OS Filósofos Podam A Arvore DO Conhecimento PDF

Title OS Filósofos Podam A Arvore DO Conhecimento
Course Metodologia
Institution Universidade Federal de Rondônia
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- OS FILÓSOFOS PODAM A ARVORE DO CONHECIMENTO: A ESTRATÉGIA EPISTEMOLOGICA DA ENCYCLOPÉDIE. A necessidade de dividir e classificar os fenômenos estendeu-se pra muito além dos arquivos da pólicia, que tentava acompanhar os passos de homens como Diderot; acha-se no cerne do maior empreendimento de Diderot, a Encyclopédie. De fato, o texto supremo do Iluminismo pode parecer surpreendentemente desapontador para qualquer pessoa que o consulte com a expectativa de encontrar as raízes ideológicas da modernidade. Seus dezessete volumes de texto, infólio, incluem tamanha mistura de informações sobre tudo, de A a Z, que não se pode deixar de imaginar por que provocou tal tempestades no século XVIII. A classificação é, portanto, um exercício de poder. Um assunto relegado para o trivium, em vez de quadrivium, ou para as ciências “leves”, em vez das “pesadas”, pode murchar antes mesmo de florescer. Um livro colocado no lugar errado da prateleira pode desaparecer para sempre. Um inimigo definido como menos do humano pode ser aniquilado. Estabelecer categorias e policiá-las é assunto sério. Um filósofo que tentasse remarcar as fronteiras do mundo do conhecimento mexeria com o tabu. Mesmo se mantivesse distancia dos assuntos sagrados, não poderia evitar o perigo; o conhecimento é por sua natureza, ambíguo. Portanto Diderot e d’Alembert se arriscaram muito, ao desmancharem a antiga ordem do conhecimento e traçarem novas linhas entre o conhecido e o desconhecido. O diagrama colocado no cabeçalho da Encyclopédie de Diderot, a famosa árvore do conhecimento, tirada de Bacon e Chambers, representava algo novo e audacioso. Em vez de mostrar que as disciplinas podiam ser deslocadas dentro de um padrão estabelecido, exprimia uma tentativa de construir uma divisa entre o que se conhecia e o incognoscível, de madeira a eliminar a maior parte dos homens que consideravam sagrado no mundo do saber. Acompanhando os philosophes, em suas caprichadas tentativas de podar a árvore do conhecimento que haviam herdado de seus predecessores, podemos formar uma idéia mais clara de tudo que estava em jogo na versão iluminista do enciclopedismo. Diderot e d’Alembert alertaram o leitor para o fato de estarem empenhados em algo mais sério que os garatujas ramistas, e descreveram seu trabalho como uma enciclopédia, ou relato sistemático da “ordem e concatenação do conhecimento humano” , não se tratando apenas de um dicionário, ou compendio de informações arrumando de acordo com a inocente ordem alfabética. A palavra enciclopédia explicou Diderot no Prospectus, provinha do termo grego correspondente a circulo, significando “concatenação das ciências”. Figurativamente expressava a noção de um mundo do conhecimento, que os enciclopedistas podiam circunavegar e mapear. “Mappemonde” era uma metáfora crucial na descrição que faziam do seu trabalho. Ainda mais importante era metáfora da árvore do conhecimento, que comunicava a idéia de que o conhecimento crescia num todo orgânico, apesar da diversidade de seus ramos. Diderot e d’Alembert misturavam metáforas em pontos-chaves. A mistura de metáforas sugeria o efeito desconcertante da combinação de categorias. A própria tentativa de impor uma nova ordem ao mundo tornou os enciclopedistas conscientes das arbitrariedades de toda ordenação. O que um filosofo unira, outro poderia desunir. A verdadeira filosofia ensinava a modéstia. Demonstrava que nada podemos saber alem do que nos vem da sensação e da reflexão. Locke viabilizou o que Bacon começara, e Bacon começara por esboçar uma arvore do conhecimento. Portanto, uma versão lockiana da árvore de Bacon poderia servir de exemplo para a moderna Summa de tudo que o homem conhece. Diderot e d’Alembert poderiam ter selecionado outras arvores, na floresta de símbolos do conhecimento sistemático. Porfírio e Raymond Lull anteciparam Bacon, e Hobbes sucedeu-o. O que vem mais ao caso, uma arvore inteiramente desenvolvida se erguia no inicio da Cyclopaedia de Ephraim Chambers, que Diderot e d’Alembert utilizaram como fonte principal. O próprio Chambers insistira na importância de apresentar o conhecimento de maneira mais sistemática, se distingue de seus predecessores ao propor uma visão

do conhecimento como um todo integrado. Como Bacon, Chambers representou divisões de conhecimento como ramos de uma arvore, que tirou das três principais faculdades da mente: memória, a fonte do conhecimento histórico, imaginação, a fonte de poesia, e razão, a fonte da filosofia. O sagrado e o secular corriam juntos através de todas as suas ramificações. A árvore do conhecimento de Bacon, ao contrario da arvore de Chambers, realmente sugeria que as artes e as ciências desenvolviam-se a partir das faculdades da mente. Para Bacon, a história eclesiástica tinha uma complexa série de subdivisões, incluindo a história da Providencia, que demonstrava a mãe de Deus em ação nas questões humanas, para “confutação daqueles que estão sem Deus no mundo”. O lugar da historia natural, nas duas árvores, é exatamente o contrario. Bacon considerou-o um ramo “deficiente”, que precisava desenvolver-se, especialmente na área das artes mecânicas. Diderot e d’Alembert não procuravam a mão de Deus no mundo, mas, em vez disto, analisaram o trabalho dos homens que forjavam sua própria felicidade. Onde Bacon via escuridão, eles viam luz e se orgulhavam de seu papel de abastecedores do Iluminismo. Rousseau apresentava um problema particularmente embaraçoso porque seu Discours sur lês sciences et les arts minava todo o empreendimento enciclopédico. D’Alembert contornou esta dificuldade comentando que a colaboração de Rousseau para a Encyclopédie de fato contradizia sua paradoxal depreciação de valor das artes e das ciências. Apesar das diferenças portanto, toda a população de filósofos parecia avançar na mesma direção, varrendo a superstição que estava a frente e carregando triunfalmente o Iluminismo, até o presente. Apesar de suas tensões e inconsistências, os segmentos do Discours préliminaire engrenavam-se, na execução de uma única estratégia. A obra conseguiu destronar a antiga rainha das ciências e elevar a filosofia para seu lugar. Longe de ser um compendio neutro de informações, portanto, a moderna Summa modelava o conhecimento de tal maneira que tirava do clero e colocava-o as mãos de intelectuais comprometidos com o Iluminismo. O triunfo final desta estratégia veio com a secularização da educação e o surgimento das modernas disciplinas escolares, durante o séc. XIX. Mas o combate mais importante ocorreu na década de 1750, quando os enciclopedistas reconheceram que o conhecimento era poder e, mapeando o universo do saber, partiram para sua conquista....


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