Análise do filme As Vantagens de Ser Invisível sob a ótica de Melanie Klein PDF

Title Análise do filme As Vantagens de Ser Invisível sob a ótica de Melanie Klein
Course Teoria Psicanalítica
Institution Universidade de Caxias do Sul
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Exercício de correlação entre a teoria de Melanie Klein e um filme. ...


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Análise do filme “As Vantagens de Ser Invisível” sob a ótica de Melanie Klein

Breve resumo do filme: Charlie é um adolescente que sofre pelo suicídio do melhor e único amigo e a morte de sua tia quando era criança. Ao entrar no ensino médio, ele decide que não pode mais viver isolado e tenta se aproximar dos outros meninos e meninas da sua idade. No entanto, Charlie é extremamente tímido e não sabe muito bem como se inserir em novos grupos. No entanto, sua vida muda radicalmente quando três pessoas entram nela: Bill – seu professor de literatura-, Sam e Patrick – que tornam-se seus melhores amigos. As dificuldades do ambiente escolar, muitas vezes ameaçador, as descobertas dos primeiros encontros amorosos, os dramas familiares por ele vividos, as festas alucinantes e a eterna vontade de se sentir “infinito” ao lado dos amigos são temas que enchem de alegria e angústia a cabeça do protagonista em fase de amadurecimento.

Fantasias: Segundo Melanie Klein, a fantasia pode ser definida como a representante psíquica do instinto e expressa a realidade de sua fonte, interna e subjetiva, embora esteja ligada à realidade objetiva. Ela se transforma de acordo com o desenvolvimento, no decorrer das experiências corporais, sendo ampliada e elaborada, influenciando e sendo influenciada pelo ego em maturação. A partir dessa definição de fantasia proposta por Melanie Klein, pode-se perceber, analisando o filme, que o protagonista incorpora a ideia de que é responsável pela morte da tia, a qual foi atropelada enquanto ia buscar um presente para ele. Assim, Charlie acredita com veemência, no início do filme, que ele é o culpado pela morte da sua tia Helen, e isso lhe causa grande sofrimento. No entanto, assim como exposto pela definição de Melanie Klein, essa fantasia acabou sendo

diretamente influenciada pelo processo de amadurecimento do personagem. Assim, no fim do filme, Charlie consegue compreender esse sentimento e a situação em si, entendendo que a culpa, de fato, não era dele. Além disso, segundo Klein, este funcionamento mental – baseado em fantasias provoca ansiedades e angústias diversas, as quais estão relacionadas ao caráter destas fantasias primitivas, dotadas de conteúdos delirantes (Riviere, 1986). A história de Charlie também nos evidencia isso, especialmente em relação ao que foi descrito referente à culpa sentida pela morte da tia.

Ansiedades/angústias: Desde o início do filme é possível perceber que Charlie é profundamente marcado por diversas angústias – desde o sofrimento relacionado à morte da tia e a relação por eles vivenciada até os dilemas característicos do período da adolescência. Assim, parte do que vemos na história de Charlie é explicado por Melanie Klein no conceito de ansiedade paranoide/pesecutória. Nessa ansiedade, existe a ideia de que os objetos e perseguidores entrarão no ego e dominarão e aniquilarão tanto o objeto ideal quanto o self. No caso de Charlie, essa ansiedade faz referência à sua relação com a tia, a qual faz com que o protagonista recorra à mecanismos de defesa para lidar com tal angústia.

Mecanismos de defesa: É importante frisar também que a autora, assim como Freud, coloca a angústia como sendo promotora de mecanismos defensivos. Assim, Charlie, em função dos trágicos acontecimentos de sua vida – que lhe causam enorme angústia, acaba utilizando especialmente o mecanismo de defesa da Idealização. Para Melanie Klein, a idealização apresenta função defensiva. Nesse caso, a pessoa afasta seus próprios aspectos destrutivos, negando-os, e deixando o objeto amado provido somente das qualidades e dos aspectos bons. Por isso torna-se idealizado. Assim, a dificuldade é com a realidade das coisas, que traz as contradições

existentes nos sentimentos e nos desejos. A idéia de se ter um “mar de rosas” é extremamente ilusória e idealizada e representa essa dificuldade de suportar uma realidade que, ao contrário, denuncia a existência constante de frustrações na vida. No caso de Charlie, a utilização desse mecanismo é evidente, pois, desde o início do longa, ele atribui à sua tia inúmeras qualidades, chegando a caracterizá-la como a “melhor pessoa do mundo”. No entanto, no fim do filme, entende-se que, quando criança, o protagonista foi abusado por ela. Assim, exatamente como descrito por Klein, o adolescente busca recordar-se apenas do “lado bom” da sua tia, apresentando imensa dificuldade em suportar e encarar a realidade, a qual apresentava-se bem diferente do descrito por Charlie.

Posição psíquica predominante: Segundo Melanie Klein, a posição esquizoparanóide e a posição depressiva são dinâmicas psíquicas que, alternando-se ao longo da vida, geram uma maneira de ser e de experienciar o mundo. É desta alternância das posições que resultará a estruturação do sujeito. Assim como na teoria proposta por Klein, na qual as posições psíquicas encontram-se em constante fluxo, no decorrer do filme As Vantagens de Ser Invisível também podemos perceber essa alternância de posições psíquicas no personagem principal, Charlie. Como é possível perceber na seguinte fala: “Então, esta é a minha vida. E quero que você saiba que sou feliz e triste ao mesmo tempo, e ainda estou tentando entender como posso ser assim”. Nesse sentido, no início, o protagonista encontra-se, essencialmente, na posição esquizoparanoide. Isso porque apresenta uma cisão no ego e do objeto interno, especialmente no que se refere à relação estabelecida com sua tia Helen. Além disso, Charlie faz uso de mecanismos de defesa primitivos, como a idealização. Ele também apresenta a ansiedade persecutória – mais uma característica da posição esquizoparanoite – na qual o ego é frágil para lidar com o desconforto, com o ódio e com a frustração.

Por outro lado, no fim do filme, é possível perceber uma mudança na posição psíquica do personagem principal. A partir das diversas experiências tidas por Charlie, além do amadurecimento proporcionado pelo período do desenvolvimento no qual se encontrava, o protagonista assume a posição depressiva, na qual ele apresenta uma maior compreensão da realidade psíquica, bem como do mundo externo. Nessa posição, Charlie também passa a integrar as imagens boas a más do objeto, ainda que com dificuldade, especialmente no que diz respeito à sua tia Helen e sua influência na forma com que Charlie encarava seus relacionamentos amorosos.

Reflexão acerca das relações objetais do personagem: Quanto às relações objetais, a principal reflexão faz referência ao conceito seio bom – seio mau, diretamente ligado à relação estabelecida por Charlie com sua tia. Afinal, para ele, sua tia era “sua pessoa preferida no mundo” – caracterizando-se como o seio bom, idealizado. Por outro lado, no fim do filme, compreende-se que essa mesma tia abusava de Charlie. Isso nos leva a relacioná-la, também, como seio mau.

Referências: AS VANTAGENS DE SER INVISÍVEL, Stephen Chbosky. Mr Mudd. EUA. 102 min. 2012. PEREIRA DE OLIVEIRA, Marcella. Melanie Klein e as fantasias inconscientes.Winnicott eprints, São Paulo, v. 2, n. 2, p. 1-19, 2007. NEVES, Flávio José de Lima. A psicanálise Kleiniana. Reverso, Belo Horizonte , v. 29, n. 54, p. 21-28, set. 2007 ....


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