Oficina do Livro Didático Pedro Emílio PDF

Title Oficina do Livro Didático Pedro Emílio
Author Pedro Emílio Paradelo
Course História
Institution Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais
Pages 4
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Summary

Oficina do livro didático...


Description

Licenciatura em História – 3º período História da África, cultura afro-brasileira e indígena Prof.ª Dr. João Paulo Lopes Aluno: Pedro Emílio Paradelo – RA 201913320002 Oficina do Livro Didático A presente oficina tem por objetivo analisar de que forma os materiais didáticos de história voltados para estudantes do ensino fundamental ou médio tratam a história da África e de seus descendentes, bem como dos povos indígenas das Américas. O livro didático analisado é o Toda a História: História Geral e História do Brasil, dos autores José Jobson de A. ARRUDA e Nelson PILETTI, editado pela editora Ática e voltado ao ensino médio. O exemplar consultado não compõe nenhuma coleção, tem 728 páginas e é de 2007, quando a publicação já estava em sua 13ª edição. O sumário do livro é dividido em 100 capítulos organizados ao longo de 17 unidades. Destacam-se, para o propósito desta oficina, os dez capítulos a seguir, acompanhados das suas respectivas unidades:

Unidade 1 – As origens da humanidade

Capítulo 1 – A humanidade nasceu na África Capítulo 2 – O povoamento da América

Unidade 2 – Sociedades do Oriente Médio

Capítulo 3 – O antigo Egito

Unidade 6 – Sociedades da África e da Ásia

Capítulo 27 – A África antes do século XIX

Unidade 7 – América!

Capítulo 30 – Maias, astecas e incas Capítulo 31 – A ferro e fogo: a conquista espanhola Capítulo 32 – Na Terra dos Papagaios Capítulo 33 – A colonização portuguesa Capítulo 34 – A escravidão na América portuguesa

Unidade 15: A ameaça nuclear

Capítulo 79 – África: a descolonização

As primeiras menções aos povos africanos (Egito antigo, Reino de Kush, de Gana, do Mali, do Zimbábue e do Congo) ou americanos (sociedade olmeca, Mais, Astecas e Incas) ocorrem de forma enciclopédica, trazendo informações sumárias sobre os povos de modo que, durante a leitura, às vezes é necessário certo esforço para diferenciá-los. O tratamento aos indígenas brasileiros e aos negros escravizados é mais rico e detalhado, contudo. Há transcrições de relatos de viajantes europeus sobre os índios (o do francês Jean de Léry é particularmente comovente) e um esforço em deixar claro que a comunidade indígena não era homogênea no início da colonização. Quanto aos negros, os autores se empenham verdadeiramente em demonstrar a dívida histórica para com os descendentes de escravos (há subcapítulos intitulados “Opressão e resistência”, “Os quilombos”, “Cultura e identidade” e “Um inferno para os negros”). Além dessas ocorrências, o livro reserva capítulos para o fim da escravidão no Brasil, tecendo comentários críticos aos motivos e consequências sociais da abolição como foi feita; para o neocolonialismo do século XIX, que dividiu a África entre os países europeus, negligenciando divisões tradicionais pré-existentes entre as comunidades africanas; e para a difícil descolonização da África durante o século XX. No que tange às imagens que ilustram o livro, elas não são abundantes, algumas até se encontram desconectadas do texto dos capítulos como a cabeça da rainha ioruba do século XII ou XIII que acompanha os subcapítulos sobre os Reinos de Kush, de Gana e do Mali, sem qualquer referência à cultura ioruba.

A cabeça da rainha ioruba do século XII ou XII

De modo geral, a maioria das imagens, sobretudo quando são pinturas, são de autores europeus, brancos e retratam heroicamente os feitos dos povos desse continente. As fotografias de artefatos africanos e indígenas existem, mas são em número menor que as fotografias de autoridades políticas. Quando o livro avança pelo século XX começam a surgir fotos de anônimos representando diversos aspectos da realidade, entre eles a exploração dos povos, a guerra e revoluções.

Exemplo de pintura europeia

Exemplo de fotografia retratando anônimos

Apesar de não serem muitas as imagens, as legendas dadas a algumas delas e os exercícios propostos pelo livro relacionados a elas chamam a atenção do aluno para a superação de preconceitos e estereótipos. Por exemplo, imagens de indígenas canibais são acompanhadas de legendas que esclarecem que essa não era uma prática alimentar, mas simbólica e ritualística, diminuindo o sensacionalismo sobre tais povos indígenas; outro exemplo é a atividade que traz a litografia Aplicação do castigo da chibata, de Jean-Baptiste Debret, e a coloca lado a lado com uma fotografia de 1997 cuja legenda é “Policial submete descendentes de africanos em favela do Rio de Janeiro” e pede ao aluno que “1) Escreva um texto descrevendo as duas cenas deste boxe. 2) É possível identificar semelhanças entre as duas cenas? Em caso de resposta afirmativa, quais seriam elas e que conclusões podem ser tiradas dessas semelhanças?”. Em termos práticos, percebi que os textos do livro por vezes são breves, precisando de alguma complementação (exemplo é a cultura ioruba mencionada, mas não explicada), o que demandaria uma pesquisa paralela por parte do docente. Por outro lado, a maioria dos textos são claros, críticos e suficientes para levantar questões e servir de subsídio para a resolução das questões.

Imagem sobre os índios canibais

Imagem do Debret usada no exercício crítico

O mesmo raciocínio pode ser desenvolvido quanto ao uso de imagens. Naquilo em que o livro é escasso, precisaria haver uma pesquisa por material extra, o que demanda, na minha opinião, um cuidado extra envolvendo a procedência da imagem e a qualidade representativa e de resolução dela. Quanto ao conteúdo em si, a atividade sobre a obra do Debret exemplifica muito bem o tipo de abordagem que faria com a história da África e a cultura afrobrasileira e indígena. A assimilação de semelhanças e contrastes serve como porta de entrada para o raciocínio crítico, inimigo do obscurantismo. Tais atividades também poderiam ser estendidas com a leitura de trechos de obras literárias que abordam esses conteúdos (por exemplo, trechos de Um defeito de cor, de Ana Maria Gonçalves, poderiam servir para exercícios comparativos de cultura afro-brasileira e história da África; e Iracema, de José de Alencar, poderia ser problematizado enquanto retrato de colonizador e colonizado). Embora ainda estejam restritos a poucos capítulos de uma obra com 100 capítulos, os temas de história da África e cultura afro-brasileira e indígena passaram a ocupar mais espaço em livros didáticos como este. É inegável que a Lei nº 10.639/03 e a Lei nº 11.645/08 contribuíram para isso, caso contrário aos indígenas e negros ainda seriam reservadas apenas as páginas de povos colonizados e escravizados. O fato de haver lido sobre práticas ritualísticas canibais e movimentos de resistência negros, ainda que pouco, é um espaço maior do que havia quando eu estava no ensino médio e a “História da África”, por exemplo, era relegada a um apêndice de 24 páginas do livro didático. Ao professor, contudo, caberia, como solução por enquanto, aumentar essas páginas trazendo conteúdo além daquele preparado pelos autores da editora....


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