Ler os Clássicos hoje - Amor de Perdição PDF

Title Ler os Clássicos hoje - Amor de Perdição
Author Mary Sd
Course Português 2
Institution Universidade do Minho
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MARIA ALMIRA SOARESOSCLÁSSICOSLerHojeAMOR DE PERDIÇÃOCAMILO CASTELO BRANCONOVO PROGRAMA Metas Curriculares 11.º anoMARIA ALMIRA SOARESOSCLÁSSICOSLerHojeamor de perdiçãocamilo castelo brancoRelações entre personagens. O amor-paixão. Linguagem, estilo e estrutura: os diálogos .... 36 Capítulo X (1 seg...


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L er OS CLÁSSICOS Hoje

NOVO PROGRAMA Metas Curriculares 11.º ano

MARIA ALMIRA SOARES

AMOR DE PERDIÇÃO CAMILO CASTELO BRANCO

er LOS CLÁSSICOS Hoje

MARIA ALMIRA SOARES

amor de perdição camilo castelo branco

ÍNDICE GERAL

APRESENTAÇÃO .............................................

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CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICO-LITERÁRIA ..................................

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Do romantismo ao realismo: camilo castelo branco, um autor de transição .....................

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Biografia de camilo castelo branco ..............

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Importância e valor literário da obra camiliana.................................................... 10 AMOR DE PERDIÇÃO ...................................... 12 O contexto da escrita ................................. 12 Síntese da intriga........................................ 13 EDUCAÇÃO LITERÁRIA – CAPÍTULOS ESCOLHIDOS DE AMOR DE PERDIÇÃO ............ 15 Sugestão biográfica (Simão e narrador) e construção do herói romântico................. 15 Introdução ............................................... 15 A obra como crónica da mudança social. Linguagem, estilo e estrutura: o narrador .... 21 Capítulo I (1.o segmento) ............................ 21 A obra como crónica da mudança social. Relações entre personagens. Linguagem, estilo e estrutura: os diálogos ..................... 25 Capítulo I (2.o segmento) ............................ 25 Relações entre personagens. Sugestão biográfica (Simão e narrador) e construção do herói romântico..................................... 30 Capítulo I (3.o segmento) ............................ 30

Relações entre personagens. O amor-paixão. Linguagem, estilo e estrutura: os diálogos .... 36 Capítulo X (1.o segmento) ........................... 36 Sugestão biográfica (Simão e narrador) e construção do herói romântico. Relações entre personagens. Linguagem, estilo e estrutura: a concentração temporal da ação ........................................ 43 Capítulo X (2.o segmento) ........................... 43 Sugestão biográfica (Simão e narrador) e construção do herói romântico. Relações entre personagens. O amor-paixão ... 48 Capítulo X (3.o segmento) ........................... 48 Linguagem, estilo e estrutura: a concentração temporal da ação; os diálogos ................................................. 52 Capítulo X (4.o segmento) ........................... 52 Sugestão biográfica (Simão e narrador) e construção do herói romântico. O amor-paixão............................................. 58 Conclusão (1.o segmento) ............................ 58 Linguagem, estilo e estrutura: a concentração temporal da ação; os diálogos. Relações entre personagens ....... 64 Conclusão (2.o segmento) ............................ 64

ÍNDICE REMISSIVO Absoluto 33, 62, 63 Adjetivação 24, 29, 57 Amor-paixão 14, 36, 46, 48, 58, 62 Atmosfera 20, 61 Comparação 24, 51, 57 Concentração temporal da ação 43, 46, 47, 52, 57, 64, 69 Crónica (social) 8, 9, 21, 23, 24, 25, 29, 39, 40, 41 Descrição 47, 70 Diálogo 11, 25, 29, 36, 40, 46, 47, 52, 54, 57, 64, 69, 70 Espaço 20, 28, 34 Estilo 21, 23, 24, 25, 36, 39, 43, 46, 52, 57, 64 Estrutura 13, 21, 25, 34, 36, 43, 52, 64 Falas 40, 47, 57, 70 Fatalismo 46, 61, 62, 69 Herói romântico 10, 11, 14, 15, 30, 34, 35, 43, 46, 47, 48, 51, 58, 61, 70 Idealismo 8, 46, 62 Imagem 57 Intriga 13, 14, 24, 50 Ironia 8, 24, 29 Linguagem 13, 20, 21, 23, 24, 25, 36, 43, 46, 47, 52, 57, 64 Metáfora 57 Mulher fatal 9, 70 Mulher-anjo 70 Narração 24, 34, 35, 70 Narrador 15, 17, 18, 19, 20, 21, 24, 30, 43, 48, 57, 58, 62, 70 Onomatopeia 57 Parágrafo 70 Personagem(ns) 7, 11, 13, 14, 17, 18, 19, 20, 24, 25, 29, 30, 34, 35, 36, 40, 42, 43, 46, 47, 48, 57, 63, 64, 69, 70 Ponto de vista 13, 18, 19, 20, 24, 33 Realismo 7, 8 Registo de língua 24, 40 Retrato 24, 34 Ritmo 10, 13, 23, 40, 47, 57 Romantismo 7, 8 Subjetividade 19, 62 Sugestão biográfica 15, 17, 19, 30, 34, 35, 43, 48, 58, 62, 63, 69 Tipo de frase 18, 20, 40 Valor histórico-cultural 5, 11 Vocabulário 11, 18, 24, 40

APRESENTAÇÃO O Programa e Metas Curriculares de Português do Ensino Secundário, «Educação Literária», 11.º ano, inclui o Amor de Perdição, obra cujo valor literário, histórico-cultural e patrimonial é indiscutível. É sabido que a leitura dos clássicos é essencial em educação literária, mas também não deixa de ser conhecida a dificuldade de penetração nesses textos, provocada por múltiplos factores. Sendo assim, os alunos necessitam de instrumentos que os incentivem e os ajudem a encontrar o caminho mais proveitoso e não os deixem desistir perante os obstáculos à leitura. Este auxiliar da leitura de Amor de Perdição, que aqui apresento, pretende prestar aos alunos a necessária ajuda capaz de os levar a ler com o melhor proveito. Assim, para além da informação de ordem literária e contextual que enquadra a obra e ilumina a sua compreensão, são apresentadas, para cada um dos capítulos selecionados, sequências de questões e respetivas respostas. Esta questionação incide precisamente nos temas do domínio da «Educação literária» presentes no Programa. A relação leitura do texto/questão/resposta facultará aos alunos os recursos necessários ao desenvolvimento do seu percurso neste domínio: por um lado, a experimentação e o conhecimento-treino do tipo de questionação esperável; por outro lado, os saberes necessários à leitura de um texto literário clássico e especificamente deste romance.

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CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICO-LITERÁRIA Do romantismo ao realismo: camilo castelo branco, um autor de transição. Historicamente, a obra de Camilo Castelo Branco insere-se num período que vai sensivelmente do início da segunda metade do século xix aos finais da década de oitenta do mesmo século. Podemos, pois, afirmar que, cronologicamente, Camilo é um escritor da segunda metade do século xix. No que diz respeito a movimentos literários, o século xix português apresenta-se aproximadamente dividido pelo meio: na primeira metade, dominou o Romantismo; na segunda metade, afirmou-se o Realismo. A transição do Romantismo para o Realismo acompanhou o sentido da evolução do contexto histórico e político, ou seja: a passagem de um primeiro momento de lutas liberais contra a monarquia absoluta (primeira metade do século – Romantismo); o estabelecimento de uma monarquia constitucional (segunda metade do século – Realismo). A produção literária que designamos como romântica é constituída por obras (poesia, romance, teatro) imbuídas de um forte individualismo apaixonado, em que predominam os temas do amor, da paixão pela liberdade, da afirmação heroica dos próprios sentimentos contra as imposições sociais. Todavia, à medida que o tempo vai passando e a situação histórico-política se torna menos dramática e estabiliza numa monarquia constitucional, a literatura romântica perde autenticidade: torna-se formal, esquemática, convencional, continuando a repetir temas, enredos, personagens que, no novo contexto histórico-social, já não fazem muito sentido. Contra esta última fase do Romantismo, 7

emerge um novo movimento literário, o Realismo, que ocupará sensivelmente a segunda metade do século xix. As obras realistas já nada têm a ver com o idealismo e individualismo sentimentais do Romantismo. Genericamente, a literatura realista reveste a índole de crónica social empenhada na denúncia, na crítica, muitas vezes ironicamente humorística, dos defeitos, dos erros, dos vícios, das incompetências e contradições sociais e políticas. Resumidamente, é esta a linha muito genérica do desenvolvimento e evolução da literatura portuguesa durante o século xix. Camilo Castelo Branco insere-se neste tempo. Assim, por um lado, é ainda herdeiro de um passado romântico que não se desvaneceu repentinamente e continua a ecoar nas obras do escritor; por outro lado, escreve romances e novelas que se integram no espírito literário já dominante no seu tempo, ou seja, o da escola realista. Camilo Castelo Branco viveu profundamente enraizado na agitação e nas crises do contexto sociocultural do século xix português. A partir dessa vivência, das suas experiências pessoais, das suas referências literárias e com o seu enorme génio de criador em língua portuguesa, soube produzir uma obra em que tudo isso se mistura em composições admiráveis. Não é, por isso, fácil catalogar Camilo dentro de um único movimento literário. Perante esta dificuldade, existe a opção de o considerarmos um autor de transição, em cuja obra convivem Romantismo e Realismo. Em cada uma das suas obras, poderemos, assim, registar a presença, com mais ou menos força, de marcas de um ou de outro desses movimentos literários. Na verdade, o carácter incomparável da obra camiliana dificulta a sua definição à luz dos parâmetros de um só movimento literário. Este facto é, sobretudo, devido à sua personalidade ímpar, muito forte e muito própria, e à sua experiência de vida extraordinariamente singular. Sabemos, pela 8

sua biografia, quão forte era o seu génio. Não seria de esperar, portanto – e tal não aconteceu – que Camilo fosse um mero seguidor obediente das escolas literárias dominantes. Toda a sua obra o testemunha, indo do sentimentalismo mais ultrarromântico até à paródia mais cruamente realista. Se tomarmos como exemplo a sua obra prima, Amor de Perdição, aí encontraremos simultaneamente marcas românticas profundamente dramáticas e crónica social bem humorada.

Biografia de camilo castelo branco Camilo Castelo Branco viveu movido por paixões de trágico desenlace e por um olhar profundamente pessoal sobre o contexto histórico-social da sua vida. Camilo Castelo Branco nasceu em 1825, em Lisboa, tendo ficado órfão de mãe apenas com dois anos de idade. Em 1835, ou seja, com dez anos, fica também órfão de pai. Nesta circunstância, é levado para Trás-os-Montes (Vila Real, Vilarinho da Samardã) onde é criado e educado por familiares. Durante a juventude e muito precocemente, tem uma vida amorosa muito agitada. Tenta a formação académica em Medicina, mas não a consegue levar a cabo. A continuação de uma vida agitada leva-o a passar pela prisão e a alistar-se numa guerrilha dentro do contexto da chamada Revolução da Maria da Fonte. Entre 1848 e 1850, reside no Porto onde vive uma vida de boémia e de escândalo, fazendo parte do grupo dos «Leões» do café Guichard. Sucessivas e inconstantes aventuras amorosas acabam na paixão por Ana Augusta Plácido, senhora casada com o comerciante Pinheiro Alves. Para tentar aniquilar, à maneira romântica, a sua paixão pela mulher fatal, Ana Plácido, entrega-se a toda a ordem de aventuras e desregramentos e, até, à frequência do seminário para tentar o sacerdócio de que desiste. Em 1859, rapta Ana Plácido, facto que tem como consequência um processo judiciário e a fuga de terra em terra perseguido pela justiça e atingido por dificuldades 9

económicas. É preso em 1860, entrando nas cadeias da Relação do Porto onde se encontra também Ana Plácido. Acaba por ser absolvido num julgamento sensacional. A partir daí, vive com Ana Plácido na casa de S. Miguel de Seide onde escreve a um ritmo febril, pois é com o produto da escrita que se sustenta e à família. No entanto, as dificuldades financeiras são grandes, tendo de, em 1883, vender a sua biblioteca em leilão para angariar dinheiro. Para além das dificuldades financeiras, avolumam-se os problemas familiares nomeadamente com os filhos. É atacado por cegueira progressiva, o que o impede de escrever e, em 1890, no dia 1 de junho, desesperado, põe termo à vida com um tiro na cabeça. Durante esta sua vida atribulada e mesmo trágica, Camilo escreveu centenas de obras literárias, tendo-se notabilizado como novelista sem par na sua época, capaz de cativar o gosto do público. Dentre a sua vasta obra, destaca-se, sem dúvida, Amor de Perdição, romance que, desde a sua primeira edição (1862), goza de grande popularidade, tendo sido adaptado várias vezes ao cinema, ao teatro, à ópera.

Importância e valor literário da obra camiliana Embora pudéssemos referir-nos a muitas das novelas que integram a vastíssima obra camiliana, centremo-nos na sua famosíssima obra prima: Amor de Perdição. Ela é, de facto, o expoente máximo da sua arte literária e um bem patrimonial da cultura portuguesa. O Amor de Perdição é um romance notável que equaciona uma problemática viva, afinal não distante das humanas preocupações atuais. A sua leitura permite-nos a vivência literária de temas como o amor, a morte, o conflito entre percursos individuais e a rede de interesses sociais. Estes são temas que, em todos os tempos e ainda hoje, agitaram e agitam a humana condição e interessaram a produção artística. O Amor de Perdição, cuja temática essencial Camilo tão bem sintetizou a 10

propósito do seu herói romântico, Simão Botelho: «Amou, perdeu-se e morreu amando.», não só foi objeto de múltiplas edições ainda em vida de Camilo, como tem sido, até aos nossos dias, uma obra capaz de suscitar o interesse de variadas artes que o adaptaram: cinema, teatro, ópera. A prová-lo, quase cento e cinquenta anos depois da publicação do romance, aí temos, por exemplo, o filme de Mário Barroso Um Amor de Perdição (de 2008) que projeta as linhas de luz e sombra de Simão Botelho num jovem dos nossos dias. E este está longe de ser exemplo único. Indiscutível é, pois, o valor histórico-cultural deste romance enquanto representante incomparável da construção de um herói romântico e da sua trágica luta contra o convencionalismo social. Porém, a importância da personagem de Simão, não esconde o valor de referência literária intemporal que têm as duas personagens femininas: Teresa (a força que se ergue da fragilidade e enfrenta sem medo o estereótipo feminino da obediência filial) e Mariana (o amor total, generoso e abnegado). Toda a obra de Camilo e, bem assim, a sua obra-prima Amor de Perdição, faz obrigatoriamente parte de um capital cultural comum ainda por uma outra razão: a genialidade da escrita camiliana em língua portuguesa. A prosa de Camilo é referência única do uso literário da língua portuguesa, em termos da sua riqueza de vocabulário, do seu poder de organização frásica, da agilidade e naturalidade dos diálogos. A leitura de Camilo acrescenta-nos saber em termos de língua portuguesa e desvenda-nos possibilidades verbais esquecidas pelo uso redutor da nossa língua que tantas vezes fazemos.

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AMOR DE PERDIÇÃO O contexto da escrita O Amor de Perdição, segundo declaração do próprio autor, foi escrito em quinze dias. Vejamos o que mais diz Camilo, sobre o contexto da escrita deste seu romance: «Escrevi o romance em quinze dias, os mais atormentados da minha vida. Tão horrorizada tenho deles a memória, que nunca mais abrirei o Amor de Perdição, nem lhe passarei a lima sobre os defeitos nas edições futuras, se é que não saiu tolhiço1 incorrigível da primeira. Não sei se lá digo que meu tio Simão chorava, e menos sei se o leitor chorou com ele. De mim lhe juro que…»2 Ainda a este propósito, Camilo escreve: «Desde menino, eu ouvia contar a triste história de meu tio paterno, Simão António Botelho. Minha tia, irmã dele, solicitada por minha curiosidade romanesca, estava sempre pronta a repetir o facto, aligado à sua mocidade. Lembrou-me naturalmente, na cadeia, muitas vezes meu tio, que ali devera estar inscrito no livro das entradas, e no das saídas para o degredo. Folheei os livros desde os de 1800, e achei a notícia com pouca fadiga, e alvoroços de contentamento, como se em minha alçada estivesse adornar-lhe a memória, como recompensa das suas trágicas e afrontosas dores em vida tão breve. Sabia eu que em casa de minha irmã estavam acantoados uns maços de papéis antigos, tendentes a esclarecer a nebulosa história de meu tio. Pedi aos contemporâneos que o conheceram notícias e miudezas, a fim de entrar de consciência naquele trabalho.»2 De facto, esta é uma novela em que Camilo transforma uma história da sua família numa obra prima literária que tem emocionado os leitores de há mais de um século e meio. Trata-se do destino trágico de um irmão de seu pai, o seu tio Simão Botelho, figura cuja vida singular lhe conferiu lugar saliente nas histórias da família. Camilo ouvira-a, conhecia-a, 1 2

tolhiço = coisa defeituosa In Memórias do Cárcere de Camilo Castelo Branco 12

procurou dados que a confirmassem e, sobretudo, do ponto de vista que interessa à literatura, soube extrair dela as suas potencialidades para a tornar num grande romance. Como senhor de uma inigualável arte literária, soube transformar uma história real romanceando-a de modo a dar-nos a ler algo que nos comove, nos impressiona, nos faz refletir sobre o poder do amor. Senhor de um conhecimento largo e profundo da língua portuguesa e da arte de escrever romances, Camilo Castelo Branco elaborou esta obra com uma linguagem e com uma estrutura narrativa tais, que, simultaneamente, lhe imprimem um ritmo entusiasmante e evidenciam uma grande riqueza vocabular e sintática. Consegue, assim, transportar o leitor para a época da ação e alargar o seu conhecimento da língua portuguesa. O Amor de Perdição é um romance cuja intriga, lugares de ação e personagens têm uma ligação de grande proximidade, quase intimidade, com o seu autor: Simão Botelho é seu tio e a sua vida teve lances dramáticos semelhantes aos da vida de Camilo; Camilo, como Simão, encontra-se preso, na mesma cadeia e tomado de um sofrimento semelhante, quando escreve este romance. Talvez possa ser essa a causa da rapidez com que o escreve e, sobretudo, da autenticidade emotiva que transmite aos leitores.

Síntese da intriga Seguindo as orientações do Programa e Metas Curriculares, são aqui apresentados, para leitura e estudo, alguns capítulos selecionados de Amor de Perdição: a Introdução, a Conclusão e dois capítulos intermédios, o i e o x. Sendo assim, no caso de não se ter lido o todo, para que se possa compreender melhor estas partes, torna-se necessário conhecer pelo menos os episódios mais relevantes da intriga, ainda que em versão muito resumida. Ei-los: Por circunstâncias da vida das duas famílias, a de Simão Botelho e a de Teresa de Albuquerque, os dois, 13

vivendo em Viseu, moram na mesma rua, em casas fronteiras, que lhes permitem verem-se e comunicarem através das respetivas janelas. São os dois jovens, belos, e acontece-lhes enamorarem-se um do outro. Trata-se de um amor-paixão fortíssimo, à maneira romântica, que nem a morte irá poder destruir. Por outro lado, acontece que as suas duas famílias são inimigas e, por isso, os respetivos pais nunca permitirão que o seu amor se converta em casamento. Além disso, Tadeu de Albuquerque, pai de Teresa, tem planos firmes para o casamento da sua filha com o primo Baltasar Coutinho, desse modo assegurando a coesão familiar tão importante nesse tempo e nessa sociedade fechada e de costumes conservadores. A partir desta situação, vários acontecimentos, mais ou menos violentos, farão parte da luta dos dois apaixonados pelo seu amor. Como consequência, Simão terá de se esconder em casa de um ferrador, João da Cruz, cuja filha, Mariana, se apaixona pelo jovem e belo herói romântico que Simão é. Trata-se de um amor abnegado, este de Mariana, um amor sem esperança, que se traduz numa absoluta dedicação até à morte. O desenvolvimento da intriga leva Simão a matar Baltasar Coutinho e, por essa razão, a ser preso, enquanto Teresa é obrigada a entrar num convento. Separados, conseguem mesmo assim comunicar através de cartas expressando, desse modo, o seu eterno amor. Teresa adoece e Simão é condenado ao degredo na Índia. Sempre acompanhado por Mariana, que lhe não sobrevive, Simão morre no barco que o vai conduzir ao degredo e Teresa também não consegue vencer a doença mortal que a atinge. A morte física das três personagens é sempre envolvida numa vertente de grande sofrimento psicológico que contribui para o seu desgaste, e por isso, para o seu fim. Como escreve Camilo sobre Simão: «Amou, perdeu -se e morreu amando.» E, na sua perdição, arrastou consigo as duas mulheres que o amavam: Teresa e Mariana. 14

EDUCAÇÃO LITERÁRIA – CAPÍTULOS ESCOLHIDOS DE AMOR DE ...


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