Redação sobre o filme Her e análise - Nota: 8 PDF

Title Redação sobre o filme Her e análise - Nota: 8
Course SOCIOLOGIA GERAL
Institution Universidade Estadual de Londrina
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Redação sobre o filme Her e análise - Nota: 8...


Description

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Nosso mundo e nossas relações tanto pessoais quanto abrangendo os meios de produção estão em constante transformação. Essa constância demanda uma rapidez e precisão de analises que muitas vezes não são categoricamente possíveis, surgindo então várias teorias, muitas vezes disporás, sobre um único assunto. Abordando o tema pós modernidade encontramos algumas variações do que seria esse conceito. Ao fim dos anos 80 esse termo começa a ser utilizado para designar a nova estrutura sociocultural que emergia, caracterizada pela expansão do sistema capitalista e da globalização. Vários autores a dividem em duas principais fases, a fase em que vivemos agora seria a de ruptura com os ideais iluministas que outrora eram defendidos, a expansão dos meios de comunicação e internet e nossas próprias relações humanas e culturais. Apesar das grandes polemicas que envolvem o tema, tais como a utilização e diferenciação do termo "modernismo" e "modernidade" algumas coisas são fatos já amplamente observados na sociedade atual, como por exemplo, a forma como utilizamos a tecnologia e os avanços já concretizados. Como o pós modernismo pode ser observado em vários meios, é notório e curioso como ele se apresenta na arte, principalmente quando, somando a esse conceito, temos a utilização de algumas ideias futurista de como caminharemos daqui para frente, principalmente nos quesitos em que a tecnologia nos permite possibilidades infinitas. Pensando nisso, a indústria, principalmente cinematográfica tem, nos últimos anos, produzido filmes que nos levam a pensar sobre esses assuntos e que se analisarmos de forma atenta se enquadra em várias teorias já apresentadas por grandes nomes acerca do que nos espera. Um belo exemplo seria uma produção de 2014 de direção de Spike Jonze,"Her". O filme se passa em um futuro não dito, onde acompanhamos a história de Theodore, um homem solitário que trabalha em uma empresa que escreve cartas cujo remetente não lida bem com as palavras, o personagem é um dos mais bem sucedidos na empresa, notamos isso quando ele é elogiado por outro funcionário. Algumas coisas já nesse princípio são interessantes de se pensar, a primeira é essa modalidade de serviço, uma empresa que é paga para escrever e enviar cartas pois as pessoas querem demonstrar sua afetividade mas talvez tenham alguma dificuldade, segundo como o caráter do personagem começa a ser exposto, já que podemos concluir que ele tem habilidades profundas quando se trata de sentimentos e terceira coisa muito importante, ele convive com amores, perdas e uma explosão de sentimentos que mesmo que não sejam, tecnicamente dele precisam da sua construção.

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Ao longo do filme sabemos que Theodore se encontra deprimido pois acaba de terminar seu casamento com Catherine, a quem tinha muito amor. Essas pequenas informações são de vital importância para entendermos o que se passa no interior do personagem. A cidade em que Theodore vive não recebe tanto enfoque, e apesar de notarmos aqui e ali algumas tecnologias, elas não são a principal ideia do filme mas sim o fato que o personagem, ao ver um anuncio na rua decide comprar um sistema operacional inteligente que promete auxilia-lo nas tarefas diárias. Interessante notar que quando o personagem leva sistema para casa precisa responder uma série de perguntas para utiliza-lo tais como, se ele é uma pessoa antissocial, qual a relação dele com sua mãe dentre outras. O sistema operacional começa então a funcionar e se denomina Samantha, logo de cara somos brindados com uma voz feminina que agrada o personagem, além disso Samantha tem uma personalidade e humor característicos que agrada Theodore de modo que gradativamente o personagem vai se sentindo menos sozinho e mais próximo do sistema inteligente e quando nos damos conta os dois mantem uma paixão que acaba resultando em um relacionamento. Apesar das inovações tecnológicas o filme deixa claro que não é bem aceito um relacionamento com um sistema operacional, mesmo assim em algumas cenas, como por exemplo quando Theodore leva Samantha a praia podemos ver ao fundo pessoas conversando com os seus sistemas operacionais e cada vez mais distantes de relações reais. Ao fim, nos perguntamos como vai acabar essa história, e surpreendentemente não poderia acabar de maneira mais humana, Theodore descobre uma traição de Samantha, ela conta ao personagem ser um sistema operacional de mais de 600 pessoas, noticia que o devasta. A questão do filme é abordar as relações humanas. Theodore é um homem solitário e deprimido que acaba de terminar um casamento, quando compra o sistema e responde aquelas perguntas muito provavelmente ajuda o próprio sistema a se enquadrar nas necessidades dele. Em uma das cenas sua ex esposa após saber do relacionamento inusitado do personagem diz que isso não era tão surpreendente já que o mesmo tem dificuldade de lidar com um relacionamento real, com pessoas reais e problemas reais, o que nos revela talvez um porquê dessa facilidade dele em se submeter a essa paixão. O que não fica claro no filme e é um dos questionamentos de Samantha é se ela foi desenvolvida para ser assim e agradar especialmente a Theodore ou se as coisas que ela vai aprendendo é que moldam a personalidade dela. O filme estabelece um importante questionamento acerca da solidão do homem futurista e sua busca por meios de compensação na aparente facilidade da tecnologia na

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medida em que esta não exige tanto quanto as relações reais. Mostra o isolamento do homem moderno na sua individualidade, como por consequência as mínimas interações humanas reais se tornam engessadas e quase que uma tarefa obrigatória mas que não é feita de inteira vontade. O filme trata quase que exclusivamente de falar dos sentimentos e percepções do homem e como a tecnologia serve mais para suprir essas falhas do que para auxiliar na extinção do problema. Apesar de se tratar de uma sociedade com tecnologias ainda não experimentadas no nosso presente o filme abre brechas para algumas pontes, visto que hoje temos sites de relacionamentos que apesar de não seguirem o processo do filme de homem e maquina, ainda assim congelam as relações em romances virtuais, onde em um clique eu posso escolher dentro de vários perfis qualquer pessoa do mundo para conversar e não preciso necessariamente manter contato físico. Além disso, recentemente em países como Japão e China houve a popularização de bonecas sexuais das quais ainda não falam ou demonstram vontades ou sentimentos mas que servem para suprir carências físicas e emocionais de pessoas cada vez mais submetidas ao mundo do parecer ser real sem a necessidade de ser realmente. Temos também a recente explosão da polemica com robôs que falam e expressão sentimentos humanos, como a famosa robô Sophia, que recentemente ganhou cidadania saudita, tendo mais direitos que as próprias mulheres sauditas. Ainda assim, não são tecnologias como a do filme mas fato é que caminhamos a passos largos para a individualização, já utilizamos aplicativos que limitam o contato real e quase tudo pode ser feito por meio de um celular ou computador. São possibilidades infinitas e a grande questão que se impõe é como lidar com todas essas mudanças e até que ponto elas são fantásticas. Ao estabelecer essa junção de uma ferramenta que expressa a pós modernidade e a criatividade humana podemos destacar outro filme, "Medianeras : Buenos Aires da Era do amor virtual" do diretor Gustavo Taretto. O filme diferente do citado no início conta com uma presença mais marcante da cidade, no caso, Buenos Aires. O diretor inicialmente nos apresenta o cenário da cidade com seus prédios altos, grandes construções e uma multidão de pessoas que caminham pelas ruas. A cidade é cheia de fios de telefonia cujo propósito não precisa ser explicado mas servem para aproximar as pessoas que estão distantes e distanciar as relações mais próximas. Assim ele segue enquanto encurta cada vez mais o padrão de apresentação até chegar as quitinetes, em uma delas mora Mariana, a personagem central. Essa metáfora da grande cidade para a qual as pessoas trabalham para manter é o ambiente hermeticamente pequeno em que elas vivem contrastam com os fios de tv e

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telefonia que os separam e como consequência mais uma vez acarretam em individualidades e problemas com contato humano, como o apresentado pela personagem, que teme lugares muito apertados como os elevadores e as grandes multidões das ruas. Martin é um jovem que contrasta com Mariana, assim como ela se apresenta solitário em suas relações, tendo a vida banhada por salas de bate-papo e jogos online, de modo que quando precisa sair de casa não sabe bem o que precisa levar na mochila e acaba se munindo de objetos curiosos. Mariana por sua vez lê um livro intitulado "Onde está Wally?", onde em uma das imagens do livro, mostra várias pessoas numa rua, ela procura o amor baseada naquela cena. Mariana acabou de terminar um relacionamento e uma das cenas mais categóricas é quando ela começa a apagar as fotos e conversas com o ex namorado. Esse gesto tão simples demonstra de forma explícita como as histórias por mais longas que sejam podem deixar de existir num clique. É uma ideia meio fantasiosa a de que as memórias e sentimentos podem deixar de fazer parte da vida de uma pessoa se qualquer vestígio da sua existência for apagado. Mariana tem outra peculiaridade, ela tem verdadeira fixação por manequins. Com sua fobia de multidões automaticamente ela não se sente confortável para conversar com as pessoas de modo que se relacionar e ter manequins em casa a ajuda a não se sentir tão sozinha. As medianeiras que dão origem ao nome do filme são os prédios antigos da cidade que não vão para frente e nem para o fundo, sendo assim inúteis. E são nesses lugares que os personagens principais moram. É interessante observar que o Martin aparece por diversas vezes durante o filme, mas não recebe tanto enfoque da personagem, salvando dois momentos. O primeiro quando ambos de forma bem humorada se veem na janela de suas quitinetes e a segunda quando subitamente ocorre um Blackout e Mariana precisa sair para comprar velas e por não usar o elevador acaba subindo os vinte lances de escada pra casa se encontrando com Martin e sua lanterna. Ambas as vezes em que os dois se encontram não há tecnologia envolvida o que significa que nem sempre está resolve os problemas de interação social. Por fim de maneira quase inexplicável Marina se encontra na janela olhando a rua quando subitamente foca em Martin passeando com seu cachorro na rua. Movida de uma urgência não dita ela sai correndo de casa e usa, de forma surpreendente, o elevador, e sem dizer uma única palavra os dois interagem. Apesar da cena conter algumas dificuldades de

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interpretação podemos subtender que as vezes olhamos para algo ou alguma coisa e isso basta para dar a certeza que é isso o que queremos. Ambos os filmes mostram que apesar de sociedades diferentes e tecnologias tão sofisticadas a sensibilidade humana, as relações pessoais e sentimentais são importantes. Alguns importantes estudiosos desses fenômenos sociais elaboraram teses e pesquisas que analisam esses comportamentos, por exemplo, Zygmunt Bauman que se preocupa com a perda de laços sociais que acompanham a desconstrução de formas padronizadas de relacionamentos pois acredita em uma preservação da proximidade e da alteridade tão caras ao convívio humano. Por sua vez Habermas teme pela perda das possibilidades dialógicas, fruto da pulverização das identidades sociais e culturais. No entanto existe também alguns estudiosos que defendem essa relação, como por exemplo, o filósofo contemporâneo Gilles Lipovetsky que defende a importância do individualismo responsável. Podemos estabelecer conexão também com o autor José de Souza Martins que escreve sobre a sociabilidade do homem simples. Ele discorre sobre a modernidade na América Latina portanto se enquadra com o filme "Medianeras", é interessante observar que o autor classifica a modernidade como um sistema de controle em que podemos notar os prédios modernos mas sem identidade, um mesmo padrão de arquitetura. Essa ideia de arquitetura urbana condiz muito com a apresentada no filme. A ideia de que a modernidade serve também para administrar a nossa irracionalidade e o nosso sentimentalismo tradicional e de fato observamos no filme que não fosse pela ideia fixa da personagem em encontrar alguém ela não teria êxito. As pessoas passam pelos dois e simplesmente continuam a viver suas vidas o que nos lembra também as nossas relações atuais, aonde o outro é pouco visto e sua importância no decorrer dos fatos é mínima. REFERÊNCIAS LIPOVETSKY, Gilles. A era do vazio: ensaios sobre o individualismo contemporâneo. 1 ed. Barueri: Manole, 2005. p. 32. BAUMAN, Zygmunt. Modernidade e Ambivalência. Rio de Janeiro: Zahar,1999 HABERMAS, Jurgen. Modernidade: um projeto incompleto.1984...


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