Resenha da filme Escritores da Liberdade PDF

Title Resenha da filme Escritores da Liberdade
Course PPB II : PROCESSOS COGNITIVOS E AFETIVOS
Institution Universidade Estadual do Ceará
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Resenha da filme Escritores da Liberdade e suas relações com PPB...


Description

ANÁLISE DO FILME ESCRITORES DA LIBERDADE E SUAS RELAÇÕES COM OS PROCESSOS PSICOLÓGICOS BÁSICOS Disciplina: PPB III O filme conta a história de alunos criados em um contexto de violência e de agressividade os quais tiveram suas vidas mudadas por conta do trabalho diferenciado de uma jovem professora que oferece a esses adolescentes o que eles mais precisam: uma voz própria. No início do filme é perceptível que um dos motivos da falta de motivação dos alunos é que a escola além de não ser um ambiente acolhedor, não procura apresentar um conteúdo que seja atrativo e que respeite o contexto em que os estudantes vivem. Esse fato fica evidente no seguinte discurso de uma das alunas: Você não sabe de nada! Não conhece nossa dor. Não sabe o que temos de fazer. Não respeita nosso jeito de viver. Temos de ficar aqui, aprendendo uma merda de gramática e aí temos de voltar para lá. E o que vai me dizer disso, hein? O que você está ensinando aqui que fará diferença na minha vida? (ESCRITORES da liberdade, 2007)

A partir dessa manifestação, a professora percebe que precisa fazer com que a sala de aula se torne um ambiente receptivo, no qual promove a escuta dos alunos e que realmente faz diferença na vida deles. Assim, a professora passa a utilizar uma didática diferenciada, focando na conjuntura a qual pertencem aqueles adolescentes, marcada principalmente pela tensão racial. Primeiramente, a professora buscou conhecer o meio em que seus alunos estavam inseridos através relatos deles próprios, o que abria espaço para que os mesmos não só exercitassem suas habilidades de escrita e de expressão como também desenvolvessem um papel ativo no seu processo de aprendizagem. Dessa forma, a primeira dinâmica que professora desenvolveu dava oportunidade tanto para os alunos expressassem o seu contexto como também entrassem em contato com o contexto dos outros, principalmente daqueles que pertenciam a grupos diferentes. Essa dinâmica consistia em traçar uma linha dividindo a sala em dois grupos frente a frente e fazer perguntas como “quem tem o cd do Tupac? ”. Os alunos que respondessem sim às perguntas deveriam ir em direção à linha, caso contrário teriam que permanecer em seus lugares. O objetivo

principal era mostrar que eles possuíam mais coisas que os uniam do que os afastavam e, assim, promover a empatia, a tolerância e o respeito mútuo. Ao conhecer um pouco melhor a vida dos seus alunos, a professora passou a adaptar seu plano de disciplina e sua didática de forma a ser compatível com a realidade deles. Assim, ela procurou disponibilizar livros que conversavam com a conjuntura daqueles jovens, iniciando com “O Diário de Anne Frank”, após um dos alunos fazer uma caricatura para ridicularizar um colega de classe, negro, ressaltando seus lábios. O objetivo de Erin era mostrar que a exclusão e o preconceito podem afetar a todos, independentemente da cor de pele, da religião e etnia. Além de focar em diminuir a tensão racial dentro da sala de aula, Erin busca dar uma voz ativa aos alunos, dando oportunidade para que eles escrevessem em diários - os quais ela, caso permitido, poderia ler - na perspectiva de que relatassem suas experiências fora da escola, bem como suas emoções e percepções advindas dessas experiências. Esse fato é de extrema importância, pois esses alunos sofriam certa aversão e preconceito por parte da própria instituição por serem alunos vindos da periferia e de baixa renda, sendo vistos, portanto, como “alunos-problema”. Desse modo, esses adolescentes possuíam pouca oportunidade de se expressar e até mesmo de aprender, não só por ficarem desmotivados devido ao desprezo da diretoria como também por não serem disponibilizados recursos para tal. Isso fica evidente na cena em que a diretora praticamente proíbe os alunos da professora Erin de lerem os livros bons da biblioteca por achar que eles iriam destruí-los. O fato desses adolescentes serem vistos pela escola como “alunos-problema” é uma questão importante a ser discutida. Esse tipo de pensamento corrobora com a pedagogia da exclusão ao classificar e rotular as pessoas, ajudando, de certa forma, a propagar a ideia - presente até hoje na nossa sociedade - de que a responsabilidade pelo fracasso escolar se encontra no aluno, em sua família ou em sua raça. Entretanto, ao colocar o aluno como centro de toda a vida escolar, responsabilizando-o pelos seus tropeços, podemos estar nos cegando para as periferias que o cercam, tais como a cultura, a família, o professor, a instituição de ensino e o contexto histórico, fatores que são, como um todo, de suma importância para o processo de aprendizagem. Assim, de acordo com Andaló,

O que nos parece estar subjacente, mas nem sempre claro, nessa perspectiva, é a idéia de que a escola como instituição é tomada como adequada, como cumprindo os objetivos ideais a que se propõe. Permanecem inquestionados, desta forma, o anacronismo dos currículos, dos programas, das técnicas de ensino-aprendizagem empregadas, bem como a adequação da relação professor-aluno estabelecida. Esta é, portanto, uma visão conservadora e adaptativa, uma vez que os problemas surgidos ficam centrados no aluno, isto é, a responsabilidade dos insucessos e dos fracassos recai sempre sobre o educando. (ANDALÓ, 1984, p.1)

Ou seja, esse tipo de visão acaba promovendo uma culpabilização dos alunos frente a questões que dizem respeito ao cotidiano escolar, situando o problema na criança e não na escola como um todo. E era justamente essa a realidade daquela escola, o que tornava o ambiente bastante desmotivador tanto para aprender quanto para expressar os sentimentos de outra forma que não fosse a violência e a agressividade, que era o que eles viviam fora dali. Assim, esses alunos já vinham de uma realidade de marginalização por parte da própria sociedade a qual estão inseridos, justamente por fazerem parte de minorias que, historicamente, sofrem com o preconceito e a segregação, e a escola, que deveria ser um ambiente de favorecimento do processo de aprendizagem como ferramenta de transformação social, acabou muitas vezes sendo uma extensão dessa realidade, tendendo a excluir esses alunos. Felizmente, a professora Gruwell não só percebeu que eles eram capazes de aprender e de se tornarem ótimos alunos, como visou incentivá-los a enxergarem isso. E uma vez que perceberam a sua competência, os alunos passaram a ter uma motivação intrínseca de incrementá-la, de buscar conhecer. Além disso, ao buscar tornar o conteúdo de suas aulas compatível à realidade de seus alunos e ao mostrar que a educação pode fazer diferença na vida de alguém, a professora possibilitou que eles se interessassem pelo assunto ministrado nas aulas, tornando aquele ambiente menos aversivo e diminuindo o sentimento de obrigação, o que foi imprescindível para o aumento da motivação dos alunos. Podemos notar também a motivação intrínseca por parte da professora que, acreditando nos seus objetivos de integrar e dar uma nova perspectiva para seus alunos, enfrenta não só os outros professores, mas também seu marido e seu próprio pai, que desde o começo duvidaram de sua capacidade e da capacidade de seus alunos. No entanto, ela reconhecia sua competência e que aquela era a “sua tarefa”, não porque o outro quer, mas porque ela escolheu.

Além disso, o filme nos mostra um sistema educacional competitivo, que dá valor aos resultados, o que tende a desmoralizar a maioria dos alunos, bem como racionalizá-los ao ponto de ser quase que ignorado os fatores emocionais que os acometem, principalmente na fase e no contexto social em que se encontram os alunos. Esse foi outro ponto trabalhado pela professora Gruwell, que buscou criar um espaço - através dos diários - para que seus alunos se expressassem, independentemente do que eles estivessem sentindo. Assim, o método de ensino e a empatia de Erin resultaram, não só no sucesso acadêmico dos alunos, mas também na mudança de perspectiva de vida de cada um deles, de tal forma que ela passa a ser um fator de incentivo para esses adolescentes. A ação pedagógica da professora Gruwell é inovadora, uma vez que desperta a motivação dos alunos para expressar seus sentimentos, ler, pensar, escrever, e mudar a partir do reconhecimento de que sim, eles são capazes.

Referências ANDALÓ, Carmem Silvia de Arruda. O papel do psicólogo escolar. Psicol. cienc. prof., Brasília , v. 4, n. 1, p. 43-46, 1984 . Disponível em:

. acesso em: 12 jun. 2017. ESCRITORES da liberdade, Direção: Richard LaGravenese. Fotografia: Jim Denault. 123 min, color, 2007. Disponível em: Acesso em: 11 jun. 2017....


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