Comentário sobre o texto “E-ducando o Olhar a necessidade de uma pedagogia pobre” de Maschelein, J. PDF

Title Comentário sobre o texto “E-ducando o Olhar a necessidade de uma pedagogia pobre” de Maschelein, J.
Author Maíra Minillo
Course Psicologia Da Educação
Institution Universidade Estadual Paulista
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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS - RIO CLARO

PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO

Maíra Coraci Bretas Minillo

Comentário sobre o texto “E-ducando o Olhar: a necessidade de uma pedagogia pobre”

Rio Claro 2019

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS - RIO CLARO Análise do texto “E-ducando o Olhar: a necessidade de uma pedagogia pobre”, de Jan Masschelein Em tempos de crescente precarização e negligência para com a educação no Brasil, se faz necessário, mais do que nunca, debater o papel da educação na formação cidadã e o contexto histórico e teórico através dos quais se chegou ao modelo atual. Em “E-ducando o Olhar: A necessidade de uma pedagogia pobre”, Masschelein propõe o questionamento do que chamamos de “educar o olhar”, para que se desenvolva não apenas um “pensamento crítico”, mas uma pesquisa educacional crítica. O autor introduz o tópico resgatando a origem etimológica de “educar”, palavra originalmente formada por “ex” (fora) e “ducere” (conduzir), ou seja, literalmente “conduzir para fora”, introduzindo a ideia de nos expormos ao mundo e nos tornarmos atentos a ele. Assim, o “e-ducar” se diferenciaria do “educar” pois o primeiro libertaria a visão, levando ao estado de atenção, no qual o sujeito se abre para o mundo para ser transformado por ele. Masschelein discorre sobre o conceito de forma predominantemente abstrata, mas ele pode ser interpretado como uma abordagem na qual nos livramos de nossos vieses pessoais para que um novo conhecimento ou experiência seja capaz de nos atingir diretamente. Essa interpretação pode ser reforçada quando ele se utiliza do exemplo do “voar e caminhar” de Walter Benjamin, onde o “e-ducar” corresponderia ao caminhar; a possibilidade de reforçar essa interpretação se dá principalmente quando Masschelein caracteriza o ato de “voar” como adquirir o conhecimento e contextualiza-lo em relação ao sujeito, que subjuga a estrada a sua perspectiva e dá a ela uma característica de objeto. Esse objeto “obedece as mesmas “leis” que todos os outros objetos que aparecem para o sujeito diante de um horizonte” e “podem ser explicados, definidos, ordenados, identificados” e “se comportam de acordo com as leis impostas pelo sujeito”; ou seja, o sujeito interage com o meio a partir de suas próprias regras e intenções, se mantendo distante. Por outro lado, a pesquisa educacional crítica do “e-ducar” permitiria que a nova experiência de aprendizado nos leve a questionar nossas concepções e conceitos, possivelmente levando a mudanças de posicionamento e atitude. Apesar das descrições que tendem ao abstrato ao longo do texto, as ideias de Masschelein podem, talvez, ajudar a mostrar o caminho para uma educação que abra mais espaço para o desenvolvimento da sensibilidade e da empatia. Afinal, o método científico como o aplicamos envolve expor uma hipótese a testes e observar se estes testes a corroboram, e se não, desenvolver uma nova hipótese a partir dos resultados. Na prática, porém, sabemos que a ciência não é neutra e que muitas vezes foi e é utilizada para justificar certas convicções, estejam estas corretas ou não. São diversos os exemplos onde uma educação que nos permitisse desaprender nossos vieses poderia ser benéfica. Entre os mais simples, podemos

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS - RIO CLARO citar um caso em 2017, onde a Drª Jamie R Lomax se viu na situação onde várias aranhas caíram sobre sua mesa; inicialmente, a astrônoma brincou sobre “bombas atômicas e fogo” serem possíveis soluções para o problema, mas depois de descobrir que os aracnídeos em questão teriam capacidade de ver a lua no céu noturno, decidiu: “Elas podem ver a lua, assim como eu! Eu não posso mata-las agora que sei disso”1. Apesar do caso simples, o medo de aranhas é comum entre as pessoas, e nesse caso um indivíduo que inicialmente demonstrou essa repulsa, pôde desenvolver simpatia após aprender mais sobre os seres vivos em questão. Exemplos mais sérios também existem, evidentemente. O modelo produtivista que domina nossa educação tende cada vez mais à diminuição da carga horária de matérias com maior caráter crítico tais como Artes e História, já tendo sido excluídas Psicologia e Filosofia da grade do ensino médio do estado de São Paulo, enquanto aumenta-se as aulas de Matemática e Português, indo de encontro com uma escola pública que, historicamente, foi induzida a “formar o suficiente para o mercado de trabalho” apenas. O ensino de uma abordagem superficial e sem sensibilidade em relação ao mundo também podem explicar, em parte, o que há por trás de problemas da atualidade tais como o movimento anti-ciência, dentro do qual o movimento anti-vacina põe em risco não apenas as crianças cujos guardiões incorporam esse movimento, mas também indivíduos imunocomprometidos que possam vir a ter contato com essas crianças. E também o fenômeno onde o número de infecções e mortes devido a COVID-19 continuam a crescer, tendo estas últimas ultrapassado o número de 70 mil 2, havendo também evidência de que a pandemia afeta desproporcionalmente certos setores marginalizados da sociedade 3, e ainda assim, continua crescendo também o descaso de certa parte da sociedade para com as medidas de segurança contra a doença. Isso porque não há sensibilização, de forma que para os transgressores das medidas de segurança, tais números não correspondem a pessoas, mas se mantém apenas como números. De maneira geral, a abordagem de Masschelein pode não nos oferecer a solução definitiva para os problemas da educação. Mas da mesma forma que este cita Foucault para dizer que “a crítica começa com atenção, presença e generosidade”, talvez estes mesmos valores possam, também, nos indicar um possível caminho para melhorar nossa relação com a educação, e com o mundo a nosso redor.

1

DRAKE, N. We‘ve Learned Jumping Spiders Can See the Moon, Thanks to Twitter. National Geographic, 7 jun. 2017. Disponível em: < https://www.nationalgeographic.com/news/2017/06/jumping-spiders-moon-starsastronomy/#>. 2 Número de mortos dobra em 35 dias e Brasil tem mais de 70 mil óbitos por COVID-19. Sputnik Brasil, 10 de jul. 2020. Disponível em 3 Pandemia escancara desigualdade e revela que pretos e pobres são os mais afetados. CONTEE, 26 de jun. 2020. Disponível em < https://contee.org.br/pandemia-escancara-desigualdade-e-revela-que-pretos-e-pobres-sao-osmais-afetados/>...


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