Resenha do artigo \"Mulheres em Movimento\" da autora Sueli Carneiro PDF

Title Resenha do artigo \"Mulheres em Movimento\" da autora Sueli Carneiro
Author Marcos Antônio
Course Gênero e Sociedade
Institution Universidade Federal do Tocantins
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Summary

O artigo traz os desdobramentos surgidos do protagonismo dado às mulheres negras dentro do feminismo, um tema que se faz atual....


Description

UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS CAMPUS DE TOCANTINÓPOLIS GÊNERO E SOCIEDADE ALUNO (A): MARCOS ANTÔNIO COELHO DA SILVA

CARNEIRO, Sueli. Mulheres em Movimento. In: Estud. av. vol. 17, nº 49, São Paulo, Sept./Dec. 2003.

A filósofa e doutora em Filosofia da Educação pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, Sueli Carneiro, vem, neste texto datado de 2003 e produzido para a revista Estudos Avançados, fazer importante contribuição ao feminismo das mulheres negras, uma dimensão do movimento que ficou por muito tempo silenciado, mas que graças a presença sempre constante – mesmo que por muito tempo em número muito baixo – de negras, se manteve viva e ganhou força nos processos de democratização ao combinar-se com as lutas populares. Isso resulta num movimento de grande destaque no Brasil e que alcança objetivos sem precedentes para as mulheres, como políticas públicas específicas, direitos sexuais e reprodutivos, além de maior espaço na política brasileira, onde dali em diante, respaldadas na lei, passaram a dispor de maior espaço dentro das legendas dos partidos. Esse desprendimento mostra-se importante na medida que quebra com a quase imutável ideia da mulher universal, que obviamente não é representativa da mulher negra, principalmente a pobre, que é esmagadora maioria. Nesse cenário, foi necessário fazer essa defesa e abstrair do movimento uma agenda própria que contemplasse sua luta em específico e suas formas de opressão. A ação, diferente do que possa parecer, isola, mas não na verdadeira acepção da palavra, ela mais é uma ampliação, uma vez que todas as mulheres precisam ser representadas. O desafio que fica é a reelaboração do discurso feminista, que deve buscar contemplar todas as vertentes. A esse esforço de reconhecer a importância da mulher negra dentro do feminismo, a autora chama “enegrecer o feminismo”, é um reconhecimento de que a produção de literatura feminista é insuficiente, é uma abertura a todas as formas de ser mulher, que é de uma variabilidade que só tende a enriquecer o movimento feminista, que não só se fortalece a

luta por uma sociedade mais justa, mas também acaba enfrentando todos os desafios específicos de cada uma dessas dimensões específicas, como o racismo, por exemplo. A dificuldade na reelaboração do discurso feminista fica por conta da reconfiguração interna, que deve considerar a diversidade e desigualdades entre essas mulheres, e com relação a igualdade de gênero, mais aspectos devem ser incluídos na nova equação, visto que a mulher negra se encontra até mesmo abaixo do homem negro. Isso é reflexo do racismo, e a crítica implementada, reflexo da denúncia empreendida pela ação política das mulheres negras, ambos se tornam pautas relevantes dentro desse novo debate. Fica claro que o aderir a essas demandas é um processo gradual e que cada passo rumo a essa plenitude do movimento deve ser valorizado, afinal, até num passado bem recente, o movimento feminista no Brasil era por demasiado eurocêntrico negando a hierarquia de gênero na sociedade e a história de luta e resistência das mulheres negras, um quadro que vemos ter evoluído bastante quando nos voltamos para os dias de hoje. Um adendo aqui fica para o campo do mercado de trabalho, onde sua expansão para as mulheres ainda deixou barreiras profundas não só em relação aos homens, mas também entre brancas e negras, onde é muito evidente que há “serviços para negras” e “serviços para brancas”. É um campo onde a luta esbarra fortemente na estrutura social, ali ela está arranjada de uma forma bastante firme e promete não mudar facilmente. Esse é um dos exemplos mais elucidativos de que um feminismo universal não daria conta da luta das mulheres num dos países mais racistas do globo como o Brasil, não resta dúvidas de que esse arranjo estrutural está intimamente atravessado por ele e de que seu combate deve adentrar a estrutura do movimento feminista. Outro ponto de destaque no texto, mas ainda perpassado pela hierarquia racial, é o efeito que a hegemonia da “branquitude” pode causar sobre as mulheres negras, que acabam corriqueiramente sendo vistas como opção apenas para o sexo casual e não para um relacionamento institucional. O que acontece é que o padrão de beleza eleito pelo mundo é o da mulher branca e isso reflete em determinados comportamentos afixados no imaginário social como o exemplo do citado acima. Sueli Carneiro, ao analisar os reflexos disso sobre a subjetividade da mulher negra, acaba enquadrando essa hegemonia como uma violência. A autora também dá enfoque a área da saúde, onde doenças geneticamente mais comuns em negros tem seus tratamentos negligenciados institucionalmente. Fora isso, ainda entram no bojo, tratamentos de ordem geral, mas que não satisfazem as classes mais

desfavorecidas. Essa constatação é de suma importância e também deve ser adicionada a agenda feminista, assim como o desafio de um dia fazer parte dos fóruns de bioética, momentos de importância internacional e que definem questões relacionadas à saúde humana. O tradicional enfoque nos meios de comunicação sempre que se fala da mulher negra também aparece no texto de Sueli, aqui ela reconhece que houveram mudanças consideráveis no quadro, mas a saturação de negros em papéis desprestigiados é para ela ainda um grande problema, uma vez que os meios de comunicação têm papel decisivo na formação do imaginário popular e assim contribui em muito para a desvalorização de homens e mulheres negras. É necessário reformular e até mesmo fazer com que os meios de comunicação contribuam no empoderamento da mulher negra, e não o contrário. Quando no resumo do artigo a autora fala de uma nova agenda do feminismo, ela está claramente se referindo a uma virada de chave sem precedentes na luta das mulheres no Brasil e essa virada tem como municiadora a Conferência Nacional das Mulheres Brasileiras (realizada nos dias 6 e 7 de junho do ano de 2002 em Brasília), de onde surgiram os princípios orientadores da luta feminista do Brasil, que acabava de reconhecer toda a luta para reconhecimento do racismo, discriminação racial, desigualdade de gênero e de raça (CARNEIRO, 2003). Em suma, o projeto feminista é tão amplo que se confunde muitas vezes ao da democracia, e em certo ponto partilham de muito em comum, já que a agenda feminista também ergue a bandeira da justiça social e seus princípios atravessam em muito, aspectos que são essenciais a uma sociedade mais igualitária. “Mulheres em movimento”, no fim das contas acaba sendo um texto de grande valia aos que desejam conhecer o feminismo na perspectiva brasileira e, portanto, embora sua linguagem seja bastante acessível, exige um mínimo de conhecimento sobre o movimento feminista e suas ambições. Como dito, o leitor não encontrará grandes entraves para compreensão do texto, uma vez que este demarca de forma muito feliz cada campo enfatizado pela agenda feminista e o questiona na essência antes de passar a um próximo. Os usos de referências contemporâneas também dão a tônica do texto. O que fica do texto, além do preenchimento de lacunas referentes ao cenário brasileiro, algo que costuma acontecer quando abordamos temas apenas pela parte clássica, é

sua contribuição ao reconhecimento do protagonismo da mulher negra brasileira, um conhecimento ao qual todo brasileiro deveria se deleitar em vista a revertermos a situação atual rumo a dias melhores, sendo assim fica como uma indicação ao grande público....


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