Resenha da obra: Uma Cantiga de D. Dinis PDF

Title Resenha da obra: Uma Cantiga de D. Dinis
Author Matheus Belo
Course Poesia Portuguesa I
Institution Universidade Federal do Rio de Janeiro
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Summary

Trata-se de uma resenha da obra Uma cantiga de D. Dinis, de Helder Machado....


Description

Nome: Matheus dos Santos Belo Leibão / DRE: 117048400

MACEDO, Helder. Uma cantiga de D. Dinis. In: RECKERT, Stephen e MACEDO, Helder. Do cancioneiro de amigo. 3ª ed. Lisboa: Assírio & Alvin, 1996. p.60 – 70.

Esta resenha propõe analisar o ensaio crítico escrito por Helder Machado. Inicia-se tomando noção que o autor utiliza como pontos centrais de discussão os cuidados e ressalvas que devem ser adotados quanto à interpretação textual de obras produzidas em contextos históricos diferentes daquele em que se está ocorrendo a leitura. Neste caso, da escrita de poemas medievais, uma cantiga de amigo, produzida por Dom Dinis, foi utilizada como base de desenvolvimento da argumentação do autor. Segundo Helder Machado, há determinados códigos socioculturais que marcam a escrita de determinada época, e esses podem coincidir ou divergir com aqueles presentes no momento da leitura. Ressalta, cuidadosamente, que tais valores intrínsecos à obra não podem ser ignorados, mesmo que indiretamente, pelos leitores modernos, pois, ao fazer isso, estar-se-ia encobrindo o real contexto que visava se expressar com tal produção artística. Depreender somente de uma interpretação sob um viés moderno da obra eliminaria grande parte das nuances, daquilo que é dito nas entrelinhas, das segundas intenções, do discurso poético medieval; não discernindo de maneira satisfatória e suficiente as diferentes formas de pensamento e expressão dessas duas sociedades. Em outras palavras, fazer tal afirmação significa dizer que o autor da época medieval, oposto ao moderno, vê e reflete sobre o mundo de uma maneira inteiramente diferente, e que, por esse motivo, desenvolve uma produção artística tão distinta. Continua, o autor, em sua argumentação sobre a construção poética medieval, afirmando o forte simbolismo, metafórico, presente nas obras dessa sociedade. Para concretizar melhor a ilustração que pretende fazer, analisa, por completo, uma cantiga de amigo, “Levantou-se a velida, / levantou-se alva”, com o intuito de expressar seus pontos de uma maneira mais dinâmica. Aqui toda aquela problemática de interpretação retorna e se desenvolve de uma maneira que busca ser a mais clara possível. Há duas possibilidades de se enxergar esse poema: uma atrelada somente ao nível do que está sendo dito, ao nível narrativo; outra ligada ao nível da pluralidade semântica da produção, vinculado à organização do discurso,

que traz consigo toda a bagagem sociocultural que refletia no código utilizado na escrita poética presente na sociedade medieval. No plano puramente narrativo, tem-se a descrição do cotidiano de uma menina no meio rural. Porém, quando se vai para além da leitura de superfície, toda uma gama de metáforas se abre e uma nova leitura surge desse poema. Quando o leitor se desprende da ação de uma leitura puramente imediata e passa a enxergar o texto pelas suas entrelinhas, como produto de uma produção artística típica de um dado período histórico, começará a notar traços que indicam uma narrativa implícita àquela presente em sua leitura prévia. As ações, a paisagem, a sonoridade dos versos, tudo que compõem a estruturação do poema passa a revelar novas nuances que passam a traçar não somente uma nova leitura como também um paralelo com as características que impregnavam e caracterizavam o estilo das cantigas medievais de amigo. Ao indicar e desenvolver todos esses pontos, Helder Machado enfatiza cada vez mais a importância de sua argumentação base. Essa interpretação que faz pensar o símbolo de outra forma, como o principal instrumento que permite a mescla entre o concreto e o metalinguístico, o real e o mitificado, ou seja, a designação do abstrato/metafórico por meio do real; são traços recorrentes da identidade, da produção artística e histórica, daquela sociedade medieval. O não atentamento, ou o simples desconhecimento, a essas características possibilitariam o encobrimento de toda essa carga social e cultural que estava buscando ser expressa. Com tudo dito, pode-se concluir que a leitura, assim como a produção escrita, está sujeita a suas próprias considerações, sejam elas por influências históricas, sociais ou culturais. Porém, como o ensaio do autor pretendeu expor, mesmo frente ao conjunto de possíveis interpretações que são expostas ao leitor, somente a consideração da obra como um produto de seu tempo, como um marco no código sociocultural na expressão de uma época, criará as condições base necessárias para enxergar toda essa gama metalinguística presente, assim como as características que marcaram esse estilo literário....


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