Português - Resumo - Os Lusíadas PDF

Title Português - Resumo - Os Lusíadas
Course Zoologia
Institution Universidade de Coimbra
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Português “Os Lusíadas” Os Lusíadas é um poema épico, do género narrativo em verso, destinado a celebrar feitos de heróis, mais precisamente o povo português, enquanto herói coletivo. A epopeia remonta à antiga Grécia, com Homero, e a Roma, com Virgílio, autores a que Camões recorreu para se inspirar. EXTRUTURA INTERNA INTRODUÇÃO Proposição (I, 1 a 3) – Momento em que o poeta dá conta do seu propósito ou intenção. Invocação (I, 4 e 5) – Pedido de inspiração endereçado às Tágides (existem outras invocações nos cantos III, VII e X). Dedicatória (I, 6 a 18) – Oferta do poema a D. Sebastião ainda futuro rei, termina com um apelo. DESENVOLVIMENTO Narração (I, 19 a X, 144) Plano da Viagem (de Vasco da Gama à Índia) Ação Central Plano dos Deuses ou Mitológico Acompanha, em paralelo a ação central Plano da História de Portugal Ação Secundária (encaixada na ação central) Plano das Reflexões do Poeta (sobretudo no fim dos cantos, o poeta tece considerações sobre vários assuntos, como se vê por baixo) Interdependência – As reflexões surgem em consequência de acontecimentos relatados anteriormente, e que suscitam as considerações que o poeta faz. Fragilidade da vida humana (I) Desprezo dos portugueses pelas artes (V) Verdadeiro valor da fama e da glória (VI) Lamentações por ser vítima de vários infortúnios (VII) → O vil poder do ouro, fonte de corrupção e de perjúrio (VIII) → Verdadeiras formas de alcançar a fama e o heroísmo (IX) → Retoma o tema do desprezo pela arte e nova exortação ao rei (X)

→ → → →

Desencanto do poeta e exortação final a D. Sebastião (X, 145-156) CONCLUSÃO

NARRADORES → → → →

O poeta (I,II,VI,VII,VIII,IX,X) Vasco da Gama (III,IV,V) Paulo da Gama (VIII) Fernão Veloso (VI, “Doze de Inglaterra”)

IMAGINÁRIO ÉPICO Matéria Épica – feitos históricos e viagem; Sublimidade do canto – celebração de feitos grandiosos; Mitificação do herói – divinização dos navegadores, alcançada pela união com as Ninfas; estes atingem a imortalidade. EXTRUTURA EXTERNA → → → → →

10 cantos; 1102 estrofes; Oitavas (estrofes de 8 versos); Decassílabos (10 sílabas métricas); Rima cruzada e emparelhada (nos 6 primeiros e nos 2 últimos, respetivamente).

LINGUAGEM E ESTILO Combinação de um língua culta latinizante com a língua tradicional, oral. A primeira é visível nos discursos onde predomina um vocabulário erudito, construções alatinadas, onde se inverte a ordem das palavras. A segunda verifica-se na utilização de uma linguagem oral, com recurso a aforismos (breves sentenças), como “melhor é merecê-los sem os ter, que possui-los sem os merecer”. Estilisticamente, abundam perífrases e metonímias, metáforas, comparações, paralelismos, simetrias, personificações, antíteses, imagens dos campos lexicais da natureza, da navegação e da ciência náutica, da guerra e das atividades bélicas, das cores e da visualidade. MATÉRIA ÉPICA: FEITOS HISTÓRICOS E VIAGEM Os Lusíadas surgem da necessidade de colocar os feitos dos descobridores e conquistadores portugueses acima de tudo o que fora feito pelos heróis da Antiguidade Clássica. Os Descobrimentos são o assunto grandioso da epopeia camoniana, de interesse nacional e universal, centrando-se, sobretudo, na descoberta, pelos portugueses, enquanto figura heroica coletiva, do caminho marítimo para a índia e em todos os obstáculos que tiveram de enfrentar: as ciladas de Baco, a tempestade, a doença, a traição dos mouros…

Vasco da Gama narra os feitos do seu povo ao rei de Melinde, poetizando a História de Portugal, a começar em Luso e a terminar em 1497, com D. Manuel. Júpiter, em auxílio de Vénus, prediz alguns feitos heroicos. Camões pretende que o seu povo se torne divino pela fortaleza de ânimo e pela prática de nobres virtudes, de modo a que substituam a fama dos heróis da Antiguidade. SUBLIME DO CANTO Na invocação, o poeta pede Às Tágides que lhe concedam um novo estilo grandioso com objetivo de deixar os Portugueses famosos por todo o “Universo” (presente e futuro) e faz parte de uma epopeia o uso de vocabulário, frases e estâncias de estilo formal e de uma eloquência superior. MITIFICAÇÃO DO HERÓI Herói (povo português): indivíduo notabilizado pelos seus feitos guerreiros, a sua coragem e altruísmo. Simbolizado, por vezes, na figura de Vasco da Gama. Camões eleva os Portugueses a um nível mítico, acima dos poderes terrenos. 1498 Canto I (106 estâncias) No Canto I surge a Proposição, a Invocação, a Dedicatória. A partir da estância 19, dá-se início à Narração, no momento em que a armada portuguesa se encontra no Oceano Índico. A narração é logo interrompida na estância 20, dando-se início ao Consílio dos deuses do Olimpo. Assim, percebe-se que, a par do plano da viagem, surge o plano dos deuses. Após a decisão favorável ao prosseguimento da viagem, os lusos continuam e navegam até à Ilha de Moçambique, onde pensavam ir ser bem recebidos. Mas, por intervenção de Baco, acabam por cair numa cilada da qual saem com a ajuda de Vénus. Deste modo, chegam a Mombaça. O canto termina com a primeira reflexão do poeta. Reflexões do Poeta – reflexão acerca dos perigos a que os frágeis humanos estão sujeitos, não conseguindo encontrar segurança. Canto II (113 estâncias) Prossegue a narração com o relato da entrada de dois portugueses em Mombaça, a convite do rei, os quais, ao regressarem, trazem recado de amigos, porque foram enganados por Baco.

Porém Vénus e as Nereides intervêm e afastam as naus do perigoso porto. Após a descoberta da armadilha, o falso piloto mouro põe-se em fuga e Vasco da Gama agradece a proteção da divina guarda. Vénus pede auxílio ao pai Júpiter, que envia Mercúrio, seu mensageiro, para indicar a Vasco da Gama, em sonhos, o caminho a seguir para encontrar terra amiga. Os nautas portugueses partem, então de Mombaça e dirigem-se para Melinde, onde são bem recebidos, e Vasco da Gama é convidado pelo rei a contar a História da sua gente. SÉCULO II a.C. a SÉCULO XIV Canto III (143 estâncias) O poeta pede inspiração a Calíope para dar conta do que Vasco da Gama narrara ao rei e, em analepse encaixada, o capitão português vai descrever a situação geográfica da Europa, bem como a origem e a afirmação da nacionalidade, incluindo neste relato a batalha de S. Mamede e a de Ourique, a ação de Egas Moniz, o pedido de auxílio para o marido, por parte de Maria ao pai, D. Afonso IV, facto que constitui o episódio lírico designado de “Formosíssima Maria”. Exalta-se, também, o heroísmo de D. Afonso IV, destacando-o como heróis da batalha do Salado (1.º episódio) e de outros monarcas portugueses, como Afonso III e D. Dinis. A partir da estância 119, o poeta detém-se na história de amor de Pedro e Inês, surgindo o 2.º episódio lírico, o de Inês de Castro. Termina o canto com a referência ao caráter brando de D. Fernando. SÉCULO XV a 1497 Canto IV (104 estâncias) Vasco da Gama prossegue o relato da História de Portugal ao rei de Melinde, falando-lhe da morte de D. Fernando e da ascensão ao trono do novo rei, D. João, não sem antes explicar o perigo que D. Leonor representava para a nação portuguesa, dada a sua ligação a Castela. Integra também o discurso de incitamento de Nuno Álvares Pereira bem como a descrição da preparação e da batalha de Aljubarrota (3.º episódio), a conquista de Ceuta, não esquecendo D. Duarte, D. Afonso V, D. João II e o sonho profético de D. Manuel I, que vai confiar a Vasco da Gama a descoberta do caminho marítimo para a Índia. Inclui ainda as despedidas em Belém e apresenta o 4.º episódio, o do Velho do Restelo, considerado simbólico e profético.

1498 Canto V (100 estâncias) Continua a narração de Gama ao rei de Melinde, dando conta, agora, dos acontecimentos relativos à viagem, desde Lisboa até Melinde, descrevendo a travessia marítima e os incidentes ocorridos, nomeadamente o fogo-de-Santelmo e a tromba marítima. Insere ainda um episódio breve (o 5.º), relativo à aventura de Fernão Veloso, o marinheiro que, com os nativos, se aventurou na mata. Prossegue o relato da viagem para destacar o 6.º episódio, o do Adamastor, ocorrido aquando da passagem pelo Cabo das Tormentas. A viagem prossegue até à terra que designaram de Bons Sinais, onde foram bem recebidos e um padrão ergueram. Contudo, a alegria cede lugar à desventura quando se veem assolados pelo escorbuto, doença fatal para quem a apanhava, como foi o caso de alguns companheiros. Partiram de novo procurando terra mais firme, tendo chegado a Moçambique, onde se deparam com a falsidade, e, só depois, a Melinde, onde se encontram no momento. O canto termina com nova reflexão. Reflexão do Poeta – reflexão a propósito do desprezo a que os portugueses votam as artes e de incapacidade destes em aliar as armas às letras. Canto VI (99 estâncias) Neste canto, destaca-se a festa de despedida em Melinde, de onde a armada parte, depois abastecida, em direção à Índia, retomando-se, assim, a viagem. Assiste-se a nova intervenção de Baco, que desce ao palácio de Neptuno, pedindo-lhe que convoque os Deuses do mar, e é Tritão que, a seu mando, o vai fazer. Dá-se o 2.º Consílio, do qual saem ações que visam impedir os portugueses de chegarem à Índia, nomeadamente a dos ventos repugnantes, enviados por Éolo. Como os navegadores vinham cansados e ensonados, começam a contar histórias para não adormecer. Deste modo, surge o 7.º episódio – os doze de Inglaterra. Enquanto os marinheiros ouvem a narrativa de Veloso, os ventos crescem e começam a destruir velas e mastros, instalando-se uma terrível tempestade, que leva Vasco da Gama a fazer uma prece à “Divina Guarda”. De novo, as Ninfas amorosas, enviadas por Vénus, vão abrandar os ventos furiosos e impor a

bonança, o que faz com que Vasco da Gama agradeça a Deus o seu auxílio. A fechar o canto, surge o novo comentário do poeta. Reflexão do Poeta – Comentário acerca do verdadeiro valor da fama e da glória, enumerando o que deve ser recusado e o que deve ser considerado para se alcançarem honras imortais. Canto VII (87 estâncias) Os navegadores chegam à Índia (Calecute) e, mais próximos da nova terra, os lusos veem chegar pequenas embarcações de pescadores que os conduzem à cidade de Calecute. Segue-se a descrição dessa terra, que fica entre os rios Indo e Ganges, e cujo senhor se chama Samorim. Aí, é enviado um português a terra, que vai ser acompanhado por Monçaide, que visita, depois, a frota portuguesa. Vasco da Gama desembarca e é recebido pelo Catual, o regedor do reino. Este fala com o capitão português que, posteriormente, é recebido pelo Samorim, que o aloja a ele e à comitiva portuguesa. O Catual vai depois visitar as naus lusitanas e vai ser recebido por Paulo da Gama. A partir da estância 78, o poeta intervém de novo. Reflexão do Poeta – Na estância 2, surge nova intervenção do poeta a elogiar o espírito de cruzada dos portugueses. Na estância 78, o poeta invoca as Ninfas do Tejo e do Mondego e lamenta a situação em que se encontra, tendo já sido vítima de vários infortúnios. Critica os opressores e aqueles que não prezam quem os canta, afugentando assim outros escritores. Por isso, pede o favor das Ninfas para que, no seu canto, enalteça apenas os que o mereçam. Canto VIII (99 estâncias) Ao observar as bandeiras ostentadas no barco onde fora recebido, o Catual detém-se nas figuras aí representadas, querendo saber de quem se trata. Paulo da Gama satisfaz a curiosidade do Catual e vai falar de várias figuras, desde Luso e Viriato até D. Duarte de Meneses, acrescentando que muitos outros poderiam ser lembrados, mas a falta de luz já tal não permitia. O Catual regressa a terra e, por influência de Baco, os indianos vão acreditar que os portugueses estavam ali para os aniquilar. Por isso, surge o propósito de destruir a frota portuguesa e Gama é feito prisioneiro do Catual. Este só vai ser libertado a troco de mercadorias.

Este resgate desencadeia nova reflexão do poeta. Reflexão do Poeta – Reflexão que se prende com o poder do dinheiro que tanto a pobres como a ricos corrompe. Canto IX (95 estâncias) Ultrapassadas as dificuldades que encontraram na Índia e ajudados por Monçaide a não cair de novo em armadilhas, os portugueses encetam a viagem de regresso à pátria. Vénus quer recompensar os navegadores portugueses e dar-lhes o repouso e a glória que estes mereciam; por isso, prepara-lhes, no meio do oceano, uma ilha, onde as Ninfas os aguardarão com danças e afetos, contando a deusa protetora com a ajuda do seu filho Cupido. As divindades vão trabalhar para, com um manjar deleitoso, receberem os marinheiros. Estes avistam de longe a ilha que Vénus lhes levava e que depois imobilizou para que aí desembarcassem. Surge, assim, a Ilha dos Amores. Assiste-se, ainda neste canto, à exortação de Veloso, ao relato da aventura de Lionardo, à confraternização e aos casamentos entre as Ninfas e os nautas lusitanos, simbolizando a divinização dos heróis. Vasco da Gama visita o palácio de Tétis e, posteriormente, é explicado ao leitor o sentido alegórico da ilha – a recompensa ou prémio pelos trabalhos já passados. Reflexão do Poeta – As reflexões centram-se no incitamento à ação daqueles que pretendem alcançar a imortalidade, devendo, para isso, recusar a tirania, lutar contra os sarracenos, pois só deste modo se alcançarão as verdadeiras honras e o direito a serem recebidos na ilha de Vénus. Canto X (156 estâncias) Ainda na ilha, os nautas vão ser presenteados com um banquete oferecido por Tétis e as restantes Ninfas. Uma deusa vai prever a vinda de outras armadas e as dificuldades que irão encontrar, mas é interrompida pelo poeta que faz uma invocação a Calíope, para que o seu gosto pela escrita não esmoreça devido ao peso da idade ou ao seu infortúnio. A Ninfa prossegue com a sua profecia acerca das conquistas futuras dos portugueses. Para terminar os festejos, Tétis conduz Vasco da Gama ao cume de um monte, onde se encontra um globo, a que a deusa chama “máquina do

Mundo”. Aqui, indica-lhe os lugares onde os portugueses farão grandes feitos. Tétis despede-se dos portugueses e estes regressam à pátria. Reflexão do Poeta – No fim, do canto e da epopeia, o poeta refere o seu desânimo por “cantar a gente surda e endurecida” e por a pátria estar envolta na cobiça e na tristeza; enumera as sevícias a que os portugueses são capazes de se submeter para servir o rei e exorta D. Sebastião a realizar novos feitos, oferecendo-se para mostrar ao mundo a grandeza do monarca, através do seu canto.

ANÁLISE REFLEXÕES DO POETA Canto I (estâncias 105-106) Reflexão acerca da fragilidade humana O recado que trazem é de amigos, Mas debaxo o veneno vem coberto, Que os pensamentos eram de inimigos, Segundo foi o engano descoberto. Ó grandes e gravíssimos perigos, Ó caminho de vida nunca certo, Que aonde a gente põe sua esperança Tenha a vida tão pouca segurança! No mar tanta tormenta e tanto dano, Tantas vezes a morte apercebida! Na terra tanta guerra, tanto engano, Tanta necessidade avorrecida! Onde pode acolher-se um fraco humano, Onde terá segura a curta vida, Que não se arme e se indigne o Céu sereno, Contra um bicho da terra tão pequeno? “O recado que trazem é de amigos, / Mas debaxo o veneno vem coberto, / Que os pensamentos eram de inimigos, / Segundo foi o engano descoberto.” – conclusão do episódio que decorria; (alguém) pareciam confiáveis, mas escondiam intenções. ”mas” – conjunção coordenativa adversativa com valor de contraste; “que” – valor causal. “Ó grandes e gravíssimos perigos,” – salienta os obstáculos a que os marinheiros estiveram sujeitos; “grandes e gravíssimos” dupla adjetivação e hipérbole; “Ó” – interjeição (marca linguística, inicia o discurso reflexivo). “Ó caminho de vida nunca certo,” – “Ó” – juntamente com a interjeição do anterior verso formam uma construção anafórica usada para introduzir a expressão de desencanto/ desaprovação causada pela surpresa. “Que aonde a gente põe sua esperança / Tenha a vida tão pouca segurança!” – mostra que a confiança q se tem (em alguém ou algo) fragiliza o ser humano pela sua pouca vivência para adquirir experiência em reconhecer falsas intenções, mostra assim que os seres humanos são fracos; “!” – marca linguística (discurso subjetivo), exprime a intensidade da perplexidade.

“No mar tanta tormenta e tanto dano, / Tantas vezes a morte apercebida! / Na terra tanta guerra, tanto engano, / Tanta necessidade avorrecida!” – pluralidade de circunstâncias que colocam o Homem em perigo; mitificação do herói, tanto maior é o herói, quantas mais adversidades, superiores ao seu tamanho, conseguir ultrapassar, tendo como beneficiários outros. “Onde pode acolher-se um fraco humano, / Onde terá segura a curta vida,” – construção anafórica; impossibilidade de o ser humano encontrar um lugar seguro, luta constante, tudo incerto, inédito, criaturas pequenas e frágeis. “Que não se arme e se indigne o Céu sereno, / Contra um bicho da terra tão pequeno?” - que não se indignem os Deuses contra os pequenos, solitários e abandonados marinheiros, que ultrapassando aqueles embargos, se tornarão heróis, confirmado pela interrogação retórica. Canto V (estâncias 92-100) Reflexão acerca do desprezo dos português pelas artes Quão doce é o louvor e a justa glória Dos próprios feitos, quando são soados! Qualquer nobre trabalha que em memória Vença ou iguale os grandes já passados. As envejas da ilustre e alheia história Fazem mil vezes feitos sublimados. Quem valorosas obras exercita, Louvor alheio muito o esperta e incita. Não tinha em tanto os feitos gloriosos De Aquiles, Alexandro, na peleja, Quanto de quem o canta os numerosos Versos: isso só louva, isso deseja. Os troféus de Milcíades, famosos, Temístocles despertam só de enveja: E diz que nada tanto o deleitava Como a voz q seus feitos celebrava. Trabalha por mostrar Vasco da Gama Que essas navegações que o mundo canta Não merecem tamanha glória e fama Como a sua, que o Céu e a Terra espanta. Si, mas aquele Herói que estima e ama Com dões, mercês, favores e honra tanta A lira Mantuana, faz que soe Eneias, e a Romana glória voe.

Dá a terra Lusitana Cipiões, Césares, Alexandros, e dá Augustos; Mas não lhe dá contudo aqueles dões Cuja falta os faz duros e robustos. Octávio, entre as maiores opressões, Compunha versos doutos e venustos (Não dirá Fúlvia, certo, que é mentira. Quando a deixava António por Glafira). Vai César sojugando toda França E as armas não lhe impedem a ciência; Mas, numa mão a pena e noutra a lança, Igualava de Cícero a eloquência. O que de Cipião se sabe e alcança É nas comédias grande experiência. Lia Alexandro a Homero de maneira Que sempre se lhe sabe à cabeceira. Enfim, não houve forte Capitão Que não fosse também douto e ciente, Da Lácia, Grega ou Bárbara nação, Senão da Portuguesa tão somente. Sem vergonha o não digo: que a razão De algum não ser por versos excelente É não se ver prezado o verso e a rima, Porque quem não sabe arte, não a estima. Por isso, e não por falta de natura, Não há também Virgílios nem Homeros; Nem haverá, se este costume dura, Pios Eneias nem Aquiles feros. Mas o pior de tudo é que a ventura Tão ásperos os fez e tão austeros, Tão rudos e de engenho tão remisso, Que a muitos lhe dá pouco ou nada disso. Á Musas agradeça o nosso Gama O muito amor da pátria, que as obriga A dar aos seus, na lira, nome e fama De toda a ilustre e bélica fadiga; Que ele, nem quem na estirpe seu se chama, Calíope não tem por tão amiga Nem as filhas do Tejo, que deixassem As telas d’ouro fino e que o cantassem. Porque o amor fraterno e puro gosto De dar a todo o Lusitano feito Seu louvor, é somente o pros[s]uposto Das Tágides gentis, e seu respeito. Porém não deixe, enfim, de ter disposto Ninguém a grandes obras sempre o peito: Que, por esta ou por outra qualquer via, Não perderá seu preço e sua valia.

Estas estâncias mostram que os portugueses não são Homens Renascentistas uma vez que não seguem o modelo do Homem de Vitrúvio criado por Leonardo da Vinci, que é um Homem completo por cuidar da mente (artes/cultura) e do corpo (guerra/armas). Camões e D. Dinis são exemplos portugueses de Homens que conciliaram as guerras e a governação, no caso de D. Dinis, com a poesia e as artes. Na estrofe 92 é introduzida a reflexão com o conceito de Homem Ideal – aquele que concilia a guerra e louva a literatura. A partir da estância 93 decorre o desenvolvimento da reflexão na q...


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