Resenha crítica - Romance de 30 PDF

Title Resenha crítica - Romance de 30
Author Efraim Igor Rocha
Course Língua Portuguesa
Institution Universidade do Estado de Minas Gerais
Pages 7
File Size 119.7 KB
File Type PDF
Total Downloads 21
Total Views 126

Summary

resenha crítica sobre os romances “A bagaceira”, de José Américo de Almeida, “O quinze”, de Raquel de Queiroz e “S. Bernardo”, de Graciliano Ramos. ...


Description

1) Faça uma resenha crítica sobre os romances “A bagaceira”, de José Américo de Almeida, “O quinze”, de Raquel de Queiroz e “S. Bernardo”, de Graciliano Ramos. (A resenha crítica descreve objetiva e concisamente (exemplos curtos, se necessários) informações sobre uma obra, tendo natureza informativa e argumentativa. É um texto informativo para possíveis leitores do texto resenhado. Geralmente, consiste de breve resumo e análise).

Resenha I: A Bagaceira – José Américo de Almeida ALMEIDA, José Américo de, 1887-1980. A bagaceira: romance / José Américo de Almeida; introdução M. Cavalcanti Proença; ilustrações Poty. - 37a ed. com texto revisto da ed. crítica. - Rio de Janeiro: José Olympio, 2004. Tragédia José Américo de Almeida tem uma importância imensurável na literatura brasileira regionalista (“pé-do-fogo da literatura”) – ao apresentar uma história nordestina, com personalidade e características únicas, quebrando alguns estereótipos da figura do trabalhador dos brejeiros e construindo uma história complexa e elaborada que funciona como uma crítica à opressão da burguesia proprietária de grandes terras. A obra constrói sua narrativa durante os períodos mais tenebrosos e escaldantes da seca nordestina – os últimos anos do século XIX e as duas primeiras décadas do século XX. A Bagaceira faz parte de um importante e seleto grupo de obras literárias do Brasil – “Romance de 30” – que tinham um papel social e crítico da sociedade brasileira. Logo na primeira parte do livro, Almeida constrói uma dicotomia entre a figura do sertanejo e o brejeiro – dentre o “trabalho” e a inteira exploração dos indivíduos subordinados aos grandes fazendeiros – é uma visão do sertão precisa e visceral. Pela temática, é inevitável compara-lo a obras como Vidas Secas de Graciliano Ramos e Os Sertões de Euclides da Cunha, por exemplo. Essa referência fica evidente ao nos depararmos com textos denunciativos – onde através da escrita é colocado em evidencia todas as dificuldades e injustiças da vida nos sertões. Avezados ao eito, nenhum dava por essas penas. Ao invés. Quase todos assobiavam. Muitos cantavam. Também se adormece a fome, como às crianças, cantando. Não se queixavam da labuta improdutiva:

— É pra castigar o corpo. Vez por outra, levantavam os olhos ao céu, não pedindo misericórdia, mas reparando no sol — a hora dó descanso (...) Essa resignada submissão às necessidades de cada dia não era para ganhar a vida: era, apenas, para não perdê-la (ALMEIDA, 2004, p.28).

Passada essa primeira parte, o que presenciamos na narrativa de Almeida é mais uma história de amor e vingança (ou “vingança privada”, como diz o autor) – com tramas envolvendo família, traição e uma dose de maldade que são intrínsecas aos romances de época. É interessante o exercício de relembrarmos quantas outras obras da literatura brasileira possuem como fio condutor de suas narrativas a vingança. O desastre, talvez, poderia ter sido evitado se Lúcio não tivesse se separado, pelo menos por um tempo de sua amada Soledade – ou não. Já vimos na literatura brasileira, desgraças acontecendo com casais que dividiam a mesma casa, o mesmo quarto – a separação, nesse caso, pode agravar o sentimento de revolta de alguns leitores que tinham expectativa do reencontro alegre do casal de enamorados. Estamos acostumados com as tragédias e as mortes repentinas – que mudam o destino dos outros personagens, os transformando completamente. Essas viradas na narrativa, embora já esperadas, nos emociona e impacta como se fossem inéditas – o que só prova a qualidade dos autores de nosso país. Nos importamos com os personagens, e, em alguns casos, nos conectamos com eles. Claro que a distância histórica, bem como as particularidades de cada época são diferentes, mesmo assim, existem personagens que conseguem transpor tudo isso, estabelecendo com o leitor uma espécie de ligação emocional. É possível se conectar com o drama de Soledade, ou com a fome de vingança de Valentim. A injustiça é comovente em uma história de amor – não é aceito à tragédia como algo ordinário – na obra de Almeida, a injustiça se torna o tema central, deixando as ações dos personagens quase que comparadas a “mecanismos de defesa”. O objetivo de Valentim, embora envenenado pelo ódio, nada mais é que uma reação de um homem desiludido de tudo. Pirunga procurava afazer-se à missão que Valentim lhe cometera; mas recobrava nesse sistema de vida o gênio selvagem. Revertido à liberdade do sertão, que lhe restituía o brio congenial, sentia todo o pejo da transigência imposta por uma vingança aprazada (ALMEIDA, 2004, p.140).

Dagoberto, um ser que se mostra desprezível, personifica o mal nessa história. Talvez, o poder de ser o proprietário daquela grande propriedade o fez pensar ter direito pela vida e liberdade de Soledade e de trair a confiança e humilhar seu filho. O pai presenciou momentos em que o casal de jovens conversava e trocava olhares, porém, mesmo assim, decidiu cometer o crime. Esses ingrediente tornam a leitura de A Bagaceira angustiante em certos momentos, nos deixando incrédulos e revoltados – porém, entendemos que são características estruturais dos romances regionalistas. O sofrimento parece nos ensinar mais do que a alegria e o amor que consegue criar raízes no terreno da perversidade humana.

Resenha II: O Quinze – Raquel de Queiróz QUEIROZ, Rachel de, 1910-2003. O quinze [recurso eletrônico] / Raquel de Queiroz. – Rio de Janeiro. José Olympio, 2012. Abandono O Quinze é mais uma das obras que fazem parte do “Romance de 30” – obras com cunho crítico e denunciativo a respeito do abandono dos indivíduos mais expostos a fome e miséria no pais nas primeiras décadas do século XX: Assim como A Bagaceira de José Américo de Almeida, a narrativa é construída no terreno da grande seca nordestina de 1910-1915 – o personagem principal da história de Queiroz é a Seca e suas consequências imediatas na qualidade de vida do povo cearense, com o definhamento de seu trabalho no campo, a fome e o abandono obrigatório de suas terras – introduzindo ao repertório do leitor o início do êxodo nordestino às grandes metrópoles. Nesse contexto, não temos um vilão para culpar – ou um personagem a se odiar – a natureza (juntamente com o descaso governamental) se mostra implacável ao desafiar constantemente a sanidade e a vontade de sobreviver dos membros da família de Chico Bento e de outros cearenses anônimos da trama. Entendemos e nos solidarizamos com as atitudes desesperadas de matar a fome com o que se achava – mesmo custando a vida de alguns deles. A vontade de chegar a uma “Canaã” prometida, a um local seguro, a um lugar farto de alimento e de aconchego foi o que moveu

milhares de pessoas a colocarem os pés descalços no terreno quente do sertão nordestino. As passagens narradas visceralmente por Queiroz demonstram com uma grande riqueza de detalhes as reais dificuldades que as famílias do interior dos estados do nordeste sofrem para conseguir viver de maneira digna – a falta de estrutura e apoio do governo maior pode custar todo um esforço de gerações e gerações. Pensar que, em algum momento você terá que sair desesperadamente de sua casa, abandonar suas origens, seu estilo de vida, sua forma de garantir alimento e se jogar ao mundo, apenas com a roupa no corpo e a esperança no peito, parece irreal para a população dos estados mais privilegiados da nação. Outra grande contribuição que trouxe a obra O Quinze é apresentar para muitos leitores, principalmente os mais novos, que o Brasil do século XX também possuía dentro de seu território campos de concentração. Na história em questão, conhecemos um pouco da miséria que era viver no campo de Alagadiço – local onde os migrantes do interior eram direcionados para não se misturarem com os “locais” de Fortaleza. Conceição passava agora quase o dia inteiro no Campo de Concentração, ajudando a tratar, vendo morrer às centenas as criancinhas lazarentas e trôpegas que as retirantes atiravam no chão, entre montes de trapos, como um lixo humano que aos poucos se integrava de todo no imundo ambiente onde jazia. Dona Inácia, as vezes que podia, acompanhava a neta nessa labuta caridosa, em que a moça empregava o melhor da sua natureza (QUEIROZ, 2012, p.90).

Acompanhamos a caminhada dos personagens até que enfim conseguem chegar à capital cearense e reencontrar a destemida professora Conceição, que assim como eles, decidiu abandonar tudo para garantir seu futuro. Com a ajuda da moça, as esperanças da família de Chico Bento são renovadas e eles planejam uma mudança à capital paulista – grande foco do êxodo nordestino. Conceição, desde o início, se apresentava como uma pessoa deslocada naquele cenário desolador – ela simbolizava a busca por dias melhores na vida dos já desgraçados pela seca. A jovem não só se oferece para cuidar e criar de um dos filhos da família de Bento, como também ajuda muitos outros a encontrar esperança naqueles tenebrosos dias presos nos campos de concentração. O imaginário de alguns personagens a respeito desses lugares é assustador de muitas maneiras – é possível perceber o terror não só dos que lá habitavam, mas como

dos que ouviam rumores de mortes em massa e até canibalismo. Esses se perguntavam o que alguém como Conceição estaria fazendo em um local tão amaldiçoado pela fome e a miséria. Muito provavelmente, diante de todo sofrimento e morte, Queiroz decidiu adicionar uma figura quase “messiânica” a trama – um personagem movido apenas pelo bem do próximo. A história de Chico Bento e sua família, bem como a de Conceição e seus protegidos, é sem sombras de dúvidas um exemplo do que muitas famílias nordestinas tiveram que passar durante o período de seca – como a morte, para muitos deles se tornava algo comum e ordinário – começar a jornada e perder seus familiares no meio do caminho, ou chegar até seu destino e se ver preso em campos de concentração, enfrentando as mesmas mazelas da estrada Muitos não conseguiram chegar até as grandes cidades autossuficientes do pais naquele contexto – esses habitam apenas as lembranças e recordações de seus familiares e nos prova mais uma vez que nosso pais sempre foi repleto de injustiças e desigualdades.

Resenha III: S. Bernardo – Graciliano Ramos RAMOS. Graciliano. S. Bernardo 88ª edição. Editora Record. Rio de Janeiro. 2009 Absolvição As obras de Graciliano Ramos são quase inconfundíveis para um leitor que já teve algum contato com suas obras – não importa a narrativa da história, o ambiente, os cenários, divide o papel de protagonismo com os personagens. Em vidas Secas, o sertão, o chão seco, o caminho interminável eram o combustível necessário para o progresso da história. Já em S. Bernardo temos um cenário semelhante – porém com uma história de ascensão do protagonista Honório. O protagonista parece ser escrito por Machado de Assis – aqueles seus personagens ranzinzas, destemidos e que pensam só neles mesmos. É interessante referenciarmos os principais autores de nossa literatura, vermos que diante de suas individualidades, é possível encontrar semelhanças.

Embora alcance seus principais objetivos no decorrer da história, percebe-se que o personagem encara um vazio dentro de si – uma dúvida a respeito das escolhas de seu passado e sua caminhada até chegar no ponto mais alto de sua ascensão. Assim como Bentinho de Dom Casmurro, Honório preenche o vazio de sua existência com a paranoia do ciúmes e a violência – afastando as últimas pessoas que ainda estavam ao seu redor (ou que ele permitia que estivessem). Confio em mim. Mas exagerei os olhos bonitos do Nogueira, a roupa benfeita, a voz insinuante. Pensei nos meus oitenta e nove quilos, neste rosto vermelho de sobrancelhas espessas. Cruzei descontente as mãos enormes, cabeludas, endurecidas em muitos anos de lavoura. Misturei tudo ao materialismo e ao comunismo de Madalena — e comecei a sentir ciúmes (RAMOS, 2009, p.79).

O desastre e a tragédia final parece comover esses personagens já conhecidos da literatura brasileira – porém, apenas quando estão velhos e sozinhos. As trajetórias de vida, bem como suas escolhas, afetaram e destruíram diversos outros indivíduos no decorrer da história – o que faz nossa empatia com o “homem arrependido” diminuir, ou, em alguns casos, ser quase inexistente. O suicídio de Madalena nos comove pela afeição que temos na personagem, não no impacto dessa morte na vida de Honório – a iniciativa de escrever memórias, parece ser um apelo final do protagonista para que suas ações possam ser “aceitas” ou para ter seu perdão diante de suas ações. Assim como em Dom Casmurro, o relato serve apenas como narrativa – e não como uma absolvição. S. Bernardo é considerado por muitos a melhor obra de Graciliano Ramos – deixando seu livro mais famoso, Vidas Secas em segundo lugar. A partir disso, é inevitável compara-la com O Coruja, de Aluísio Azevedo – uma obra magnifica, considerado “O Corcunda de Notre Dame brasileiro”. Claro que essas histórias são menos conhecidas que O Cortiço ou Memórias do Cárcere, porém, isso não diminui a qualidade dessas obras que habitam as “sombras” de seu irmãos. Uma maior diversificação da escolha de leituras obrigatórias para os principais vestibulares do país, pode ser um aliado interessante para que outras obras da literatura brasileira possam enfim alcançar os leitores. Tornar obras magnificas “conhecidas” é uma tarefa difícil na atualidade – basta analisar a lista dos livros mais vendidos que é lançada a cada ano pelas principais lojas e sites especializados – os best-sellers, bem

como a continuação de sagas intermináveis são os livros mais procurados. A impressão é que os clássicos pertencem apenas à um nicho, aos saudosistas e à cultura do sebo. S. Bernardo, bem como as demais obras regionalistas do renomado grupo “Romance de 30” merecem ser compartilhados e passados de mão em mão – ler essas obras é uma maneira incrível de se transportar até uma época historicamente muito importante na construção do que conhecemos hoje da cultura nordestina....


Similar Free PDFs