Arquitetura do Ferro nas cidades de Lisboa e Porto PDF

Title Arquitetura do Ferro nas cidades de Lisboa e Porto
Author Priscila Monteiro
Course História do Direito
Institution Universidade Europeia
Pages 9
File Size 538.2 KB
File Type PDF
Total Downloads 106
Total Views 151

Summary

Arquitetura do Ferro nas cidades de Lisboa e Porto para a disciplina de História do Design em Portugal...


Description

História do Design em Portugal | Licenciatura em Design | 2019.20

A Arquitetura do Ferro na caracterização de Lisboa e Porto

Priscila Monteiro N1

História do Design em Portugal | Licenciatura em Design | 2019.20

Introdução O desenvolvimento cientifico e técnico que ocorreu no século XIX veio possibilitar a utilização de novos materiais na construção de estruturas inovadoras. A utilização de materiais como o ferro fundido na arquitetura modificou, de forma significativa, a imagem de cidades por toda a Europa, sendo que Portugal não foi excepção. O presente trabalho versa sobre a introdução da arquitetura do ferro nas cidades de Lisboa e Porto, as suas construções mais notáveis e de como se cruza com a Arte Nova numa tentativa de criar uma linguagem arquitectónica moderna, entre a segunda metade do século XIX e inicio do século XX.

Contexto Histórico A forma de praticar a arquitetura mudou a partir do século XIX devido à Revolução Industrial, que surge na Europa entre 1760 e 1840, e um pouco mais tardiamente em Portugal. Esta teve um enorme impacto a nível social e económico que proporcionou um conjunto de mudanças a nível tecnológico ligados com a metalurgia e metalomecânica. A expansão da economia industrial e capitalista origina a necessidade de implantação de novas infra-estruturas e de materiais para: fábricas, armazéns, estações de estradas-deferro, mercados, pontes, pavilhões temporários para exposições etc. Houve, também, repercussões ao nível do aumento demográfico súbito nas grandes cidades, o que degradou e tornou insuficiente as zonas habitacionais, e, por isso, é necessário uma renovação rápida e mais económica. Isto “desencadeou o processo industrial de materiais de construção, aumentando a sua produção em série e, consequentemente, baixando o seu custo” (Lousada, 2014, p. 17). O aparecimento dos materiais como o ferro, o vidro, o cimento e o betão permitiram modernizar os processos construtivos e explorar novas expressões estéticas que respondem às novas necessidades industriais numa arquitetura funcional.

1!

História do Design em Portugal | Licenciatura em Design | 2019.20

O ferro é o metal mais conhecido e abundante, “a sua utilização dava aos edifícios e equipamentos urbanos flexibilidade, robustez e resistência” (Pacheco, 2019, 2:42). Este sistema de ferro fundido fabricado teve um grande sucesso tanto a nível de rapidez de montagem como de fácil transporte e com isso os países industrializados começaram a exportá-lo para o mundo inteiro. A sua combinação singular com o vidro permitia obter espaços muito iluminados, arejados e amplos e com capacidade para acolher várias pessoas. “O ferro era também o material que tornava possível a construção de grandes plataformas, suspensas por vigas metálicas para a projeção de pontes” (Ferreira, 2012, p.31).

Situação política-económica em Portugal O desenvolvimento da indústria metalúrgica surge mais tardiamente em Portugal, que começa a ganhar expressão apenas durante a década de 60 do século XIX. Entre 1868 e 1889, ocorriam mudanças socioeconómicas, que influenciaram as primeiras grandes encomendas de construção. Com o impulso de Fontes Pereira de Melo, Presidente do Conselho de Ministros, assiste-se à execução de grandes infra-estruturas, período conhecido por Fontismo, como a rede de caminhos-de-ferro, gares, pontes e equipamentos de eletrificação e comunicação. Graças a empréstimos externos, sobretudo da banca inglesa, para tentar recuperar o país do atraso tecnológico em que se encontrava. “Os técnicos responsáveis pela construção neste período são essencialmente arquitetos e engenheiros formados no estrangeiro, ou técnicos estrangeiros residentes em Portugal” (Portas, 1978, p. 697), o que se traduz em claras importações de modelos estrangeiros. A Empresa Industrial Portuguesa, fundada em 1874, vai dominar a indústria metalúrgica em Portugal, que pertence ao conde de Burnay, empresário e banqueiro português, e, figura relevante no financiamento de obras nacionais. Esta empresa esteve

2!

História do Design em Portugal | Licenciatura em Design | 2019.20

encarregue de equipar as cidades com pontes, vigamentos, ascensores e monta-cargas eléctricos, etc. Foram responsáveis também por trazer para o nosso país o processo de Bessemer, o primeiro processo industrial de baixo custo para a produção em massa de aço a partir de ferro gusa fundido. Foi por meio do desenvolvimento de empresas como a Empresa Industrial Portuguesa, a Companhia de Massarelos, entre outras que deixou de ser necessário recorrer a importações estrangeiras.

Construções Notáveis No Porto, a partir da segunda metade do século XIX, “devido às novas exigências do trânsito motorizado e ao aumento da população assiste-se à criação de estruturas que levou ao aparecimento de algumas das obras mais importantes da arquitetura do ferro e do vidro” (Rocha, 2018, p.64). É o caso da ponte D. Maria Pia sobre o Rio Douro, de 1877, projetada pelo engenheiro francês Gustave Eiffel e da ponte D. Luís, de 1886, da autoria de Téophile Seyrig, que liga as cidades do Porto e Vila Nova de Gaia. A ponte de D. Maria Pia é até hoje um monumento nacional, que na altura, permitiu concluir a ligação ferroviária entre o Porto e Lisboa. Caracteriza-se por um arco de rótula, com um só tabuleiro apoiado em cinco pilares de estrutura reticulada e em formato troncopiramidal. Possui sobretudo uma atenção aos valores paisagísticos do vale do Douro, procurando os pontos de inserção mais favoráveis.

Construção da Ponte Ferroviária D.Maria Pia. Situação dos trabalhos durante 1877, via portopatrimoniomundial.com

3!

História do Design em Portugal | Licenciatura em Design | 2019.20

Para além das pontes, “os mercados, galerias e estações ferroviárias, eram estruturas que conseguiam suportar grandes envidraçados devido ao maravilhoso casamento entre o ferro e o vidro” (Ferreira, 2012, p.32). Ainda no Porto, em 1885, o Mercado Ferreira Borges de Raul Mesnier de Ponsard e em 1900, a Gare da Estação de S. Bento de José Marques da Silva, um edifício eclético, seguindo a melhor tradição “beaux-arts”, o seu átrio está revestido por pinturas sobre azulejo, historicistas e da história dos transportes. Ao mesmo tempo, Lisboa também sentia o fenómeno da industrialização, assiste-se ao alastramento e adensamento da malha urbana, o que leva à remodelação e melhoramentos de diversas zonas da cidade e a novas infra-estruturas públicas. O Elevador de Santa Justa, é um dos monumentos mais marcantes e expressivos da cidade de Lisboa e um dos principais exemplos da arquitectura do ferro. Foi construído em 1902 também de Mesnier de Ponsard, fundador da Companhia dos Ascensores Mechanicos de Lisboa, que detinha uma concessão de transportes públicos ferroviários, juntamente com a parceria da Empresa Industrial Portuguesa para a produção. O elevador foi planeado na década de 1890, no entanto só se iniciaram as obras em 1900 após a aprovação da Câmara Municipal de Lisboa. O elevador funcionava por meio de um motor a vapor, só em 1907 foi substituído pelo motor eléctrico. Inspirado pelo estilo neo-gótico, tem acesso às ruínas góticas da Igreja do Convento do Carmo. Apesar do elevador ser em ferro e a igreja em pedra, encontra-se enquadrado pelas semelhanças estilísticas do gótico, não escondendo o seu carácter industrial.

Elevador de Santa Justa em 1902, ano de inauguração, arquivo da CCFL

4!

História do Design em Portugal | Licenciatura em Design | 2019.20

Lisboa possuí o constrangimento da circulação nas várias grandes colinas da cidade e os elevadores ou ascensores desenvolvidos pela Companhia de Ponsard, vieram melhorar a mobilidade na cidade. Surgem assim os icónicos Elevador do Lavra em 1884, Elevador da Glória em 1885 e o Elevador da Bica em 1892. A estrutura e a forma das suas carruagens foi se alterando e inovando ao longo dos anos. José Luís Monteiro projetou a Gare da Estação do Rossio, para a estação central de Lisboa, numa estrutura de ferro. Possui uma cobertura metálica que é suportada por colunas de capitel coríntio, juntamente com uma singular fachada neo-manuelina. Caracteriza-se por ser um espaço amplo e funcional. O ferro não se encontra só em grandes infra-estruturas, foi utilizado, inclusive, na habitação de classes mais pobres, nas vilas e nos pátios. “A importância crescente do lazer e convívio motiva a construção de equipamentos urbanos e do mesmo modo vão levar a estruturas feitas em ferro. Nos jardins foram surgindo estufas, quiosques, coretos, cafés-concerto, equipamentos sanitários e painéis de publicidade” (Matos, 1999, p.122). Nas fachadas das lojas e bow-windows, era comum encontrar, também, evidências do ferro.

Coreto, Avenida da Liberdade, ano 1900. José Chaves da Cruz, arquivo da C.M.L.

Exposições Universais

A exposições universais ou internacionais, do século XIX, foram representações de inovações, avanços técnico-científicos e criatividade dos países industrializados e eram também um espaço de afirmação de novos materiais. Estas eram construídas com um carácter de pré-fabricação e com possibilidade para serem desmontadas e redefinidas noutro local.

5!

História do Design em Portugal | Licenciatura em Design | 2019.20

Por isso, estas foram motivo para a construção de edifícios e estruturas características da arquitetura do ferro, dois notáveis exemplos foram o Palácio de Cristal, em 1851, por Joseph Paxton, para a Primeira Exposição Mundial de Londres e a Torre Eiffel, 1889, por Gustave Eiffel, construída para a Exposição Universal de Paris

Palácio de Cristal do Porto Em Portugal, a construção mais emblemática da arquitetura do ferro foi, talvez, o Palácio de Cristal, no Porto, inaugurado em 1865, concebido para acolher a grande a Exposição Internacional do Porto. Autoria do arquitecto inglês Thomas Dillen Jones, dado Portugal ainda não ter uma indústria metalúrgica desenvolvida, recorreu-se a uma empresa de construção inglesa.

Palácio de Cristal, no Porto, ano 1865, via Photographia Portuense em flicker.com

Construído em granito, ferro e vidro, tendo o Palácio de Cristal londrino por modelo, foi demolido em 1951, para dar lugar ao atual, Super Bock Arena - Pavilhão Rosa Mota.

Modernismo: Arquitetura do Ferro e Arte Nova “A possibilidade de fácil moldagem fez do ferro fundido um material muito usado pela Arte Nova” (Mendes, 2000, p. 303), que surgiu em Portugal, cronologicamente próxima do período alusivo à arquitetura do ferro. “O ferro no estilo beaux-arts e de Arte Nova, assume um carácter mais decorativo, recorre a elementos formais orgânicos estilizados para dotar os edifícios de uma imaginação exuberante” (Marques, 2004, p.41). A arquitectura do ferro recupera a superfície, a linha e

6!

História do Design em Portugal | Licenciatura em Design | 2019.20

o espaço como elementos expressivos de uma nova visualidade, em detrimento da noção de massa e de modelado, e aí se encandeia a renovação de linguagem que a Arte Nova procurou desenvolver. Tal como na restante Europa, a Arte Nova surge em Portugal na tentativa de renovação das artes, que pretendia inventar “um novo desenho que, “totalitário”, tornasse de novo coerentes entre si novos materiais e velhas tradições construtivas” (Fernandes, 1993, p. 37). Os arquitetos surgem com uma fusão de historicismos vários com os materiais do século XIX, na procura de um novo estilo, abordagem conhecida por ecletismo. Apesar do ferro não se ter imposto enquanto material do futuro, mais tarde, usado na combinação com o betão armado, a ruptura com a linguagem arquitetónica tradicional que se propôs evidenciar, foi crucial para o desenvolvimento da arquitetura do Movimento Moderno.

Conclusão e Análise Crítica A escolha do tema foi motivada por um interesse pessoal e fascínio que as estruturas metálicas exercem na sua peculiar expressividade e ilimitadas possibilidades estruturais. Estas que foram um marco importante na modernização das cidades de Lisboa e Porto. Foi fundamental o entendimento do contexto que Portugal vivia no século XIX, para o desenvolvimento da arquitetura do ferro. O fenómeno da industrialização trouxe novas exigências, e, que de certa forma, o ferro conseguiu dar uma resposta eficaz. Concluí que as várias premissas modernistas nas quais os arquitetos portugueses se baseavam resultaram numa arquitetura ecletista, logo, o ferro pode ser aplicado nos edifícios de maneiras distintas que advêm de pensamentos diferentes de cada arquitecto, na tentativa de romper com estilos passados e encontrar uma nova linguagem arquitetónica.

7!

História do Design em Portugal | Licenciatura em Design | 2019.20

Referências Bibliográficas Livros PORTAS, Nuno (1978). "A Evolução da Arquitectura Moderna em Portugal: uma interpretação". In História da Arquitectura Moderna, Vol. II. Lisboa: Arcádia. (P. 687) FERNANDES, J. M. (1993). Arquitectura Modernista em Portugal, Lisboa, Gradiva, (P. 37) ROCHA, Manuel J. M. da. (2018). História da Arquitetura - Perspetivas Temáticas, Porto (P.64) Dissertações FERREIRA, Ana Mónica da Luz (2012). O ferro na arquitectura : a sua expressão e reflexo no processo de pensar. Dissertação de Mestrado. (P.31-32) http://repositorio.ulusiada.pt/ handle/11067/3262 LOUSADA, Ana Rita Vasconcelos Q. A. (2014) Intervenção no Património Arquitetónico Casa António Neves dos Arquitetos Arménio Losa e Cassiano Barbosa. Dissertação de Mestrado. (P. 17). https://core.ac.uk/download/pdf/302929908.pdf MENDES, José Amado (2000). O Ferro na História: Das Artes Mecânicas às Belas-Artes. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. (P.303)http:// www4.crb.ucp.pt/Biblioteca/GestaoDesenv/GD9/gestaodesenvolvimento9_301.pdf Artigos MARQUES, Cátia. (2004) Os gradeamentos de ferro nas fachadas ou o ritmo forjado da arquitectura. Pedra & Cal, N.o 23, Julho . Agosto . Setembro. (P. 41) http:// www.gecorpa.pt/Upload/Revistas/Rev23_Revista_Completa.pdf MATOS, Ana Maria Cardoso (1999) A utilização de novos materiais no contexto do Património Urbanoitoccentista. Arqueologia e Industria. Revista da Associação Portuguesa de Arqueologia Industrial, N.o 2, Lisboa, Ed. APA / Ed. Colibri, (P. 122-127) http:// dspace.uevora.pt/rdpc/handle/10174/10778 Vídeo Youtube PACHECO, Henrique (2019, fevereiro 15) A civilização industrial e a arquitetura do ferro (2:42) Youtube. http://www.youtube.com/watch?v=qEeROzWVRN0&t=7s

8!...


Similar Free PDFs