um progresso educacional que antes pertenciam somente a uma pequena elite aristocrática. Esses pontos de leitura nos permitem perceber na construção dos personagens de Os miseráveis, representações do que poderiam ser esse período, repleto de conflitos e insurreições 13, (1815 pós batalha de Waterloo) tornando a França e seus arredores seu clímax em relação ao mundo, bem como perceber o início do século XIX como produto dos acontecimentos da Revolução Francesa (1789) e seus ideais de liberté , égalité, fraternité.

11 Estes cavalheiros [que tinha exceto seu nascimento para distingui-los dos outros fazendeiros pobres] eram, a fortaleza de oposição ao absolutismo e a dominação dos magnatas estrangeiros (...)" (HOBSBAWM, 1962 Pág.99) 12 " As forças que mais tarde viriam a produzir o nacionalismo estavam neste estágio em oposição à aliança da tradição, da religião e da pobreza das massas que produziu a mais poderosa resistência ao abuso dos conquistadores e exploradores ocidentais."(HOBSBAWM, 1962 Pág. 108) 13" O primeiro mecanismo [que emergiu com o congresso de Viena] foi o restabelecimento do equilíbrio de poderes na Europa, que funcionou como uma hegemonia coletiva, e, o segundo, a criação de condições de expansão de forças econômicas europeias em níveis globais, (...) impulsionadas pelo Liberalismo econômico internacional, tendo como centro a Grã-Bretanha." (VISENTINI,2010 Pág.81)...


Similar Free PDFs