Title | Relações de equivalência. Digrafos. Classes de equivalência |
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Course | Álgebra |
Institution | Universidade Lusófona de Humanidades e Technologias |
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Relações de equivalência. Digrafos. Classes de equivalência, Prof. Teresa Almada...
DEISI - Departamento de Engenharia Informática e Sistemas de Informação
Matemática Discreta Teresa Almada
Aula 7- Relações de equivalência. Digrafos. Classes de equivalência e conjunto quociente.
Na aula passada vimos as relações kernel associadas a funções. Se f : A B é uma função, a relação kerf é uma relação binária definida no conjunto A, domínio da função f , que relaciona
os objectos que têm a mesma imagem.
Dizemos por isso que a relação kerf é a relação “igualdade de imagem”, isto é, a kerf a’ se, e só se f(a) = f (a’). Estas relações têm propriedades interessantes que permitem, em geral, dividir o conjunto, em que estão definidas, em subconjuntos não vazios, disjuntos dois a dois e cuja união é esse conjunto. Os subconjuntos em que o domínio de uma função é dividido pela relação kernel são as classes de equivalência e o conjunto cujos elementos são esses subconjuntos é o conjunto quociente do domínio da função pela respectiva relação kernel. Comecemos por estudar as propriedades de relações binárias que fazem das relações kernel relações especiais: relações de equivalência.
1. Consideremos no conjunto N dos números naturais a relação binária definida por n m se, e só se, m é múltiplo de n, isto é, n m se, e só se p N : m = np
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Cada número natural n está relacionado, por , com ele mesmo, pois n = 1.n, ou seja,
n N, n n . Dizemos por isso que a relação é reflexiva.
2 A relação é o subconjunto de N definido por
= { (n, pn) : n, p N}. Como é reflexiva, o conjunto N diagonal de N, definido por N = {(n, n): n N } é subconjunto de , ou seja,
N . 2. A relação definida em N por n m se, e só se n é um divisor de m, ou seja, n m se, e só se, q N : m = nq e n ≠ 0. A relação não é reflexiva apesar de todo o natural diferente de zero estar em relação consigo próprio. De facto se n ≠ 0, n n, já que n = n.1. No entanto, por definição de divisor, 0 0.
A próxima definição generaliza o que vimos nos exemplos anteriores Definição. Seja é uma relação binária definida num conjunto A. Dizemos que
é reflexiva quando
x N, x x.
3. A relação definida no conjunto R dos números reais por x y se, e só, se, x = y é uma relação reflexiva, pois x R , x = x .
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Recordamos que dado um número real x, designamos por característica de x o número inteiro definido por
x = max
{ z Z : z ≤ x }, isto é, a característica de
um número real é o maior dos números inteiros que não o excede. Observamos que característica de um número inteiro é o próprio número inteiro. Apresentamos de seguida a característica de alguns números reais:
2 3 3 = -1 = 1 ; 5 = 0= 0 e
e = 2 = 2 ,
onde e representa o número de Neper.
4. A relação definida no conjunto Z dos números inteiros por x y se, e só se, x e 2y têm a mesma paridade não é reflexiva, pois 1 1.
Para que uma relação binária , definida num certo conjunto A, não seja reflexiva, basta que exista algum elemento em A que não esteja relacionado, por
, com ele próprio.
5. Consideremos no conjunto Z dos números inteiros a relação binária definida por x y se, e só se, x 2 = y 2 . Esta relação binária é simétrica na medida em que se x se relaciona com y, então y também se relaciona com x. Repare que a relação binária também poderia ser definida por x y se, e só se, │x│=│y│, ou ainda como a relação kerf, onde f : Z N é definida por f (z) = z . 2
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Qualquer que seja a definição que adoptemos para esta relação binária, verificamos que a relação e a sua relação inversa, a relação
1
, coincidem, ou
seja, são exactamente o mesmo conjunto, isto é x y se, e só se, x
1
y.
Esta relação além de simétrica, é também reflexiva.
A relação do exemplo 1 é, como vimos reflexiva mas não é simétrica, pois, 1 2 e no entanto 2 1 já que 2 é múltiplo de 1, mas 1 não é múltiplo de 2.
A relação definida no conjunto dos números reais e apresentada no exemplo 3 como sendo a relação “igualdade da característica” é simultaneamente reflexiva e simétrica. A relação binária definida no conjunto Z dos números inteiros por x y se, e só se, x e 2y têm a mesma paridade não é nem reflexiva nem simétrica.
Formalizamos de seguida a definição de relação simétrica. Definição. Seja é uma relação binária definida num determinado conjunto A. Dizemos que a relação é simétrica quando y x, sempre que x y, isto é,
x, y A (x y y x).
Seja uma qualquer relação binária definida num determinado conjunto A e admitamos que é simétrica. Seja
1
a relação inversa de . Se b
1
a, então,
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por definição de relação inversa resulta que a b. Como é simétrica, então b a, o que significa que todos os elementos de
Reciprocamente se a b, então b
1
1
1
são elemento de , ou seja,
.
a e por simetria de obtemos b a, isto é
1
.
Acabamos de provar a próxima proposição. Proposição. Se é uma relação binária definida num determinado conjunto A, então
é simétrica se, e só se, =
1
.
6. Consideremos no conjunto N, dos números naturais, a relação binária definida por n m se, e só se, n e m têm a mesma paridade, ou seja, a relação é a relação igualdade de paridade. Recordamos que dois inteiros z e w têm a mesma paridade se são ambos pares ou se em alternativa são ambos ímpares. Se n m e m p, então é porque n tem a mesma paridade de m que por sua vez tem a mesma paridade de p e, portanto n tem a mesma paridade de p, isto é, n p. Dizemos por isso que a relação é transitiva
Definição. Seja uma relação binária definida num determinado conjunto A. Dizemos que é transitiva se
a, b, c A ( a b e b c a c). A relação binária Rel ( N ) definida no exemplo 1 por
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n m se, e só se, m é múltiplo de n, é reflexiva e transitiva, mas não é simétrica, enquanto a relação binária definida em N por n m se, e só se n é um divisor de m, ou seja, n m se, e só se, q N : m = nq e n ≠ 0
é transitiva, mas não é nem reflexiva nem simétrica, o que acontece também com a relação binária apresentada no exemplo 4 e é definida no conjunto Z dos números inteiros por x y se, e só se, x e 2y têm a mesma paridade. Com efeito, já foi visto que esta relação não é reflexiva, quanto à simetria, temos que 2 3 já que 2 e 2x3 têm a mesma paridade mas 3 2, pois 3 e 2x2 não têm a mesma paridade. Observemos que se a b, então a e 2b têm a mesma paridade, logo a tem de ser um número par. Vejamos a transitividade. Se a b e b c, claro que a e 2c têm a mesma paridade, pois a b e, portanto, a é par, donde concluímos que a c.
As relações binárias apresentadas nos exemplos 3, 5 e 6 gozam das três propriedades: reflexividade, simetria e transitividade. Relações binárias que, como estas, tenham as três propriedades dizem-se relações de equivalência. Mais formalmente temos a seguinte definição. Definição. Seja uma relação binária definida num conjunto A. Dizemos que é uma relação de equivalência se for simultaneamente reflexiva, simétrica e transitiva. Designamos por Eq(A) o conjunto de todas
as relações de
equivalências definidas no conjunto A. 7. As relações kernel são relações de equivalência. De facto se f:A B é uma qualquer função, a relação kerf é reflexiva, pois se a A, f(a) = f (a), já que sendo f uma função cada objecto tem uma única imagem. Por outro lado,
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se akerf b, então f (a) = f (b), logo b kerf a, já que f (b) =f (a). Analogamente, se f (a) = f (b) e f (b) = f (c), então f (a) = f (c) e, portanto, kerf é também transitiva.
8. Consideremos no conjunto [3] as relações binárias e definidas por
= {(1, 1), (2, 2), (3, 3) }
= {(1, 1), (1, 2), (1, 3), (2, 1), (2, 2), (2, 3), (3, 1), (3, 2), (3, 3)} são exemplos de relações de equivalência no conjunto [3]. A relação é a relação identidade e é usualmente representada por A , enquanto a relação coincide com o produto cartesiano [3]x[3] e por isso diz-se a relação universal definida neste conjunto. A relação é chamada de universal, porque no universo onde ela está definida dois quaisquer elementos estão relacionados, isto é, todos os elementos do conjunto se relacionam uns com os outros.
Habitualmente a relação universal definida num qualquer conjunto A é representada por A .
A relação definida no conjunto [3] por = { (1, 1), (1, 2), (2, 2), (3, 3) } é uma relação reflexiva, transitiva mas não é simétrica, enquanto a relação
= {(1, 1), (1, 2), (2, 1), (3, 3)} é reflexiva, simétrica mas não transitiva, pois2 1, 1 2 e no entanto 2 2.
Da definição de relação binária transitiva, resulta que uma relação não é transitiva quando existirem elementos a, b e c no conjunto onde a relação estiver definida de tal modo que a b, b c e a c.
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As relações binárias definidas num conjunto finito podem ser representadas por diagramas chamados de grafos orientados ou de digrafos.
Por exemplo, se é a relação binária definida no conjunto [4] definida por
= {(1,2) (1, 3), (2, 2), (2, 3), (3, 2), (3, 3), (4, 4)} pode ser representada pelo digrafo ([4], ) que apresentamos de seguida ([4], ) 1
2
3
4
O digrafo ([5], )
1
4
2
3
5
representa a relação (escreva em extensão ) definida no conjunto [5]. Esta
relação é uma equivalência no conjunto [5] (Verifique!).
Se é uma relação binária definida num conjunto finito A, a relação pode ser definida por um digrafo, também chamado de grafo orientado, cujos vértices são
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os elementos do conjunto A e as arestas são os pares ordenados que constituem a relação . Mais formalmente apresentamos a seguinte definição.
Definição.
Um digrafo, também chamado de grafo orientado, é um terno
D graf o= (V, A, i), onde:
V é um conjunto a cujos elementos chamamos vértices (do digrafo);
A é um conjunto a cujos elementos chamamos arestas (do digrafo);
i: A V x V é uma função i: A V x V a (i 1 (a), i 2 (a) )
chamada função incidência. Se a é uma aresta, a i 1 (a) chamamos origem ou extremidade inicial, enquanto a i 2 (a) chamamos alvo ou extremidade final da aresta a.
Se considerarmos o último digrafo ( [5], ) que apresentámos e que voltamos a escrevê-lo aqui
1 2
4
3
5 ,
verificamos que a relação divide o conjunto [5] em três subconjuntos todos não vazios, disjuntos entre si e cuja união é o conjunto [5] onde a relação está definida: {1}, {2, 3}, {4, 5}.
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A relação é claramente reflexiva, pois cada vértice tem uma aresta com origem e alvo nesse vértice. Às arestas cuja origem coincide com o seu alvo, chamamos lacete. É também simétrica, pois para cada aresta com origem distinta do seu alvo é representada por uma bisseta o que significa que para cada aresta de extremidades distintas ( (i 1 (a), i 2 (a) ) há uma aresta de sentido contrário, isto é cujas extremidades são (i 2 (a), i 1 (a) ). Além disso, sempre que haja duas arestas consecutivas, há uma aresta com origem na origem da primeira aresta e cujo alvo coincide com o alvo da segunda aresta, o que garante que a relação é também transitiva, isto é, é uma relação de equivalência no conjunto [5].
Reparamos ainda que cada um dos subconjuntos referidos acima, são constituídos pelos elementos que se relacionam um com os outros. Por exemplo, no conjunto {1} estão os elementos que estão em relação com o elemento 1; no conjunto {2, 3} estão os elementos que se relacionam com o elemento 2 e no conjunto {4,5} estão os elementos que se relacionam com o elemento 4. A estes subconjuntos, chamamos as classes de equivalência pela relação de equivalência
. Escrevemos [1] , [2] e [4] e dizemos classe de equivalência- do 1, 2 e 4 respectivamente.
Por inspecção directa verificamos que [2] = [3] e [4] = [5] . O conjunto das classes de equivalência- , {[1] , [2] , [4] } é o conjunto quociente do conjunto [5] pela equivalência ; designamo-lo por [5]/ .
Mais formalmente apresentamos a seguinte definição
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Definição. Sejam
uma relação de equivalência definida num qualquer
conjunto A e a um elemento deste conjunto.
Chamamos classe de equivalência-
de a ao subconjunto de A
designado por [a] definido por [a] = {x A : x a };
O conjunto quociente de A por é o conjunto representado por A/ cujos elementos são as classes de equivalência- , isto é, A/ = { [a] : a A }.
A próxima proposição sumariza as principais propriedades das classes de equivalência. Proposição. Sejam Eq(A) e a, b A.
[a] ≠ Ø;
[a] = [b] se, e só se, a b;
[a] ≠ [b] se, e só se [a] [b] = Ø;
[a] = A. a A
Para terminamos vejamos alguns exemplos.
1. Se Eq(Z) é definida por z w se, e só se, z e w têm a mesma paridade, há apenas duas classes de equivalência, a saber: [0] = { x Z : x é par } e [-1] = { x Z : x é ímpar }. O conjunto quociente Z/ é finito e tem cardinal dois, pois Z/ ={[0] , [-1] }.
2. Se Eq(Z) é a equivalência definida por z w se, e só se, z 2 = w 2 o conjunto Z/ é infinito, mais concretamente este conjunto é equipotente ao conjunto N
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dos números naturais. Com efeito, se z é um inteiro, então [z] = {z, -z} e, portanto, dado que um dos inteiros z ou –z é um natural, então [z] =[│z│] . A função f:N Z/ definida por f(n)= [n] é claramente bijectiva.
3. Se Eq(R) é a relação equivalência “igualdade de característica” isto é, é definida por x y se, e só se, x = y . O conjunto quociente R/ é infinito, mais concretamente este conjunto é equipotente ao conjunto Z dos números inteiros. De facto, dado um número real, a sua característica representada por z = x é um número inteiro e
x = [z, z+1[,
portanto R/ = { [z] : z Z } (Porquê? Pense nisto . Não fique
indiferente a este desafio). A função f:Z R/ definida por f ( z ) = [z]
é obviamente uma bijecção. A
bijectividade desta função é óbvia para si? Se não for, peça ajuda aos seus Professores.
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