Resenha O século dos cirurgiões PDF

Title Resenha O século dos cirurgiões
Author Victória Schmitt
Course Estudo Da Medicina I
Institution Universidade do Vale do Taquari
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Summary

Resenha do livro o século dos cirurgiões para a disciplina de história da medicina....


Description

O século dos cirurgiões THORWALD, Jurgen. O século dos cirurgiões . 1 ed. São Paulo, Leopardo Editora, 2010.

A busca da precisão

Jurgen Thorwald foi um escritor alemão. Sua obra mais famosa é O século dos cirurgiões, publicada pela primeira vez na língua alemã em 1956. Em 1966, Thorwald ganhou o prêmio Edgar Allan Poe por suas obras. O livro O Século dos Cirurgiões foi escrito com base em histórias e relatos, vivenciados por Henrique Estevão Hartmann um famoso médico e pesquisador de seu tempo, avô materno de Jurgen Thorwald que é quem relata os acontecimentos. Assim, a narrativa assume em vários momentos um caráter mais pessoal, marcado pela afetividade, o que nos puxa para a sua leitura. A obra analisada mostra a evolução da cirurgia por meio de cenas de estudos e pesquisa de Hartmann e Thorwald. Cirurgia é ciência e arte. Como ciência, tem renovação dinâmica e constante de preceitos, já como arte exige um aprendizado manual paciente. Tais conceitos podem ser observados no livro, que demonstra o quanto a técnica e a capacidade do médico estão relacionadas com o êxito. A obra retrata por meio de cenas médicas a evolução das cirurgias e a dificuldade de alguns médicos em fazê-las em uma época influenciada

enormemente

pela

religião.

Grandes

dificuldades

foram

enfrentadas pelos pioneiros da cirurgia tanto no campo técnico-científico quanto humanístico da medicina. Antes da descoberta da narcose ,em 1846,a cirurgia era um sofrimento, e estava associada a conhecimentos básicos. Com a sua evolução possibilitou o acesso a órgãos até então inacessíveis, como diversas descobertas que atualmente nos parecem óbvias e banais, mas essenciais para obter sucesso. Além disso, o livro também permite refletir sobre a evolução do conceito de ser médico. Outrora não era considerada uma profissão de prestigio; hoje é a profissão mais concorrida em processos seletivos para graduação. Ou seja, podemos perceber como a medicina evoluiu na prática e como profissão médica. Para um aluno de medicina do primeiro

semestre foi muito interessante a leitura, pois fui transportada para os primórdios da prática cirúrgica, uma viagem no tempo, e é imprescindível conhecer o passado para melhorar o futuro. Durante a primeira parte do livro é relatado ao leitor à maneira como um bom cirurgião deveria ser naquela época em que não havia anestesia. Ser frio para ouvir durante vários minutos os gritos de dor, forte para segurar o paciente em uma posição, habilidoso e rápido para tentar causar menor dor e sofrimento possível aos enfermos. Só fato de se pensar que alguém é submetido a uma cirurgia sem anestesia me causa borbulho no estomago, e acredito que para todos que lerem também. No decorrer da leitura, as descrições dos sentimentos e barulhos dos pacientes é algo bizarro, a coragem para se submeter a isso acredito que esta relacionada com a tamanha dor que certas doenças causavam e assim eles estavam dispostos a tudo para que aquilo passasse logo, mesmo que as chances de sobrevivência fossem muito pequenas. Pode se ressaltar também a frieza, necessária, dos médicos para ouvirem o desespero dos pacientes e se concentrarem durante os procedimentos, sem falar que conseguiam salvar poucas pessoas, seja por falta de técnica e conhecimento, seja -sobretudo- por falta de aparelhos, noções de higiene, entre outros materiais. Naquela época não existia tanto material literário que temos disponível hoje, a comunicação entre médicos de outros lugares era restrita e difícil, certos procedimentos precisavam dias ou até meses de estudo, e muitas vezes não funcionavam, as enciclopédias não deviam ser tão completas e os pacientes se tornavam, de certa forma, cobaias para novos procedimentos, isso porque os médicos tinham esperança que poderia dar certo, e de fato alguns davam resultados e era necessário sim tentar novas possibilidades para que essa área evoluísse. Fica bastante claro nesse capítulo, e em outros também, o fato de os médicos testarem, como um tiro no escuro, em que cada cirurgia era um mistério para a anatomia humana, novos métodos nos seus pacientes. Os médicos se deparavam com o problema e se arriscavam por súbito a testar novos métodos. Essa forma de descoberta de novas técnicas hoje é condenável, mas foi o alicerce para quebrar a inércia e salvar milhares de

vidas. Algumas dessas descobertas, principalmente cirúrgicas, não só serviram como alicerce, mas também são utilizadas até hoje. Atualmente, temos aparelhos e conhecimentos que proporcionam um diagnóstico exato e indicação precisa do local da doença, portanto o método da tentativaerro/tentativa-acerto é de certa forma, inviabilizado e muito arriscado diante das opções que temos a disposição. Essa parte me fez lembrar uma época muito chocante da história, mas que trouxe muitos avanços para a medicina. No período do nazismo, por exemplo, quantas vidas foram embora, pois eram submetidas a processos de testes químicos, pessoas eram vendidas para empresas e serem usadas de cobaias para testar procedimentos e medicamentos. Uma grande tristeza, que deixou marcas que nunca vão ser apagadas da humanidade, mas é inegável que também deu passos gigantes na área medica, e trouxe técnicas que salvam muitas vidas nos dias de hoje, mas claro que queríamos que isso tivesse outra origem. Segundo o livro, no ano 1846 é descoberta a narcose uma forma de anestesia da dor pela a inalação de gases químicos. Após a descoberta, pelo químico Davy, da substância ocorreu a tentativa do dentista Wells, que a princípio teve resultados favoráveis, fazer uma demonstração pública do efeito do Gás Hilariante, que podia tornar os seres humanos insensíveis à dor. Nesse momento ocorreu uma falha, pois Wells usou uma quantidade de gás insuficiente para a massa corporal. Nessa parte do livro foi possível analisar alguns aspectos que considerei importante. A primeira é o grande passo que foi dado, a descoberta da anestesia: um milagre, tudo ficaria mais fácil a partir daquele momento, um grande alivio eu diria. O caráter revolucionário dessa descoberta está no fato de que sem ela os métodos cirúrgicos atuais não seriam tão aperfeiçoados e não se poderiam salvar tantas vidas, com certeza os gritos e angustias que eram ouvidos durante os procedimentos afetavam de alguma forma o cirurgião. A segunda consideração se deve ao fato de que a demonstração do procedimento ao público não tinha filtros, o que não respeitou a privacidade do paciente, expondo ele a outras pessoas. Outro fator muito relevante é o

julgamento, algo que existe muito até hoje. Além da dificuldade imposta pela falta de informações tidas naquela época, a sociedade se opunha a área cirúrgica, pois a maioria das intervenções acabava em morte, fazendo com que o médico fosse impossibilitado muitas vezes de tentar ajudar as pessoas por conta da pressão que sofria da sociedade. É importante observar a pressão que os cirurgiões sofriam, uma vez que a população ficava no lado de fora da casa observando os atos dos médicos e condenando-os, como foi relatado na obra. A questão do julgamento, atualmente, pode se relacionar com os erros médicos, que são comuns acontecer. Acredito que alguém que escolhe essa profissão não escolhe errar e ser apedrejado em momento algum, mas assim como outras profissões vão ter erros sim e não devem ser mascarados, são para que novas técnicas e melhorias aconteçam, mas não se pode negar que quando se fala de vidas, não é só aquela que esta na sala de cirurgia, mas de todos os que se envolvem com aquela pessoa, por isso o peso se torna maior. Esse tipo de situação é uma das mais difíceis de lidar, precisa de um psicológico muito forte para trabalhar isso ao longo da carreira, algum dia todos vão passar por situações assim e com o tempo vamos aprender como lidar com isso. Além da nova e muito importante descoberta da assepsia, é muito marcante no livro, sua falta impedia o sucesso total das cirurgias, porque mesmo que o sucesso fosse obtido pelo cirurgião no ato cirúrgico, os momentos finais em que o local da cirurgia ficava aberto a infecção tomava conta e quase sempre levava à morte do paciente. Essa situação piorava em função da falta de higiene nos hospitais onde as pessoas eram amontoadas com poucos cuidados pós-operatórios e nenhuma esterilização dos ambientes. Nesse ponto da história o autor depara-se com um novo paradigma: buscar alternativas para tratar as infecções, mesmo sem ter noção dos básicos métodos de higiene. A partir disso passou-se a esterilizar os materiais e a obrigar que houvesse higienização das mãos e das roupas de cama. De início não concordavam muito com a ideia, o preconceito dos médicos famosos e mais antigos quanto a novas técnicas e melhorias na área médica é notório na obra. Mais do que falta de crença naquilo que lhes era apresentado, tinham medo do desconhecido e principalmente medo de serem substituídos por um médico com novas técnicas

que tornariam diminuta a importância deles que, outrora, foram referências em suas carreiras. Isso os tornava “Deuses Cegos”, como assim os intitula o autor. Sabiam muito, mas se abstinham àquilo. O importante é que todas as medidas surtiram um efeito significativo e a mortalidade caiu consideravelmente, com as práticas de assepsia. Isso nos mostra a quão fechada e cética a comunidade médica pode ser, porém acredito que isso esteja mudando e que cada vez mais estamos abertos ao novo devido a grande rapidez, e confiabilidade, na descoberta de novos métodos de tratamento e preservação dos pacientes enfermos. Essa questão de higiene nos parece ser o mínimo necessário e um tanto banal nos dias de hoje, é estranho pensar que algum dia isso não foi seguido ou foi motivo de dúvida e de muitas mortes. Acredito que um problema muito sério nos dias de hoje e que me fez lembrar um caso pessoal durante a leitura do livro é o problema com bactérias em centros cirúrgicos. Isso nunca tinha passado pela minha cabeça, até o dia em que minha avó precisou fazer uma cirurgia na coluna, em 2018, até então estava bem de saúde, o procedimento só evitaria problemas futuros, acontece que ela pegou uma bactéria e precisou passar por mais de 11 cirurgias e em conjunto com erro médico veio a óbito depois de quatro meses internada e com muitas infecções que adquiriu no hospital, não aceitei isso por muito tempo, me via indignada com a situação. Nesse período que vivi com ela descobri que tinham muitos casos assim no hospital da minha cidade, e que o centro cirúrgico esta repleto desse tipo de bactéria e mesmo que com a higienização não surte efeito. Isso foi muito chocante e me enfurece muito, espero um dia conseguir fazer alguma coisa a respeito. A ousadia em fazer o novo era temida, pois existiam algumas teorias que assombravam os cirurgiões. A medicina foi a todo o momento influenciado pelas questões políticas e religiosas da época. Esses fatores proporcionaram dificuldade para as descobertas médicas, pois geralmente impunham um limite único de conhecimento na sociedade, que acabava por seguir aquilo fielmente e não buscar melhores resultados. Talvez, o que mais comprometia a ousadia dos cirurgiões da época fosse “os limites marcados por Deus” ou então o “assassínio” que seria ultrapassá-lo, já que naquela época realizar algumas

cirurgias era visto como ato contra a palavra de Deus. É notável que, apesar do contexto de uma maior presença da religião na vida das pessoas, a comunidade médica também possuía um profundo conservadorismo em relação a novas técnicas de tratamento de enfermidades até então mortais, pois os médicos apresentavam-se em um estado de inércia, onde não se arriscavam, muito menos buscavam por técnicas novas para parar de realizar procedimentos ineficazes. As questões religiosas acompanham os processos que acontecem na sociedade desde a Idade Média, muitas vezes, de maneira negativa e retrocedendo o cenário cientifico, principalmente. Entretanto, muitas pessoas têm a religião como uma base para guiar sua vida, como um porto seguro, mostrando não somente a força que ela proporciona, mas também o quanto a fé é fundamental nesse viés. Em muitas cirurgias, por exemplo, servem como um anestésico psicológico que tira os pensamentos sobre o foco da dor e dá a eles um novo horizonte, de paz e serenidade. Relatos encontrados até hoje em cirurgias assim, como por exemplo, as cirurgias espirituais onde ocorrem incisões feitas pelos médiuns, que realizam procedimentos no qual seus pacientes não apresentam dores. Tendo, assim, a fé um caráter ambíguo, onde por um lado cria limites à medicina, mas por outro, retêm a dor de muitas pessoas que creditam em tais métodos. O Século dos Cirurgiões é uma obra-prima e que deve ser leitura de qualquer estudante da área saúde, principalmente para os estudantes de medicina. O livro enriquece o conhecimento sobre a história da medicina e da cirurgia, apresenta o enorme avanço da medicina, apresenta a importância de vários cirurgiões – que até então eram desconhecidos para mim – para a solução de diversos casos cirúrgicos que presenciarei em minha futura profissão. No momento atual, para nós acadêmicos de medicina que recentemente fomos integrados ao curso, é difícil imaginar como era trabalhar na área da medicina em uma época com pouquíssimos recursos, em comparação aos dias atuais, onde a medicina evoluiu e há muitos recursos à disposição. Desse modo, a leitura do livro se torna imprescindível para e entender e compreender a dificuldade de realizar procedimentos no passado, sem material e sem conhecimento sobre as patologias.

A leitura além de ser instigante é prazerosa, pois lendo com os olhos contemporâneos, é chocante perceber que muito do que hoje consideramos banal/ essencial já foi um enigma para a sociedade. Aos nascidos depois do século dos cirurgiões, a tortura das operações não passa de relatos. Porém, para os avanços que hoje presenciamos, existiram pesquisadores, médicos, enfermeiros que atualmente passam em branco. As conquistas de agora só são possíveis pelas descobertas anteriores, e os acertos de hoje são graças aos erros do passado. A leitura traz, em diversas partes, um misto de sentimentos, muitas histórias chocam, pois é difícil compreender como atitudes tão simples eram negligenciadas e até refutadas. Diante dessa leitura é possível sentir que um profissional da área da saúde não pode apenas gostar, ele precisa amar a arte da cura para só assim ser capaz de passar por todos os obstáculos que encontra diariamente. A medicina é um caminho muitas vezes escuro, mas que possibilita recompensas gratificantes. Com certeza a experiência de ler esse livro vai me acompanhar ao longo da minha trajetória....


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